quarta-feira, dezembro 14, 2011

As férias de Dilma - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 14/12/11

Dilma vai passar a noite de Natal em Brasília. Mas, dia 26, já embarca para a Base Naval de Aratu, na Bahia, com a mãe, a tia, a filha, o genro e o neto. Ali, de pés descalços na areia da Praia de Inema, pretende passar o ano-novo e descansar até 5 de janeiro.

Maiô presidencial...

Nessa mesma base, FH e Lula também tiraram férias em seus tempos de poder. A Marinha diz que já tomou todas as medidas para Dilma não ser incomodada e tomar banho de mar com discrição.

Nem e Sarkozy

Com a saída dos bandidos armados da Rocinha, dezenas de ciganas paramentadas têm percorrido as ruas e vielas da favela, oferecendo-se para ler as mãos dos moradores. A exemplo de Sarkozy, que expulsou milhares de ciganos da França, o ex-governante Nem não tolerava a presença desses povos nômades.

Corrida da Rocinha...

Aliás, a Rocinha, a exemplo do que ocorreu no Complexo do Alemão, vai ganhar uma “corrida da paz”, dia 22 de janeiro. Vai se chamar Rocinha de Braços Abertos. É organizada pelo Bope e pela X3M Sports.

No mais

O articulista Paul Krugman, do “New York Times”, escreveu ontem sobre sua preocupação com o “desmantelamento da democracia na Hungria pelo partido direitista... Fodesz”. Aqui, se um partido com este nome prosperasse, seu presidente
seria... deixa pra lá. 

Continua pegando 

Chegou à Grécia o sucesso “Ai, se eu te pego”, de Michel Teló, mais tocada nas boates de Espanha e Portugal desde que o craque Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, fez a coreografia da música ao festejar um gol. Virou febre no país de Platão.

ESTE PALACETE na Rua Taylor, na tríplice fronteira de Lapa, Glória e Santa Teresa, sempre encantou Aguinaldo Silva, o grande novelista. É que o mestre, em tempos difíceis, morou ali perto. Chama-se Palacete Paranaguá e foi erguido ainda no Brasil Império. Comprado nos anos 1920 pelo industrial português José Antônio de Souza, o casarão ficou abandonado a partir da década de 1940, quando, após a morte do dono, com a degradação da Lapa, sua família se mudou para Botafogo. Desde então, o palacete foi vítima de invasões e depredações. Dia 7 de novembro último, depois de longa batalha judicial, a família do velho Souza retomou o imóvel e agora promove uma cruzada junto a órgãos públicos e instituições para revitalizá-lo e transformá-lo num polo de cultura. Aguinaldo soube, foi lá, fez fotos e emprestou seu apoio à ideia. Alô, Eduardo Paes!

Dilma desconectada
Ontem fez um ano que Dilma não escreve em seu Twitter (/dilmabr). A última mensagem, dia 13 de dezembro de 2010, foi: “Amigos, bom falar com vocês aqui. Vamos falar muito mais em 2011.” A presidente tem quase 1 milhão de seguidores no microblog.

A vida na planície

O ex-ministro Carlos Lupi almoçou ontem no Bar Luiz, no Centro do Rio. Comeu, bebeu e, no fim, deixou R$ 6 de gorjeta.

Memórias

Francisco Dornelles, que faz 77 anos dia 5 de janeiro, tem dito que é hora de reunir em livro as suas recordações. Deve ser projeto para já. O senador, sobrinho de Tancredo Neves, é testemunha privilegiada da política brasileira de Vargas para cá.

Paris é um perigo
O artista plástico Antonio Veronese teve um de seus quadros roubados, semana passada, no l’Hostelarie de la Dague, em Barbizon, próximo a Paris. A obra (veja a foto), um óleo sobre tela da série chamada de “Rouge Veronese”, mede 80cm x 65cm e vale uns 22 mil euros.

Segue...

A tela vai entrar no site administrado pela Interpol que lista objetos de arte roubados. — Fiz 19 exposições este ano e reuni o que sobrou nesse espaço. O estranho é que não houve arrombamento nem o alarme foi disparado. Saí do Rio para ser roubado aqui em Paris... — desabafa Veronese.

Vasco perde jogo

Tem vascaíno achando que é coisa de algum rubro-negro. O Vasco inscreveu um projeto de restauração de sua sede náutica da Lagoa, no Rio, na Lei Rounet. Mas o MinC vetou.

Danadinha 2012

Parceira da coluna ligou para um centro médico de Botafogo, no Rio, para agendar ginecologista e, ao saber que só tinha vaga em janeiro, perguntou se poderia antecipar a consulta. Resposta da atendente, acredite: — Não tem. Todas querem entrar 2012 com... a danadinha em ordem.

GRAZI MASSABELA, perdão, Massafera, a Lucena da novela “Aquele beijo” (beija eu), da TV Globo, empresta seu encanto a uma campanha de cosméticos

OSCAR NIEMEYER ganhou uma escultura (veja ao fundo) chamada “Laura”, nascida do traço genial de Lan e feita em bronze pelo artista Marcos André. Mestre Niemeyer, viva ele!, festeja 104 anos de vida amanhã com o lançamento de sua revista “Nosso Caminho”

Resolve aí - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 14/12/11

Dilma Rousseff aproveitou a passagem por Porto Alegre, onde PT, PDT e PC do B ameaçam se enfrentar na eleição municipal, para adotar o receituário da era Lula e avisar que, em praças nas quais houver mais de um palanque de partidos da base, a presidente irá se manter distante da campanha eleitoral.

O recado foi transmitido por ela ao governador Tarso Genro (PT-RS), mas quem ouviu ficou com a clara impressão de que Dilma falava de olho no mapa nacional. O entorno da presidente está especialmente incomodado com a resistência de siglas como PC do B e PDT em apoiar Fernando Haddad (PT) em São Paulo.

Tucanocídio 1 Campanha nas redes sociais contra Andrea Matarazzo, um dos pré-candidatos do PSDB à prefeitura paulistana, resgata conversa de 2006, revelada via WikiLeaks, na qual o hoje secretário estadual de Cultura diz a diplomatas americanos que Geraldo Alckmin teria ligação com a Opus Dei.

Tucanocídio 2 Entre os aliados de Matarazzo, há quem associe a ofensiva a uma ala da Juventude Tucana alinhada com Bruno Covas, outro postulante à candidatura. O secretário de Meio Ambiente nega qualquer ligação com a iniciativa.

Sobrenome Apoiadores de Bruno lançaram a "Frente Covas por São Paulo". A ideia é explorar ao máximo a associação de imagem do pré-candidato com o avô famoso.

Superpopulação Em resposta a consulta dos vereadores tucanos, o TRE-SP informou que o partido tem 47.500 filiados na capital. Isso é mais do que o dobro do número de militantes considerados aptos a votar nas prévias de 4 de março.

Vem comigo Com a ameaça de obstruir matérias de interesse de Gilberto Kassab, PT e PR se uniram para garantir a proporcionalidade de vagas na Mesa da Câmara paulistana. Interessados em ampliar a aliança de Fernando Haddad, petistas comemoravam ontem o acordo, que beneficiou o partido de Antonio Carlos Rodrigues.

Tradição Seguindo os passos de Lula, Dilma participará de comemoração de Natal com catadores de papel e moradores de rua em São Paulo na semana que vem.

Hortifrúti A segurança do Palácio do Planalto decidiu não permitir que participantes da Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, na segunda-feira, levem laranjas e maçãs ao evento. Motivo declarado: evitar que alguém mais animado acabe atingindo a presidente com as frutas.

Para depois O governo orientou o presidente da CEF, Jorge Hereda, a protelar ao máximo sua ida à Câmara para falar sobre a encrenca do PanAmericano. O Planalto conta com o recesso de fim de ano para tentar baixar a temperatura da disputa entre PT e PMDB na Caixa.

Terceira via Em novo capítulo da guerra no PP, aliados do líder Aguinaldo Ribeiro (PB) vislumbram manobra de João Pizzolatti (SC) para tirá-lo do cargo. Depois de fracassadas as tentativas de emplacar José Otávio Germano (RS) e Nelson Meurer (PR) no comando da sigla na Câmara, o catarinense agora se movimenta em favor de Waldir Maranhão (MA).

Quase lá Em litígio quanto ao projeto que muda a Defensoria Pública paulista, o presidente da OAB-SP, Luiz Flávio Borges D'Urso, e a defensora Daniela Cembranelli concordaram em seis dos nove itens polêmicos do texto e subscreveram o adiamento da votação para fevereiro.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Sintomas de transtorno bipolar rondam os petistas, mas o diagnóstico só ficará pronto em 2012. A candidatura de Haddad vai levá-los rapidamente da euforia à depressão."

DO LÍDER DO PSDB NA ASSEMBLEIA PAULISTA, ORLANDO MORANDO, em resposta a dirigentes do PT que, diante do novo Datafolha, passaram a prever a vitória de seu candidato, hoje oscilando entre 3% e 4%, já no primeiro turno.

contraponto

Leitura seletiva

O senador Lindberg Farias (PT-RJ) ligou para Maria das Graças Foster em agradecimento pela presença da diretora de Gás e Energia da Petrobras no lançamento, realizado recentemente no Rio de Janeiro, de seu livro sobre a questão dos royalties do petróleo.

