segunda-feira, dezembro 31, 2012

Apagão no gás - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 31/12


O consultor Adriano Pires acha que, se os reservatórios das hidrelétricas continuarem baixos, existe grande chance de, em fevereiro, ocorrer racionamento de gás natural nas indústrias, para poder manter as térmicas em plena operação e evitar que se racione energia elétrica.

Apagão em Búzios
Dilma, depois dos bancos e das telefônicas, deveria peitar estas distribuidoras de energia, como a Ampla. A luz tem faltado no centro de Búzios, com a cidade lotada para as festas de réveillon.

Susto na floresta
Um monomotor que transportava, sábado, Sebastião Salgado teve que fazer um pouso forçado em floresta, na divisa do Espírito Santo com Minas Gerais, onde o grande fotógrafo patrocina um projeto de reflorestamento da Mata Atlântica. Salgado apenas machucou o joelho. Passa bem.

Diário de Justiça
A juíza do 6º Juizado Especial Cível do Rio, Flávia Santos Capanema de Souza, condenou a Alitalia a pagar R$ 8 mil à cantora Marisa Monte. É que um excesso de passageiros num voo da companhia para Roma obrigou a artista a embarcar em outra voadora, alongando a viagem em 14 horas.

No mais
O ringue do MGM Grand Garden Arena de Las Vegas se transformou sábado numa poça de sangue durante a luta entre Jim Miller e Joe Lauzon, na mesma noite em que o brasileiro Cigano perdeu o cinturão dos pesos-pesados. Tem gente que acha, a exemplo de muitos romanos na época dos gladiadores, que UFC é um esporte. Não é.

Sujeito exigente
Carlos Brito, aquele empresário que procura sua cara-metade através de anúncio, tem na mira quatro finalistas no “concurso” para sua namorada, mas nenhuma carioca. Elas são de São Paulo, Brasília, Espírito Santo e Paraná.

Ele exige moça, na faixa de 30 a 40 anos, com “ótima aparência”. Ah bom! 

Calma, gente
Quarta, Michel Levy, ex-dirigente do Flamengo, quase saiu no braço com Fernando Sihman, marido da ex-presidente Patrícia Amorim. Foram apartados por Walter Oaquim, ex-vice de Relações externas.

Segue...
Passada a tensão, um gaiato comentou que tinha sido a primeira vez em que uma briga entre dois judeus foi separada por um árabe.

Outra
Uma festa hoje na Gávea, organizada para dez mil pessoas pela administração Patrícia Amorim, também provoca polêmica. Tem gente que diz que o evento não tem autorização de bombeiros, prefeitura, estado, etc... Será?

Eleição na ABL
Entre os acadêmicos, alguns gostariam de eleger para a vaga de Lêdo Ivo um poeta ou um romancista de renome. Faz sentido.

Mestre Louro
No carnaval de 2013, a “Furiosa” do Salgueiro vai fazer homenagem ao saudoso Lourival de Souza Serra, o mestre Louro (1950-2008), que por anos conduziu a bateria da escola e ganhou sete Estandartes de Ouro, dois deles como personalidade. Com o enredo “Fama”, a vermelho e branco da Tijuca levará um sósia do mestre, que vai interagir com os ritmistas no meio da Sapucaí.

O que é isto?
Uma senhora de 62 anos foi fazer tomografia abdominal no Hospital do Exército (HCEx), que, sem médico radiologista, a encaminhou para uma clínica terceirizada, a GR Imagens. Já na entrada, ela avisou que havia retirado o útero aos 29 anos.

Não é que no laudo do exame veio a descrição do útero?

AÉCIO E RONALDO NA PRAIA
Momento-família na despedida de 2012.O senador Aécio Neves e Ronaldo Fenômeno, o campeão do quadro Medida Certa do “Fantástico”, curtem os filhos Gabriela e Ronald em pleno verão carioca. Não são fofos?

UNIDAS NO ENSAIO DA TIJUCA
Juliana Alves, mulata do Gois, de novo aqui neste espaço, ao lado da atriz Cacau Protásio, a Zezé, da “Avenida Brasil”, em ensaio da Unidos da Tijuca. Juliana é a rainha da bateria.

Ponto Final
Veja o que ocorreu com esta poltrona e o sofá abandonados na esquina das ruas Cardoso Júnior e Professor Luís Cantanhede, em Laranjeiras, no Rio. Talentosos grafiteiros fizeram a festa. Ponto para eles e zero para a Comlurb.

Foragido de 1969 - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 31/12


RIO DE JANEIRO - Foi há algumas semanas. O homem de barbas nazarenas, talvez com restos de macarrão entre elas, e cabelo descolorido, comprido e embaraçado, carente de água que não fosse de chuva, surgiu à minha frente na calçada. Usava uma bata indiana, adornada de miçangas, espelhinhos e símbolos antiguerra, sobre calças de campanha, estilo camuflado, talvez compradas num brechó, que podem ter sido usadas por um soldado de verdade no Vietnã. Nos pés, um par de sandálias, deixando entrever alguns dedos e unhas sob as várias camadas de cascão.

Até aí, tudo bem. Seria apenas mais um foragido de Woodstock ou de Arembepe -a idade era indefinida, algo entre 50 anos e uma gaveta no São João Batista. Ou alguém mais jovem, que não se conformava por não ter vivido o tempo em que Jimi Hendrix, Janis Joplin, Santana, o Jefferson Airplane e o Creedence Clearwater Revival dominavam a Terra. Às costas, um violão, para a eventualidade de alguém precisar ouvir com urgência "Suzie Q", "I Shall Be Released" e "Let the Sunshine in".

O problema era o cenário em que se deu essa aparição. Não era uma calçada comum, mas o calçadão de Ipanema, entre a ciclovia e a areia, na altura da rua Vinicius de Moraes -reduto de bronzes de ambos os sexos, dedicados à prática de vôlei, futevôlei, skiboard surf, stand up paddle e outras disciplinas, para as quais os obscuros Wilhelm Reich, Norman O. Brown, Joe Cocker e o Sha-Na-Na devem ter sido contemporâneos dos mamutes ou dos tigres-dentes-de-sabre.

E, mais uma vez, se fosse só isso, também tudo bem -Ipanema recebe gente de toda parte, sem perguntar de onde vem. Acontece que, às nove da manhã e a uma lua de 35 graus, o sujeito estava se exercitando, correndo no calçadão, na companhia de um personal trainer.

Deve ser uma nova forma de barato, que a ciência ainda não catalogou.

Odette para 2013 - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 31/12


"Meu amor, você faria amor comigo hoje? Se não estiver bem disposta, ok, entenderei"


Um casal conversa na mesa de jantar de casa no final de um dia comum. Classe média média

(duas vezes média). Ele com cara de cansado (deve ter um desses empregos nos quais pessoas como ele engolem sapos diariamente fingindo que ainda são donos de suas vidas), ela com cara de quem tomou banho para jantar, mas permaneceu com ar de enfado. Deve ter esperado o marido o dia todo, mas não com muito gosto...

Ele (Mário Alberto) pergunta o que há para sobremesa. Ela (Odette) responde "tangerina". Ele reclama que a única coisa que queria quando chegasse em casa depois de um dia inteiro de trabalho era uma sobremesa decente. Nada de chique, talvez um pudim. Ou mesmo algo que ela goste. Ou seja, ele não é exigente. Carrega em si aquele ar esmagado de quem sabe que já perdeu a partida com a vida e com o mundo. Normalmente, a esposa encarna tanto a vida quanto o mundo para os "bons maridos".

Nelson Rodrigues costumava dizer que todas as qualidades que fazem de um homem um grande e desejado homem são inviáveis em "bons maridos".

Ele diz para ela que uma sobremesa decente é tudo que ele quer, e pergunta para ela o que ela quer. Aí, vem o show de Odette.

Ela diz: (perdão pela licença poética) "O que eu quero Mário Alberto? Você quer saber o que eu quero? Eu quero foder. Veja que não disse fazer amor, transar ou fazer 'nheco-nheco', mas foder".

Odette passa a qualificar "seu desejo": ela quer foder não apenas com Mário Alberto, mas com o chefe dele (imagem particularmente tocante no que diz respeito a um homem humilhado que teme que sua mulher sonhe em dar justamente para aquele desgraçado que manda nele), com o irmão dele, com o time de futebol da Nigéria, com o exército de Israel.

Assume-se que o time da Nigéria seja composto de negros fortes e bem dotados e que não perguntarão para ela "meu amor, com todo respeito, você faria amor comigo hoje? Se não estiver bem disposta, ok, entenderei e continuarei a te amar".

Quanto ao exército de Israel, Odette parece desejar suas famosas e decantadas virtudes militares: coragem, eficiência incomparável, audácia, juventude e vitórias consecutivas contra milhares de inimigos ao mesmo tempo e de todos os lados. Odette parece lembrar o que o mundo esqueceu: o exército de Israel é que está esmagado por inimigos de todos os lados, e não o Hamas.

