terça-feira, novembro 29, 2011

Minerim - SONIA RACY


O ESTADÃO - 29/11/11



Aécio pediu para seu assessor enviar e-mail a Paulo Mathias, na quinta-feira. Elogiando texto do presidente da juventude do PSDB paulista, publicado no Rio, em que critica programa pró-jovem do PT. "Brilhante, atual, bem fundamentado", foram algumas das palavras. "À altura das melhores tradições da juventude tucana."

Um agrado de Minas, visto que Serra armou briga pública com Mathias no dia 19.

Fim da novela

Benjamin Steinbruch largou em primeiro, foi ultrapassado por Jorge Gerdau, mas quem venceu foi o "azarão" argentino. Paolo Rocca arrematou a participação de Votorantim e Camargo Corrêa, mais um pedaço pertencente ao fundo dos funcionários da Usiminas, por R$ 5 bilhões.

Conforme antecipado, domingo à tarde, no blog da coluna.

Novela 2

Pelo que se apurou, não foi preço que impediu Steinbruch de chegar à frente. E Gerdau também ofereceu bom número, só que em ativos

Gosto se discute?

Ao listar quem, dos quatro candidatos a prefeito de São Paulo, iria falar primeiro na reunião de domingo, Alckmin ouviu do pré-candidato Ricardo Tripoli: "Tenho direito a discursar por último, pois sou o único ING da turma".

E explicou: Indivíduo Não Governamental, já que não faz parte do secretariado do Estado.

Humam economics

Está pronta biografia do chamado "fundador da teoria econômica no Brasil". Feito pela Insight Comunicação, revela histórias curiosas sobre o personagem. Exemplo? Eugênio Gudin não bebia água, só vinho. Dizia que água enferruja.

Verdade ou não, viveu até os 100 anos.

Human 2

Em seu cartão de visita, Gudin não se apresentava como economista, mas "Floricultor de Petrópolis", pois adorava jardinar orquídeas e dálias.

O livro sai em janeiro.

Back on track

Quinze anos depois da última martelada,Renato Magalhães Gouvêa volta aos leilões. Comandará, aos 82 anos, venda de 167 lotes. Dia 5, em seu Escritório de Arte.

Bomba, bomba

Passageiro brasileiro se assustou ontem. Teve de tampar os ouvidos, seguindo instrução policial, antes de explosão que detonou artefato suspeito no Charles de Gaulle, em Paris. O que atrasou o voo AF456 para Guarulhos.

Lá em casa

Albino Rubim acaba de sair do bolso do Grupo Setorial de Cultura do PT. Para suceder Ana de Hollanda na reforma ministerial de fevereiro.

O atual secretário de Cultura da Bahia é saudado por aliados das principais áreas do ministério.

Nuvem carregada

Pipocou ontem na web vídeo-resposta de Sebastião de Amorim e seus alunos de engenharia na Unicamp. Diferentemente do Gota D"Água, defendem a Usina Belo Monte. Nome do movimento? Tempestade em Copo D"Água.

Carregada 2

Maria Paula Fernandes, cabeça do Gota D"Água, não se aborrece. "Um dos objetivos era levantar a discussão." Ela junta recursos para deflagrar um segundo vídeo.

Força total

O Procon-SP não gostou das regras da Aneel para tarifas diferenciadas em horário de pico. E pediu esclarecimentos. ParaPaulo Arthur Góes, do órgão de proteção, "a falta de investimentos na rede elétrica não pode onerar ainda mais os consumidores".

Direto de Interlagos

José Sérgio Gabrielli passou pelo Paddock mais rápido que Mark Webber. O presidente da Petrobrás deu uma volta na área VIP em ritmo de treino e não quis comentar o caso Chevron, sócia da estatal na Bacia de Campos.

Piquet pai acertou o prognóstico: deu Vasco sobre o Flu. Já Nelsinho. garantiu à coluna que Vettel "ganharia fácil" o GP de Interlagos.

Estreante no circuito, Fabiana Murer torcia pelos brasileiros - em vão - e disse estar confiante em ganhar uma medalha olímpica em Londres, ano que vem. Vitaly Petrov, seu técnico, é o ex-preparador da supercampeã Yelena Isinbayeva. "Estou com o melhor."

Ronaldo foi com os filhos Ronald e Alex ao box da Williams. E nem viu Piquet desfilar com bandeira do Vasco pela pista. "Estava com o Rubinho. Corintiano com corintiano, né?"

Discreto, braço da família real Saudi compareceu. A delegação do Bahrein, liderada pelo sheik Abdullah al Khalifa, gostou tanto de Sampa que quer voltar para passar. mais 30 dias. /DANIEL JAPIASSU

Na frente

Francis Mallmann, prestigiado chef argentino, desembarca em SP. Motivo? Lançar seu livro Sete Fogos: Churrasco ao Estilo Argentino e acertar, com o sócio Jan Milan, a abertura de restaurante em Trancoso.

A bela Aline Muniz, filha de Angelina Muniz, faz show de seu novo CD. No Teatro Frei Caneca, dia 1º.

Nelson Eizirik lança, amanhã, seu novo livro. No escritório que divide, em Sampa, com Modesto Carvalhosa.

O Anacã, de Ana Diniz, promove, quinta-feira, palestra com Mirca Ocanhas. Renda revertida à AACD.

Rafael Costa lança livro com direito a exposição de suas fotos. Hoje, no Espaço Contraponto.

Isabella Suplicy autografa livro. Hoje, na Livraria da Vila do Cidade Jardim.

Jornal da USP Livre, da semana passada, chama a atenção para a Marcha das Vadias, ato contra a violência sexual. Qual foi a banda escolhida para encerrar a programação? A. Bom q Dói.


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Fabio Cardo disse...

Murilo, uma retificação na nota sobre o retorno dos leilões de Renato Magalhães Gouvêa: o local do leilão é Nacional Club, à rua Angatuba, 703 - Pacaembu - São Paulo, SP.