Como no evento ela havia assegurado que leria a obra, Lindberg, ciente das críticas que fez à empresa, achou por bem avisar, em tom de brincadeira:

-Olha, tem umas partes lá que é melhor você pular... Faz o seguinte: passa direto!

Mudança de plumagem - MARCIA PELTIER

JORNAL DO COMMÉRCIO - 14/12/11
Disposto a provar que não é só o PT que sabe falar para os eleitores na faixa dos 16 aos 30 anos de idade, o PSDB promove, esta sexta e sábado, em Goiânia, o Congresso da Juventude da Social Democracia Brasileira. Até o formato do encontro político, no Centro de Exposições, será mais descontraído: os convidados vão interagir com a platéia posicionados no centro de uma arena. Entre os palestrantes, Collin Jergens, que trabalhou na campanha de Barack Obama à presidência dos EUA, e membros de partidos de oposição ao regime de Hugo Chávez. O partido espera lançar 400 candidaturas jovens nas eleições de 2012.

Bicudos

Além do governador de Goiás, Marconi Perilo, também estarão presentes os governadores Simão Jatene (PA) e Geraldo Alckmin (SP). O presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra, estará no encerramento, sábado, assim como o senador Aécio Neves. Já José Serra prometeu ir, mas na sexta-feira, às 20h.

Voz salvadora

O músico João Marcello Bôscoli revela, pela primeira vez, uma série de complicações que sofreu logo nos primeiros dias de vida. O médico comunicou à sua mãe, a cantora Elis Regina, que ele não passaria daquela noite por conta da saúde muito frágil. “Ela passou toda a madrugada conversando comigo, despedindo-se de mim. Na manhã do dia seguinte, quando me viu, o médico ficou muito surpreso com minha melhora”, conta Bôscoli, que revelou outros detalhes para a próxima edição da revista Billboard Brasil.

DNA

E por falar em Elis Regina, a gigante alemã de beleza Nivea vai homenagear a cantora por conta dos 30 anos de sua morte, em 2012. Maria Rita, filha de Elis, foi escalada para estrelar as campanhas especiais da marca. Além de uma série de apresentações exclusivas em cinco cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Paraná e Recife, Maria Rita também estará nos comerciais da marca.

Maduros que dançam
De olho no público acima dos 30 anos, a Cinco Entretenimentos (leia-se bloco Sapucapeta e banda Trio Ternura) inaugura boate em Búzios, com festa para vips este fim de semana. Com investimento de R$1 milhão, a casa se chamará Brigitte, ficará na Rua das Pedras e terá entrada a R$ 80. Além de pista de dança, bar, restaurante e uma mini temakeria, haverá um lounge externo. A ideia é promover sunset no verão com artistas nacionais e quase nada de batidas eletrônicas. Red Bull, Diageo e Souza Cruz são os patrocinadores.

Freezer chique

A Loja de Inverno que será inaugurada, amanhã, no Shopping Tijuca, terá uma cabine refrigerada a cinco graus negativos para que os clientes façam um teste das roupas. É que, segundo a empresária Zizi Magalhães, os consumidores custam a acreditar que os casacos de ski ou paletós feitos em materiais high tech muito finos protejam realmente do frio. Os atores Thiago Lacerda e Vanessa Góes foram recrutados para o test drive das cabines.

Portão de embarque

A Braztoa, que reúne operadoras de turismo, estima que o crescimento do setor poderá chegar a 20% este ano. Esse desempenho se deverá, em grande parte, à vendagem dos roteiros nacionais dos pacotes de fim de ano, com preços muito próximos aos da temporada passada. Quanto aos destinos internacionais, mesmo com a escalada do dólar em setembro, os preços ainda estão competitivos. Na base do aumento turístico, a ascensão da classe C.

Duas joias

A primeira edição nacional de As aventuras de Pinóquio traduzida diretamente do original do século XIX – tarefa delegada ao experiente Ivo Barroso, tradutor de Shakespeare e Ítalo Calvino - terá acompanhamento de luxo. A obra de Carlo Collodi, em edição especial da Cosac Naif e com ilustrações do artista Alex Cerveny, será lançada, amanhã, na Montblanc do shopping Cidade Jardim, em São Paulo, com um trio de caneta-tinteiro, esferográfica e lapiseira em ouro 18k, inspiradas no clássico da literatura mundial.

Casa nova

A diretoria do recém-criado Conselho de Arquitetura e Urbanismo será empossada amanhã. O primeiro presidente da entidade é o arquiteto Sydnei Menezes. Até o fim de janeiro, o CAU-RJ informará à categoria os contatos para procedimentos administrativos. Até lá, os cerca de 20 mil arquitetos fluminenses serão atendidos normalmente pelo CREA-RJ, entidade à qual estiveram filiados antes da criação do órgão específico da categoria. O arquiteto Oscar Niemeyer será o homenageado da festa.

Livre Acesso

Recém-eleita presidente da ABL, Ana Maria Machado abre a programação do Natal com Leituras na Biblioteca Nacional, nesta sexta-feira, às 16h. A escritora será entrevistada pelo jornalista Márcio Vassallo.

Hoje, às 19h, na Livraria do Café no Shopping da Gávea, lançamento do livro de José Ruy Gandra Histórias sobre a arte de criar filhos, com prefácio da jornalista Patrícia Poeta.

Também hoje, na comemoração de um ano do Cocuruto, espaço cultural que conta a história do Bondinho Pão de Açúcar, cerca de 30 crianças da ONG São Martinho participarão da festa como convidadas.

Júlia Lemmertz abriu espaço nas gravações de Fina Estampa para debater o filme Amor?, com o cineasta João Jardim, hoje, após a exibição da obra às 19h, na Livraria Cultura, no Fashion Mall. Primeira ficção do documentarista, diretor dos aclamados Janela da Alma e Lixo Extraordinário, Amor? chega em DVD este mês pela Copacabana Filmes.

A Editora TIX, à frente Ana Borelli, faz o relançamento do livro Lila, de Liliana Syrkis, amanhã, no Centro Cultural Midrash, no Leblon.

O humorista Fernando Caruso é a atração de encerramento da Travessa do Riso, hoje às 20h, no auditório da Livraria da Travessa do BarraShopping. O evento de stand up comedy tem ingressos a R$ 30.

A 6D, agência de design e branding digital, assina a nova identidade visual da União Brasileira de Compositores (UBC), com a criação da marca e suas aplicações.

GOSTOSA


O público e o privado - EDITORIAL O ESTADÃO



O ESTADÃO - 14/12/11




"É Natal!", brincou o presidente da Câmara dos Deputados, Marcos Maia, ao comentar o fato de que a Casa deve aprovar nos próximos dias mais um daqueles pacotes de bondades que nessa época são quase uma tradição nas casas legislativas brasileiras - a tradição do descaso com o dinheiro dos contribuintes. Desta vez a brincadeira vai custar cerca de R$ 386 milhões aos cofres públicos, aos quais poderão ser somados mais R$ 200 milhões de uma conta relativa à controvertida questão pendente da vinculação dos vencimentos dos funcionários da Câmara aos salários dos deputados federais. Já os nobres senadores, por sua vez, adiaram novamente a implantação da reforma administrativa que está engavetada há seis meses. Essa reforma propiciaria uma economia anual de R$ 150 milhões ao acabar com a aberração de um em cada cinco funcionários efetivos do Senado ganharem acima do piso, além de outros descalabros. É Natal, enfim!
Mas o que chama a atenção em mais esse episódio da farra com os recursos do erário é o fato de que, na Câmara, uma parte da conta a ser debitada à viúva refere-se à criação de 60 a 70 novos postos para atender às necessidades do recém-criado PSD, que já se instala no Parlamento com o mesmo apetite das demais legendas pelas benesses do Tesouro. O número de contratações previstas para dar conforto aos pedessistas é até modesto, se comparado, por exemplo, aos 124 funcionários (24 efetivos e 100 militantes) que estão alocados no gabinete da liderança do PT; os 98 (29 e 69) do PSDB ou os 129 (37 e 92) do campeão PMDB.
O custo previsto das contratações para o PSD é de R$ 10 milhões. Mas não se trata de saber se o custo é alto ou baixo, mas até que ponto ele é realmente devido, considerando a necessidade de estabelecer uma distinção muito clara entre a atividade parlamentar e a atividade partidária. Da mesma forma que um deputado é pago pelo Estado para exercer sua atividade parlamentar - basicamente, legislar em benefício do povo e fiscalizar as ações do Executivo -, todo o aparato de recursos humanos e materiais de que ele precisa para fazer esse trabalho deve ser bancado pelo poder público. Mas a atividade partidária não tem nada a ver com isso. Os partidos políticos são entidades privadas que entre nós já contam com a generosa contribuição do Fundo Partidário, constituído com recursos do Tesouro, para subsidiar seu funcionamento. A linha que divide a atividade parlamentar, que é pública, da partidária, que é privada, costuma ser muito tênue, principalmente para políticos paternalistas e patrimonialistas que não conseguem, e nem desejam, distinguir o público do privado.
Um magnífico exemplo desses abusos está configurado exatamente nos quadros de funcionários da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Os primeiros estão na iminência de serem contemplados com novos afagos graças ao trem da alegria do próximo Natal. Os da Câmara Alta passarão as festas de fim de ano tranquilizados pela garantia da manutenção de privilégios indevidos, graças à benevolência da Mesa Diretora presidida pelo senador Sarney.
Só na Câmara são mais de 15 mil funcionários, entre estáveis e os que exercem cargos de livre provimento. Quem conhece as dependências da Casa diria que é impossível caber tanta gente ali, trabalhando, se esse problema já não tivesse sido recentemente esclarecido pelo líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza: boa parte desse enorme contingente "nem sequer pisa em Brasília", porque atua nos Estados de origem dos parlamentares em cujos gabinetes estão alocados. E isso ocorre até com os funcionários que, pela natureza das funções que exercem, são obrigados por lei a dar expediente na sede do Parlamento.
Resta saber que tipo de trabalho é feito pelos funcionários da Câmara nas "bases eleitorais" de seus chefes, para usar o jargão consagrado dentro dos próprios gabinetes. Ou mesmo se esses funcionários sabem qual é ou se importam com a diferença entre atividade parlamentar e trabalho partidário. A única dúvida que absolutamente ninguém tem é sobre quem paga essa conta.