Mas Odette não para por aí. Sem citar aqui todos os exemplos que ela dá de seu desejo escondido, passemos ao "modo" como ela quer que este desejo se realize: Odette quer que usem e abusem dela, que a tratem como cadela, que a deixem assada e doída, que sua boca fique imprestável. Ao final, depois de dizer que quer tudo isso repetidas vezes, confessa que também quer "passar recibo" de tudo que deu e recebeu como um modo claro de dizer "sim, sou a vagabunda de vocês".

Impossível não relacionar Odette (inclusive pelo nome dela) a algumas heroínas rodriguinianas conhecidas como bonitinhas mas ordinárias, que pedem para homens as violentarem enquanto as chamam de cadelas.

Após dizer tudo isso, ela silencia e continua a comer com aquela contenção de classe média à mesa. Não esqueçamos que "etiqueta" é coisa de gente que queria ser elegante mas não consegue. Traço claro de decadência.

Ele, assustado, diz que "tangerina está ótimo". Ela avisa que a tangerina não está gelada, mas ele diz que tudo bem assim. Mário Alberto reassume o papel que deve desempenhar todo o dia, todos os dias.

Trata-se de um vídeo da internet que é muito indicativo do que é a incomunicabilidade da vida cotidiana entre as pessoas. No caso específico, um casal de classe média.

Claro está que Odette, mulher sem grandes dotes de beleza ou sensualidade, não parece feliz com sua vida sexual de "mulher de família". Não quer ser "uma mulher de família". Quantas Odettes irão a sua festa de Réveillon hoje? 

Espero que pegue uma.

O mundo não muda, nem os homens, nem as mulheres. Liberte-se do mito desta mudança. Resta para os caras a pergunta que não quer calar: Quando vai se alistar no exército de Israel? Feliz 2013 com sua Odette.

Revolução permanente - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 31/12


SÃO PAULO - A política econômica nem sempre está alinhada ao programa ideológico dos governantes. Um partido de esquerda muitas vezes é obrigado pelas circunstâncias a seguir a receita liberal. Ocorre também o inverso. A aliança de liberais que governa o Reino Unido é compelida a praticar intervencionismo.

O ambiente contrário à doutrina funciona de antídoto contra extravagâncias. Tempera as paixões e impõe limites às tolices da cartilha.

Problemas surgem quando a ideologia do piloto se harmoniza com o espírito do tempo. A dupla Alan Greenspan, no BC dos EUA, e George W. Bush, na Casa Branca, pôde exercer 120% de seu mercadismo desabrido na década passada. Deu no que deu.

Agora o perigo mudou. Alianças de esquerda espanam o pó de convicções sobre o papel heroico do Estado na condução da economia. Regras básicas dos negócios ficam à mercê do arbítrio visionário do príncipe.

Quando pôde rasgar a fantasia ortodoxa, no final da década passada, o governo do PT pôs-se a "refundar" algumas bases sobre as quais funciona o mercado no Brasil.

O modelo de exploração do petróleo, baseado em concessões, não satisfazia a cartilha. O governo mudou tudo, obrigou o ganhador do contrato a dividir uma fatia da produção com o Estado -e a Petrobras a participar de todas as operações.

O câmbio flutuante tampouco correspondia ao nacionalismo em voga. Uma série de regras e taxas, sujeitas a mudança repentina, passou a mediar a entrada de divisas. As agências reguladoras, que dariam garantias aos investidores a despeito do governo de turno, foram minadas e transformadas em cabides de emprego.

Concederam-se privilégios fiscais a setores eleitos e bem articulados. As metas de inflação e de poupança pública foram desmoralizadas.

Nesse terreno em revolução permanente, o investimento produtivo despencou. O ambiente começa a refutar a doutrina. Bom sinal.

Sem agenda econômica - JORGE DOS SANTOS AVILA


O GLOBO - 31/12

Antes de tudo, é preciso tratar os estados não como inimigos, mas como parceiros

É este o cenário do país depois de dois anos do governo Dilma. É perceptível que o Brasil não tem uma agenda econômica para o quadriênio de governo que chega à sua metade. Analisando os dados econômicos temos o seguinte quadro: investimentos caindo pelo quinto trimestre seguido; crescimento pífio do PIB brasileiro, previsto para ser mais ridículo que os 2,7% de 2011 e inflação alta (prevista em 5,7%) para um PIB tão baixo.

Um governo perdido em si mesmo, com a nítida intenção de minimizar toda essa incompetência econômica, sugeriu que no segundo semestre deste ano iria diminuir o valor da energia elétrica para a população. Quando todos pensavam que seria um "pacote de bondades", eis que o autoritarismo sugere que a conta seja paga pelos estados. Acertadamente Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e São Paulo colocaram-se contra esse rombo.

Se o governo federal propôs, que subsidie a "bondade". Qualquer leigo sabe que, em se tratando de receita tributária, a maior fatia é arrecadada pela União. Os estados têm todo um planejamento orçamentário que precisa ser cumprido. Como entes da Federação, eles têm essa prerrogativa.

O que se espera para a outra metade desse governo desgovernado é que a economia seja tratada como tem de ser. Todos esperam isso de uma presidente que é economista. O modelo deixado de herança pelo seu antecessor, baseado no consumismo, tem se mostrado falho. O cidadão que adquiriu a sua casa do Minha Casa, Minha Vida, mobiliou com a redução do IPI da linha branca, foi dessa vez tentado a consumir comprando automóveis zero, o que mais uma vez contou com a fórmula do IPI reduzido. Essas medidas expansionistas não são de todo erradas, quando acompanhadas de outras ações que não vieram para evitar o risco inflacionário.

Imaginem a situação do cidadão que comprou a casa, comprou a linha branca para essa casa e tem um carro na garagem. Este cidadão tem toda essa fatura para pagar de um lado, e de outro lado tem a inflação corroendo perto de 6% do que resta. O que sobra para esse cidadão poupar? O que sobra para esse cidadão investir? É aí que se esvazia a política pensada e executada única e exclusivamente no consumo.

Lembremo-nos que, economicamente falando, a poupança privada faz parte da poupança nacional, e que investimentos são oriundos dessa poupança nacional. A receita para esta metade final de mandato é simples, e a maioria dos cidadãos brasileiros conhece: o governo precisa cortar gastos e fazer desse corte de gastos investimentos tangíveis no aspecto econômico. Atrelado a isso, se continuar com a aposta de consumo local, precisa de medidas que reduzam de fato a inflação.

A redução do IPI dos automóveis e a postergação do aumento dos combustíveis ajudaram a fazer com que a inflação não ultrapassasse a casa dos 6%. Mas é preciso fazer mais que isso. Antes de tudo, é preciso tratar os estados não como inimigos, mas como parceiros.

O dilema de Eduardo Campos - FÁBIO GIAMBIAGI


O Estado de S.Paulo - 31/12


Curiosamente, embora políticos e economistas, quando no exercício da autoridade, sejam vistos como pertencentes a esferas diversas e operando com lógicas diferenciadas, ambos podem encarar dilemas marcados pela presença de riscos relevantes, em que a escolha a ser feita dependerá do balanço que cada um fizer acerca das probabilidades de um ou de outro cenário. Tome-se o caso de Ben Bernanke, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Se sua política monetária for frouxa demais, o risco que corre é de gerar inflação daqui a alguns anos. Já se ela for apertada antes do tempo, pode lançar os EUA em nova recessão. Defrontadas com o mesmo quadro, pessoas diferentes podem tomar decisões diferentes entre si. São os riscos da vida.

Já na política, candidatos à Presidência também enfrentam escolhas relacionadas com a decisão acerca de dar ou não um grande salto. Barack Obama deu um passo arrojado há alguns anos, quando se lançou numa corrida vista por muitos como fadada ao insucesso e que, pouco depois, foi coroada de êxito.

No campo da economia, na teoria dos jogos aprende-se a pensar em termos estratégicos, entendendo que cada agente define o seu comportamento em função da opinião que ele tiver acerca da ocorrência de outros eventos. Um caso interessante para análise, nesse sentido, é a dúvida a ser enfrentada nos próximos meses pelo governador Eduardo Campos.

Para entender a questão, é conveniente pensar em termos de possibilidades. Num caso, tem-se o estado da economia em 2014, que pode ser definido como "bom" ou "ruim". No outro, tem-se a reflexão de Campos, no sentido de se postular ou não para a Presidência. A combinação de circunstâncias enseja um quadro de possibilidades em que, nas colunas, se tem o estado da economia e, nas linhas, a definição do governador entre ser candidato ou não. Isso gera um quadro com quatro cenários:

Cenário A: Economia em "bom" estado, com candidatura do governador. Trata-se de um contexto delicado para ele, uma vez que, neste caso, a presidente Dilma Rousseff seria uma forte candidata à reeleição. Assim, as chances de Eduardo Campos dependeriam de um fator não econômico ou semieconômico, associado à valorização do "novo" na política e, eventualmente, ao argumento de que ele poderia "tocar" mais rapidamente a agenda da competitividade, por exemplo;

Cenário B: Economia em estado "ruim", com candidatura presidencial de Campos. Pode ser uma situação politicamente boa para ele, uma vez que se desligaria do ônus associado à situação, com a possibilidade de capitalizar parte da eventual insatisfação com o rumo do País, reforçada pela imagem de político jovem e dinâmico;

Cenário C: Economia em "bom" estado, sem que o governador se lance candidato. Poderia ser um cenário interessante para ele, uma vez que teria boas chances de ocupar uma posição de destaque caso a presidente seja reeleita, ao mesmo tempo que almejaria a se credenciar, como aliado, a ser ungido como candidato da própria Dilma para a sucessão de 2018;

Cenário D: Economia em estado "ruim", sem candidatura de Campos à Presidência. Poderia ser uma situação negativa para o governador, que seria visto como alguém que permitiu "passar o cavalo selado" sem aproveitar a oportunidade, deixando a pista livre para que o possível desconforto com a economia seja monopolizado pela oposição, neste caso provavelmente liderada por Aécio Neves.