Ao trabalho - ANCELMO GOIS



O GLOBO - 29/11/11



Um amigo que visitou Lula domingo diz que ele deseja voltar ao trabalho ainda esta semana.

Cabral da cuíca
O mangueirense Cabral combinou com Lula de desfilar em 2012 na Gaviões da Fiel, cujo enredo é o amigo ex-presidente.

Tchau
Ministros que têm revelado a jornalistas, em papos reservados, chateação com o modo como são tratados por Dilma serão procurados por assessores com o seguinte recado: “Se quiserem ir embora, tudo bem.”

‘Muy amigos’
Desabafo de um analista econômico argentino ao saber que o empresário Paulo Rocca, espécie de Gerdau portenho, comprou 43% da Usiminas:

— Rocca se reuniu com a presidente Cristina Kirchner e saiu fazendo elogios ao modelo econômico do país. Mas, na hora de investir, preferiu o Brasil.

Na verdade...
Em 2008, Nestor Kirchner, marido de Cristina, ajudou o empresário do aço a enfrentar a fúria de Hugo Chávez, que estatizara a Sidor (de Rocca). No fim, a Venezuela topou pagar US$ 1,97 bi ao argentino.

Retratos da vida
No ponto de ônibus mais próximo da Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação, no Jardim Botânico, no Rio, uma mulher de uns 40 anos passa o dia ajudando pessoas com deficiência a embarcarem nos coletivos.

Cobra R$ 1 por ajuda. Jânio, o livro
O coleguinha Augusto Nunes está escrevendo uma biografia de Jânio Quadros. Vai sair pela Editora Record.
Aliás, o político da vassoura, que prometia varrer a corrupção, também era chegado, como diria Dilma, a um “malfeito”.

Navio de ouro
A conta pode sair mais salgada. Segundo o consultor Adriano Pires, se o navio João Cândido, petroleiro construído no estaleiro Atlântico Sul, for entregue em dezembro, terá custado US$ 180 milhões, três vezes mais que a média do mercado mundial. É que seu prazo de entrega foi de 50 meses: “Lá fora, um navio desses fica pronto em um ano.”

Telona
O filme “Paraísos artificiais”, de Marcos Prado, estreia dia 17 de abril com 300 cópias.

Já...
“Heleno”, a cinebiografia de José Henrique Fonseca sobre o craque do Botafogo, participa do Festival de Havana.

Bíblia de Horta
Vai para segunda edição “A Bíblia: um diário de leitura”, de Luiz Paulo Horta.
Amor no ar
Sábado, passageiros do voo 5430 da Trip (Belo Horizonte-Porto Velho) foram surpreendidos pelo comandante Maurício, que, via sistema de som, declarou seu amor a uma aeromoça. O piloto declamou um poema e... “quer casar comigo?”. O avião foi ao delírio aos gritos de “sim!”. A comissária aceitou.

Vira casaca
Patrocinadora do Vasco, a Ale, distribuidora de combustível que virou casaca (em 2009, patrocinava o Flamengo, lembra?), vai levar ao jogo com o Fla, domingo agora, o vascaíno que morar no país mais distante do Engenhão.
É só ir à página da Ale no Facebook e seguir instruções.

Ele é Flamengo
Nizan Guanaes virou sócio honorário do Flamengo.

A fila anda
Úrsula Corona, a linda atriz que arrancou suspiros como a detetive toda-toda Elizabeth na reedição de “O astro”, a novela da TV Globo, está solteira.

Alô, Edison Lobão
Furnas regateia o pagamento de R$ 100 mil à ABI por uma promoção que teve no show do centenário da casa dos jornalistas, em 2008.

‘Literatura de quinta’
Numa entrevista à revista “Contigo”, Boni, mestre na arte da TV, criticou o “BBB”, dirigido pelo filho Boninho:
— É meia hora de uma literatura de quinta categoria. Prefiro Dias Gomes, Walter George Durst ou Janete Clair.