Mais consultas, por favor - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 14/12/11

BRASÍLIA - O resultado do plebiscito no Pará é alentador. A presciência dos paraenses ao rejeitar a divisão do Estado ajudou a economizar bilhões de reais. O dinheiro de todos os brasileiros serviria para criar novas sinecuras, mas pouco ou nada resultaria no desenvolvimento daquela região. 
A consulta do Pará custou aproximadamente R$ 20 milhões. Cerca de R$ 4 por eleitor registrado. Um valor baixo para a democracia. O modelo pode, com o cuidado devido, ser adotado com mais regularidade. 
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Lewandowski, afirmou ontem à Folha e ao UOL que as urnas eletrônicas brasileiras estão preparadas para fazer esse tipo de consulta em nível nacional, no mesmo dia de eleições gerais. O Congresso só precisa definir o teor do plebiscito com pelo menos seis meses de antecedência. 
No ano que vem, ao votar para prefeito e vereador, os eleitores de alguns Estados poderiam opinar se querem ou não a adoção de uma determinada política local. No plano nacional, é possível consultar sobre temas gerais, como flexibilização do consumo de maconha ou das regras para a prática do aborto. 
Na sua explicação, Lewandowski afirma que essa forma de democracia participativa é útil sobretudo como uma ferramenta consultiva do Congresso. Seria um risco passar por cima do Poder Legislativo e achar que o eleitor deve decidir sozinho, de maneira direta e sem intermediários. A maioria acabaria sempre solapando as minorias. 
Mas, usada com parcimônia, a prática de ouvir o eleitor sobre temas relevantes ajudará a balizar as decisões do Congresso. A jovem democracia brasileira há anos sofre com a incapacidade do Legislativo para implantar certas reformas. O Brasil prefere o voto distrital ou o proporcional? Qual deve ser o salário de políticos e de juízes? Enfim, mais consultas, por favor.

Previdência X Presidência - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 14/12/11


Nenhum dos antecessores recentes da presidente Dilma Rousseff teve base política suficiente para fazer caminhar sem sobressaltos uma reforma no sistema previdenciário dos servidores públicos. Fernando Collor não teve sequer tempo para pensar no tema. Itamar Franco estava focado na implantação do Plano Real e com o Congresso em frangalhos diante do escândalo dos anões do Orçamento. Perdeu a "janela" da reforma constitucional, em 1993.

Fernando Henrique Cardoso bem que tentou. Pretendia começar seu governo com a apreciação de uma profunda reforma do Estado e divisão de responsabilidades mais claras entre as três esferas de poder — União, estados e municípios — e a reforma da Previdência. Sem muito sucesso, diante da oposição forte das corporações, de parte da própria base de apoio e do PT, começou pela redução do tamanho do estado privatizando empresas e quebrando monopólios.

O PT se mostrou contra a reforma da Previdência Social por mais de duas décadas. Passou quatro campanhas presidenciais pregando uma auditoria nas contas do setor. Foi esse tema aliás que levou muitos petistas a seguirem outro caminho e criarem o PSol, quando Lula se convenceu de que seria preciso mesmo reformular a Previdência do setor público.

Hoje, por ironia do destino, o PT tem a faca e o queijo na mão para empreender a reforma que muitos sonharam e não conseguiram fazer: colocar os servidores públicos do futuro no teto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e tudo isso sem o barulho que ocorre em outros continentes.

Por falar em barulho...

Para quem desconhece o texto, vale o parêntese: ele coloca como teto da aposentadoria do servidor os R$ 3,6 mil pagos hoje pelo
INSS. Quem quiser receber mais, terá que contribuir para o fundo de previdência complementar. O governo fará um aporte de recursos no fundo. Mas a avaliação geral é a de que a economia seria de R$ 20 bilhões.

O segredo do sucesso do governo Dilma Rousseff nessa seara é fruto do ensaio e do erro de todas as tentativas anteriores. Primeiro, deixou-se de lado a pecha de "reforma da Previdência". Ontem, por exemplo, dentro do plenário da Câmara, anunciava-se a criação do fundo complementar de previdência do servidor e não o fim da aposentadoria integral para quem ingressar no serviço público depois de aprovado o texto.

A outra foi a negociação. O secretário executivo dos Ministérios da Fazenda, Nelson Barbosa, e da Previdência, Carlos Gabas, fizeram reuniões com o PT no sentido de convencer o partido do governo a aceitar a proposta. Conseguiram avançar, mas a gestão do fundo, em vez de terceirizada para os bancos privados, terá de ser pública. Ou seja, caminha-se para mais cargos e estruturas para cuidar do fundo de previdência do servidor: um do Executivo, um do Legislativo e um do Judiciário.

Nos bastidores do Congresso, todos dizem que, quando o fundo de previdência do servidor se tornar realidade, os olhos da imprensa e dos órgãos de controle terão que ficar bem abertos. Afinal, esses três fundos serão maiores do que a Previ, do Banco do Brasil, detentora de um patrimônio superior a R$ 120 bilhões. E, caro leitor, nunca é demais lembrar que, se com a ONGs e os parcos recursos de convênios o barulho foi grande, imagine a hora em que estiver em jogo essa dinheirama. Podem escrever: guerra pelo comando desses fundos serra o "must" de 2012.

PS: Feliz aniversário, presidente Dilma!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 14/12/11


Escritórios de luxo crescerão 48% em dois anos em SP, aponta levantamento

O perfil dos escritórios corporativos em São Paulo está em transformação. Os empreendimentos AA e A vão liderar o crescimento no setor, com alta de 47,8% até 2013.

Com o "boom" de lançamentos, eles passarão de 17% para 22% do total na capital e em Alphaville, bairro de Barueri. Os dados são de estudo da Herzog Imóveis Industriais e Comerciais.

"Uma das razões para a alta é que o volume de escritórios com esse formato ainda é pequeno", diz Simone Santos, diretora da empresa.

Hoje, 45% dos escritórios são classe C, sem ar condicionado central e com poucas vagas na garagem. Esse número cairá para 39% em 2013.

Outro estudo, feito pela Colliers International Brasil, mostra que a taxa de vacância (porcentagem de espaços vazios) da cidade de São Paulo para escritórios corporativos de alto padrão foi a menor do mundo no segundo trimestre.

A pesquisa apontou que a vacância foi de 0,8%, ante 5,7% no período de abril a junho do ano passado. "Uma taxa saudável estaria entre 7% e 8%", diz a vice-presidente da Colliers, Sandra Ralston.

O vice-presidente do Sinduscon-SP (sindicato da indústria da construção), Maurício Bianchi, diz que os valores de aluguel dos imóveis corporativos estão em um patamar muito alto. "Isso confirma que faltam escritórios de alta performance tecnológica."

Entre as regiões que receberão mais escritórios AA e A neste ano está Alphaville, com 37,5% do total.

CASA NA PRAIA

A incorporadora Kara José anunciará no primeiro trimestre de 2012 a construção de um condomínio no litoral norte de São Paulo.

O local do empreendimento, que terá investimento de R$ 120 milhões, ainda não pode ser divulgado, segundo a empresa.

"As obras começam no segundo semestre e devem ter duração de 30 meses", afirma o proprietário da companhia, Edison Kara.

Em 2012, a incorporadora também será responsável pela demolição do Hotel do Frade, em Angra dos Reis (RJ), para a construção de um novo empreendimento, com cerca de R$ 350 milhões, em parceria com o fundo Polo Capital.

"Será um condomínio residencial de 153 unidades e um hotel com 56 suítes."

Sociedade... Cristina Carvalho Teixeira, Elton Minasse e Fernanda Sá Freire Figlioulo passam a fazer parte do quadro de sócios do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados.

...de direito Teixeira, com especialização na Itália, atua na prevenção e na solução de disputas judiciais e arbitrais. Minasse é especialista em contratos de tecnologia, franquia, redes de distribuição e cadeias de fornecimento, enquanto Figlioulo tem experiência em direto fiscal.

MUSCULAÇÃO MEXICANA

O grupo Bio Ritmo abrirá no México suas duas primeiras unidades fora do Brasil, em janeiro de 2012.

