terça-feira, março 13, 2012

Compra de tempo - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 13/03/12


O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, tem dito que as operações de empréstimo de longo prazo (LTRO, na sigla em inglês) para bancos europeus a juros de 1% ao ano têm amplo e inequívoco sucesso.

Não é o que crê a presidente Dilma Rousseff, crítica dessa emissão de US$ 1 trilhão de euros em duas partes (em 27 de dezembro e 29 de fevereiro) e do "tsunami de liquidez" gerado no mundo, sobretudo nos países emergentes.

Draghi diz que o tsunami é só efeito colateral de importância secundária. Mede o sucesso dos megaempréstimos por dois critérios que se reforçam: (1) pela forte queda dos juros cobrados pelo mercado na rolagem das dívidas antigas dos países-membros do euro ou na colocação de dívida nova (veja gráfico); e (2) pelo desarme geral do ambiente de contágio. Ninguém mais teme pela quebra sistêmica dos bancos e não há mais o clima crônico de pânico de 2011, que deu espaço para relação de mais confiança.

Mas já espocam as primeiras críticas técnicas às operações LTRO. A primeira é que o BCE deu a bancos desiguais tratamento equivalente de crédito. Ou seja, deu aos praticamente quebrados as mesmas condições de empréstimo dadas aos sólidos. A segunda é ter aceitado colaterais (garantias) de baixa qualidade. E a terceira, a de desestimular bancos a se alimentarem da liquidez do próprio mercado e, portanto, de se tornarem dependentes do BCE. Em síntese, a principal crítica é que o BCE assumiu riscos demais. Assim, antes de conceder o Prêmio Nobel da Paz para Draghi, como sugeriu a revista Forbes, convém dar mais tempo para conferir os verdadeiros resultados dessas operações.

O que se pode dizer é que Draghi foi muito bem-sucedido em seu objetivo de comprar tempo. Deu às autoridades do euro ao menos três anos, mesmo prazo dos empréstimos, para botar a casa em ordem. O problema aí é que os políticos europeus são como carro velho e só pegam no tranco. Sem pressão, tendem a adiar indefinidamente decisões, sobretudo mais dolorosas, que dariam fim à crise.

Um dos problemas centrais da questão bancária europeia é que organismos encarregados da supervisão das instituições financeiras são nacionais, o que já não faz sentido numa união monetária. Autoridades ainda mencionam corriqueiramente os "bancos franceses", "bancos espanhóis", "bancos alemães" ou "bancos austríacos"... E cada governo tende a proteger excessivamente os "seus bancos" e a esconder as "suas" fragilidades.

Essas práticas de camuflagem foram a principal razão pela qual os testes de estresse a que foi submetida centena de bancos europeus não tiveram credibilidade.

Isso sugere que a rede bancária europeia não se fortalecerá nem será reconhecida como saudável enquanto os políticos continuarem a esconder mazelas. Para isso, parece inevitável que o BCE assuma a regulação e a supervisão de toda a rede de bancos do bloco.

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