O problema para o governador é que a decisão acerca de ser candidato ou não terá de ser tomada antes de 2014, para ter condições de ser um candidato competitivo, caso decida concorrer. Isso significa que, para ele, é chave tentar perscrutar o futuro para antecipar qual deverá ser o quadro da economia nos próximos 18 meses. Isso porque, se julgar que a economia estará bem, terá fortes incentivos a manter o seu partido, o PSB, na coalizão oficial, ao passo que, se concluir que a economia entrará em crise, poderá ser induzido pelas circunstâncias a correr em raia própria nas eleições presidenciais.

Como hoje o cenário básico da maioria dos analistas é de que a economia está em recuperação moderada e que esta se estenderá durante 2014, pareceria que, ao governador, interessaria se manter no mesmo barco que o PT, ainda que preservando sua individualidade, para usufruir da popularidade associada à bonança e se perfilar como o candidato "natural" à sucessão da presidente Dilma, se Lula não concorrer em 2018.

Há dois senões a esse raciocínio. O primeiro é que Lula poderá ser candidato em 2018, pondo essa estratégia a perder. O segundo é que, mesmo com uma situação econômica boa, Campos pode ter chances se juntar, numa coalizão alternativa à coalizão oficial atual, partidos que estiverem insatisfeitos com o governo e mais o apoio da oposição, se esta se dispuser a mudar de estratégia.

Fazer política implica correr riscos e tudo indica que o governador está diante da decisão política mais importante da sua vida. Será interessante ver que caminho irá escolher.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 31/12


Prédio residencial atrai gestora de comercial
A expansão da presença de condomínios que oferecem serviços personalizados aos moradores atraiu a atenção de empresas especializadas no segmento comercial.

A consultoria Cushman & Wakefield, de gestão imobiliária, que atuava em corporativos, decidiu investir também nos residenciais.

Já foram contratados 16 empreendimentos no Brasil, dos quais seis serão entregues em 2013. A meta é dobrar até o fim do ano.

A infraestrutura dos prédios está mais elaborada, com clubes, academias e áreas comerciais, segundo Celina Antunes, presidente da empresa. "São necessários profissionais com preparo para a gestão destes complexos."

Residenciais cada vez menores em localizações nobres e com serviços são o novo nicho em São Paulo, segundo Ricardo Stella, da construtora e incorporadora Trisul.
Um de seus empreendimentos, por exemplo, de unidades com áreas de cerca de 32 m² a aproximadamente 66 m², tem academia, spa, pub, lavanderia e outros serviços pagos conforme o uso.

A função do síndico não chega a ser anulada, de acordo com Carlos Valladão, presidente da Eugenio, agência especializada em marketing imobiliário. "O trabalho muda, mas não deixa de existir."

Com que roupa vou?
Executivos de moda descrevem seus figurinos para a noite da virada

Patricia Cavalcanti, diretora da Daslu
Quis algo "sofisticado e despojado", uma blusa curta com saia longa bordada da marca. "Além do branco, vendemos mais dourado, prata e bordado neste ano."

Fernanda Calvet, diretora da Clinique no Brasil
Réveillon no Rio: bata branca (paz e saúde) e short jeans azul (serenidade), da Le Lis Blanc; sandálias amarelas (prosperidade), da Arezzo, unhas vermelhas (paixão) e calcinha verde (esperança de ser mãe de novo).

Riccy Souza Aranha, sócia da Mixed
Vai usar longo da grife, mas pensou também em vestir um macacão de crepe branco que foi 'best-seller' na loja neste ano. Segundo a empresária, as vendas da peça subiram mais de 50% para a data.

Amir Slama, estilista, fundador da Rosa Chá
"Rio, no Copacabana Palace: Vou de branco, calça, Claudio Gomes (vintage), antiga, que uso apenas na virada, camisa (Comme des Garçons) e sapatos Prada."

Sergio K., dono da grife Sergio K.
A bermuda, com etiqueta que leva seu nome, é prática para pular as sete ondas, e a camisa sobre a camiseta, para o vento da noite.

Luciana Marsicano, diretora-geral da Tiffany & Co. no Brasil
Escolheu um longo estampado da Farm para acompanhar brincos da grife.

O programa para 2013 é pôr o 'pibinho' para crescer - MARCO ANTONIO ROCHA


O Estado de S.Paulo - 31/12


Finalmente! Arre! Acabou! Acabou 2012, ano do mensalão e... do pibinho! Vamos todos para 2013, que nossa líder quer que seja um ano do pibão grandão. Vamos para o pibão grandão. Expressão que pode cair fácil no terreno da picardia.

Mas, da picardia fica encarregado o programa Casseta & Planeta, vamos torcer de fato para que 2013 seja melhor do que 2012. Deve ser, porque o ano que termina foi o pior da era Lula-Dilma, iniciada em 2003. Em termos de economia agregada, ou seja, em termos de PIB, parece que chegamos ao fundo do poço. Então, daqui para a frente, só pode haver recuperação.

O engraçado ministro da Fazenda, Guido Mantega, reuniu-se com jornalistas em Brasília, na semana antes do Natal, num café da manhã, para um ato de fé - fé no futuro próximo. Mas neste ano de 2012 ele já apostou tantas vezes no crescimento do PIB, que se mostrou cada vez menor, que é o caso de indagar quanta fé será necessária para que o ato de fé surta efeito.

Uma coisa é inegável: o governo da presidente Dilma não está contando apenas com a fé. Tem feito, digamos, das tripas coração para anabolizar o crescimento do PIB brasileiro, embora o resultado tenha sido até agora desanimador, bem menor do que as doses continuadas de vitaminas do governo autorizariam prever. E, pior, bem abaixo do crescimento médio obtido pelo bloco de países com grau de desenvolvimento semelhante ao nosso. O grupo principal de "emergentes" está crescendo a taxas médias entre 4% e 5% ao ano; a China está crescendo menos do que o normal, ou seja, apenas 7,5% ao ano. O Brasil está ficando na rabeira, com 1% de aumento do PIB neste ano.

Isso ainda não prejudicou o prestígio do governo e da própria presidente perante a grande massa da opinião pública por um motivo bem mais objetivo do que fé: o emprego tem-se mantido e até aumentado um pouco, na média, e bastante, em alguns setores. De algum modo, isso tem sustentado os níveis médios de renda que foram alcançados nos anos pré-Dilma. Para alguns grupos sociais, até os elevou um pouco. E o desemprego tem estado num dos níveis mais baixos da história.

Este intrigante 2012 oferece, então, o aparente paradoxo de um PIB crescendo quase nada e de uma economia andando razoavelmente bem.

É pura perda de tempo tentar decifrar o enigma. Melhor pensar se a situação pode continuar como está, se pode enveredar para o pior, uma recessão, ou se o PIB volta a crescer - de forma "robusta", como acredita Mantega e como todos nós desejaríamos.

Para a situação continuar enigmática como está por algum tempo, o governo só tem de ir tocando o barco da mesma forma com que tocou até agora: incentivos ao consumo, desonerações fiscais, barateamento e expansão do crédito.

Mas o governo quer mais do que isso, tanto por motivos políticos - pois esse ramerrão não dará muito gás para a reeleição de dona Dilma - quanto por motivos econômicos. E esse ritmo de procissão do enterro, pode resvalar para a recessão, aí, sim, a reeleição se tornaria muito problemática. O que o governo quer mesmo é o pibão grandão, por mais canhestra que seja a expressão.

A receita é complicada de armar, mas simples de entender: basta aumentar a taxa de investimento na economia. O governo tem feito muito gasto que não passa de esbórnia e que entra na conta de investimento público. Mas investimento público é coisa muito séria. Não é dar dinheiro para empresas privadas investirem adoidado, como o BNDES faz para, supostamente, ter lucro com os juros pagos pelos empresários. Isso é bom e necessário numa proporção honestamente conduzida. Mas nem assim é investimento público. Este tem de ser orientado, com racionalidade, competência e administração esmerada para a infraestrutura, pois uma boa infraestrutura acelera os investimentos privados, reduz os custos das empresas privadas, gera empregos, atrai capitais nacionais e internacionais, faz o País e a economia marcharem aceleradamente, como o caso da China demonstra.

Essa é a parte que se pode chamar de investimento público de resultados. A outra parte, absolutamente necessária, mas com efeito mais demorado, é o investimento na educação, na saúde, na Justiça e na segurança - as quatro pernas de sustentação do Estado moderno.

