quarta-feira, março 28, 2012

O cenário se ilumina na fogueira de S.João - ROSÂNGELA BITTAR


VALOR ECONÔMICO - 28/03/12
De bobo o bloquinho não tem nada. Junta-se quando precisa, separa-se quando quer e extrai de sua condição de fiel da balança do tempo de propaganda de TV tudo o que pode. Antes mesmo que lhe fosse pedido para adotar Fernando Haddad (PT) e embalá-lo em aliança para concorrer à Prefeitura de São Paulo, cercou-se de argumentos para negociações futuras e manteve as candidaturas próprias dos partidos que o compõem. Uma estratégia - do PCdoB, do PDT e sobretudo do PSB - que está em execução desde muito antes de o PT assumir, como o faz no momento, a aflição precoce com as eleições municipais.
Não sai agora uma definição sobre o que farão em São Paulo o PSB, o PCdoB, o PDT ou mesmo o PRB. Podem apoiar Haddad a qualquer instante ou em junho, a partir das convenções; podem unir-se ao PMDB com Gabriel Chalita; podem sustentar as candidaturas de Netinho (PCdoB), Celso Russomano (PRB), Paulo Pereira (PDT) e respeitar a resistência dos diretórios municipal e estadual do PSB a engrossarem as fileiras do PT. Podem, ainda, deixar sua definição só para o segundo turno. Nenhuma dessas opções lhes prejudica, ao contrário.
A única questão que têm definida, hoje, é que não haverá alinhamento automático ao PT, nada de aliança com o PSDB, e que não se sentem pressionados a resolver nada agora. Não há limite ou regras para a definição do PSB. O que se tem falado como obra pronta na eleição de São Paulo não passa de desejo. A hipótese da desistência de Netinho por decisão cordial e fácil do aliado histórico PCdoB, é uma solução elaborada no PT. No cenário em que se juntam todos em torno de Paulo Pereira, da Força Sindical, criando a terceira via que não vai Serra nem com o PT, é desejo do PDT.
Dificilmente não irão todos por onde Lula comandar, a conferir à frente. Mas não há porque o PCdoB rifar Netinho, agora, e o PSB desautorizar e intervir em seus diretórios em São Paulo para que entreguem cargos no governo do PSDB.
O que esses partidos estão fazendo hoje foi definido há um ano, quando Marta Suplicy não havia desistido da disputa e não era oficial, mas um propósito não declarado de Lula, lançar o nome de Fernando Haddad.
Lá atrás, o PCdoB resolveu que, até a hora certa pra definições, o partido lançaria a candidatura de Netinho, autorizado a sair em campanha. Afinal, perdera o Senado para Marta Suplicy por pouco (no interior venceu), e poderia brincar bem na pré-campanha.
Com a candidatura de Netinho já lançada, Lula trocou Marta por Haddad. O candidato petista, inadvertidamente, logo pediu uma conversa com o PCdoB. O partido não teve outra saída a não ser informar que, àquela altura, Netinho era candidato e estava em campanha. Sua retirada não poderia ser naquele momento, menos ainda grosseiramente.
O candidato petista foi inábil, faltou-lhe senso de oportunidade, mas o PT se revoltou assim mesmo com a frustração da primeira abordagem. Na sua raia o PSB também dava andamento à estratégia das municipais, e em São Paulo com a aproximação do forte elemento Gilberto Kassab e seu PSD, com quem passou a negociar.
Ao pedir, e ganhar, o apoio do PSB e do PCdoB para vencer disputa na Câmara Municipal, Kassab quis uma conversa com Eduardo Campos, presidente do PSB. Numa reunião com os deputados federais mais destacados de cada um dos partidos do bloquinho -, Márcio França do PSB, Aldo Rebelo do PCdoB e Paulo Pereira do PDT -, Kassab convidou as legendas a integrarem seu governo. A ele foi dito para pensar não só em secretarias, mas na hipótese de apoiar candidato de um deles na sua sucessão.
Kassab disse a todos o mesmo que disse a Lula e à presidente Dilma: Se José Serra (PSDB) fosse candidato, seu compromisso seria com ele. Entretanto, tudo levava a crer que não seria, e Kassab mesmo se encarregou de convencer PSB, PCdoB, PDT, a seguirem unidos com o PT. Em conversa com Eduardo Campos, Kassab assegurou, finalmente, que Serra não era mesmo candidato. O governador de Pernambuco comunicou o fato ao ex-presidente Lula que, então, armou seu próprio encontro com Kassab para pedir apoio a Haddad.
Novamente, agora em reunião com Kassab, Haddad tropeçou, conforme registros do PT: disse ao prefeito que consultaria o partido sobre seu apoio. Ao protelar uma resposta que tinha que ser festiva e comprometedora de cara, Haddad deixou o prefeito sem qualquer constrangimento para anunciar, chegado o momento, que honraria o acordo com Serra. Justiça seja feita, dizem três líderes do bloquinho, Kassab nunca foi ambíguo com relação a esse compromisso.
O PCdoB, depois do lançamento de Serra, ficou sem pretexto para retirar a candidatura de Netinho. Afinal uma chapa própria, com 10 a 12%, mal não faz. Os diretórios do PSB, que queriam logo declarar apoio a Serra, renderam-se ao prestígio de Eduardo Campos e lhe deram um prazo para esfriar as pressões. O governador sempre achou difícil para o partido ir com Serra em São Paulo, por causa de Lula, bem como aliar-se automaticamente ao PT, por causa das decisões dos diretórios. Uma saída seria adiar decisões, o que foi feito. Enquanto o momento não chega, inventar caminhos, procurar destravar o impasse interno. Há pressão intensa do PT para que o PSB apoie Haddad, agora, mas o partido só vai fazê-lo, estritamente com base na relação pessoal de Eduardo Campos com Lula, a partir de junho. Quando espera ter completamente resolvida, sem intervenção, as questões dos diretórios municipal e estadual.
Gabriel Chalita, que saíra do PSB para exatamente conseguir sua candidatura sem empecilhos, recebeu garantias do PMDB de que fica; o PCdoB resolveu deixar Netinho mais tempo exposto para aumentar a densidade da votação no partido.
Uma alternativa fora da disputa polarizada, para esses partidos, não está afastada, pelo menos no primeiro turno. É contra essa alternativa que Lula começou a pressionar mais forte agora. Já que os três partidos do bloquinho não podem apoiar Serra, não querem apoiar Haddad, e fora dessas duas forças há pelo menos três candidatos com boas aceitação no eleitorado paulistano, é que surgiu a hipótese de uma composição em torno de um terceiro nome. Mas é também uma ideia longe de estar consolidada.

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