segunda-feira, março 05, 2012

A falsa guerra cambial - CARTA AO LEITOR

REVISTA VEJA

Encontrar um inimigo externo e enxergar conspirações internacionais contra o país são, desde tempos imemoriais, manobras clássicas dos governantes para desviar a atenção do povo de seus reais problemas. Guido Mantega, ministro da Fazenda, vem usando esse gasto estratagema com suas ostensivas e frequentes acusações ao que chama de "guerra cambial" contra o Brasil. Não se pode negar o impacto negativo do real forte sobre a indústria brasileira, tampouco que a sobrevalorização da nossa moeda tem um forte componente externo, portanto, fora do raio de ação do governo brasileiro. Mas as distorções que tiram a competitividade da economia brasileira são mais complexas e mais amplas do que aquelas derivadas do câmbio.

A expressão guerra cambial tem um apelo emocional forte, reconheça-se, mas lançar mão dela sempre que surge um problema mais agudo não ajuda em nada o que tem de ser feito com urgência para conduzir a economia brasileira ao trilho do crescimento sustentável. O foco no câmbio é uma cortina de fumaça para esconder do distinto público o alto custo Brasil, a bola de ferro amarrada nos pés da economia como resultado de nossos péssimos índices de produtividade, da infraestrutura caquética, da carga tributária paralisante e da educação, que, mesmo universalizada, tem desempenho de quinto mundo quando sua qualidade é medida em provas internacionais promovidas pela OCDE (que reúne as nações mais ricas).

Uma reportagem desta edição de VEJA dedica-se a explicar as razões do custo Brasil, que os cidadãos veem materializado nos preços altíssimos de produtos e serviços. Um iPhone, o cobiçado celular fabricado na China, por exemplo, tem no Brasil o preço em dólar mais alto do mundo. A desvalorização do dólar em relação ao real explica apenas parte pequena da aberração. O restante da explicação tem de ser buscado nos altos impostos, em especial o de importação, de até 35%, que ainda é acrescido de impostos locais e taxas de desembaraço aduaneiro. Confrontado com esses fatos, o governo recorre sempre à explicação mais fácil e a que mais o isenta de culpa, a guerra cambial. Elevar impostos e impor taxas insanas à entrada de produtos e capitais é uma tentativa tosca de aumentar o custo Mundo. Enquanto isso, as questões estruturais paralisantes permanecem intocadas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quem é o Autor desse texto ? Estou precisando saber ..