O investimento privado, que completa a equação, virá em quantidade e qualidade crescentes na proporção em que o investimento público se torne não só visível, como bem fundamentado e consequente. O investimento privado cuidará de tudo aquilo que não é, nem deve ser, atribuição do Estado: desde a elaboração de pizzas até a construção e administração de aeroportos. E para que sirva à sociedade, bastam duas exigências: eficácia e competitividade.

Então, a tarefa do governo em 2013, e além de 2013, é cumprir e acelerar um programa de investimentos públicos que já existe - mas se arrasta a passo da tartaruga - e atrair o máximo de investimentos privados, nacionais e estrangeiros, sem firulas, leguleios e exigências de jerico, como aconteceu na licitação dos aeroportos - pois empresa privada que aceita tais exigências é porque não pretende cumprir o contrato.

Com isso, o pibinho recomeçará a crescer.

Com as mãos no fogo - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 31/12


Prestes a comandar a maior capital brasileira, Fernando Haddad sai em defesa do ex-presidente Lula, vê "onda conservadora impressionante" no país e afirma que não será candidato à Presidência da República em 2018

Fernando Haddad está em período de tensão pré-posse. "Acho que só no dia 2 vou relaxar", afirmou ele à coluna na manhã de sexta, 28, ao conceder a sua "última" entrevista antes de assumir a Prefeitura de São Paulo. "É muita coisa para se pensar. Depois, melhora. Na cadeira de prefeito, a coisa deslancha." Estrela maior do PT nas eleições deste ano, Haddad diz não temer as consequências da retração na economia, admite que o partido pode estar acuado por uma "guinada conservadora" e sai em defesa de Lula: "Eu ponho as duas mãos no fogo" por ele.

CRISE ECONÔMICA
Não acredito em queda de arrecadação municipal porque no ano que vem a economia vai crescer mais do que neste ano. Tenho certeza. Agora, nosso problema só vai se resolver com parceria público-privada e público-pública. E este é o ponto relevante: como é que se vai recuperar a economia brasileira para patamares de crescimento de 4% ao ano sem investimento público? São Paulo pode ter uma carteira de projetos que interessará necessariamente ao governo central.

Qual é a situação de SP? É a de um orçamento basicamente consumido pelo custeio.

Folha - São R$ 42 bilhões?

Haddad - Se é que essa receita se realizará.

Está superestimada?

Talvez um pouco. Mas mesmo com R$ 38, R$ 39 bilhões, você está falando de uma arrecadação consumida pelo custeio da máquina, que está pesada. Há pouquíssimo espaço para investimento.

Quanto? R$ 6,5 bilhões?

Não sei de onde, sinceramente, saem esses números. Essa conta não é minha -e está errada. Os recursos que, dizem, estão na conta [da Prefeitura] são carimbados. Não é um dinheiro que você pode manusear para investir. E corresponde a pouco mais de um mês de arrecadação. Está aquém da nossa necessidade. Muito aquém.

LULA
Eu tenho pelo presidente Lula um apreço incomensurável. Fui seu ministro [da Educação] durante quase seis anos e, se eu disser que o presidente Lula me deu um telefonema para discutir qualquer assunto que não fosse do interesse da educação estritamente, estaria mentindo. Eu administrei o segundo maior orçamento da República. Montei equipe, programas, o plano de desenvolvimento da educação, com total liberdade, endosso, entusiasmo e patrocínio do presidente Lula. Então é uma pessoa que eu conheço e reconheço não só como liderança política, mas grande administrador público.

MARCOS VALÉRIO
Ponho as duas mãos no fogo pelo presidente Lula. E mais: acho uma coisa absolutamente temerária esta pessoa, o Marcos Valério [pivô do mensalão que afirmou recentemente que Lula deu "ok" para as operações que originaram o escândalo], depois de anos defendendo reiteradamente uma versão, agora mudar. É temerário se atribuir o valor que está se atribuindo a esse depoimento. A partir do momento em que muda ao sabor das circunstâncias, a credibilidade dessa pessoa é que precisa ser discutida.

E a Operação Porto Seguro, que envolve uma ex-assessora de Lula [Rose Noronha] numa máfia de venda de pareceres?

As investigações é que vão dizer. O que de fato aconteceu a partir desse suposto tráfico de influência? Ele foi eficaz? Produziu efeito concreto? Enfim, o que posso dizer é que convivi com o presidente Lula e sei do seu método de trabalho, do seu compromisso com o país, da sua dedicação.

O senhor já me disse que Lula é a única personalidade na defesa de quem as pessoas sairiam de casa.

Ah, ele mobiliza, né? As pessoas confiam no presidente Lula. E quem trabalhou com ele tem duas vezes mais razão para isso.

Acha possível uma mobilização em defesa de Lula?

Creio que não haverá a menor necessidade disso.

O senhor também já falou que essas críticas podem forçar Lula a ser candidato de novo.

Não vejo que o presidente se paute por esse tipo de circunstância. Mas ele é novo, fisicamente forte, gosta da política e foi o melhor presidente da República que o Brasil já teve, segundo todas as pesquisas de opinião. Por que não pode pensar em voltar? Ele tem todas as condições de pleitear um cargo público, qualquer que seja.

Governador? Senador?

Estou tão acostumado a vê-lo como presidente da República que é difícil imaginá-lo em outra posição.

Em 2014 ou em 2018?

Não vejo essa hipótese de 2014 em função até do sucesso da presidenta Dilma [Rousseff] e da sua vontade, ainda não manifesta, de continuar o seu trabalho, que é apreciado pela população.

MENSALÃO
Os desdobramentos jurídicos desse julgamento vão ganhar mais espaço. Porque do ponto de vista político está encerrado o assunto. Mas, do ponto de vista doutrinário, há um longo caminho a ser explorado, nas faculdades de direito, entre juristas, criminalistas.

O julgamento estará imerso em controvérsia, em função das inflexões que ele promoveu. Porque houve uma mudança de jurisprudência radical para a condenação dos acusados. Toda uma releitura foi feita. A controversíssima tese do domínio do fato [que levou à condenação de José Dirceu], por exemplo. Essa discussão vai perdurar por muitos anos, vai se verificar se outros casos vão receber o mesmo tratamento...

Como o mensalão do PSDB?

Por exemplo. A curiosidade é grande.

PT ACUADO
O uso que partidos conservadores fizeram dessas temáticas [descriminalização do aborto, defendida no passado pelo PT, e combate à homofobia] pode, sim, ter acuado o PT. Porque foi um uso muito truculento [referindo-se às campanhas presidencial de 2010 e municipal de 2012, em que o então candidato do PSDB José Serra discutiu os temas]. E de onde menos se esperava. Porque os tucanos sempre foram percebidos como uma camada ilustrada da sociedade. Tinham verniz de modernidade, não se associariam ao obscurantismo para a luta política rebaixada. Mas, na hora do embate, lançam mão de qualquer expediente para ganhar uns votos. O PT se surpreendeu com essa atitude e talvez tenha taticamente se recolhido. Até em busca de uma explicação para tamanha virulência de um partido que nasceu com bandeiras modernas também.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defende a descriminalização das drogas.

Mas o PSDB finge que não ouve, né? Que não é com ele.

Mas o PT não perdeu a posição de "vanguarda"? Não virou, como já disseram, "o partido de combate à pobreza dentro da ordem absoluta"?

O PT é o partido mais vivo do país. Tem taxa de preferência quatro, cinco vezes maior que a do segundo colocado, o PMDB. É um fenômeno de massa impressionante. Já fez muito pelo país e continuará fazendo. Mas reage às circunstâncias. O partido acaba, de forma quase incontornável, fazendo cálculos sobre onde é possível avançar na sua própria agenda com mais facilidade e aderência social. E por isso o que o teu principal adversário faz importa.

ONDA CONSERVADORA
E há no plano da cultura, indiscutivelmente, uma onda conservadora impressionante. Basta você ver quem eram os intelectuais, os filósofos, os críticos que tinham voz e palanque nos anos 80 e 90 -e compará-los com os de hoje. Não vou dizer nomes. Mas é uma desproporção! Você tem uma virada conservadora e rebaixada do ponto de vista argumentativo. Quer dizer, perdemos duas vezes. A agenda cultural parece que está na mão de pseudointelectuais.

Eu vejo esses fenômenos acontecerem inclusive fora do país. Houve uma guinada à direita, ao conservadorismo.

Importantes paradigmas sociais e econômicos vêm sendo rompidos pelos governos do PT. Mas reconheço que, no plano da cultura, há um déficit de pró-atividade. Acaba sendo uma escolha diante de uma circunstância muito problemática.

NOVO PT
Existe o PT, que tem força popular. Não é velho, não é novo. É o PT. Quando você conversa com o cidadão, ele fala 'eu voto no PT', ele não fala 'eu voto no novo PT'. E é óbvio que ele sabe que por trás da legenda tem a liderança do Lula, ou da Marta [Suplicy], da [Luiza] Erundina. Quem me levou a 28% dos votos [no primeiro turno da eleição] foi esse partido.