Relações exteriores: análise e previsão - JARBAS PASSARINHO



CORREIO BRAZILIENSE - 29/11/11



Otávio Frias Filho escreveu, recentemente, um ensaio sobre o decorrer da política diplomática do Brasil desde o Império de D. Pedro II até os dias de hoje, prevendo o horizonte geopolítico em 2050. O objetivo básico de nossa política diplomática foi preservar a integridade territorial imensa e mal ocupada no Império. Apesar de pacifistas, fomos à guerra três vezes pela disputa do Uruguai antes que Estado tampão entre Brasil e Argentina. 
Proclamada a República, em 1889, o Barão do Rio Branco, ouvido Ruy Barbosa, fixou a estratégia perante os Estados Unidos, não muito diferente da mantida até então com a Grã-Bretanha, pelas elites do Império. Estabelecia um relacionamento estreito com a potência norte-americana. Ante o fascismo e o comunismo na 2ª Grande Guerra, o presidente Getúlio Vargas teve inicialmente uma relação ambígua com Washington, equidistante dos Estados Unidos e da União Soviética. O embaixador Sérgio Corrêa da Costa, que serviu na Argentina, revelou documentos preciosos do governo de Juan Perón, que se manteve comprometido com o fascismo até a véspera do armistício de 1945. 
O plano de Perón era reconstruir o Vice- Reinado da Prata, ampliado com parte do Brasil, se os alemães vencessem a guerra. Por isso Getúlio simulou neutralidade até que nossos navios costeiros foram torpedeados por submarinos alemães e um italiano. Negociou com Roosevelt a utilização das bases aéreas de Belém e Natal para que suas tropas pudessem sobrevoar o Atlântico Sul, rumo a Dacar. Em troca, garantiu financiamento para a construção da siderúrgica de Volta Redonda. 
Para demonstrar falso afastamento da política de aliança automática, fez aprovar a lei que criou a Petrobras, com o cuidado de enviar ao Congresso um projeto de lei que não adotava o monopólio da pesquisa, refino e exploração de petróleo, satisfazendo a apreensão das companhias internacionais que dominavam o mercado mundial do petróleo. Instruiu, em silêncio, seu líder na Câmara a votar a favor da emenda da oposição pelo monopólio da empresa estatal. 
O advento da Guerra Fria separou o mundo ideologicamente em dois hemisférios. De um lado, a União Soviética; do outro, os Estados Unidos, em aliança com as democracias. 
Após o golpe preventivo de março de 1964, o governo Castello Branco voltou ao alinhamento automático com a política externa americana. No governo Ernesto Geisel, o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha foi severamente combatido pelo presidente Carter. No dia imediato à sua posse, mandou oficialmente seu vice-presidente à Alemanha pressionar o primeiro-ministro social-democrata alemão para tentar denunciar unilateralmente o acordo, sem lograr êxito. Com o mesmo fim, determinou ao Departamento de Estado enviar ao Brasil o diplomata Warren Christopher. Não foi recebido. Igual desavença já ocorrera com a decisão do presidente Médici de decretar as 200 milhas de soberania marítima ao longo do litoral. Alta patente militar americana veio ao Brasil com a missão de pleitear junto ao presidente Médici a anulação do decreto. Não obteve acolhimento. Vários anos depois, o decreto foi modificado, mas o domínio econômico das 200 milhas foi mantido. Devido a isso, a Petrobras pesquisa off shores soberanamente. 
Décadas se passaram desde então. O conflito ideológico da Guerra Fria desvaneceu-se com o colapso da URSS. Novas formas de antagonismo surgiram nas tensões do Leste-Oeste. O Brasil, a partir de 1985,consolidou autêntica democracia, venceu a inflação, equilibrou suas contas internas e eliminou o deficit da dívida externa. Venceu o vaticínio pessimista de Malthus, segundo quem o desencontro entre o aumento da população e a produção de alimentos será fatal. Frias contesta, afirmando que teremos em 2050, no que tange ao Brasil, uma população altamente miscigenada, de imigrantes africanos e latino-americanos, estabilizando-a perto de 250 milhões. No plano econômico, consolidou a oitava posição no ranking das economias do mundo e, segundo a previsão de Frias Filho, chegará a quarta ou quinta economia do mundo e a um PIB de US$ 12 trilhões. Alcançará o nível de potência tropical pacífica e sem armas nucleares, mas provida de recursos militares capazes de dissuadir potências superiores, se cobiçosas. 
A China e os Estados Unidos disputarão a primazia econômica nos próximos anos. Correto será uma política de equidistância de ambos, pois são parceiros importantes de importação e exportação. No que tange ao desenvolvimento cultural, o Brasil do futuro imediato deverá voltar-se para incrementar o soft power, a cultura e a tecnologia essenciais a qualquer poder nacional na era digital de 2050. 
As relações do Brasil com os Estados Unidos deixam uma lição para 2050. Desde as diretrizes do começo da República, nossa política externa com os Estados Unidos variou de alinhamento automático aos confrontos cordiais sem quebra da soberania. Pela primeira vez, o confronto chegou à beira da hostilidade diplomática, nos oito anos de governo petista de Lula, buscando conquistar, em oposição aos Estados Unidos, um lugar vitalício no Conselho de Segurança da ONU. Politicamente, prever o Brasil em 2050, só seria possível fazer se ouvido o Oráculo de Delfos, da Grécia antiga, que fazia profecias consultando a ondulação das águas e o sussurro das folhas das árvores. 

Saiu de moda - ALON FEURWERKER



Correio Braziliense - 29/11/2011


Todo mundo acha lindo estimular a consciência ambiental, mas todo mundo quer mais energia, mais matéria-prima, mais comida. E não dá para condenar. Você, que condena, está disposto a andar para trás se isso for indispensável a que outros possam ir adiante?



A cúpula sobre mudanças climáticas em Durban, África do Sul, acontece num momento ingrato. Se o alerta sobre os efeitos do aquecimento global eclodiu anos atrás num período de bonança, o debate agora se dá em meio à ameaça de estagnação global prolongada, uma curva em "U".

E os mais pessimistas arriscam dizer que será em "L", sem data para voltar a subir a ladeira. Um modelo japonês.

De três anos para cá o mundo passou a preocupar-se mais com o crescimento e o emprego do que com a elevação da temperatura do planeta e os efeitos nocivos.

Pois há os não tão nocivos. Os russos e canadenses, por exemplo, devem estar loucos para aquelas terras todas descongelarem e virarem plantações.

As dúvidas científicas jogam um papel, mas menor. Os céticos do clima não estão com essa bola toda.

O xis do problema aparece na falta de horizontes para o combate radical à pobreza e na falta de oportunidades suficientes para quem mais precisa delas.

Ninguém diz, na real, como fazer as duas coisas ao mesmo tempo. 1) Crescer e combater fortemente a pobreza e 2) reduzir a emissão de CO2 e congêneres.

O tempo foi passando e a luta contra o aquecimento global foi ficando com cara de coisa de quem já tem tudo e propõe que quem não tem nada continue sem ter.

Sem falar na realidade que mudou.

Quando surgiu a onda, o crescimento chinês era apontado pela militância como paradigma do que não fazer, como caminho a combater, pela subordinação das variáveis ambientais às econômicas.

Hoje, o mundo se preocupa ao contrário. Teme que a desaceleração chinesa resulte, com a estagnação europeia e a lentidão americana para decolar, em soma vetorial desastrosa.

A agenda virou do avesso. No Brasil, a fúria mercadológica do etanol ficou na poeira. Pois o mercado mundial para biocombustíveis micou.