O investimento nas novas filiais, que serão inauguradas em parceria com a companhia mexicana Sport City, será de US$ 5 milhões.

"Devido aos altos impostos que pagamos no Brasil, para montar uma academia no México é necessário apenas 60% do valor que investimos aqui", diz o presidente do grupo, Edgard Corona.

Antes de decidir entrar no México, a rede analisou outros mercados da América Latina. "Desistimos do Chile por ser um país muito pequeno e da Argentina, pela instabilidade econômica."

A bandeira das academias será a Smart Fit, voltada para o público interessado em musculação e ginástica e que não oferece outras aulas.

Primavera... Após a eleição na Tunísia, que confirmou a liderança islâmica, empresários brasileiros querem ouvir do embaixador do país no Brasil orientações sobre possíveis mudanças no perfil das futuras relações bilaterais de comércio e investimento.

...empresarial Mohamed Mestiri visitará a Fiesp nesta semana para falar sobre o cenário político e econômico da Tunísia após a mudança de governo. O diplomata tem interesse em fazer eventos empresariais no país, de acordo com a entidade.

Móvel Até o final deste ano, 92% das grandes empresas brasileiras de setores como farmácia, hotelaria, logística e varejo terão entregue notebooks a funcionários que trabalham fora do escritório, de acordo com levantamento da Motorola Solutions.

com JOANA CUNHA, VITOR SION, LUCIANA DYNIEWICZ e MARIANA SALLOWICZ

GOSTOSA


O caso Jader - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 14/12/11

A cúpula do PMDB foi cobrar ontem do presidente do STF, Cezar Peluso, uma solução para o caso Jader Barbalho. Eleito para o Senado no Pará, Jader ainda não tomou posse devido à interpretação inicial da Lei da Ficha Limpa. O recado do partido: o Tribunal não pode penalizar o senador baseado numa lei que não valeu nas eleições de 2010. A resposta de Peluso: a questão não é política, a legenda e o senador têm que agir juridicamente.

O PSD em direção à centro-direita
Presidente da CNA e senadora do PSD, Kátia Abreu (TO) quer que seu partido desça do muro. "Temos de assumir um discurso de centro-direita. Quem tem medo de assumir posições não tem torcida", diz, referindo-se à pesquisa feita por sua entidade entre integrantes da classe "C", que são 55% da população do país. Entre as propostas que a senadora quer que seu partido assuma estão a diminuição da maioridade penal para 16 anos (81% a favor), a pena de morte para assassinos (60%), a adoção de medidas para ampliar os empregos (74%), concursos para funcionários públicos (65%) e a redução de impostos (45%).

"O que o Senado fez em cinco meses de debates, a Câmara não pode referendar em cinco dias” — ACM Neto, líder do DEM na Câmara (BA), sobre a votação do Código Florestal ter ficado para dias 6 e 7 de março

CONTRA-ATAQUE. As direções do DEM e do PSDB vão a Minas Gerais hoje pedir à Assembleia Legislativa que abra processo por quebra do decoro parlamentar contra o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG). Ele é acusado de ter falsificado a “Lista de Furnas”, que tinha como objetivo comprovar a existência de um “caixa dois” para financiar a oposição. O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), entrou ontem com representação na Procuradoria-Geral da República contra o parlamentar petista.

Bronca geral
A presidente Dilma anda aborrecida com a fraca participação dos ministros em solenidades nas sextas-feiras. O cerimonial do Planalto está mandando um recado aos ministros: sexta é dia de trabalho e eles têm que estar em Brasília.

Imagem externa
O ator britânico Jeremy Irons manifestou preocupação com a Floresta Amazônica para o vice Michel Temer, na reunião da ONU no Qatar. O vice respondeu: "O Brasil está cuidando muito bem da floresta", e citou números recentes do Ibama.

Abrindo a caixa preta
Levantamento feito pelo deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) mostra que, se o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), cumprisse a resolução que reestruturou cargos de lideranças, há 5 meses, os partidos que perderam deputados para o PSD deveriam passar 191 de seus 369 cargos para a nova legenda. Ainda de acordo com Alencar, os suplentes das quatro secretarias da Mesa têm 40 cargos de confiança. "É uma demasia", diz ao criticar a criação de novos cargos.

Dissidência
O deputado Alessandro Molon (PT-RJ) e militantes do PT fazem ato sexta-feira, no Crea-RJ, contra o apoio à reeleição do prefeito Eduardo Paes (PMDB). Apoiam a economista Maria da Conceição Tavares e o ex-senador Saturnino Braga.

Bullying?
A publicidade em placas públicas das notas do Ideb divide os tucanos. A senadora Lúcia Vania (GO) defende a transparência das notas. O senador Cássio Cunha Lima (PB) vê nisso o constrangimento e a discriminação dos alunos.

COM O AVAL do presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), e do deputado Rodrigo de Castro (MG), Bruno Araújo (PE) será eleito hoje líder do partido na Câmara.

DANDO CORDA. O deputado Delegado Protógenes (PCdoB-SP) avisou ao líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que está colhendo assinaturas para a "CPI da Privataria", sobre as privatizações do governo FHC. "Muito bem", respondeu Vaccarezza.

EM RETIRADA. Da economista Paula Pini, do Banco Mundial, ao saber o salário que ganharia como secretária-executiva do Ministério do Esporte: "É muita responsabilidade para pouco salário".

A mão inteligente - CLAUDIO DE MOURA CASTRO


O Estado de S. Paulo - 14/12/11


Entre os 10 e os 16 anos, como frequentava uma escola medíocre, de interior, em vez de estudar assuntos chatos e mortos, passava o tempo livre nas oficinas de manutenção de uma fábrica local. Guiado pelos velhos mestres, serrei, preguei, limei e bati martelo nas forjas. Deslumbrava-me com a vida e os desafios das oficinas. Passados os anos, descobri que a minha inteligência se desenvolveu mais lidando com problemas na bancada do que nos bancos escolares.

A percepção de que se aprende com as mãos é moeda corrente nas corporações de ofício europeias, de origem medieval. Para os Compagnons du Devoir (França), "o conhecimento mora na cabeça, mas entra pelas mãos". Ou seja, "a inteligência da mão existe" (J. Berger). Segundo os compagnons, o homem teria duas inteligências, uma especulativa e outra prática, por isso tem uma cabeça e duas mãos. Para eles, lógica se aprende resolvendo problemas de torneiras ou encaixes.

Ruminações de serralheiros e carapinas? Nem tanto, pois o filósofo grego Anaxágoras afirmou: "Por ter mãos, o homem é o mais inteligente dos animais". Ou, se queremos artilharia pesada, que tal Kant, para quem a "mão é a janela da mente"? O papel do lado prático da escola aparece em Montessori e outros, ganhando força na escola de Rudolf Steiner. Infelizmente, a escola foi atropelada pelo peso do academicismo, ficando meio artificial. Foi monopolizada por gente voltada para a "inteligência especulativa". O uso das mãos sumiu da escola. Com a miragem do "knowledge worker", ter-se-ia tornado um apêndice subalterno, cuja única função é apertar teclas.

Mas eis que o assunto desperta, com novas roupagens e escoltado pela melhor ciência neurofisiológica. Charles Bell fala da "mão inteligente". De fato, descobriu-se que a mão se comunica com o cérebro por múltiplos circuitos neuronais, enleando-se promiscuamente com os da inteligência. Ou seja, foi mapeado um acesso privilegiado da mão ao pensamento. Alguns pesquisadores afirmam que, dispondo de um instrumento tão sofisticado e sensível, a mão do homem fez o cérebro evoluir. Aceitemos, pois, como séria a teoria de que aprendemos com as mãos.

Duvidam? Mostre-se a uma pessoa um canivete, de todos os ângulos, com todos os detalhes. Aparentemente, tudo foi visto. Mas, inevitavelmente, virá o pedido: "Deixa eu ver" - levando à cuidadosa manipulação do objeto. Se os olhos já haviam visto tudo, faltava às mãos enxergar.

Diante disso, por que deixa de ser usado na escola esse grande livro-texto que são as mãos?

Aprendemos ao segurar, medir, pesar e desmontar. Aprendemos quando usamos ferramentas, quando resolvemos os mil problemas de construir alguma coisa ou de consertar um aparelho. Não creio que deslindar sujeitos e predicados em Os Lusíadas seja mais educativo do que deduzir logicamente por que a lâmpada não acende. Pesquisar um circuito elétrico, com diagramas e aparelhos de testes, é analiticamente tão denso quanto muito do que se pretende fazer na escola. Além disso, obriga aos múltiplos saltos entre a abstração do circuito no papel e os componentes do circuito de verdade. É assim que se aprende teoria, pendulando entre ela e a prática, num vaivém permanente.

Perry Wilson, um estudante americano, tinha dificuldades medonhas em Matemática. Tropeçou sucessivamente ao longo do curso, acabando vencido no início do seu curso superior. Frustrado, foi aprender carpintaria, para fazer casas. Como as casas daquele país são feitas pelo próprio carpinteiro, incluindo muito trabalho com plantas e cálculos, logo descobriu que a mesma Matemática que o havia maltratado era agora óbvia e fácil. Impressionado com a descoberta, criou um programa chamado "If I had a hammer", no qual os alunos participantes constroem uma cabana de madeira no pátio da escola. Mas como acontece com as casas de verdade, antes de serrar e pregar há muita planta e muita conta para fazer, além de outros conhecimentos requeridos. Surpresa! Em poucos dias, observa-se um substancial aumento nas notas de Matemática dos alunos participantes.

