terça-feira, janeiro 10, 2012

Dívida federal - RAUL JUSTE LORES

FOLHA DE SP - 10/01/12

SÃO PAULO - Uma área de 2,1 milhões de metros quadrados, quase a soma do Ibirapuera com o parque Villa-Lobos, é subutilizada em plena marginal Tietê.

Fora os usuários de helicópteros, poucos paulistanos desfrutam do Campo de Marte, área tomada de São Paulo na Revolução de 32, hoje nas mãos dos militares e da Infraero. Desde 1945, a cidade pede a devolução.

Imagine o grande parque que poderia brotar, transformando e valorizando a zona norte, dando respiro ao cinza dominante de quem mora ali ou de quem chega de Cumbica.

Território maior ainda é o espólio deixado pela Rede Ferroviária Federal (RFFSA), a chamada orla ferroviária, que corta meia cidade, em bairros como Lapa, Ipiranga, Mooca e Brás. Dezenas de pátios abandonados e terrenos vazios nas regiões mais centrais da cidade, que pertencem à União. A incendiada favela do Moinho, na Barra Funda, ficava numa dessas áreas esquecidas pela burocracia.

A criação do Centro Cultural dos Correios, no grande prédio do vale do Anhangabaú, hiberna desde 1997. O congênere carioca da estatal foi aberto em 1993.

Parte da responsabilidade na reversão da decadência do Rio de Janeiro se deve a investimentos saídos de Brasília. Todo brasileiro deve celebrar isso. Mas não seria muito pedir um pouco mais de atenção a São Paulo.

Apesar de críticas a supostos "paulistérios", São Paulo tem sido relegada. A cidade perdeu o prometido Centro de Imprensa da Copa para o Rio, o que nos tirou um bom dinheiro e milhares de visitantes. Setores do PT apelaram nas últimas campanhas presidenciais a uma paulistofobia, pichando o próprio berço do partido.

O governador e o prefeito se orgulham de suas boas relações com a presidente, mas a cobrança dessas dívidas históricas é inaudível.

Mas, se a devolução dessas áreas servir apenas à especulação imobiliária, sem nada em troca para o coletivo, melhor que continuemos no esquecimento.

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