Da invencível armada da cana sobrou a fatura, com produtores atrás de garantias para produzir e o governo atrás de garantias de que produzam.

A conta, naturalmente, restará para o contribuinte. O novo proálcool terá o destino do velho.

E agora só se fala no petróleo do pré-sal, cuja extração, aliás, produz bem mais gases do efeito-estufa, dizem. E ninguém está nem aí.

Pode até dar uma vazadinha, a turma fará algum barulho, mas no fim vai ficar por isso mesmo.

Proponha suspender a retirada do petróleo sob a camada de sal, para ajudar a salvar o planeta, e candidate-se a uma vaga na galeria dos folclóricos, dos lunáticos.

Ou dos traidores da pátria.

Epíteto que um dia foi aplicado a quem duvidava do "projeto etanol". Pois o impatriotismo é um rótulo sempre à disposição de governos que precisam justificar o que fazem.

Os otimistas apostam num novo Kyoto, desta vez subscrito por todos, inclusive por nós.

O realismo adverte que, se acontecer, será suficientemente vago e flexível para acomodar interesses antagônicos, oferecer uma photo-op aos protagonistas e resultar em efeito prático nenhum.

Mais ou menos como o primeiro.

A coordenação global contra as mudanças climáticas esbarra numa barreira até agora intransponível.

Para abrir espaço ao crescimento das emissões nos países que vêm atrás, os que vão na frente precisariam não apenas desacelerar, mas reduzir em valores absolutos.

Um impasse político insolúvel, pois quem já saboreia os confortos da civilização não abrirá mão. No máximo engrossará correntes bem intecionadas, propagandísticas.

Para polir a imagem, sempre bom.

Todo mundo acha lindo estimular a consciência ambiental, mas todo mundo quer mais energia, mais matéria-prima, mais comida.

E não dá para condenar. Você, que condena, está disposto a andar para trás se isso for indispensável a que outros possam ir adiante?

Desespero
As Farc começaram a executar reféns.

Já os presidentes da Colômbia e da Venezuela transformaram-se em amigos de infância. Sob aplausos brasileiros e americanos.

O isolamento aumenta muito a tendência ao desespero. E o desespero costuma ser péssimo conselheiro.

Relatório sobre Síria desafia ONU - CLÓVIS ROSSI


FOLHA DE SP - 29/11/11

O relatório da comissão da ONU que investigou a violência na Síria vai colocar o Brasil e todo o sistema das Nações Unidas ante um desafio considerável, talvez até mais complexo do que o que antecedeu a intervenção na Líbia.

O relatório é duríssimo: diz que as forças de segurança sírias cometeram "graves violações dos direitos humanos", o que inclui execuções sumárias, prisões arbitrárias, desaparições forçadas, torturas, violência sexual, violação dos direitos das crianças -enfim o catálogo completo a que recorrem as ditaduras mais selvagens.

Para o Brasil, não dá mais para repetir a torpe declaração emitida após visita de uma delegação do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) a Damasco, na qual condenaram "a violência de todas as partes". Equivalia a igualar vítimas e algozes.

Agora, há um relatório com a chancela de Paulo Sérgio Pinheiro, o brasileiro que preside a comissão, descrito por Tovar Nunes, porta-voz do Itamaraty, como homem de "absoluta competência e lisura".

O que fazer então? É o que se começou a discutir na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, logo após a leitura do relatório por Paulo Sérgio. Há, em princípio, três possibilidades:

1 - Aprovar resolução que convoque a Síria a cooperar com a comissão de inquérito, o que ela não fez até agora, a ponto de não ter permitido a entrada do grupo no país. Como o prazo para o relatório final vai até março, seria uma janela de oportunidade para a Síria mudar de comportamento.

2 - Enviar o relatório ao Conselho de Segurança da ONU -único organismo capaz de tomar decisões- e/ou também ao Tribunal Penal Internacional, já que há menções a crimes contra a humanidade.

3 - Mandar o documento diretamente ao secretário-geral para que este decida o passo seguinte (necessariamente seria consultar o CS, afinal de contas o coração do sistema).

Até ontem à tarde, não havia uma definição do Itamaraty a respeito do que fazer, mas meu palpite é o de que preferirá a opção número 1, a mais branda.

Acho um caminho inócuo, por dois motivos: o próprio chanceler Antonio Patriota já pediu a seu colega sírio, Walid al-Moulam, durante encontro em setembro, em Nova York, que permitisse a entrada da missão da ONU. Foi inútil.

A diplomacia brasileira também fez apelos para que o regime cessasse a violência. Foi igualmente inútil. Os parceiros da Síria na Liga Árabe até elaboraram um plano para pôr fim à crise, que o presidente Assad desprezou. Acabou expulso da Liga.

A aparente inutilidade dos apelos não quer dizer, no entanto, que os outros dois caminhos em exame em Genebra possam de fato resolver a questão.

Fechar a suposta janela de oportunidade seria colocar Assad contra a parede, não lhe deixando outra escolha que não matar e eventualmente morrer, como Gaddafi.

Mesmo que o CS imite a Liga Árabe e imponha sanções, a história prova que estas não comovem ditaduras a não ser a longuíssimo prazo (exemplo da África do Sul do apartheid). Conclusão inescapável: os sírios continuarão entregues à sua própria sorte (horrível, aliás).

Pelotão de fuzilamento na Europa - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 29/11/11

As praças financeiras se reanimaram um tanto ontem ("Bolsas sobem" etc.). Os donos do dinheiro grosso do mundo acreditam, outra vez, que pode surgir uma decisão política que, no fim de um caminho acidentado, permitiria a cobertura de rombos de bancos e governos.

Isto é, de um decisão que induziria o Banco Central Europeu a, na prática, bancar a dívida dos governos semiquebrados e a expandir ainda mais seu programa, já em curso, de socorrer bancos.