Cabe uma advertência, pois não se trata de exumar a disciplina de "Trabalhos Manuais", já desmoralizada pelo seu título rasteiro e pouco casando pensamento e ação. No tempo limitado da escola, é preciso escolher atividades em que haja uma interação feliz e fértil entre a mão e a cabeça. Recortar figuras de revistas é manual, mas intelectualmente pobre. Demonstrar um teorema é um exercício mental demasiado distante do mundo das coisas. Mas o Teorema de Pitágoras pode ser aprendido na rua. Por exemplo, como traçar no solo um ângulo reto, dispondo apenas de um pedaço de barbante?

A abstração é a culminância do desenvolvimento intelectual do homem. Mas a capacidade de operar na estratosfera das teorias não vem pronta de fábrica. De fato, o aprendizado de teorias rarefeitas arrisca-se a virar pura decoreba se não começar vendo, pegando e medindo. O tal "knowledge worker", tão de moda, precisa ser educado no concreto e no real, depois é que vem o descolamento progressivo do sensorial.

As atividades escolares deveriam ser escolhidas de forma a criar o máximo de oportunidades de usar as mãos para aprender. Como, de uma forma ou de outra, tais atividades vêm sendo feitas por incontáveis anos, não se trata de inventar, mas de recuperar o melhor que já apareceu.

O que era uma percepção intuitiva de alguns hoje percebemos ser ciência respeitável, demonstrando que a mão é inteligente e, portanto, é utilíssima no aprendizado, tanto do prático como do teórico. Por que a nossa escola insiste em refugiar-se nas brumas de um intelecto que ignora a riqueza intelectual das mãos?

Não pega - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 14/12/11

Hoje será votado o projeto que pretende alterar o nome da Avenida Castelo Branco. A ideia é de que a avenida deixe de homenagear um representante da ditadura militar para se chamar Avenida da Legalidade, que é um movimento que orgulha os gaúchos.

Os autores do projeto, os vereadores Fernanda Melchionna e Pedro Ruas, estão bem-intencionados e seus argumentos são razoáveis, mas é uma iniciativa que, vitoriosa ou não, pouca diferença fará. Ninguém vai passar a dizer: “Me atrasei, fiquei preso na Legalidade”. Todos continuarão saindo e entrando livremente de Porto Alegre pela Castelo Branco.

No Rio, as pessoas desembarcam no Galeão, mesmo que o aeroporto se chame Antonio Carlos Jobim desde 1999. Alguém se refere a Cat Stevens como Yusuf Islam? É o nome do cantor desde que ele se converteu ao islamismo. Quem escutava Jorge Ben quando criança não consegue chamá-lo hoje de Jorge Benjor, e muitos moradores vizinhos à Praça Carlos Simão Arnt (praça o quê? Ah, a praça da Encol) seguem chamando o supermercado Nacional de Febernatti.

Não importa se por homenagem, conversão religiosa, numerologia ou mudança de propriedade: temos profunda resistência a trocar de hábitos. Na época da escola, tínhamos uma colega cujo apelido era Gorda. Hoje, a Gorda é uma mulher linda e magra que faz questão de que a chamemos pelo nome, Marina.

Mas alguém consegue? Quando ela nos apresenta algum namorado ou se está diante de uma cliente, ai de nós, suas amigas de infância, se perguntarmos: “Onde é que tu conheceste a Gorda?”. Ela nos fulmina com os olhos como quem diz: “Te pego na saída”.

Mas não pega.

Porque, depois de um tempo, Gorda deixa de significar acima do peso, assim como Castelo Branco deixa de significar presidente do regime militar. Ninguém racionaliza sobre nomes próprios. A menção torna-se automática, sem nenhuma codificação, sem nenhum racionalismo. Tanto faz se uma loja for inaugurada com um nome esdrúxulo ou chique, pois todos os nomes são rapidamente despidos de qualquer sentido.

Lembro que houve uma época em que a butique mais elegante de Porto Alegre chamava-se Levajeito: nome de lojinha de subúrbio. Assim como lanchonetes de fundo de quintal são batizadas com nomes em inglês e apóstrofo – identificações superficiais, pois o que segue relevante é a identidade intrínseca do local.

Infelizmente, é assim: o costume elimina a significância. Vá saber se em algum rincão do Brasil não há uma rua chamada Orlando Silva, que tanto pode estar homenageando o cantor das multidões como o ministro que saiu do governo sob acusações de irregularidades. Na hora de dizer Orlando Silva, 256, apartamento 101, quem pensa no ilustríssimo que a inspirou?

Não que seja um mau projeto. Só me parece inútil.

Convidada de honra - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 14/12/11

A definição é de um ministro: a presidente Dilma Rousseff é vista e tida no PT como uma espécie de "convidada de honra". É bem tratada, recebida com reverência, mas não priva da intimidade.

Faz essa comparação como ponto de partida para reflexão sobre as perspectivas da reforma ministerial inicialmente prevista para janeiro e agora esperada para março a fim de coincidir com a data-limite para a desincompatibilização dos candidatos às eleições municipais.

De acordo com aquele raciocínio, a presidente da República não fará a mudança de estrutura reclamada pelo presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo federal, Jorge Gerdau, para quem é pacífica a impossibilidade "de se governar com 40 ministérios".

Segundo Gerdau, seriam reduzidos em prol da eficiência. "A presidenta já tem se movimentado no sentido de criar grupos de ministérios", anunciou ele, em seminário promovido pelo jornal Valor Econômico, em novembro.

Na mesma semana, a Presidência da República informava por meio da assessoria que a ideia seria acabar com os feudos partidários da máquina pública.

De lá para cá, porém, houve uma adaptação nas versões. As mais recentes rezam que pode haver uma ou outra incorporação e substituições pontuais de ministros.

Um palpite: tudo devidamente apresentado com discurso de que o rumo pretendido pela presidente, a meta a ser alcançada é a mudança paulatina da cultura do loteamento.

Mas, os penduricalhos criados por Luiz Inácio da Silva para abrigar o maior número possível de correligionários continuarão na essência intocados.

O motivo está contido em parte na definição do ministro sobre a condição de Dilma como "convidada de honra" no PT: ela não tem autoridade nem influência no partido para desarticular a acomodação das tendências representadas nesses cargos, para todos os efeitos apelidados de "conquistas da sociedade".

Tampouco tem independência em relação a Lula para, com uma reforma de fundo, renegar a concepção que o mentor imprimiu ao modo petista de governar.

E se Dilma Rousseff não vai mexer nos balangandãs que estão nas mãos do PT, não terá liberdade para mexer nos quindins de iaiá de nenhum outro partido.

Corte real. O rei Juan Carlos, da Espanha, anunciou o afastamento do genro da agenda de compromissos da Casa Real.

Por suspeita de envolvimento em corrupção. O suficiente para o rei concluir que o comportamento do marido da filha não é "exemplar" e, portanto, incompatível com a imagem da Coroa.

Brado retumbante. Um deputado obscuro é eleito por acidente presidente da Câmara e, por obra do acaso, assume a Presidência da República com a morte do presidente e do vice em acidente de helicóptero.

Revoltado com o cenário de corrupção que encontra no governo, inicia uma cruzada que provocará demissões em série de ministros, mas também vinganças que o levarão a ser alvo de denúncias e ameaça de impeachment.

Em linhas gerais é o resumo da série Brado retumbante, que a TV Globo exibirá em oito capítulos a partir de 17 de janeiro, abordando a temática política raramente tratada na televisão.

A despeito de todos os elementos da realidade política atual, o autor, Euclydes Marinho, diz que não há mensagens nem referências destinadas a ninguém.

"Evidente que a abordagem de um tema como esse acaba levando as pessoas a pensar sobre o cotidiano real, mas o universo é de pura ficção", diz.

O diretor Ricardo Waddington afirma que a série conta "uma história que pode acontecer em qualquer democracia". O texto começou a ser escrito há três anos com a colaboração de Guilherme Fiúza, Denise Bandeira e Nelson Motta.

Apesar da preocupação dos autores em evitar comparações, as conexões serão inevitáveis.

Como não lembrar, por exemplo, da eleição de Severino Cavalcanti, das presidências acidentais de José Sarney e Itamar Franco ou do mar de lama que tomou conta da política brasileira?

Riscos sérios - ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

O ESTADÃO - 14/12/11

Acidente com o navio de minério da Vale e vazamento no poço da Chevron mostram que o governo deve adotar medidas de segurança para evitar riscos à costa brasileira




O recente acidente com o navio de minério da Vale no Maranhão, logo após o vazamento de petróleo no poço submarino da Chevron no litoral do Rio de Janeiro, mostra de forma clara que o Brasil corre sérios riscos em razão de seu desenvolvimento econômico e de uma maior utilização de sua costa para as mais diversas atividades.

Não há dúvida que o carro-chefe é a exploração do pré-sal. O tamanho da operação, seu ineditismo, sua complexidade e acidentes já ocorridos em campos petrolíferos submarinos em outros lugares do mundo permitem dizer que a possibilidade de acontecer um vazamento existe e precisa ser tratada com todo o cuidado. Não apenas durante o processo de exploração dos campos, mas desde o início do projeto, com a delimitação clara das medidas de segurança e proteção das operações, em todas as suas fases.

