quarta-feira, abril 18, 2012

Drogas na cúpula - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 18/04/12


SÃO PAULO - Ainda não foi desta vez que os líderes dos países das Américas decidiram liberar as drogas, mas não deixa de ser surpreendente que alguns deles já falem abertamente dessa possibilidade.
Por razões filosóficas -"sobre si mesmo, seu corpo e sua mente, o indivíduo é soberano", dizia John Stuart Mill-, creio que não cabe ao Estado definir o que cada cidadão pode ingerir, mas é preciso cuidado para não transformar a discussão num embate entre palavras de ordem.
É, de fato, preocupante a violência provocada pelas guerras entre os cartéis. Em alguns países, como México e Guatemala, a disputa já representa um risco às instituições democráticas. Faz sentido eles defenderem medidas que reduzam o poder de fogo do crime organizado, sendo a legalização a mais óbvia delas. Afinal, produtores de charutos e de rum, que também são substâncias psicoativas que determinam dependência, não saem por aí em batalhas campais para destruir a concorrência.
Ocorre, porém, que a forma como a droga age sobre a violência não é uniforme. Se, em países da América Central, ela está gerando pilhas de defuntos, corrupção e caos político, em outros lugares sua introdução teve efeito apaziguador. Foi o que aconteceu nas ruas de Los Angeles, onde a chegada do crack nos anos 90 pôs fim às guerras entre gangues. Os jovens preferiram ganhar dinheiro. Algo semelhante se deu em São Paulo, onde a unificação do tráfico sob o comando do PCC, com seu rígido código de conduta, ajudou a baixar as taxas de homicídio.
Numa interpretação mais ecológica da violência, tirar a renda que a droga proporciona à legião de jovens do sexo masculino entre 15 e 29 anos sem instrução ou qualificação profissional poderia levar a uma explosão de assassinatos e outros crimes.
A legalização, estou convicto, deve ser a meta, mas descob rir os caminhos menos traumáticos para um dia atingi-la é tudo, menos trivial.

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