sábado, março 10, 2012

Mudanças climáticas no setor elétrico - ADRIANO PIRES e ABEL HOLTZ


O ESTADÃO - 10/03/12
As recentes inundações ocorridas no Acre e em parte do Amazonas dão uma visão clara da mudança da afluência nos rios da região dada por uma pluviometria excepcional nos últimos 30 anos. A grande quantidade de água trazida pode ser vista como uma riqueza que escorreu pelo nosso território e desaguou no oceano sem nenhum benefício ao País. Ao contrário, causou prejuízos às populações da região.

Essa percepção de perdas sem benefícios pode ser estendida às regiões onde é estudada a construção de novas hidrelétricas na região amazônica. Nestas usinas, não havendo reservatórios para acumular essa riqueza representada pela afluência dada pela pluviometria, a mesma perda agora constatada se repetirá. Porém, se forem construídas hidrelétricas com reservatórios, teremos uma mina - riqueza pertencente à nossa sociedade que deve ser explorada.

Não é desconhecida a posição já defendida perante o governo no sentido de criar áreas específicas em torno dos locais visualizados para a construção das hidrelétricas, como reservas protegidas similares àquelas já definidas para etnias, preservação ambiental, etc. Considerando que as hidrelétricas, no seu cômputo geral, não afetam os compromissos relacionados ao efeito estufa assumidos pelo País diante da comunidade internacional - as hidrelétricas contribuem com meros 15% das emissões, enquanto o desmatamento, com 70% -, apesar de correntes ambientalistas afirmarem o contrário, a construção de reservatórios seria uma decisão soberana.

Numa outra vertente, cabe registrar que as mudanças na afluência dos rios resultantes das mudanças climáticas seriam motivo de força maior para os geradores, permitindo-lhes rever a energia garantida de seus empreendimentos de acordo com os novos registros. Quando as hidrelétricas têm reservatórios plurianuais, é possível que os investimentos feitos em máquinas e geradores possam ser usados em plenitude durante todo o ano, levando a uma viabilidade mais bem qualificada e, consequentemente, a preços de geração de energia mais baratos.

Cabe chamar a atenção para que, no caso da adoção das áreas preservadas para a construção de hidrelétricas, também será preciso criar faixas de domínio entre essas regiões e o Sistema Integrado Nacional e os centros de carga, para permitir a construção das linhas de transmissão que transportarão a energia gerada nas hidrelétricas. Neste caso, essas faixas deverão ser objeto de compensações ambientais antecipadamente definidas, por terem de passar por diferentes biomas em Estados da Federação. Esse aspecto de relevância, ainda não destacado, está inserido na realidade atual em que 70% das linhas de transmissão estão atrasadas.

Outro aspecto frequentemente mencionado diz respeito à complementaridade das fontes renováveis representada pela eólica e a biomassa. É de conhecimento de todos que militam no setor que, nos períodos de estiagem, as eólicas são complementares às hidrelétricas do Nordeste e a biomassa é complementar às hidrelétricas do Sudeste. O fato é constatável porque as hidrelétricas dessas regiões foram construídas sem os constrangimentos que atualmente são impostos e têm reservatórios plurianuais.

Verificado o potencial de geração eólica trazido pelo aprimoramento técnico, a construção em torres mais altas e os futuros parques no offshore da nossa extensa costa, ao mesmo tempo que as condições para a expansão da biomassa são estabelecidas, vai faltar reservatório para acumular água, porque as hidrelétricas antigas não poderão expandir sua capacidade de reservação e as novas têm sido construídas a fio d'água.

Nossa reflexão é de que o efeito dessas mudanças climáticas no âmbito das hidrelétricas nos leva a acreditar que sua construção com reservatórios plurianuais é uma questão de interesse nacional e não pode estar à mercê de percepções espúrias e forjadas por outros interesses, nem sempre claros e direcionados ao nosso povo.

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