quinta-feira, janeiro 19, 2012

Super-Mercadante - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 19/01/12


No governo FHC, José Serra, da Saúde, e Paulo Renato Souza, da Educação, queriam concorrer à Presidência da República em 2002. Serra levou vantagem. Agora, o PT faz algo semelhante na corrida para escolher o candidato a governador de São Paulo. O favoritismo, por enquanto, é do novo ministro da Educação
Em vez dos aliados, quem começa o ano fazendo beiço e cara de que está magoado com a presidente Dilma Rousseff é o PT. Especialmente, o de São Paulo. A avaliação de setores do partido é a de que o novo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, está ficando forte demais entre os colegas. Ele é ex-senador, obteve a cada dia maior destaque como o comandante da Ciência e Tecnologia, um setor cada vez mais promissor do ponto de vista econômico. Agora, será o todo-poderoso na Educação — e ainda fez o sucessor no antigo cargo. Para parte do PT paulista, passou do ponto. 
Alguns petistas exageram ao falar que Mercadante “ganha” mais espaço do que outros integrantes do partido. Na verdade, ele “cava”. E faz isso com trabalho. Em 1994, ninguém queria largar o osso, digo a eleição garantida para o papel de candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, quando José Paulo Bisol se viu obrigado a deixar a campanha por conta de denúncias a respeito de suas emendas ao orçamento — sim, naquela época, quando a emenda era mal aplicada, o autor pagava o pato. Mas, voltando ao assunto em questão, lá foi Mercadante. 
Naquela época, o atual ministro tinha uma eleição garantida de deputado federal. E, quando ele assumiu a vice de Lula, os petistas sabiam que a batalha seria quase que uma missão impossível porque o então candidato Fernando Henrique Cardoso vinha do lançamento do Plano Real, que deu à população a felicidade de, depois de muitos anos de hiperinflação e sucessivos ensaios e erros, conquistar a sonhada estabilidade econômica. Fernando Henrique venceu no primeiro turno. Lula nunca conseguiu, nem mesmo quando concorreu à reeleição em 2006 contra o atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. 

Por falar em sacrifício...Mercadante naquele período amargou quatro anos sem mandato. Mas voltou ao Congresso em 1998 como deputado federal e, em 2002, elegeu-se senador. O resto da história recente é mais conhecida. Foi candidato a governador, perdeu, virou líder do governo Lula e quase abandona o cargo em 2009, quando do arquivamento das denúncias contra José Sarney. Mercadante chegou a anunciar no Twitter que sairia da liderança, mas voltou atrás depois de uma conversa com o presidente Lula. 
No governo, há quem diga que ele gosta de “aparecer”. Pode até ser verdade. Mas os mesmos que o colocam nesse patamar — não sem deixar escapar um certo ar de “ciúme” — são unânimes em dizer que ele gosta de trabalhar. Não por acaso, caiu nas graças da presidente Dilma Rousseff, que passou a levá-lo a todas as viagens internacionais. Hoje, tem quase o mesmo status de Fernando Pimentel, o ministro que é amigo da presidente. 

Por falar em ciúme...fato de Mercadante ter sido escolhido ministro da Educação, o PT engoliu. O que o partido não gostou foi ele fazer o presidente da Agência Especial, Marcos Raupp, sucessor na Ciência e Tecnologia. Afinal, o PT de São Paulo é um mar de pré-candidatos a governador. A senadora Marta Suplicy, por exemplo, que abriu mão de concorrer à prefeitura de São Paulo atendendo a um pedido de Lula e Dilma, está no páreo. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, idem. Não passa uma semana sem que tenha uma agenda expressiva em São Paulo, conforme o Correio revelou em agosto do ano passado. 
A avaliação do partido é de que a presidente Dilma colocou agora Mercadante e Padilha no mesmo patamar para concorrer à vaga de candidato do PT ao governo de São Paulo e deixou Marta Suplicy em segundo plano. No governo Fernando Henrique Cardoso, os ministros da Saúde, José Serra, e o da Educação, Paulo Renato Souza, protagonizaram uma disputa semelhante, e Serra levou vantagem porque tinha mais tempo de janela na política. Se for esse o critério, Mercadante larga como favorito. Vamos acompanhar essa novela. 

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