domingo, janeiro 29, 2012

Dilma, o bambolê e 2012 - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 29/01/12



Ao balançar as árvores onde as feras peemedebistas sobem para descansar, Dilma faz com que gastem mais energia se segurando onde estão do que em busca de novos cargos. Eles têm a impressão de que venceram e ela cedeu. Mas quem for olhar de perto verá que a presidente levou a melhor


Na política, assim como na vida, vale o ditado “quem pode mais, chora menos”. E, no momento, quem “está podendo” é a presidente Dilma Rousseff. Enquanto os peemedebistas se armaram para segurar o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, ela mudou o alvo e trocou os diretores do Banco do Brasil. Não mexeu nos vice-presidentes indicados pelos partidos, que já haviam sido substituídos recentemente.

Há 10 dias, quando o foco dos políticos e da imprensa estava na reforma ministerial, Dilma avisou que José Sergio Gabrielli era quase ex-presidente da Petrobras. Gabrielli tentou se movimentar para ver se segurava por mais um período ali, mas a mudança já estava na boca do povo. Não deu tempo nem de recorrer a Lula.

Dilma dispensa o ensinamento de Maquiavel a respeito das maldades, ou medidas duras, que devem ser feitas todas de uma só vez. Ela as faz aos poucos. E ganha pontos com isso. No caso de Elias Fernandes, do Departamento Nacional de Obras contra as Secas, Dilma deixou que torrasse ao sol. E, para completar, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, saiu da história com ares de quem defendia um suspeito de corrupção. Certamente, a presidente ganhou mais alguns pontos ao trocar alguém que tinha tantas suspeitas nas costas e o PMDB perdeu mais alguns ao ter seu líder no papel de defensor.

Por falar em PMDB…
Todos os seus lideres têm motivos de sobra para não irritar a presidente Dilma Rousseff. Do vice-presidente Michel Temer ao líder da Câmara, Henrique Eduardo Alves, ninguém tem bala na agulha para impor suas vontades ao Planalto. Temer trabalha no fio da navalha para atender seu partido e, ao mesmo tempo, permanecer como o número um para a vaga de vice em 2014. Se vacilar, Eduardo Campos, do PSB, lhe toma o espaço. O próprio Henrique nunca esteve num momento tão delicado. Tem que ficar pianinho este ano para não melindrar o PT e, assim, conseguir manter o partido de Dilma como seu aliado no projeto de conquistar a Presidência da Câmara em janeiro do ano que vem.

O mesmo problema tem o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros. Com Sérgio Machado tremulando na Transpetro — e, por tabela, a vontade de presidir a Casa depois de José Sarney (PMDB-AP). Nem Sarney tem essa força toda hoje para combater Dilma. O fato de ter uma filha governadora num estado dependente de verbas federais não dá a Sarney grandes chances de se movimentar em confronto.

Por falar em confronto…
Com todos os seus principais líderes amarrados, o PMDB fica meio imobilizado na hora de cobrar mais espaço. E, para completar, Dilma tem jogado de um jeito a evitar que o partido se apresente em busca de novos postos no primeiro escalão. Há alguns meses, o PMDB olha com ares de desejo para o Ministério das Cidades. Mas a situação atual indica que o PMDB se dará por satisfeito se segurar a Transpetro e puder indicar o futuro diretor do Dnocs.

A presidente não é nem um pouco ingênua. Ao balançar as árvores onde as feras peemedebistas sobem para descansar, Dilma faz com que gastem mais energia se segurando onde estão do que em busca de novos cargos. Eles têm a impressão de que venceram e ela cedeu. Mas quem for olhar de perto verá que a presidente levou a melhor. Dentro do próprio PMDB, ninguém tem dúvidas de que Dilma aprendeu a usar o bambolê recebido de presente do líder Eduardo Alves. Ao ponto de deixar em xeque o próprio Alves. A presidente, realmente, “está podendo”.

Por falar em gastar…
O ministro da Secretaria de Aviação Civil, Wagner Bittencourt, saiu todo sorridente essa semana do gabinete da ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. Isso porque os investimentos em aeroportos regionais devem chegar a R$ 3 bilhões até 2014. Mas o governo só pretende falar detalhadamente sobre o assunto depois de leiloadas as concessões de Guarulhos, Brasília e Campinas, marcadas para 6 de fevereiro.

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