Mas, se o pré-sal assusta pelo risco potencial, acidentes muito mais prosaicos podem causar danos mais severos, inclusive porque podem acontecer em áreas sensíveis, tanto em termos ambientais como humanos.

O acidente com o navio da Vale é mais que um exemplo. É um alerta que precisa ser levado em conta pelas autoridades. Graças a Deus parece que os danos dele decorrentes puderam ser minimizados e concentrados numa área de limitada, onde as medidas de segurança se mostraram eficazes.

Todavia, acidentes como o do superpetroleiro Exxon Valdez, na costa do Alasca, e com outros navios, notadamente na costa atlântica da Europa,não deixam dúvidas quanto às probabilidades de eles ocorrerem e de serem bem maiores do que um acidente na exploração do pré-sal.

Além disso, o risco de causarem danos de monta no litoral, afetando instalações humanas e o meio ambiente, é mais concreto do que uma mancha de óleo vazando no meio do oceano atingir a costa.

O acidente com o Exxon Valdez, acontecido já faz vários anos na costa do Alasca, não matou nenhum ser humano,não atingiu nenhuma cidade importante ou área densamente povoada e, no entanto, custou mais de US$ 15 bilhões em indenizações, parte suportada pela empresa responsável pela embarcação, parte paga por suas seguradoras.

Por outro lado, os filmes mostrando a luta para tentar salvar navios de todos os tipos nas águas do Atlântico europeu são dramáticos, tanto pelo esforço extraordinário das pessoas envolvidas na tentativa de minimizar os danos, como nas imagens impressionantes da mancha de óleo se espalhando e avançando sobre o litoral.

Vale lembrar que não são apenas os petroleiros que representam risco desta natureza. Grande parte dos navios mercantes são movidos a óleo combustível, que, no caso de um acidente com a embarcação, pode vazar de seus tanques, tornando-se uma ameaça real para o litoral próximo.

É verdade que a maior parte desses riscos pode ser segurada. O mercado segurador internacional oferece garantias amplas para as operações navais, tanto no que diz respeito às próprias embarcações, como aos riscos de responsabilidade civil decorrentes de sua operação.

Mas seguro existe para repor perdas. Ou seja, a indenização é eficiente para minimizar os prejuízos já ocorridos e não para evitar que ocorram. É uma missão importante, na medida em que preserva a capacidade de atuação do causador do dano e garante o pagamento dos custos para sua reparação, mas não consegue evitar que o acidente aconteça.

Cabe ao governo tomar as medidas para dar o máximo de segurança às atividades ao longo da costa brasileira. Uma que teria impacto positivo seria a exigência de seguros obrigatórios. Em primeiro lugar, em caso de acidente os danos estariam cobertos.

Mas,tão importante quanto isso,o governo teria as seguradoras como aliadas para garantir a qualidade dos serviços. Afinal de contas, tudo oque elas não querem é pagar grandes indenizações. Assim, ao aceitarem esses riscos, elas se transformariam automaticamente em eficientes fiscais da qualidade dos serviços e equipamentos de seus segurados.


O código da discórdia - ZUENIR VENTURA


O GLOBO - 14/12/11

Para quem, como eu, não sabe exatamente o que é mata ciliar e o que são módulos fiscais ou Áreas de Preservação Permanente, é difícil tomar posição nesse debate sobre o novo codígo florestal, aprovado no Senado por 59 votos a favor e 7 contra. Se Chico Mendes fosse vivo, ele serviria de referência, com seu bom-senso e realismo. Sem ele, restaria recorrer aos discípulos. Mas acontece que dois deles, talvez os mais importantes, estão em campos opostos na questão. Falo do senador Jorge Viana, relator do projeto, e da ex-senadora Marina Silva, rigorosa crítica do texto que em breve volta à Câmara para depois ir à sanção presidencial.

Conheci os dois em 1989, quando fui ao Acre para cobrir o assassinato do líder seringueiro, que inscreveu a Amazônia na agenda planetária. Pude constatar a integridade de ambos. Por isso, dividido, meu coração balança entre um e outra. Concordo quando ouço o ex-governador explicando seu esforço para evitar extremos, uma tendência herdada do próprio mestre, "que era um negociador que tentava conciliar a atividade rural com a atividade humana". Ele quer "dar tranquilidade aos que vivem na área rural produzindo para que nós, na cidade, possamos consumir". Mas tendo a apoiar a ex-ministra do Meio Ambiente, quando adverte que a lei aprovada "reduz a proteção das florestas, anistia desmatadores e, assim, ampliará a devastação". A sua esperança é o possível veto da presidente Dilma, que em campanha prometeu coibir o desmatamento ilegal, um compromisso que, segundo Marina, foi assumido com todos os brasileiros.

Como sintoma, há a reação dos grupos interessados. Os ruralistas exultaram, como mostrou a imagem da senadora Kátia Abreu comemorando com seus correligionários o resultado. Ao contrário, sabe-se do protesto das organizações ambientalistas em Durban, onde 194 países reunidos debateram soluções para as mudanças climáticas. Elas pediram o veto presidencial e exibiram um painel luminoso na fachada do hotel do encontro com um basta: "Pare a motossera!" De que lado ficará Dilma? Dizem que ela está satisfeita com o novo Código. A ver.

A crônica "Meu tempo é curto" produziu efeitos conflitantes. Alguns viram nela uma boa desculpa para não cumprirem com suas obrigações diárias. Um leitor, porém, acusou a teoria da Ressonância de não ter sido comprovada. Ele acha que eu devia ter consultado especialistas. O curioso é que se irritou mais comigo do que com o físico alemão, o tal do Schumman, que afinal é o culpado de tudo. Em cinco linhas, me deu quatro puxões de orelha. Bem feito. Quem manda desperdiçar tempo falando da falta de tempo.

Um foi "estrangulado" e saiu desacordado, com um corte profundo na testa causado por uma cotovelada. O outro teve o braço quebrado. Duas brigas feias em boate? Não, esporte.

Ano incerto - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 14/12/11

As empresas brasileiras se debruçam sobre um quadro mutante. Têm que planejar seus investimentos para 2012, mas a crise da Europa cria um ambiente de incerteza, independentemente da área em que atuam. Há chance de que o pior seja evitado, mas nenhuma empresa pode subestimar o risco de um cenário de estresse, na hipótese de haver agravamento da crise externa.

A Petrobras não vai cumprir a previsão de investimentos deste ano e não se espera aumento forte em 2012. A Vale vai investir 11% a menos no ano que vem. A Oi foi a mercado tomar US$ 1 bilhão em crédito rotativo para formar um colchão de liquidez. A Cyrela olha para 2012 com dois cenários à mesa: um, igual ao ano morno de 2011, e outro, de estresse, com retração de demanda. A Braskem disse que continuará seu ritmo de investimentos em torno de R$ 1,8 bilhão por ano, mas o presidente da empresa, Carlos Fadigas, teme o efeito indireto:

- A crise mundial está fazendo com que parte da produção não tenha mercado. No nosso setor, essa sobra de produção está sendo despejada em alguns países. O Brasil tem sido vítima de dumping. O que agrava o problema é que alguns estados dão incentivos ao produto importado, com abatimento no ICMS. Em Itajaí, por exemplo, 9% do imposto volta para o importador. A margem da petroquímica é de 9%, 12%.

Fadigas diz que a Braskem está mais preocupada com esse efeito indireto, porque isso é que dificulta a decisão de investir.

Além da retração mundial, tem havido também escassez de financiamento, o mesmo que aconteceu em 2008. Esse é mais um elemento que dificulta o trabalho das empresas de elaborar a estratégia para 2012.

Os setores mais dependentes do mercado externo sentem mais. A Vale já anunciou que vai investir 11% a menos no ano que vem, US$ 21,4 bilhões contra US$ 24 bi deste ano. A volatilidade do preço do minério é um dos problemas. No início do ano, a tonelada era negociada a US$ 180. Com a crise, agora é vendida na faixa de US$ 120. A mesma coisa acontece com a Petrobras. Se a crise internacional se agravar, o preço do petróleo tende a cair; mas um inesperado em países produtores fará o preço saltar. A empresa trabalha com essa incerteza. A estatal está com problema de geração de caixa, segundo analistas do setor, como o economista Ricardo Corrêa, da Ativa Corretora. A Petrobras teve que importar gasolina a um preço maior do que vendia aqui dentro. Teve que importar álcool também e deve continuar porque o setor sucroalcooleiro está com a produção estagnada.

A siderurgia trabalha com ociosidade de 20 milhões de toneladas no Brasil. No mundo, de 500 milhões. No setor de papel e celulose, nosso maior comprador é a Europa, a fonte da crise.

O assessor econômico da Presidência da Abimaq, Mário Bernardini, conta que o prazo médio de pedidos em carteira do setor de máquinas estava em 22 semanas no início do ano. Hoje, caiu para 17 semanas. Esse indicador mostra quanto tempo as empresas precisam trabalhar para entregar todas as encomendas.