Tal solução política é transformar os países mais pobres e financeiramente frágeis da zona do euro em protetorados fiscais e orçamentários da União Europeia -da Alemanha e da França, em suma. Trocando em miúdos, significa que os governos teriam de submeter suas contas e Orçamentos a alguma instituição da União Europeia. A pressão maior recairia sobre Grécia, Portugal, Itália e Espanha.

O rumor era que Alemanha, França e parceiros menores poderiam chegar a um acordo antecipado de intervenção da União Europeia em governos deficitários demais, de modo a obrigá-los a reduzir suas dívidas. A novidade aqui é a palavra "antecipado".

A princípio, tal mudança dependeria de uma difícil e demorada reforma legal da União Europeia, que não teria efeito prático, se viável, antes do final de 2012.

Os eurocratas do Executivo da União Europeia, a Comissão Europeia, Alemanha e França, porém, cozinham novo acerto, sobre o qual não havia detalhes ontem.

O boato era que os países financeiramente mais sólidos da eurozona poderiam firmar acordos entre eles mesmos, obrigando os países mais frágeis a aderir ao pacto do arrocho. Caso contrário, seriam relegados ao inferno da indiferença dos mercados e da eurozona: quebrariam de vez.

Quebradeira em qualquer lugar da Europa não é uma solução, mas a ameaça de represálias sobe de tom desde que, na prática, Alemanha e cia. derrubaram os governos da Itália e da Grécia, trocando-os por interventores capazes de implementar o arrocho, imaginam.

Quais, porém, as diferenças da atitude de agora e das outras pressões de Comissão Europeia, Alemanha e Banco Central Europeu, que vêm desde o início da crise, em 2009-2010, e não funcionaram?

Segundo a diplomacia francesa, um "pacto fiscal" entre países sólidos não deixaria alternativa aos mais fracos. Os programas de corte de gastos e limitação de dívidas ganhariam "credibilidade" (isto é, o arrocho estaria sob fiscalização de um pelotão de fuzilamento político-financeiro). Nesse caso, ficariam amolecidas as restrições alemãs e do Banco Central Europeu a:

1) Que o fundo europeu de socorro a países semiquebrados garantisse mais dívida desses países: que a União Europeia (os países ricos e mais sólidos) se tornasse "fiadora" dos países em dificuldades. Assim, talvez, os credores talvez voltassem a emprestar a taxas menos extorsivas pelo menos para Itália e Espanha, ora quase no bico do corvo;

2) Que o Banco Central Europeu expandisse seu programa de compra de dívidas (empréstimo) a países em dificuldades, "imprimindo" dinheiro, e emprestasse ainda mais dinheiro aos bancos asfixiados do continente, mas em troca de garantias ainda menos valiosas.

Capitalismo à brasileira - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 29/11/11

SÃO PAULO - Embora o Brasil tenha uma economia baseada na livre concorrência, muitos não resistem à tentação de pegar carona na autoridade do Estado para colher os lucros do capitalismo sem a necessidade de correr riscos ou conquistar mercado pela qualidade de seus produtos e serviços.
O caso da Controlar, responsável pela inspeção veicular em São Paulo, é um bom exemplo. Por meio de muito lobby, doações de campanha e sabe-se lá mais o que, o consórcio obteve uma fórmula infalível: ser o fornecedor exclusivo de uma certidão que cada dono de um dos 7 milhões de carros de São Paulo precisa, por força de lei, renovar anualmente, pela bagatela de R$ 61,98.
Não é um caso isolado. Há golpes contra o bolso do cidadão com chancela oficial em todas as áreas. A troca das tomadas foi uma jogada de mestre. Numa única canetada, fabricantes de plugues e adaptadores criaram "ex nihilo" todo um novo mercado. Mais interessante, conseguiram um raro equilíbrio: a mudança causa um inconveniente que não é grande o bastante para provocar muita mobilização, mas basta para gerar lucros fabulosos.
No mesmo nível, só a iniciativa das autoridades de trânsito que, alguns anos atrás, obrigou todos os motoristas a adquirir e carregar para cima e para baixo um pedaço de gaze, um rolo de esparadrapo e um par de luvas. Com isso, queriam nos fazer crer, estávamos prontos a atender a emergências médicas viárias.
Mais recentemente, esses mesmos administradores impuseram a todos os compradores de carros a obrigação de pagar por um chip de localização e bloqueio, agora exigido em todos os veículos novos, mas que é inútil a menos que o proprietário seja cliente de uma seguradora.
Se vamos ser capitalistas, deveríamos tentar jogar o jogo direito. E sermos um pouco mais republicanos. Não vale sequestrar o poder do Estado para gerar benefícios privados.

GOSTOSA


Ricos e infantis - JOÃO PEREIRA COUTINHO


FOLHA DE SP - 29/11/11


Avisos sobre as vantagens de usar capacete podem ser importantes, mas a escolha de usá-lo ou não é só minha



UMA DAS vantagens de viver na Europa é que existem dias em que não sabemos se estamos a sonhar ou acordados.

Aconteceu hoje, com o café da manhã: passando os olhos pela imprensa espanhola, descubro que a Direção Geral de Tráfego do país impôs uma multa pesada (30 mil euros) sobre a produtora cinematográfica Tripictures. Motivo da sanção?

É difícil explicá-lo sem correr o risco de o leitor pensar que eu enlouqueci de vez. Mas avanço na mesma: a produtora, responsável pelo filme "Larry Crowne" (uma comédia romântica e medíocre com os insuportáveis Tom Hanks e Julia Roberts), faz a publicidade do filme com uma foto dos dois protagonistas em cima de uma moto. E, horror dos horrores, sem capacete!

A imagem é intolerável para as autoridades espanholas, e o código de trânsito é claríssimo em seu artigo 52: toda a publicidade fílmica que promova "comportamentos de risco" na estrada deve ser banida.

