segunda-feira, abril 02, 2012

Armadilha eleitoral - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 02/04/12


Com o PAC engatinhando, cabe a Lula nos esclarecer: ou ele foi, no mínimo, imprevidente ao deixar obras demais, ou Dilma Rousseff é que não dá conta do recado. As duas são ruins para o PT



A volta do ex-presidente Lula à política não poderia vir em melhor hora. Quem sabe ele nos ajude a esclarecer vários pontos da política nacional e vislumbrar o mistério que cerca as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Os jornais estão fartos de reportagens que, dia sim outro também, mostram paralisadas toneladas de obras das quais ele lançou pedra fundamental, assinou ordem de serviço, ou visitou logo no comecinho. Muitas simplesmente não saíram do papel. O PAC de bilhões de reais engatinha diante de um país que não tem recursos para tocar tudo simultaneamente.

Alguns vão dizer que a culpa pelos atrasos é da presidente Dilma Rousseff. Mas, como dar conta de tantas obras ao mesmo tempo com um orçamento apertado? Lula, no afã de fazê-la presidente, agiu como aquele sujeito que ganha R$ 1 mil e assume uma prestação de R$ 700. Uma hora, vai deixar de pagar o que deve. O ex-presidente deixou para ela um mar de obras, muitas vezes sem lastro financeiro. Lançou até o tal PAC 2, uma carta de intenções para o futuro e — vale aqui lembrar o ditado — de boas intenções, o inferno está cheio.

Dias desses, conversando com alguns políticos, eles me diziam que o atraso das obras não tem importância, porque ninguém no Brasil deixou de ganhar eleição em razão de não ter conseguido cumprir o prazo de uma obra. Afinal, sempre tem alguém na sala para levar a culpa quando algo atrasa: a crise internacional, as instituições ligadas ao meio-ambiente, o Tribunal de Contas da União... mas, diante do mar de projetos lançados pelos governos, é preciso que o eleitor passe a levar isso em conta na hora de escolher seus candidatos.

Por falar em candidato...

Já dissemos aqui por várias vezes que é preciso haver uma lei de responsabilidade eleitoral, que puna os autores de promessas não cumpridas. O entrevero entre o Brasil e a Fifa, por conta da Copa de 2014, é prova que ainda estamos engatinhando nesse quesito.

A própria Copa, embora positiva para o país, nos deixará uma herança que é preciso ser avaliada com cuidado: o regime diferenciado de contratações, por exemplo, que permite a contratação rápida, precisa ser avaliado. Pode ser uma grande armadilha para o futuro, como as obras do PAC viraram um problema para Dilma. Com o PAC engatinhando, caberá a Lula agora esclarecer se foi, no mínimo, imprevidente ao deixar obras demais, ou se Dilma Rousseff é que não dá conta do recado de levar avante os projetos.

E o Pagot, hein?

Chama a atenção a reportagem sobre o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot. Quem nos trouxe notícias dele foi o repórter Guilherme Amado, na página 3 do Correio, ontem. Para quem não leu, vai aqui um resumo: Pagot cumpriu a quarentena e hoje presta consultoria a empresas, fazendo o meio-campo entre o Ministério, políticos e setor privado.

O ministro dos Transportes, Paulo Sergio Passos, diz que não o recebe, mas Pagot diz ter reuniões com ele. E vai mais além, dizendo que Passos é boa gente, mas não tem apoio. E ainda afirma que o PR não terá de volta o ministério porque senão, Dilma perde o título de faxineira, "o único que ela tem". Mais deselegante e grosseiro impossível. Nesse campo, Dilma está que nem bolo benfeito: quanto mais esses senhores agem com escárnio, mais a popularidade da presidente que os afastou do governo cresce.

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