Não é assim no mundo desenvolvido? Alguém sabia quem era o Mitt Romney [candidato derrotado à Presidência dos EUA pelo Partido Republicano] pouco tempo atrás? Ele tem o voto republicano. O PT tem a força da legenda e empresta prestígio para quem empunha a bandeira. Com a consolidação dos partidos no Brasil, isso tende a ser a regra. A política fica menos personalista, abre espaço para a renovação permanente dos quadros.

EDUARDO CAMPOS
Olha, o Eduardo é um quadro político da mais alta respeitabilidade, qualificado para qualquer voo. Mas eu não acredito que saia candidato à Presidência da República [pelo PSB] em 2014.

Em 2018 o senhor pode concorrer à Presidência com ele?

Penso que Eduardo, neste ano, será candidato. Eu, não [risos]. Estou concentrado aqui nos meus afazeres, que não serão nada simples a partir do dia 2.

Frases
"Ponho as duas mãos no fogo pelo presidente Lula"

"Acho absolutamente temerário essa pessoa, o Marcos Valério, depois de anos defendendo reiteradamente uma versão, agora mudar"

"A partir do momento em que muda ao sabor das circunstâncias, a credibilidade dessa pessoa [Valério] é que precisa ser discutida"

"Lula é novo, fisicamente forte, gosta da política e foi o melhor presidente que o Brasil já teve. Por que não pode pensar em voltar?"

"O julgamento [do mensalão] estará imerso em controvérsia. Porque houve uma mudança de jurisprudência radical para a condenação dos acusados"

"O uso que partidos conservadores fizeram dessas temáticas [aborto e homofobia] pode, sim, ter acuado o PT"

"E há no plano da cultura, indiscutivelmente, uma onda conservadora impressionante"

"A agenda cultural está na mão de pseudointelectuais"

O bicho vai pegar - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 31/12


Conselho que vale no mínimo para os primeiros meses do novo ano: preste atenção quando Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, disser alguma coisa.

Lula alugou a boca de Gilberto ao se ver acuado pelo julgamento do mensalão, pela descoberta da quadrilha da qual fazia parte Rosemary Noronha, sua ex-secretária, e pela delação à procura de um prêmio feita por Marcos Valério.

Gilberto foi posto na antessala da presidente Dilma para funcionar como principal olheiro de Lula, prestando também ao exigente chefe todo tipo de serviço.

Um deles: falar quando Lula não puder ou não achar conveniente. Transmitir suas orientações públicas para dentro ou fora do PT. Com especial afinco, Gilberto ocupou-se disso nas últimas atribuladas semanas.

Em entrevistas vapt-vupt, em pelo menos uma, extensa, concedida ao jornal Correio Braziliense, e em vídeo divulgado no site do PT, ele disse o que Lula lhe soprou.

O PT está obrigado a ser solidário com os mensaleiros que tombaram lutando, imagina Lula. Mais do que isso: está obrigado a defendê-los diante dos evidentes "exageros" produzidos durante os quatro meses de julgamento.

"Não é porque um companheiro seu cometeu um erro ou foi vítima de exageros que você irá abandoná-lo", ensina Lula. Ou melhor: Gilberto. "Por outro lado, não há dúvida de que o PT precisa se renovar e se refazer do ponto de vista da ética, da coisa pública, e fazer isso não apenas olhando para os próprios erros, mas para as questões estruturais da política que induzem a essa cultura".

No segundo semestre de 2005, Lula foi à televisão e pediu desculpas aos brasileiros. Uma vez reeleito no ano seguinte, voltou a se referir ao mensalão como "uma farsa".

Quem quiser espere deitado o dia em que Lula admitirá o que o Supremo Tribunal Federal concluiu enfático: foi mensalão. E com dinheiro público. Não foi Caixa 2, o que também configuraria crime.

"O erro do PT foi um erro de Caixa 2", insiste Gilberto. Digo: Lula. "Não reconheço nada do que foi colocado em termos de pagamentos mensais".

Compreensível. Lula não pode admitir que mentiu durante todos esses anos. De resto, os presídios estão superlotados de inocentes condenados sem motivo... Acolher mais alguns não fará para eles a menor diferença.

A esperteza de Lula é maior do que a de Gilberto. Lula teria sido mais cuidadoso ao responder sobre a reforma política, que poderia introduzir o financiamento público de campanhas.

Gilberto revelou sua descrença na aprovação da ideia de financiamento público - até aí nada demais. Mas derrapou ao afirmar: "os outros partidos não são menos corrompidos do que o PT". Êpa!

Lula não diria que o PT é um partido corrompido - o que é isso, meu irmão? Golpismo mediático? Sai pra lá!

Lula diria que o PT apenas se valeu das mesmas armas empregadas pelos demais partidos. Não deixaria brecha para que se pense que seus companheiros, mártires do mensalão, possam ter embolsado algum.

Se desviaram dinheiro foi para o bem do povo brasileiro. Quem duvida?

Por fim, em 2013 o "bicho vai pegar", alertou Lula via Gilberto.

Para ele, os ataques sofridos por Lula têm um só objetivo: "destruir o nosso PT, o nosso governo".

Lula receia ser processado pelo que Marcos Valério anda dizendo e convoca o PT para a luta.

Ao mesmo tempo, sabe que ser processado seria sua melhor chance para voltar como candidato a presidente em 2014.

"O povo é quem me julgará".

Que tal?

(Vai que é tua, João Santana, o marqueteiro de nove entre 10 candidatos vencedores!).

Feliz Ano Novo!

Um prefeito que desse jeito - MELCHIADES FILHO

FOLHA DE SP - 31/12


BRASÍLIA - Ainda existe quem estranhe quando Eduardo Paes afirma que prefere completar o segundo mandato na Prefeitura do Rio a buscar uma eleição algo garantida ao governo do Estado.

Afinal, reza o senso comum que os políticos devem aproveitar o embalo para galgar a escada de cargos eletivos. Tudo menos ficar sem mandato entre um degrau e outro.

Como, além disso, o PMDB não dispõe hoje de nome mais forte que o do prefeito para dar continuidade à administração de Sérgio Cabral, virar governador em 2014 seria o caminho natural para Paes.

Ocorre que as coisas estão mudando -e, pelo jeito, não só no Rio.

Uma nova safra de prefeitos toma posse amanhã inclinada a cumprir os quatro anos de mandato -se possível, engatando outros quatro. Parece ter percebido que pular de uma cadeira para outra não é necessariamente a melhor estratégia.

A asfixia orçamentária dos Estados ajudou a amadurecer esse diagnóstico. E está bem fresco o antiexemplo de José Serra, que se espatifou nas urnas depois de deixar dois mandatos incompletos -um deles no nascedouro- em São Paulo.

Mas esse viés defensivo não explica, sozinho, a guinada. Os prefeitos eleitos também notaram que têm pela frente uma grande oportunidade de fazer a diferença -se honrarem o compromisso de quatro anos assumido com o eleitorado.

Nada melhor para o currículo de Paes do que ficar marcado como o prefeito que comandou a reviravolta carioca e conduziu a cidade à grande festa da Olimpíada de 2016.

Guardadas as diferenças, é o mesmo desafio de Fernando Haddad (PT), Gustavo Fruet (PDT) e ACM Neto (DEM). Reduzir o deficit social e o caos de São Paulo, recolocar Curitiba na vanguarda urbanística, tornar Salvador um município à altura de sua riqueza cultural e histórica, um feito assim pavimentaria o futuro político de qualquer um.

Fala, Dilma - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO


O Estado de S.Paulo - 31/12


Imagine se você tivesse que falar em público quatro dias sem parar. Está no preço de ser presidente. Mesmo pouco expansiva, Dilma Rousseff encarou essa maratona verbal ao longo dos dois anos no cargo. Foram 96 horas de verborragia, diluídas em 730 dias. Um pronunciamento público dia sim, dia não, em média. Acha muito? Ela não fala nem a metade do que Lula falava.

Comunicar-se é parte vital do exercício da Presidência. Foram 350 falas de Dilma desde a posse, entre discursos, mensagens, homenagens e pronunciamentos. Por comparação, Lula discursou 2.407 vezes em oito anos como presidente - praticamente todo dia útil e mais um pouco. Ele não só fazia uso mais frequente da palavra, como gastava muito mais o verbo. Seus discursos eram duas vezes e meia mais palavrosos do que os da sucessora.

Há dois motivos para tanta diferença. Lula preferia o improviso, e falando de cabeça gastava mais tempo, repetia mais palavras, redundava. Mas soava espontâneo, arrancava reações da plateia e se alimentava delas. Dilma segue o script, até agora.

Lula foi um presidente falante e conversador. Viajou mais, esteve em mais lugares, interagiu mais com o público. Recebeu melhor feedback e fez disso o seu termômetro da opinião pública - por mais enviesado que fosse o tipo de amostra selecionado, já que na maioria das vezes o governante discursa para sua claque ou para um público cativo, que depende de sua boa vontade.

Dilma não é tão palaciana quanto os presidentes militares, mas é mais dependente de intermediários para sentir o pulso da rua. Isso não é necessariamente ruim, mas faz diferença no governar.