E o desprezo pelo uso de capacete é um desses comportamentos. Segundo as estatísticas apresentadas pelo jornal "El Mundo", não usar capacete faz com que três em cada quatro pessoas morram em acidentes com motos. As lesões cerebrais multiplicam-se por três.

A conclusão é evidente e inquestionável: quem usa capacete aumenta em 20% as hipóteses de sair vivo de um acidente.

Se o leitor está abismado com a notícia, peço-lhe que não esteja. Anos atrás, quando a Europa foi caminhando para essa utopia securitária que regula hoje todos os comportamentos dos seus súditos, eu ainda cometia a imprudência de dizer duas ou três coisas a respeito.

Os meus argumentos começavam e acabavam na liberdade individual de cada um assumir a sua vida -e os seus riscos, porque a vida tem riscos- sem a mão paternalista de um poder político central. Avisos sobre as vantagens de usar capacete podem ser importantes, admito; mas a escolha de usar capacete é minha e só minha.

Os meus interlocutores, que me escutavam com caridosa paciência, concordavam comigo, ou fingiam concordar.

Mas depois acrescentavam que as medidas securitárias que se multiplicavam pela Europa -o uso de cinto de segurança nos automóveis ou de capacete nas motos; a proibição de níveis elevados de sal no pão; a proibição de fumo em bares ou restaurantes; impostos adicionais sobre comidas calóricas etc. etc. -tudo isso era em nome do bem comum, e não apenas uma questão de liberdade individual.

E perguntavam, retoricamente: por que motivo os hospitais públicos devem tratar indivíduos que escolhem vidas de risco? Os recursos são escassos, diziam eles; e, entre um fumante e um não fumante, devemos tratar primeiro quem teve mais cuidado com o próprio corpo.

Por essa altura, eu já não dizia nada. Nem sequer o contra-argumento óbvio de que fumantes ou não fumantes; motoristas sem capacete ou com capacete; gordos ou magros; enfim, doentes ou saudáveis -todos eles pagam impostos e, consequentemente, esperam tratamento pelos serviços que sustentam.
Eu só poderia aceitar que o Estado recusasse tratar dos meus pulmões, do meu fígado ou do meu colesterol se ele recusasse também o meu dinheiro. Mas contra-argumentar para quê?

O pensamento paternalista e securitário não perde tempo com a lógica. Ele é um subproduto de uma sociedade que enriqueceu e atingiu patamares de conforto que convidam ao tédio.

E, com o tédio, vem a irritabilidade própria de quem procura sair dele com novas formas de incomodar a liberdade do vizinho.

Aliás, se dúvidas houvesse sobre o processo, bastaria olhar para o Brasil. Com uma economia pujante e a integração de milhões de brasileiros nos confortos da classe média, leio nesta Folha que a Assembleia de São Paulo aprovou recentemente uma lei que proíbe a garupa em motos em dias da semana.

Mas não apenas a garupa; capacetes ou coletes com o número da placa da motocicleta pretendem-se igualmente obrigatórios.

Não sei o que irá decidir Geraldo Alckmin sobre essas importantíssimas matérias.

Mas, aqui da Europa, deixo uma mensagem ao senhor governador: por incrível que pareça, é possível enriquecer, sim, sem infantilizar a população ao mesmo tempo. Na Europa já é tarde para isso, mas o Brasil ainda vai a tempo.

Devagar com o andor - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 29/11/11

BRASÍLIA - Pegando carona no texto de Vinicius Mota, ontem, no quadrado aí de cima, vejamos como o pessoal de embaixadas vê os "exageros sobre a ascensão do Brasil".
Quando viajam aos seus países -europeus, principalmente, mas não só eles-, embaixadores e seus funcionários ficam impressionados com o oba-oba sobre o Brasil de Lula, que, na versão da mídia de lá, acabou com a pobreza, passa ao largo da crise e está se tornando um líder na região, quiçá uma potência no mundo.
Quando voltam, caem na real. E no real. Nos rapapés de embaixadas e no clube de golfe, os estrangeiros trocam impressões. Acham tudo caríssimo, criticam a infraestrutura, reclamam da burocracia, contam da surpresa dos empresários com a falta de planejamento, comentam o manancial de escândalos. Lá, na Europa, e lá, na Ásia, o Brasil parece uma maravilha. Visto de perto, nem tanto.
Meu colega Vinicius já comparou bem a situação econômica do Brasil com a da Itália e a da França, países que, com toda a crise europeia, convivem com rendas médias que os brasileiros só terão em décadas -e se tudo der certo.
Então, vamos buscar um outro indicador de que o Brasil vai bem, sim, obrigada, mas ainda falta muito para ser esse gigante emergente que o mito Lula e a propaganda oficial criaram: a violência.
Segundo a Secretaria de Violência Armada e Desenvolvimento, de Genebra, um quarto das mortes violentas no mundo é em apenas 14 países, seis deles na América Latina. O Brasil escapa, ufa!, mas é o 18º país mais violento. O México, o 51º.
Falta, portanto, muita coisa para o Brasil ser toda essa cocada preta: educação, saúde, produtividade, inovação, combate à corrupção, distribuição de renda. E, enquanto os brasileiros não pararem de se matar à toa, é melhor deixar o oba-oba para a mídia estrangeira e pensar o estágio e as fraquezas do país com um mínimo de racionalidade.

A face do poder: um retrato de Sarney. - MARCO ANTONIO VILLA



O Globo - 29/11/2011


José Ribamar Ferreira de Araújo Costa é a mais perfeita tradução do oligarca brasileiro. Começou jovem na política, conduzido pelo pai. Aos 35 anos resolveu mudar de nome. Tinha acabado de ser eleito governador do seu estado. Foi rebatizado por desejo próprio. Alterou tudo: até o sobrenome. Virou, da noite para o dia, José Sarnei Costa. O Costa logo foi esquecido e o Sarnei, já nos anos 80, ganhou um "y" no lugar do "i". Dava um ar de certa nobreza.

