quinta-feira, janeiro 19, 2012

Não acredito mais! - WAGNER VILARON


O Estado de S.Paulo - 19/01/12


"Eu acredito na manutenção da ordem pública. Eu acredito na Nova República... Eu acredito em quem anda com fé. Eu acredito em Xuxa e em Pelé...'' e por aí vai... As frases fazem parte da música O Adventista (a primeira está apenas em um disco ao vivo), da banda Camisa de Vênus, liderada pelo carismático vocalista Marcelo Nova, que sacudiu o rock nacional na década de 80 - portanto marcou minha adolescência - com seu sotaque baiano e letras repletas de ironias, sátiras, críticas sociais e petardos nas orelhas dos políticos durante a fase de transição da ditadura para a democracia.

Mas o leitor deve estar se perguntando o que isso tem a ver com uma coluna que é publicada no caderno de Esportes. Simples, esta música não sai de minha cabeça desde ontem. E o responsável por isso é o atacante Adriano.

Imaginei que se Marcelo Nova compusesse a letra de O Adventista nos dias de hoje, a chance de Adriano protagonizar uma das estrofes seria grande. A situação do jogador corintiano encaixa-se perfeitamente na essência da letra: ao mesmo tempo em que querem convencer-nos de que isso ou aquilo é bom, vai dar certo, o dia a dia trata de nos fazer entender que a realidade é completamente diferente. Nem de longe tenho o talento de Nova para compor. Mas nem por isso deixarei de registrar aqui uma sugestão de estrofe para, quem sabe, uma segunda edição deste clássico. Seria mais ou menos assim: "Eu acredito na recuperação do Adriano. Eu acredito no Imperador corintiano...''

Brincadeiras à parte, preciso admitir: não acredito mais em Adriano, seja no Corinthians ou em qualquer outro clube. Confesso que é difícil expor uma opinião como esta publicamente. Afinal, sempre existirá a possibilidade de o atleta mudar, dar novo rumo à sua carreira e sua vida, e desmentir este jornalista.

Mas não é uma eventual constatação futura de que cometi um erro de julgamento que mais me incomoda. O que entristece em um caso como este é a descrença no ser humano. É perceber que, mesmo diante de tantas oportunidades que a vida nos dá, muitos de nós não conseguem aproveitá-las. Se a realidade de pessoas assim me chateia, o futuro me preocupa. Sim, pois pior do que os erros cometidos é a ausência de esperança de interromper esta sina.

Adriano é o único responsável por isso? Certamente não. Os clubes por onde passou o tratam apenas como uma pessoa irresponsável, descompromissada. Adriano parece mais doente do que vagabundo. Só que este fato não pode ser utilizado o tempo todo para atenuar as mancadas cometidas por ele.

Mesmo porque ainda não me convenceram de que o anúncio do fim da carreira, na época em que jogava na Inter de Milão, foi apenas uma estratégia para conseguir a liberação do clube italiano para jogar no Flamengo. E esta passagem reforça a suspeita de que Adriano, mais uma vez, estaria forçando saída para a Gávea.

Ocorre que os dirigentes de clubes, com base nos grandes momentos já vividos no campo por Adriano, mantém a esperança de que, uma hora ou outra, a ficha do atacante vai cair e seu futebol voltará, justificando todo o crédito e tratamento de bibelô dado ao ex-Imperador.

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