- A crise não é só da Europa, ela chegou aqui e temos que nos preocupar com seus efeitos. Os investimentos estão caindo desde o início do ano. No primeiro trimestre, o ritmo estava crescente; no segundo, forte; no terceiro, estável. No quarto, a tendência é de queda. As maiores empresas, como Petrobras, Vale, foram reduzindo o ritmo. O governo também investiu menos - disse Bernardini.

Fadigas, da Braskem, disse que a conjuntura cria uma situação injusta para o Brasil: o país investiu para se organizar e ter mercado interno, e agora a indústria não está aproveitando as vantagens desse mercado porque temos recebido produção excedente de outros países. A Braskem é a maior do país no setor petroquímico, comprou concorrentes, chega a ter 70% de fatia de mercado em alguns segmentos. Mesmo assim se preocupa.

- Há clientes da empresa que simplesmente estão deixando de produzir no Brasil e, portanto, de comprar de nós matérias-primas. Essa construção do mercado interno foi um longo trabalho: o governo Fernando Henrique tocou a agenda da estabilização, o governo Lula, o da inclusão social, e o da presidente Dilma começa a buscar a eficiência. A indústria brasileira não pode perder esse momento - diz Fadigas.

O faturamento do setor de máquinas e equipamentos cresceu 10% em 2010. Este ano crescerá 6% em termos reais - descontada a inflação - mas o segmento de máquinas-ferramentas está operando com faturamento 40% abaixo do nível de 2008.

- A indústria da transformação está com perspectiva de crescimento zero este ano e recuperação modesta em 2012. Esse não é o ambiente propício para o investimento - disse Bernardini.

No ano, o índice Ibovespa acumula queda de 17%. O valor de mercado das empresas está menor, e, consequentemente, a capacidade de fazer dívidas para investir. Além disso, a oferta de crédito lá fora está menor.

De todos os problemas, o pior é a incerteza que paira sobre 2012. Enquanto não houver uma solução para o euro, as empresas continuarão inseguras em seus investimentos e projeções.

Confissão - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 14/12/11
Com quatro anos de atraso - oficialmente o Brasil foi anunciado como promotor da Copa de 2014 em outubro de 2007, mas desde 2006 sabia-se que a decisão da Fifa seria essa - o país começa a tentar montar um mínimo de organização para receber a competição, e já dá demonstrações de que assumiu compromissos maiores do que sua capacidade de realização de grandes eventos.
Questões relacionadas com os estádios de futebol e seu entorno são perfeitamente negociáveis e é aceitável que algumas regras ou leis mudem temporariamente, como a permissão de venda de bebidas alcoólicas durante a Copa do Mundo.
Fez bem o relator da Lei Geral da Copa em não aceitar que a mudança sobre venda de bebidas fosse definida como permanente.
Mesmo que ache ridículo dar meia-entrada para índios e participantes do Bolsa Família, mais essa agora para quem entregar armas de fogo, tudo bem que se negocie com a Fifa essas nossas "especificidades".
Essa categoria mais barata de ingressos faz parte do chamado "grupo quatro", que prevê uma cota de 300 mil entradas, da mesma maneira como foi feito na África do Sul. Nesse caso específico, a Fifa já tem essa experiência com países "emergentes" e não deve haver problemas.
Metade seria para os estudantes e o restante dividido entre torcedores de baixa renda, indígenas e aqueles que entregarem armas, incentivo ao desarmamento que deverá ser regulamentado pelo Congresso.
Idosos e estudantes já teriam esse direito por lei, mas agora também aprovaram o "estatuto do menor", que abrange pessoas de 15 a 29 anos. Exageros brasileiros, mas nada também que "quebre" a poderosa Fifa.
A Fifa, como todos sabem, tem seus patrocinadores, seus interesses econômicos, e o governo brasileiro, que assinou o compromisso de aceitar as suas regras, fez muito bem de não colocar a "soberania nacional" no meio da discussão sobre a meia-entrada e a venda de bebidas alcoólicas.
Proibir venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol faz parte de uma legislação federal, e sua suspensão no período da Copa do Mundo tem que ser negociada com o Congresso.
Mas é uma negociação de fácil resolução, já que não temos razões de fundo religioso nem cultural para proibir venda de bebidas alcoólicas nos estádios de futebol.
Trata-se de uma medida preventiva, para evitar brigas e confusões entre as torcidas, que pode ser substituída naquele mês da Copa por outra.
O fato é que quando se candidatou a sediar a Copa do Mundo - ninguém obrigou o país a fazer isso -, o Brasil sabia dos interesses econômicos da Fifa, e se comprometeu a acatá-los.
Ou você quer realizar o evento e aceita as regras, ou chega à conclusão que não vale a pena e não aceita sediar a Copa do Mundo, que no final das contas não passa de um negócio, um grande negócio, que movimenta bilhões e bilhões de pessoas e de dólares em todo o mundo.
É bom para a Fifa que se realize aqui, no país do futebol, único pentacampeão mundial. As imagens que as televisões transmitirão para todo o mundo certamente serão das mais belas já mostradas, mas nos pareceu ser também um bom negócio para o país.
Mas mudar as férias escolares e decretar feriado em dias de jogos, isso é o retrato de um país desorganizado, que não consegue promover um evento dessa magnitude sem mudar a rotina de seu cidadão.
Mostra que o país não conseguiu, apesar do tempo mais que suficiente, fazer as obras viárias que permitiriam a circulação da massa de turistas pelas ruas das cidades que receberão os jogos da Copa do Mundo, juntamente com os seus habitantes.
Trata-se de uma confissão de que não haverá tempo suficiente para terminar as obras necessárias, como corredores de transporte rápido, ampliação do metrô, além dos problemas de atrasos por denúncias de corrupção.
Os aeroportos serão improvisados com puxadinhos patéticos e até mesmo aeroportos militares precisarão ser utilizados para que o trânsito dos turistas seja possível.
Quando há Copa do Mundo, em muitas cidades brasileiras é decretado ponto facultativo, e a maioria das empresas dispensa seus funcionários, ou faz uma pausa durante os jogos, coloca telões para que possam ver os jogos.
Mas nesse caso é uma questão cultural, todos estão empenhados em torcer pela Seleção Brasileira e a produtividade seria fatalmente afetada se os trabalhadores, de todos os níveis, não pudessem acompanhar os jogos.
Mas mudar a rotina do país porque não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo é simplesmente ridículo.
Vamos ter feriado em cidades, como o Rio, que não verá nenhum jogo da Seleção Brasileira, a não ser se ela chegar à final.
A cidade vai parar para que os torcedores de outras seleções possam se locomover com comodidade pelo Rio, ou outra das 12 sedes da Copa, sem notar nossas falhas.
Mas elas continuarão lá, a denunciar nossa incúria.
A versão para a palavra inglesa lobby, que em português já existe com a mesma grafia, que deu origem à denominação de grupos de pressão, tem origem controversa.
Além daquela que dei na coluna de ontem, de conversas de membros do Parlamento com amigos nos lobbies do Congresso, há a história de que o termo se originou no Willard Hotel em Washington DC, frequentado pelo General Ulysses S. Grant, comandante das tropas federais durante a Guerra Civil e presidente dos Estados Unidos.
Grant ia lá para fumar charutos, tomar brandy e conversar, ocasião em que políticos e comerciantes ficavam no lobby tentando aproximar-se dele.

GOSTOSA


Spam - ANTONIO PRATA


FOLHA DE SP - 14/12/11

Anti-spam não resolve nada: em vez de eliminar e-mails indesejados, os agrupa numa antessala da caixa de entrada



"Saiba quem são os ETs que vivem entre nós, seus ideais e sua missão salvadora na Terra." Fiquei um tempo olhando a mensagem, pensando no que seria mais estranho: existirem extraterrestres, estarem eles entre nós, terem uma missão salvadora ou, no ano da graça de 2011, ainda não havermos criado uma ferramenta eficaz contra spams?

Anti-spam, convenhamos, não resolve nada: em vez de eliminar os e-mails indesejados, os agrupa numa antessala da caixa de entrada, oportunamente chamada de Quarentena -espécie de ralinho de pia que, de tempos em tempos, temos que limpar. É pior, aliás, do que o ralinho de pia, pois na pequena tela de arame é altamente improvável encontrarmos um anel ou outro objeto de valor, de modo que podemos simplesmente bater a sujeira no lixo, sem prestar muita atenção no que jogamos fora; já na barafunda do anti-spam há quase sempre joias perdidas, mensagens de amigos ou parceiros de trabalho que foram barradas por engano, obrigando-nos a, todo santo dia, frequentar de olhos bem abertos esse Freak Show, onde um elenco bizarro de comerciantes, golpistas, hackers e ativistas de todos os matizes se une para aumentar nossos pintos, diminuir nossas barrigas, vender-nos Rolex falsificados, infectar nosso HD, alertar-nos para o envolvimento da Dilma com as Farc ou o complô da Johnsons & Johnsons com a CIA e os maçons, que estaria por trás de eventos aparentemente tão díspares quanto a morte do Kennedy, a derrota do Brasil em 1998 e a saída da Fátima Bernardes do Jornal Nacional.

