terça-feira, março 27, 2012

Gestos petistas - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 27/03/12


Chegou a hora de o PT sacrificar alguns pré-candidatos espalhados pelo país para conquistar aliados em São Paulo. Se não for assim, Fernando Haddad não terá grandes apoios na largada



Se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não entra em campo no último domingo, o PT tinha jogado por terra o apoio do PSB a Fernando Haddad, pré-candidato a prefeito de São Paulo. Foi o ex-presidente que, na última hora, evitou imposições severas para seu partido compor a chapa com o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, do PSB. Os petistas de BH se preparavam para dizer que não aceitariam o PSDB na aliança. No fim, ficou restrito à chapa, ou seja, prefeito ou vice. Menos mal para Fernando Haddad.

Até agora, excluída São Paulo, das 15 capitais que o PSB tem candidato a prefeito, apenas Belo Horizonte conta com a declaração oficial de apoio ao prefeito-candidato e, ainda assim, querendo impor condições. Nas demais, o PT ainda não fez um só gesto em favor das candidaturas do PSB. Eis a lista: Curitiba, Boa Vista, Cuiabá, Manaus, Aracaju, Maceió, Belém, Porto Velho, Macapá, João Pessoa, Natal, São Luís, Palmas e Teresina.

E o que os socialistas interpretam como falta de consideração não para por aí. Dos 12 deputados federais candidatos a prefeito, só um tem a simpatia do PT: Ribamar Alves, da pequena Santa Inês, no interior do Maranhão. Foi esse o mapa discutido nas últimas reuniões entre PSB e PT que trataram de alianças municipais. Inclusive com o ex-presidente Lula. Embora tudo tenha ficado para junho, o recado está claro: se o PT quer apoio em São Paulo, que faça gestos de apreço aos aliados em outros pontos do Brasil.

Por falar em apreço...
O PT hoje tem plena consciência de que ninguém jogará seus projetos pela janela porque os petistas querem eleger Fernando Haddad prefeito de São Paulo. Embora todos gostem do ex-ministro e o considerem um "cara legal", sem votos, não dá. Tudo o que se tem até agora, dizem os aliados, é um candidato "concretado" em 3%, conforme já mencionei aqui em outras oportunidades.

E não basta apenas, como deseja o presidente do PT, Rui Falcão, criar comissões para avaliar as situações. Em política, todos sabem que, quando não é para resolver uma questão, ou protelar ao máximo a solução, cria-se uma comissão. É assim que muitos aliados avaliam a proposta do PT.

O mapa do PSB va le para todos os demais integrantes da base do governo Dilma Rousseff. Cada aliado tem uma cidade que considera prioritária e vê o PT lhe dando as costas. Um exemplo é Porto Alegre, onde a deputada Manuela D"Ávila (PCdoB), muito bem colocada nas pesquisas, não recebeu um só gesto dos petistas. E sem apoio, não tem São Paulo, onde quem está bombando hoje é a oposição.

Por falar em oposição...
O ingresso de José Serra mudou o cenário da eleição paulistana e nem o fato de ter tido pouco mais da metade dos votos na prévia pode ser visto como um revés. Afinal, ele entrou de última hora, deixando vários correligionários irritados com o ingresso tardio na pré-campanha depois de várias negativas. Agora, caberá a Serra unir seu partido e, paralelamente, tirar parte do potencial volume de apoios que Haddad — ou quem sabe Gabriel Chalita, do PMDB — pode angariar. E, do jeito que está difícil o PT abrir mão de alguns dos seus para acolher candidatos de outros partidos em vários estados, a pescaria de Serra pode ser para lá de proveitosa. A ver.

No mais...
A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, aproveita a semana com a presidente Dilma Rousseff fora do país para ver se consegue baixar a poeira da crise política com a base aliada no Congresso. Se tiver sucesso, ganha mais fôlego no cargo. E, justiça seja feita, a ministra está trabalhando muito para isso. Nos últimos dias, abriu os ouvidos a vários aliados para tentar entender o que precisa ser feito para resolver as insatisfações, sem precisar ceder nos cargos que Dilma resiste a entregar. Tarefa difícil.

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