Boa parte das decisões de Lula era gestada nesse contato com o seu eleitor, numa dinâmica de retroalimentação intuitiva. Essa sensibilidade para captar o que pensa e quer a maioria está na gênese tanto da sua popularidade quanto do seu populismo. Quanto mais crescia sua aprovação, mais Lula discursava. O fim do governo foi uma avalanche de sintagmas, boa parte deles propagandeando o nome de sua candidata à sucessão.

Dilma segue um processo mais cartesiano. Deu certo até agora, mas têm crescido as pressões para a presidente conversar mais, principalmente com os empresários. E conversar implica ouvir.

A presidente não parece apaixonada pelo som da própria voz, como grande parte dos políticos é. Mas isso não a faz automaticamente mais disposta a escutar a voz dos outros. Durante a campanha eleitoral, Dilma conseguiu encher uma sala virtual maior do que qualquer outro político brasileiro no Twitter. Eleita, não deu mais nenhum pio na rede social. Fechou o canal que tinha aberto.

Quando tem a palavra, Dilma costuma disparar cerca de 100 delas por minuto. Mas a ocasião faz a média. Em situações formais, como quando se dirige aos militares, a presidente faz uso do papel ou do teleprompter para ler seus discursos. Acaba falando mais rapidamente. No pronunciamento de final de ano veiculado em cadeia de rádio e TV na antevéspera do Natal, Dilma conseguiu emendar 1.304 palavras em 11 minutos: 118 por minuto.

Quando está mais descontraída e arrisca algum improviso, a presidente fala mais devagar. Há dez dias, no discurso de reinauguração do Mineirão, Dilma até puxou corinho ("Ô, ô, o Mineirão voltou"), e a velocidade de sua língua caiu para 92 palavras por minuto. Em contrapartida, interagiu com a audiência. No dia seguinte, numa inauguração em Caxias do Sul, ela voltou a quebrar o protocolo. Pode virar uma tendência.

Aos monólogos oficiais, contrapõe-se quase uma centena de diálogos com jornalistas. Foram 98 entrevistas em dois anos - boa parte em viagens internacionais ou em visitas de governantes estrangeiros. Nessas ocasiões as entrevistas coletivas fazem parte do protocolo. Assim, em temporada de viagens ao exterior aumentam as vezes em que Dilma responde perguntas de repórteres.

Foi o que aconteceu em dezembro, o mês mais prolífico em discursos e entrevistas de Dilma em 2012:8 bate-papos com a imprensa e 30 discursos, um recorde para a presidente. Tantas palavras têm dois motivos: as viagens à Rússia e à França, e um aparente esforço de convencimento, mirando os empresários, de que a economia vai bem.

Há sinais de que Dilma começou a se comunicar mais. Talvez seja a urgência de vencer a batalha das expectativas econômicas. Talvez seja mais prática em eventos públicos. Mais provável que seja uma combinação de necessidade e experiência. Está na hora.

Nos próximos dois anos, a presidente precisará exercitar a conversação com mais frequência, engenho e arte, se não quiser correr risco de cumprir a maldição de Chacrinha.

Controle de qualidade - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 31/12


Antes da posse, Fernando Haddad já assinou os dois decretos inaugurais de sua administração. O primeiro, protocolar, reorganiza a estrutura das 27 secretarias. O segundo cria cinco comitês integrados de gestão -cidadania, desenvolvimento social, desenvolvimento sustentável, ordenação territorial e gabinete. Os grupos, que prestarão contas semanalmente ao prefeito eleito, cuidarão dos projetos estratégicos do governo do PT, detalhando metas e indicadores de desempenho.

PowerPoint Cada comitê terá um secretário-executivo e um gerente de projetos, encarregados da produção de relatórios trimestrais.

Porteira... Haddad mandou recado a seu heterogêneo secretariado, que abrange desde o PV, da coligação do tucano José Serra, até o PTB, aliado de Celso Russomanno. O petista quer se reunir com toda a equipe de assessores das pastas e conhecer os respectivos currículos.

... fechada O prefeito eleito avisou ainda aos partidos da coalizão agraciados com cargos no primeiro escalão que a Controladoria Geral do Município, recém-criada, tratará eventuais desvios de conduta de forma "rigorosa".

W.O. Lula disse ao filho Marcos da Silva, eleito vereador pelo PT de São Bernardo, que não irá à posse, amanhã, no Centro de Formação dos Profissionais da Educação. O ex-presidente também não confirmou presença no evento em que Haddad receberá o cargo de Gilberto Kassab.

Upgrade O PSD, de Kassab, será o principal beneficiado com a dança das cadeiras na Assembleia paulista, logo no início de 2013. A sigla passará de três para cinco deputados estaduais, com as posses de Leandro do KLB e Oswaldo Vergínio nas vagas de eleitos pelo DEM e PT.

Águas passadas O prefeito reeeleito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), teve encontro no seu gabinete com o vereador eleito Pedro Patrus (PT), filho do ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias, adversário do socialista na disputa eleitoral de outubro passado.

Dobradinha Ex-parceiro dos petistas mineiros, Lacerda afirmou ter ficado com "muito boa" impressão do debutante no Legislativo, que propôs atuação conjunta em projetos na área de assistência social da prefeitura.

Telefone... Contrariando José Sarney (PMDB-AP), a cúpula da Anatel opera para fazer de Victor Cravo, atual procurador-geral, o novo conselheiro na vaga de Emília Ribeiro. O presidente do Senado tenta a recondução de Emília, mas o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) não topa, pois ela é vista como "rebelde" no órgão.

... sem fio Se Cravo for indicado, Paulo Bernardo e João Rezende, atual presidente, terão o controle total dos votos da agência. Cravo era sub do conselheiro Rodrigo Zerbone, outrora consultor no Ministério das Comunicações. Foi Zerbone quem indicou Cravo para a Anatel.

Antenados Com a saída de João Rezende da Anatel, prevista para novembro de 2013, o mesmo grupo tentará instalar Rodrigo Zerbone na presidência. Rezende sonha com o Ministério das Comunicações caso Bernardo seja realocado para outra pasta.

Cerco Questionado sobretudo pelo governo paulista, o Ministério da Justiça triplicou o gasto em segurança pública para os 11 Estados que fazem fronteira com outros países. O investimento da pasta em aquisição de equipamentos saltou de R$ 50 milhões em 2011 para R$ 150 milhões este ano.

Bye-bye Depois do desgaste do terceiro lugar na eleição para a Prefeitura de Recife, Humberto Costa (PT-PE) quer dar um tempo na política. O petista se despediu dos colegas de Senado anunciando que passará três meses fazendo imersão de inglês nos Estados Unidos.

TIROTEIO
O Brasil inova. Rejeição de contas impede que candidato dispute eleição, mas condenado pelo STF pode assumir o cargo de deputado.
DO CIENTISTA POLÍTICO RUBENS FIGUEIREDO, sobre José Genoino (PT-SP), condenado no mensalão, assumir cadeira na Câmara na quarta-feira.

Contraponto


Relógio de ponto


Ao participar de solenidade na Federação do Comércio de São Paulo, Fernando Haddad discursava sobre as medidas que implantará em sua gestão para beneficiar o setor. Mencionou os investimentos em mobilidade urbana:

-Falar em redução da jornada de trabalho em São Paulo é uma abstração. Desde a hora que você acorda até a hora que você vai deitar você está trabalhando...

O presidente da Fecomercio, Abram Szajman, anunciou então que também estava presente na plateia o sindicalista Ricardo Patah, representante dos comerciários.

-Queria cumprimentar o Patah, que está ali no fundo. Você ouviu o que o prefeito falou de horário, né?

A década perdida - MARCO ANTONIO VILLA


O Estado de S.Paulo - 31/12


A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 foi recebida como um conto de fadas. O País estaria pagando uma dívida social. E o recebedor era um operário.

Operário que tinha somente uma década de trabalho fabril, pois aos 28 anos de idade deu adeus, para sempre, à fábrica. Virou um burocrata sindical. Mesmo assim, de 1972 a 2002 - entre a entrada na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e a eleição presidencial -, portanto, durante 30 anos, usou e abusou do figurino do operário, trabalhador, sofrido. E pior, encontrou respaldo e legitimação por parte da intelectualidade tupiniquim, sempre com um sentimento de culpa não resolvido.

A posse - parte dos gastos paga pelo esquema do pré-mensalão, de acordo com depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público - foi uma consagração. Logo a fantasia cedeu lugar à realidade. A mediocridade da gestão era visível. Como a proposta de governo - chamar de projeto seria um exagero - era inexequível, resolveram manter a economia no mesmo rumo, o que foi reforçado no momento da alta internacional no preço das commodities.

Quando veio a crise internacional, no final de 2008, sem capacidade gerencial e criatividade econômica, abriram o baú da História, procurando encontrar soluções do século 20 para questões do século 21. O velho Estado reapareceu e distribuiu prebendas aos seus favoritos, a sempre voraz burguesia de rapina, tão brasileira como a jabuticaba. Evidentemente que só poderia dar errado. Errado se pensarmos no futuro do País. Quando se esgotou o ciclo de crescimento mundial - como em tantas outras vezes nos últimos três séculos -, o governo ficou, como está até hoje, buscando desesperadamente algum caminho. Sem perder de vista, claro, a eleição de 2014, pois tudo gira em torno da permanência no poder por mais um longo tempo, como profetizou recentemente o sentenciado José Dirceu.