Na história republicana, não há personagem que se aproxime do seu perfil. Muitos tiveram poder. Pinheiro Machado, na I República, durante uma década, foi considerado o fazedor de presidentes. Contudo, tinha restrita influência na política do seu estado, o Rio Grande do Sul. E não teve na administração federal ministros da sua cota pessoal. Durante o populismo, as grandes lideranças lutavam para deter o Poder Executivo. Os mais conhecidos (Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, entre outros), mesmo quando eleitos para o Congresso Nacional, pouco se interessavam pela rotina legislativa. Assim como não exigiram ministérios, nem a nomeação de parentes e apaniguados.

Mas com José Ribamar Costa, hoje conhecido como José Sarney, tudo foi - e é - muito diferente. Usou o poder central para apresar o "seu" Maranhão. E o fez desde os anos 1960. Apoiou o golpe de 1964, mesmo tendo apoiado até a última hora o presidente deposto. Em 1965, foi eleito governador e, em 1970, escolhido senador. Durante o regime militar priorizou seus interesses paroquiais. Nunca se manifestou contra as graves violações aos direitos humanos, assim como sobre a implacável censura. Foi um senador "do sim". Obediente, servil. Presidiu o PDS e lutou contra as diretas já. No dia seguinte à derrota da Emenda Dante de Oliveira - basta consultar os jornais da época - enviou um telegrama de felicitações ao deputado Paulo Maluf - que articulava sua candidatura à sucessão do general Figueiredo - saudando o fracasso do restabelecimento das eleições diretas para presidente. Meses depois, foi imposto pela Frente Liberal como o candidato a vice-presidente na chapa da Aliança Democrática. Tancredo Neves recebeu com desagrado a indicação. Lembrava que, em 1983, em fevereiro, quando se despediu do Senado para assumir o governo de Minas Gerais, no pronunciamento que fez naquela Casa, o único senador que o criticou foi justamente Ribamar Costa. Mas teve de engolir a imposição, pois sem os votos dos dissidentes não teria condições de vencer no Colégio Eleitoral.

Em abril de 1985, o destino pregou mais uma das suas peças: Tancredo morreu. A Presidência caiu no colo de Ribamar Costa. Foram cinco longos anos. Conduziu pessimamente a transição. Teve medo de enfrentar as mazelas do regime militar - também pudera: era parte daquele passado. Rompeu o acordo de permanecer 4 anos na Presidência. Coagiu - com a entrega de centenas de concessões de emissoras de rádio e televisão - os constituintes para obter mais um ano de mandato. Implantou três planos de estabilização: todos fracassados. Desorganizou a economia do país. Entregou o governo com uma inflação mensal (é mensal mesmo, leitor), em março de 1990, de 84%. Em 1989, a inflação anual foi de 1.782%. Isso mesmo: 1.782%!

A impopularidade do presidente tinha alcançado tal patamar que nenhum dos candidatos na eleição de 1989 - e foram 22 - quis ter o seu apoio. O esporte nacional era atacar Ribamar Costa. Temendo eventuais processos, buscou a imunidade parlamentar. Candidatou-se ao Senado. Mas tinha um problema: pelo Maranhão dificilmente seria eleito. Acabou escolhendo um estado recém-criado: o Amapá. Lá, eram 3 vagas em jogo - no Maranhão, era somente uma. Não tinha qualquer ligação com o novo estado. Era puro oportunismo. Rasgou a lei que determina que o representante estadual no Senado tenha residência no estado. Todo mundo sabe que ele mora em São Luís e não em Macapá. E dá para contar nos dedos de uma das mãos suas visitas ao estado que "representa". O endereço do registro da candidatura é fictício? É um caso de falsidade ideológica? Por que será que o TRE do Amapá não abre uma sindicância (um processo ou algo que o valha) sobre o "domicílio eleitoral" do senador?

Espertamente, desde 2002, estabeleceu estreita aliança com Lula. Nunca teve tanto poder. Passou a mandar mais do que na época que foi presidente. Chegou até a anular a eleição do seu adversário (Jackson Lago) para o governo do Maranhão. Indicou ministros, pressionou funcionários, fez o que quis. Recentemente, elegeu-se duas vezes para a presidência do Senado. Suas gestões foram marcadas por acusações de corrupção, filhotismo e empreguismo desenfreado. Ficaram famosos os atos secretos, repletos de imoralidade administrativa.

O mais fantástico é que em meio século de vida pública não é possível identificar uma realização, uma importante ação, nada, absolutamente nada. O seu grande "feito" foi ter transformado o Maranhão no estado mais pobre do país. Os indicadores sociais são péssimos. Os municípios lideram a lista dos piores IDHs do Brasil. Esta é a verdadeira face do poder de Ribamar Costa. Como em uma ópera-bufa, agora resolveu maquiar a sua imagem. Patrocinou, com dinheiro público, uma pesquisa para saber como anda seu prestígio político. Não, senador. Faça outra pesquisa, muito mais barata. Caminhe sozinho, sem os seus truculentos guarda-costas, por uma rua central do Rio de Janeiro, São Paulo ou Brasília. E verá como anda sua popularidade. Tem coragem?

