sábado, janeiro 28, 2012

Tablets, frangos e o século 19 - IGOR GIELOW


FOLHA DE SP - 28/01/12
BRASÍLIA - Em suspensão no ar, o alumínio em pó é altamente combustível, e sua ignição pode causar mortes ou queimaduras terríveis.

Foi o que aconteceu, segundo relato publicado pelo "New York Times", em uma das fábricas da Foxconn na China no ano passado. Motivo: obedecendo a um cronograma apertado da americana Apple, os chineses aceleraram o polimento dos iPads fabricados por lá.

Assim, o ar ficou impregnado pelo pó decorrente do processo, que acabou por explodir e matar quatro operários, conta o jornal americano.

Para quem não lembra, Foxconn é a empresa montadora de iPads que prometeu investir incríveis US$ 12 bilhões para fazer o tablet no Brasil. É numeralha para boi dormir, claro, mas a firma ganhou um monte de incentivos fiscais do governo e adulação explícita de nossas autoridades.

Obviamente não são esperadas condições escravocratas chinesas na unidade da empresa em Jundiaí, até porque aqui existe um Ministério Público do Trabalho.

Não que o Brasil seja um paraíso. A descoberta de abatedores de frangos a serviço de uma fornecedora da Sadia em condições estranhas (embora a fiscalização inicial não dê conta de trabalho escravo) perto de Brasília é um lembrete disso -ao lado de situações como a das crianças que trabalham em fornos de carvão terceirizados por siderúrgicas e afins.

No caso específico dos frangos, os depoimentos ainda por cima indicam que a unidade não respeita exatamente os preceitos islâmicos que lhe garantem o selo de exportação para países sob o Crescente. Coisa de bilhões de dólares anuais, com clientes que levam a sério o assunto.

Enfim, de "Primeiro Mundo" ou "emergentes", grandes empresas parecem seguir no século 19. Tanto faz: nossa tara pelo último grito tecnológico é mais forte. Se sangue houver na tela, certamente vão fornecer um paninho especial para limpá-lo. "Made in China",

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