Os bancos e as empresas estatais foram usados como instrumentos de política partidária, em correias de transmissão, para o que chamou o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, de "projeto criminoso de poder", quando do julgamento do mensalão. Os cargos de direção foram loteados entre as diferentes tendências do Partido dos Trabalhadores (PT) e o restante foi entregue à saciedade dos partidos da base aliada no Congresso Nacional. O PT transformou o patrimônio nacional, construído durante décadas, em moeda para obter recursos partidários e pessoais, como ficou demonstrado em vários escândalos durante a década.

O PT era considerado uma novidade na política brasileira. A "novidade" deu vida nova às oligarquias. É muito difícil encontrar nos últimos 50 anos um período tão longo de poder em que os velhos oligarcas tiveram tanto poder como agora. Usaram e abusaram dos recursos públicos e transformaram seus Estados em domínios familiares perpétuos. Esse congelamento da política é o maior obstáculo ao crescimento econômico e ao enfrentamento dos problemas sociais tão conhecidos de todos.

Não será tarefa fácil retirar o PT do poder. Foi criado um sólido bloco de sustentação que - enquanto a economia permitir - satisfaz o topo e a base da pirâmide. Na base, com os programas assistenciais que petrificam a miséria, mas garantem apoio político e algum tipo de satisfação econômica aos que vivem na pobreza absoluta. No topo, atendendo ao grande capital com uma política de cofres abertos, em que tudo pode, basta ser amigo do rei - a rainha é secundária.

A incapacidade da oposição de cumprir o seu papel facilitou em muito o domínio petista. Deu até um grau de eficiência política que o PT nunca teve. E o ano de 2005 foi o ponto de inflexão, quando a oposição, em meio ao escândalo do mensalão, e com a popularidade de Lula atingindo seu nível mais baixo, se omitiu, temendo perturbar a "paz social". Seu principal líder, Fernando Henrique Cardoso, disse que Lula já estava derrotado e bastaria levá-lo nas cordas até o ano seguinte para vencê-lo facilmente nas urnas. Como de hábito, a análise estava absolutamente equivocada. E a tragédia que vivemos é, em grande parte, devida a esse grave erro de 2005. Mas, apesar da oposição digna de uma ópera-bufa, os eleitores nunca deram ao PT, nas eleições presidenciais, uma vitória no primeiro turno.

O PT não esconde o que deseja. Sua direção partidária já ordenou aos milicianos que devem concentrar os seus ataques na imprensa e no Poder Judiciário. São os únicos obstáculos que ainda encontram pelo caminho. E até com ameaças diretas, como a feita na mensagem natalina - natalina, leitores! - de Gilberto Carvalho - ex-seminarista, registre-se - de que "o bicho vai pegar". A tarefa para 2013 é impor na agenda política o controle social da mídia e do Judiciário. Sabem que não será tarefa fácil, porém a simples ameaça pode-se transformar em instrumento de coação. O PT tem ódio das liberdades democráticas. Sabe que elas são o único obstáculo para o seu "projeto histórico". E eles não vão perdoar jamais que a direção petista de 2002 esteja hoje condenada à cadeia.

A década petista terminou. E nada melhor para ilustrar o fracasso do que o crescimento do produto interno bruto (PIB) de 1%. Foi uma década perdida. Não para os petistas e seus acólitos, claro. Estes enriqueceram, buscaram algum refinamento material e até ficaram "chiques", como a Rosemary Nóvoa de Noronha, sua melhor tradução. Mas o Brasil perdeu.

Poderíamos ter avançado melhorando a gestão pública e enfrentado com eficiência os nossos velhos problemas sociais, aqueles que os marqueteiros exploram a cada dois anos nos períodos eleitorais. Quase nada foi feito - basta citar a tragédia do saneamento básico ou os milhões de analfabetos.

Mas se estagnamos, outros países avançaram. E o Brasil continua a ser, como dizia Monteiro Lobato, "essa coisa inerme e enorme".

Recomeço - AÉCIO NEVES

FOLHA DE SP - 31/12


Hoje deixamos 2012 para trás e saudamos o ano que se inicia. O que dizer em uma data como esta, que seja diferente dos lugares comuns -ainda que sinceros- em que nos colocamos para desejar paz, saúde e alegrias àqueles que amamos? Um novo ano sempre traz consigo um valioso presente: nos oferece a oportunidade de retomar projetos e sonhos que tantas vezes são adiados pelas circunstâncias e acabam esquecidos, à espera de novos recomeços. Dos necessários recomeços que tornam a vida e seus ciclos uma verdadeira dádiva.

De certa forma podemos considerar que o país também recomeça com o início dos mandatos de mais de 5.000 prefeitos eleitos e reeleitos, que inauguram novas jornadas na base da administração pública brasileira. Muitos ainda não sabem, mas serão desafiados e terão a responsabilidade de mudar o curso daquele que é, seguramente, o maior problema do Brasil contemporâneo, disseminado por diferentes esferas do poder público: a crônica doença da ineficiência do Estado brasileiro.

Este enfrentamento parece ser cada vez mais inevitável, não só porque o cenário adiante é muito difícil -baixíssimo crescimento, inflação em alta e minúsculo investimento público-, mas também em função do crescente movimento de transferência de responsabilidades administrativas a Estados e municípios, enquanto o governo central concentra mais recursos, poder e bate novos recordes de arrecadação.

Tudo isso se soma a um volume inédito de críticas e cobranças dos cidadãos, cansados da repetição dos escândalos e do desperdício de recursos preciosos que dramaticamente faltam em áreas essenciais à vida das pessoas.

Ensaia-se no país um novo protagonismo dos cidadãos, que têm tudo para ocupar amplos espaços vazios na vida nacional, substituindo importantes atores sociais que se misturaram aos interesses do governismo e, desde então, mantêm um constrangedor silêncio obsequioso.

Em que pese o cenário negativo, o início de um ciclo de governança sempre carrega o precioso ativo da esperança. E a grande esperança dos brasileiros é que sejam dadas respostas a essas contradições de fundo, como o aparelhamento partidário da administração pública e o compadrio, a ineficiência dos serviços prestados, os desvios e a corrupção endêmica. O país tem a preciosa oportunidade de, a partir de nossas cidades, substituir estas práticas por outros valores e paradigmas, como a profissionalização do serviço público, a adoção da meritocracia que respeita o bom servidor, a qualidade dos gastos e um rigoroso controle de resultados.

Neste sentido -e a partir do importante processo de renovação que se iniciou nas urnas-, o Brasil que recomeça amanhã merece as nossas melhores esperanças.

Republicano - DENIS LERRER ROSENFIELD


O GLOBO - 31/12


Não foi das menores questões enfrentadas pelo Supremo a da perda de mandato parlamentar dos deputados condenados na Ação Penal 470, denominada de mensalão. Diferentes interpretações constitucionais se confrontaram, todas embasadas em nossa Carta Maior . O voto vencedor no Supremo, por decisão apertada, mostra o quanto o problema era dos mais espinhosos, não produzindo uma adesão imediata dos ministros. Argumentos existiam de ambas as partes. O próprio presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, saiu em defesa do que entendia como prerrogativas do Poder Legislativo, escudado, nesse sentido, em uma das interpretações. O paradoxo da situação, no entanto, salta à vista. Um parlamentar condenado, com trânsito em julgado, tendo perdido seus direitos políticos, por crimes cuja condenação ultrapassa quatro anos, não poderia, evidente-mente, exercer o mandato que lhe foi conferido por um processo eleitoral.

Tampouco faria sentido recomeçar todo o processo na Câmara dos Deputados, com advogados e direito de defesa, na medida em que esse direito já foi amplamente exercido no Supremo. Tal repetição daria lugar a uma crise institucional, como se o Supre-mo não fosse “supremo”, mas derivado de um “processo jurídico” que seria feito pela Câmara, que teria a palavra final. Não caberia, pois, ao STF dirimir em caráter definitivo uma interpretação de cunho constitucional. A contradição é manifesta. Não se trata de uma situação corri-queira, não podendo ser equiparável à de crimes menores, como infrações de trânsito. O bom-senso exige diferenciar infrações menores das de crimes como corrupção passiva, ativa, peculato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, implicando a perda de direitos políticos e elevadas condenações. A improbidade administrativa no manejo da coisa pública é cristalina, possuindo, aliás, legislação específica que implica a perda de mandato eletivo e afastamento de cargo público.

Princípios básicos de igualdade de todos os cidadãos perante as leis, a moralidade da política, a normatização de um Estado propriamente republicano seriam violados. É como se uma legislação especial, que valeria somente para parlamentares, não se estendendo nem ao Presidente da República, criasse uma classe de privilegiados, situados acima da lei geral. A questão tornou-se, nesse embate, tanto mais interessante por envolver questões de princípios e valores constitucionais, que foram arrolados do ponto de vista das diferentes interpretações. Questões essas que visaram a equacionamentos capazes de corrigir antinomias e contradições vigentes no próprio texto constitucional. No que diz respeito às prerrogativas do Poder Legislativo, foi pouco considerado publicamente um fato da maior relevância, a saber , o de que a Câmara dos Deputados poderia ter sustado o processo de seus parlamentares, conforme o disposto pela Emenda Constitucional 35/2001, que alterou o artigo 53 da Constituição Federal. Consta, em seu parágrafo 3º: “Recebida a denúncia contra o senador ou deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação.”