Sempre que me aventuro pelos pântanos da Quarentena, ponho-me a pensar como meu nome foi parar na lista de cada remetente. Confesso que no início da internet, quando os primeiros "Enlarge your penis" surgiram no meu 486, cheguei a ficar preocupado. Será que alguma ex-namorada furibunda havia espalhado boatos (inverídicos, é claro) sobre minha pessoa? Só fui entender que a propaganda era ampla, geral e irrestrita assim que começaram a chegar os primeiros "Enlarge your breasts".

Hoje, recebo cerca de cem spams por dia. Vão de cursos de massagem holística do Himalaia a cupons de desconto para um Pesque & Pague em Indaiatuba. De convites para workshops de liderança a flyers de festas de swing (não estou falando da música); de textos de blogueiros fascistas que acham que a "Veja" é uma revista de esquerda até blogueiros stalinistas que acusam a "Caros Amigos" de fazer parte da grande mídia burguesa. Se fossem verdadeiros metade dos e-mails que me mandam com links para supostos depósitos em minha conta, eu estaria escrevendo essa crônica num laptop de ouro, e, se tivesse respondido a apenas uma das falsas mensagens em que o banco pedia meus dados, provavelmente estaria redigindo esse texto à mão. Pensando bem, até que não seria má ideia: tenho gasto tanto tempo limpando a Quarentena que talvez trabalhasse mais rápido com papel e caneta. Vou tentar. Ou, então, torcer para que a missão salvadora dos ETs seja nos ensinar a produzir o verdadeiro anti-spam, aquele que transformará o antigo ralinho de pia num potente triturador, capaz de fazer picadinho desses sólidos dejetos da loucura humana.

Uma lição para a vida - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 14/12/11


Na minha primeiríssima e inesquecível - quem não se lembra de toda primeira e última vez? - estada nos Estados Unidos, em 1963, eu - um humilde e inseguro aprendiz de antropologia social numa portentosa Harvard - fiquei tão chocado quanto deslumbrado quando ouvia meninos e meninas com 20 e poucos anos de idade "discordarem" das ideias que saíam como cascata da obra dos grandes gênios das ciências sociais. Especialmente dos seus inventores, aqueles orgulhosos, persistentes, obsessivos e desafiadores Durkheim, Marx, Tocqueville, Frazer, Hocart, Mauss, Tylor, Maine, Weber... que em vez de policiarem e decretarem sobre o mundo, decidiram fazer o mais difícil: compreendê-lo em seus próprios termos. Esse modo mais complexo e profundo de transformá-lo.

Eu ficava apatetado e cheio de culpa quando meus colegas, uns merdinhas de olhos azuis claros como a inocência das louras que clamavam terem sido estupradas por negros, diziam em alto e bom som: "Eu discordo de Mauss!"; "Durkheim estava errado!"; "Preocupa-me a posição de Weber!"; "Marx perdeu o bonde!"; e assim por diante.

O modo tranquilo com que meus colegas, debaixo do olhar aprovador dos nossos professores, discordavam desses pioneiros me perturbava, pois quanto mais originais eram suas teorias, mais eles eram criticados. As opiniões não eram meras apreciações formais ou elogiosas de um iniciante ajoelhado diante de um mestre, mas uma assertiva sempre negativa e ostensivamente contrária ao que era discutido que, sendo boa ou profundamente enganada, promovia a discussão das ideias gerais contidas no livro em debate. Desse modo, todos (menos eu) faziam questão de bater de frente e essa atitude que para mim, surgia como hipercrítica, e até mesmo agressiva, passava por um crivo que eu não havia aprendido e certamente não existia no Brasil. O filtro de um ponto de vista individual e não a perspectiva pessoal que tende a atenuar ou arrefecer o debate e a apreciação do outro.

Entendi que estava no universo dos "eus". De fato, o que eu mais ouvia era o pronome pessoal "I" (eu). Entendi por que em inglês a primeira pessoa do singular, o "eu", é escrito com letra maiúscula...

Nesse contexto, passei por uma experiência decisiva.

Num seminário sobre a história da antropologia, dirigido pela professora Cora Du Bois, uma pioneira, ao lado de Margaret Mead e Ruth Bennedict na prática da antropologia social, uma mulher que havia feito trabalho de campo na Ilha de Alor, na Indonésia, quando nós, no Brasil, achávamos um problema ir a Niterói e impossível conhecer Manaus, eu apresentei um desses autores clássicos. Não me lembro mais quem era, mas não me esqueci da luz que essa experiência lançou na diferença entre o meu modo de aprender e o dos meus colegas harvardianos. Pois quando terminei o meu resumo, recebi da professora uma pergunta surpreendente.

- Sua apresentação está mais do que correta! - disse Cora Du Bois -, mas o que eu quero mesmo é saber o que você pensa sobre as teorias que acabou de apresentar.

A ênfase no "você" que individualizava e buscava a minha opinião íntima - o sentimento de um "eu" que mal sabia era autônomo e tomava partido - deixou-me embasbacado. Eu jamais havia pensado em me distanciar e me individualizar diante do autor estudado. Pelo contrário, eu havia feito exatamente o oposto e me identificava com ele preparando-me para defendê-lo a todo custo. Jamais havia passado pela minha cabeça que era possível e desejável formar uma opinião pessoal sobre ele e, eis o espanto, que essa opinião, mesmo sendo a de um jovem iniciante, contava e a experiente e sábia professora fazia questão de ouvi-la.

No Brasil eu era bamba em discutir ideias, projetos, leis e sistemas políticos sem ser obrigado a tomar posição em relação ao que estava em pauta. Aliás, o que eu aprendia era jamais criticar certos autores e, pela mesma moeda, elogiar outros. Mas entre o lado direito e o esquerdo, o alto e o baixo, o bom e o ruim não havia nenhum espaço para dizer o que eu realmente pensava de cada um deles.

Meu aprendizado não era individual. Era pessoal e grupal no sentido de que cada grupo ou turma tinha seus padrinhos e heróis, bem como seus inimigos e bandidos, como figuras para serem idolatradas e admiradas, a ponto de jamais serem apreciadas de modo individualizado. Sabíamos definir socialismo e liberalismo, mas não aprendíamos a tomar uma posição sobre cada um desses sistemas - e a exprimir o que eles diziam para cada um de nós.

Éramos, como ocorre em tantas outras esferas da vida social brasileira (e, imagino, latino-americana), contra ou a favor. Não líamos Marx, éramos marxistas! Ou reacionários, porque simpatizávamos com Durkheim, que jamais falou em luta de classes. Mas, entre um e outro, jamais fazíamos como aqueles meninos de Harvard que tomavam um partido individual relativamente a cada autor e assim mediam suas aversões e simpatias às suas ideias, métodos e teorias. E isso, parece, faz diferença. A diferença entre a repetição e o modismo e a verdadeira criatividade.

E o câmbio? - ANTONIO DELFIM NETTO

FOLHA DE SP - 14/12/11

Na reunião da União Europeia na semana passada, aprovaram-se algumas medidas de controle fiscal e mecanismos para a sua fiscalização:

1º) Os países-membros da UE comprometeram-se a incluir em suas Constituições a obrigatoriedade do equilíbrio fiscal. Isso, na prática, vai ser objeto de muita discussão sobre como calculá-lo;

2º) Os países com deficit estrutural de até 0,5% do PIB estarão fora do radar. Aqueles com deficit entre 0,5% e 3% do PIB serão monitorados mais cuidadosamente pelos "burocratas" de Bruxelas;

3º) Os países com deficit superior a 3% serão punidos e a sua persistência poderá ser causa de expulsão do bloco;

4º) Os países-membros deverão promulgar leis que os obriguem, num horizonte razoável, a reduzir a relação dívida pública/PIB a 60%, como impunha, desde a sua origem, o Tratado de Maastricht;

5º) A regra que exigia decisão unânime para a aprovação de medidas de caráter econômico dentro da União Europeia foi flexibilizada.

A natureza e a profundidade dessas decisões, o enorme deficit democrático que elas incorporam (os seis maiores países poderão decidir sobre o futuro dos 17 que adotam o euro) e a importante concessão de interferência nas soberanias fiscais dos países (pense na virtuosa Suécia) mostram o tamanho do problema.

Só momentos de grave crise levam a compromissos como esses. Por outro lado, a incompreensão de Angela Merkel de recusar ao Banco Central Europeu o papel de "emprestador de última instância" ainda é um problema.

A incompreensão é ainda mais grave quando se atribui todo o desequilíbrio fiscal dos "países latinos" a uma componente moral: a sua alegre adesão ao dionisismo, em contraposição ao contido apolinismo germânico!

Será que o fato dos "latinos" terem problemas fiscais se deve apenas a seu comportamento? O que parece mais provável é que boa parte do desequilíbrio fiscal é consequência da fixação das taxas de câmbio dos países da UE de forma "definitiva e irrevogável" dentro do euro, sem a acomodação fiscal adequada.

A diferente dinâmica econômica e social dos países da UE criou uma "armadilha cambial" invisível que só pode ser eliminada, ou por dramáticas manobras sobre a taxa de crescimento dos países devedores ou com o estabelecimento de uma efetiva Federação, à qual os países-membros transferirão boa parte de sua soberania fiscal e ela produzirá uma transferência de renda.

Sem a substituição da dívida dos países-membros (que a pagarão no longo prazo) por papéis em euros emitidos pela autoridade fiscal federal, é pouco provável que haja uma solução definitiva para a crise da Eurolândia.