quarta-feira, março 14, 2012

Novo eixo - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 14/03/12


Há uma tentativa clara do governo de mudar o rumo gravitacional da política no Senado e também na Câmara. O problema será a reação de quem detém o poder. E assim, teremos pela frente um longo período de estica e puxa. Podem apostar



Assim que Dilma Rousseff saiu do Senado, onde recebeu o prêmio Bertha Lutz, uma roda de jornalistas começou a se formar em torno de Romero Jucá (PMDB-RR). Não deu tempo nem de o ex-líder do governo arrumar a gravata para as imagens da TV. Isso porque surgiu o sucessor, Eduardo Braga (PMDB-AM), atraindo a parafernália de microfones, focos de luz e câmeras. Da turma de TV, não sobrou ninguém em torno do antigo líder. A cena é emblemática para demonstrar a mudança do eixo gravitacional que a presidente Dilma Rousseff deseja empreender no parlamento.

Ao trocar os dois líderes — o do Senado e o da Câmara —, Dilma demonstra que deseja não só ampliar a interlocução no Legislativo, como cansaram de cobrar os próprios parlamentares. Ela quer ainda mudar o eixo gravitacional de seu governo. Algo como mudar o eixo de rotação do planeta da política. E isso, como na geologia, não é fácil.

Em qualquer artigo sobre o eixo de rotação da Terra, o leitor verá que esse movimento requer muita energia. Além disso, como o leitor pode pesquisar em vários sites, como silvestre.eng.br, "uma força realizada diretamente sobre o eixo não o inclina do modo esperado. O eixo forçado a se inclinar reage de uma forma surpreendente, tentando preservar sua orientação espacial anterior".

Por falar em preservar...

A indicação do senador Romero Jucá para relator do Orçamento de 2013, anunciada ontem por Renan Calheiros (PMDB-AL), é prova dessa reação, no sentido de tentar preservar a orientação espacial anterior. Prova de que teremos pela frente um período de turbulências: Dilma tentando levar o eixo de poder para outra banda e o grupo dominante da política nos últimos 20 anos querendo mantê-lo onde está. No meio dessa mudança na órbita dos planetas estão a montagem dos palanques para a eleição municipal, o Código Florestal, a votação dos royalties e dezenas de pedidos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) congelados. Quanto ao Código Florestal, já há quem defenda junto ao Planalto deixar a votação para depois da Rio+20, de forma a evitar um confronto com os ambientalistas nesse clima pré-conferência sobre Desenvolvimento Sustentável.

Por falar em votações...

O Código Florestal será o primeiro grande teste de Arlindo Chinaglia (PT-SP) na Câmara, da mesma forma que a Fundação de Previdência do Servidor Público será o maior desafio de Eduardo Braga no Senado. Ele terá que mostrar que tem energia suficiente no partido e entre os aliados para segurar a força gravitacional onde a presidente Dilma deseja.

Da mesma forma que a presidente trabalha uma relação direta com o G-8 do PMDB no Senado, Dilma também dá demonstrações de que deseja ver o poder mais diluído na Câmara. Foi essa a primeira impressão de quem observou atentamente a forma como ela prestava atenção no discurso da vice-presidente da Casa, Rose de Freitas (PMDB-ES). De vez em quando, o presidente da Câmara, Marco Maia, puxava assunto e Dilma, com cara de poucos amigos, respondia de forma curta e, com o corpo virado na direção da tribuna do Senado, seguia olhando para a oradora. Depois, levantou-se e ficou esperando que Rose viesse abraçá-la. Foi o único discurso em que Dilma prestou atenção quase que o tempo todo. Para muitos, sinal de que não está descartada uma interlocução direta com a deputada. Se isso, entretanto, vai resultar em algum desdobramento na eleição para presidente da Câmara é outra história. Mas vale lembrar que Dilma jamais escondeu a sua preferência em trabalhar com as mulheres, consideradas mais sensíveis quando o assunto é políticas públicas.

Por falar em eleições...

Enquanto Dilma, PMDB e PT travam suas guerras por mudança de eixo, os reflexos dos poucos pontos que Fernando Haddad desfruta nas pesquisas de intenções de voto é uma mudança do eixo gravitacional do PT. Se antes o partido de Lula pressionava o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) a sair da disputa para apoiar Haddad, hoje essa conversa mudou. Os petistas hoje trabalham no sentido inverso, para que Chalita se mantenha no jogo. Isso porque passaram a ter medo de que o ex-governador José Serra (PSDB) possa vencer no primeiro turno, caso não haja um candidato de centro para tirar alguns votos dos tucanos. É bom lembrar que foi assim em 2010 no estado de São Paulo. O governador Geraldo Alckmin venceu Aloizio Mercadante na primeira rodada.

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