Ou seja, os partidos políticos envolvidos no mensalão não exerceram essa sua prerrogativa, o que significa dizer que qualquer protesto posterior tem a sua legitimidade em muito reduzida. Analisou, com rigor , o ministro Gilmar Mendes em seu voto: “Deve-se salientar , ainda, que o controle político do processo judicial contra parlamentares permanece nas mãos do Congresso Nacional, cujas Casas sempre poderão sustar o andamento da ação penal antes do advento de decisão definitiva, nos termos do artigo 53, parágrafo 3º, da Constituição, com a redação dada pela EC 35/2001. ” Após a EC 35/2001, o Congresso perdeu a prerrogativa de autorizar o processamento de parlamentares. Todavia, o Constituinte derivado atribuiu ao Parlamento, até a decisão final do processo, o relevante poder de sustar o andamento de ações penais contra parlamentares. E os partidos nada fizeram, provavelmente por medo de suas consequências políticas junto à opinião pública. Compatibilizar o texto constitucional foi o esforço levado ao cabo pelos ministros. Isto é, as normas da Constituição devem não ser incoerentes entre si, o que é uma aplicação básica do princípio lógico de não contradição. Se o pensamento não pode prescindir desse princípio, sob pena de cair na insensatez, o mesmo vale para a compatibilidade de normas constitucionais.

O trabalho do Supremo teve, portanto, de recorrer a questões de fundamentação, apresentando uma hierarquia de seus bens jurídicos maiores, de modo que a sensatez exigida do pensamento pudesse se alinhar com os maiores princípios republicanos, como a probidade administrativa, a isonomia e a moralidade política. Eis uma das maiores, senão a maior função, de uma Corte Constitucional, a de mostrar que o “Estado democrático de direito” não pode ser equiparado a processos eleitorais. O voto popular não condena nem absolve ninguém, como alguns mais afoitos têm apregoado. Ele tem apenas a função de eleger representantes por um período determinado, segundo a legislação vigente e em obediência à Constituição e aos princípios republicanos. Da mesma maneira que não faria o menor sentido atribuir a eleições o poder de mudar princípios fundamentais como o da igualdade entre homens e mulheres ou reintroduzir a discriminação religiosa ou de raças, tampouco faz sentido atribuir a processos eleitorais o poder de absolver deputados que cometeram crimes e foram condenados com trânsito em julgado pela Suprema Corte, com perda de direitos políticos. Seguir e aceitar a decisão do Supremo referente, no caso, à perda do mandato de deputados, dignifica a representação parlamentar em vez de diminuí-la. É a República que está em questão.

Como fica o FPE? Ou não fica? - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 31/12


Em descanso que por certo consideram merecido, apesar do muito que deixaram de fazer por desídia ou conveniência, deputados e senadores talvez nem se lembrem de que, por não terem decidido a tempo, criaram um imenso problema jurídico cuja consequência pode ser o caos nas finanças dos Estados, ameaçados de não receber, em 2013, transferências de mais de R$ 50 bilhões. Por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada em fevereiro de 2010, as regras aplicadas até agora para o cálculo da parcela do Fundo de Participação dos Estados (FPE) a que cada Estado tem direito não valem mais depois de 31 de dezembro de 2012.

Para evitar a suspensão das transferências após essa data, o Congresso deveria ter aprovado novas regras para a repartição. Dispôs de praticamente três anos para tomar essa decisão, mas nada fez. E, enquanto seus membros, incluindo os dirigentes das duas Mesas, descansam junto aos seus e aos seus eleitores, cidadãos responsáveis se perguntam: o que acontecerá?

A não definição de novas regras para a repartição do FPE é mais uma demonstração clara do modo como o Congresso adia decisões - mesmo com o risco de levar a um vazio jurídico, como agora - sobre questões que sejam um pouco mais complexas, como as que envolvem interesses conflitantes das Unidades da Federação. Ressalve-se, em favor dos atuais congressistas, que este não é um problema só desta legislatura, pois ele deveria ter sido resolvido, no máximo, dois anos depois da promulgação da Constituição de 1988.

Criado em 1965, o FPE foi incorporado à Constituição. Sua aplicação foi regulada pela Lei Complementar n.º 62, de dezembro de 1989, mas a própria lei estabeleceu que os critérios para a divisão do FPE eram provisórios e deveriam ser substituídos em 1991, por regras baseadas nos dados do Censo Demográfico de 1990. Mudou o País, mudaram as necessidades de cada Estado por recursos transferidos pelo governo federal, mas, mais de 20 anos depois do término de seu prazo de validade, as regras do FPE continuam as mesmas.

Governos de Estados que se sentiram prejudicados pelas regras atuais entraram com Ações Diretas de Inconstitucionalidade contra a lei complementar de 1989. No julgamento dessas ações, o STF declarou inconstitucional o artigo da lei que define as regras de reparticipação do FPE e deu ao Congresso prazo de quase três anos para estabelecer novas. Esperava-se que, com essa decisão, o Congresso, afinal, aprovasse novos critérios. Sobre o assunto, há projetos tramitando nas duas Casas, mas que, por conveniência política dos parlamentares, não avançaram.

A consequência óbvia seria a suspensão das transferências depois de terminado o prazo dado pelo STF para o Congresso decidir. As implicações práticas da suspensão, no entanto, seriam imensas - o FPE representa mais da metade da receita de alguns Estados, e na de vários outros tem participação elevada.

Chega a ser comovente a singeleza com que o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, avaliou a situação. "Não vejo como os Estados podem ficar sem esses recursos", disse. "Alguma coisa dever ser feita." De fato, deve - mas não será feita pelo Executivo, como ressalvou Augustin.

Então, o que fazer? E quem fará? O STF precisa ser provocado para tomar qualquer decisão. E, se nova decisão houver, não poderá, na essência, ser diferente da que tomou em 2010, limitando-se a ampliar o prazo.

É com isso que conta o relator do projeto sobre o FPE que tramita no Senado, senador Walter Pinheiro (PT-BA), ao prever que no reinício dos trabalhos legislativos, em fevereiro, o Congresso poderá iniciar entendimentos sobre o assunto com o Supremo.

Até lá, políticos da base governista e da oposição que se preocupam com o assunto esperam que prevaleça o entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU) de que, como vem sendo feito, deve-se fazer o rateio dos recursos de acordo com coeficientes utilizados até agora, e que são fornecidos pelo próprio TCU. Talvez essa meia solução deixe em paz com suas consciências os congressistas preocupados com o tema. Para os demais, tanto faz.

Oposição na muda - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 31/12


Era inevitável, com os altos índices de popularidade da presidente Dilma Rousseff (PT), que se afigurassem pouco animadores os prognósticos de eventuais candidatos de oposição, caso ocorressem agora eleições para a Presidência.

Os modestos resultados do tucano Aécio Neves na última pesquisa do Datafolha podem ser entendidos como nada mais do que a consequência disso. Mas também refletem, provavelmente, impasses mais profundos na oposição.

O pré-candidato do PSDB oscila entre 14% e 9% dos votos, nas diferentes situações da pesquisa. Fica atrás de Marina Silva, que, tendo alcançado 19,3% no pleito de 2010, pelo Partido Verde, não vê diminuída sua popularidade.

No contexto especulativo de uma pesquisa feita com tanta antecedência, desponta em boa posição o nome do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, num dos cenários propostos. Seu papel na condenação dos responsáveis pelo mensalão se traduz na marca de 9% das intenções de voto.

Não é descabido dizer, com base no desempenho de Marina Silva e Joaquim Barbosa, que o espaço para a oposição ao lulismo parece alargar-se, ao mesmo tempo em que ganha contornos mais indefinidos que os tradicionalmente preenchidos pelo PSDB.

Na vertente ambientalista, com tradição de esquerda, ou na esteira do rigor normativo e do combate à corrupção, correntes distantes do status quo petista abrem cunhas nas percepções do eleitorado.

Haveria ainda lugar, sem dúvida, para uma agremiação capaz de agregar interesses de produtores rurais e pequenos empreendedores urbanos, que tendem a abraçar causas de cunho mais conservador.

Em meio a tais possibilidades, o PSDB parece hesitar. Subsiste, por certo, a defesa de mais eficiência e modernidade nos métodos de gestão, de políticas redistributivas moderadas, alheias ao populismo, e da privatização que marcou o governo Fernando Henrique.

O fraco desempenho econômico e administrativo de Dilma Rousseff pode vir a aguçar a crítica técnica a seu modelo de gestão. Nada disso parece suficiente, por ora, para constituir um ideário oposicionista robusto e consistente.

Os desacertos do lulismo, expostos como nunca no processo do mensalão, e o muito que se adia, no Brasil, em matéria de reformas estruturais e políticas indicam que -para inverter um conhecido chavão- nem todo governo tem a oposição que merece. Falta ver de que modo, e por quem, será enfim constituída.