sexta-feira, abril 20, 2012

Apito inicial - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 20/04/12


Esta semana marca a largada oficial da política do ano. Se pensarmos bem, até aqui, nada de muito importante tinha ocorrido nessa seara, salvo a melhora de saúde do ex-presidente Lula. Nem mesmo a saída de Fernando Haddad ou o anúncio de José Serra como candidato a prefeito de São Paulo podem ser apontados como fatos que deram início à política nesse ano. Até aqui, a sensação que se tinha era a de que 2012 ainda não havia "acontecido" no meio político. Uma pasmaceira geral. E, pelo que se vê, a política versão 2012 chega mais perto daquilo que a sociedade deseja, em vários níveis.

Nas últimas 72 horas, tivemos a posse da presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia — a mulher que irá reger o processo eleitoral deste ano, o primeiro com a validade da Lei da Ficha Limpa. De quebra, liderar a sessão que decidirá o futuro próximo do PSD de Gilberto Kassab, um dos personagens políticos que merece ser acompanhado de perto por todos que se interessam pelo tema.

Ontem, outros dois eventos concluíram o que pode ser chamada a abertura oficial da temporada política deste ano. De manhã, a presidente em exercício do Congresso, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), declarou criada a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigará as relações do empresário do jogo do bicho Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. À tarde, a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Ayres Britto, com a promessa de finalmente julgar o mensalão do PT.

Por falar em Ayres Britto...
O novo presidente do STF não está brincando quando diz que a Suprema Corte precisa julgar logo o mensalão. Ele já demonstrou não ter medo de polêmicas. Foi relator da liberação de pesquisas de células-tronco embrionárias e do reconhecimento da união estável entre pessoas do mesmo sexo.

E, se levarmos ao pé da letra o ditado de que se conhece o sujeito logo na chegada, pelo arriar da mala, Ayres Britto segue no sentido de aproximar o STF da população. Ao dizer que o Judiciário "é o poder que não pode jamais perder a confiança da coletividade, sob pena de esgarçar o próprio tecido da coesão nacional", o novo presidente do STF deixa claro por onde seguirá. Aliás, não será de todo ruim se todos os poderes se aproximarem mais dos cidadãos. A criação da CPI vai nesse sentido, assim como a Lei da Ficha Limpa.

Por falar em CPMI...
Quanto à CPMI, não tenha dúvidas, leitor, de que, antes das eleições municipais, os desdobramentos das ações dessa comissão darão o norte para aproximação e/ou o afastamento de aliados no dia-a-dia da política. Pelo andar da carruagem, o PMDB, por exemplo, pretende colocar ali personagens acostumados a jogar tanto na defesa quanto no ataque. Os parlamentares escolhidos farão um ou outro papel dependendo do que for mais proveitoso para o partido.

Inicialmente, os peemedebistas entrarão como zagueiros. Mas, se perceberem que Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro amigo de Fernando Cavendish, dono da Delta, pode se enroscar ao ponto de eles não conseguirem tirá-lo das cordas, os peemedebistas estarão prontos a criar uma confusão capaz de enroscar personagens de outros partidos. O mais importante, leitor, é que, nesse jogo de vai e vem, não se perca o rumo de deixar o Poder Legislativo mais próximo da sociedade. E a sociedade quer mesmo é ver o seu imposto, que (ainda) é alto, transformado em serviços para a população e não em benefícios para alguns.

Por falar em imposto...
Depois da queda dos juros, grande bandeira do ex-vice-presidente José Alencar, já está em franca ascensão nas redes sociais uma pressão por menos impostos. Em tempos de acertar as contas com a Receita e entregar o Imposto de Renda, a tendência é esse movimento crescer.

O 2012 político começa hoje com as posses no Judiciário e a criação da CPMI, onde o PMDB colocará personagens acostumados a jogar tanto na defesa quanto no ataque. Eles farão um ou outro papel dependendo do que for mais proveitoso para o partido.

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