quinta-feira, março 08, 2012

PIB de 2,7%. Já se sabia mas... - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 08/03/12


E veio um PIB de apenas 2,7%. Não surpreende, porque já estava previsto desde o último trimestre do ano passado, nem é um drama, mas preocupa porque as medidas adotadas pelo governo para reanimar o crescimento não estão dando os resultados que se esperava. Há nítidos sinais de que reduzir juros ajuda, sim, mas não é tudo. É preciso mais. O que mais o ministro da Fazenda, como antes, promete, agora, é intensificar. Afinal, já estamos na metade do ultimo mês do trimestre.

E se não crescer? Affonso Celso Pastore, um dos economistas mais bem preparados do País, faz uma análise muito precisa e lúcida dos resultados do IBGE. Sua entrevista ao colega Leandro Modé, no caderno de Economia, merece ser lida com atenção.

"Primeiro que não estamos falando em recessão, mas em desaceleração do crescimento econômico. Saímos de 7,5% para 2,7%. Continuamos absorvendo mão de obra só que em velocidade menor", afirma ele. Além disso houve um ganho real dos salários nos últimos anos, e esse crescimento de apenas 2,7% não chegou à sociedade. "A sensação é de que a economia ainda provoca grande satisfação nos consumidores (vejam a expansão do consumo) e nas pessoas empregadas". Ele acredita que o crescimento da indústria tende ser um pouco mais lento - precisa de estímulos - e a competição dos produtos importados vai continuar, mas "o que nos salva é que temos um mercado interno muito grande". Ou seja, pode-se concluir que é nele que o governo deve continuar investindo ao lado de uma nova política industrial, que ainda não existe, de fato.

Para Pastore, ao contrário, "houve uma redução do incentivo para a indústria", algo, acrescenta, que pode mudar a qualquer momento.

O que já se fez. Muito, mas tudo indica que o setor industrial e a economia ainda não reagiram. A colega Angela Bittencourt, do Valor, fez um levantamento das medidas já adotadas pela Fazenda e pelo BC em 2011. São as medidas que serão intensificadas, afirma o ministro da Fazenda após os 2,7%. Mais crédito, menos juros...

Entre essas medidas estão o aumento dos empréstimos dos bancos públicos, principalmente do BNDES, a juros ainda menores; redução dos spreads bancários; retomada com vigor dos investimentos públicos e novos incentivos ao setor privado. O desafio, nesse caso, é que o governo promete conter a avalanche dos investimentos externos, financeiros ou disfarçados de diretos, que valorizam o real a prejudicam a indústria. Mas precisamos deles principalmente porque a outra fonte de divisas, o superávit comercial, não para de recuar. Esse clima de amor e ódio aos investimentos externos, tende a exacerbar agora, com as novas emissões de euros - 1 trilhão! Afinal, até o governo, via Tesouro, vem se aproveitando dos baixos juros externos e abrindo espaço para o setor privado captar ainda agora valores crescentes no mercado financeiro internacional. Ou entram dólares e euros via investimentos, empréstimos, ou via balança comercial ou teremos de usar as reservas para financiar as contas externas que perdem fôlego e perdem socorro.

Vai entrar mais? Vai, sim. Os bancos centrais de 11 países mais ricos do mundo em recessão ou ainda saindo dele vão continuar emitindo moeda, aumentando a liquidez e vão continuar emitindo moedas simplesmente porque... têm dívidas que precisam renegociar este ano de, acreditem, US$ 7,6 trilhões, segundo levantamento feito pela agência Bloomberg. O Japão, US$ 3 trilhões, Estados Unidos, US$ 2,8 trilhões... Somando os juros, a dívida a ser refinanciada hoje num mercado cada vez mais cauteloso e exigente, chega a US$ 8 trilhões. É dinheiro que está e continuará sendo emitido pelos países endividados.

O Brasil, segundo a Bloomberg, está numa situação excepcional. Precisa rolar apenas US$ 169 bilhões, o que tem feito com facilidade, aos menores juros pagos até agora, porque tem reservas e sua economia vai bem.

Mas essa liquidez excessiva no mercado financeiro internacional a juros praticamente negativos, mais o que entra via exportação de commodities, pressionam o dólar e valorizam o real, o que prejudica a indústria...

Como diz Pastore, "são dilemas complexos (juro, câmbio, PIB) de política econômica". Por isso, ele e a maioria dos analistas acredita que a economia brasileira não deve crescer mais de 3,5% este ano. E mesmo assim, se o mercado interno ajudar.

Vamos a ele, portanto.

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