A véspera do tudo e do nada - CARLOS HEITOR CONY


FOLHA DE SP - 29/11/11


A pergunta é: o que se deve pensar na véspera de nossa morte? Ela foi feita a monsieur Verdoux, um dos personagens da fase madura e final de Charles Chaplin (1889-1977). No filme homônimo, de 1947, o personagem está preso e condenado à guilhotina. Bancário durante 30 anos, ao perder o emprego decidiu casar ou namorar mulheres ricas, matava-as com frieza e sabedoria, e só por acaso foi descoberto pela polícia. Praticamente, ele já estava cansado do ofício.
Chaplin se inspirara num caso real, vivenciado por Landru, assassino em série que aterrorizou Paris entre 1914 e 1919. Orson Welles ameaçou processar Chaplin, alegando que tivera a mesma ideia antes.
Houve um acordo: para não brigar com o amigo, Chaplin deu-lhe crédito no filme e pagou US$ 5.000 ao autor de "Cidadão Kane", graciosamente, pois a ideia central da produção pertencia aos arquivos da polícia e da Justiça da França. Na realidade, não precisava pagar nada.
É difícil (e ocioso) imaginar como seria o monsieur Verdoux de Orson Welles. Certamente, seria mais solene e cinematográfico, tenderia a um personagem mais cínico e menos filosófico. Um exemplo: a pergunta que inicia esta crônica não seria feita ao criminoso que caminha para a guilhotina.
Aliás, quem faz a pergunta é uma prostituta que abandonou o ofício e casou-se com um milionário, um fabricante de armas para o Exército francês. Nos tempos de rua e fome, ela fora ajudada por Verdoux. A pergunta recebe a resposta "não" de Verdoux, o personagem, mas a de Charles Spencer Chaplin é uma das muitas tiradas que ele usou até excessivamente após se render ao cinema falado: "O que deve pensar uma criança na véspera de seu nascimento".
O que seria mais assustador: o nada da eternidade ou o tudo da condição humana?

Teoria e incentivo - MARCIA PELTIER



JORNAL DO COMMERCIO - 29/11/11
Acontece hoje, no escritório da Presidência da República, em São Paulo, a primeira reunião do grupo criado para definir o conceito da nova classe média. Liderado pelo ministro Moreira Franco, conta com a filósofa Marilena Chauí, o economista Eduardo Giannetti e Amaury de Souza, da MCM Consultores. Técnicos da SAE e dos ministérios do Trabalho e Fazenda já estudam um abono mensal destinado a incentivar trabalhadores da classe média a se manterem em seus postos. Só de seguro-desemprego o país desembolsa R$ 25 bilhões por ano. Dilma também quer destinar recursos para qualificação profissional. 

Festa super privê


Depois do emocionante espetáculo público de inauguração da árvore de Natal da Lagoa, sábado, a diretoria do Bradesco, conselheiros e os maiores acionistas se encontraram no Clube Caiçaras para festejar a superação de lucros e metas para este ano. Marco Antônio Rossi, da Bradesco Seguros, abriu os discursos, seguido do presidente Luiz Carlos Trabuco e do presidente do conselho de administração, Lázaro Brandão.

Ceia antecipada 

O cardápio, assinado pelo chef Claude Troisgros, foi composto de couscous com frutas secas e nozes, salada de lentilhas com camarões, robalo recheado envolto em massa folhada, bacalhau espiritual gratinado, peru assado com farofa de cream crakers e ratatouille de legumes e laranja, dentre outras delícias. De sobremesa, a tradicional bûche de Noël francesa, rabanadas com doce de leite, fondant de chocolate meio amargo e sorvete de amora com cassis e de manga com amêndoas.

Mimos

À saída, os convidados eram brindados com caixinhas de bem-casados Casal Garcia e doces Louzieh, e mais uma garrafa de Veuve Clicquot, um cooler elétrico para o champanhe e duas taças de cristal vermelho.

Cruzmaltino roxo 


Ontem, na abertura da feira de negócios de futebol Soccerex, no Forte de Copacabana, Zico se aproximou de Sérgio Cabral para cumprimentá-lo, na área vip. Bastou para que rapidamente alguém colocasse o ex-jogador Petkovic do outro lado do governador, para fazer uma foto. Restou a Cabral se lamentar, brincando: “Ai, agora estou entre dois carrascos do Vasco”. Aliás, o governador é tão fanático pelo Vasco que disse que nem a amizade que tem por Lula vai impedir que ele seque o Corinthians nessa fase final do Brasileirão.

Fera das lentes 

Membro da prestigiada Agência Magnum desde 1997 e fotógrafo da National Geographic, David Alan Harvey vai ministrar um workshop, sábado, no Ateliê da Imagem, no qual vai revelar os segredos de sua iluminação minimalista. Harvey é também editor da revista online Burn, vitrine para fotógrafos emergentes.

Tradição repaginada 


Emerson Fittipaldi anuncia, hoje, que levará ao Autódromo de Interlagos a etapa brasileira do novo Campeonato Mundial de Marcas — o antigo FIA World Endurance Championship, que durante muitos anos foi a mais importante competição do automobilismo. A prova 6h de SP vai acontecer de 13 a 16 de setembro e será organizada pelo Automobile Club de L’Ouest, que promove as 24 horas de Le Mans. Participarão da corrida a Audi, Peugeot, Toyota, Nissan, Honda, Aston Martin, Chevrolet, BMW, Ferrari e Porsche. O circuito tem mais de 700 milhões de espectadores em 180 países.

Fica a dica 


Em até cinco anos, o número de empregados na indústria naval poderá chegar a cem mil, alta de cerca de 70% em relação às atuais 60 mil vagas do setor. A projeção é do presidente da Associação Brasileira das Empresas de Construção Naval e Offshore (Abenav), Augusto Mendonça. ‘’Estamos em pleno crescimento com o aumento da demanda da indústria naval e offshore. Vamos contratar desde soldadores e auxiliares, até engenheiros navais e pessoal da área administrativa”, enfatizou.

Oscar das trilhas 

Quem está no Brasil é o compositor e regente Alexandre Desplat, tido na França como o legítimo sucessor de Antoine Duhamel e Michel Legrand. Veio a convite da Embaixada da França para uma única apresentação à frente da Jazz Sinfônica, amanhã, em São Paulo. Executará trilhas que compôs para Harry Potter, Crepúsculo, O Curioso Caso de Benjamin Button e O Discurso do Rei, sendo que esta última lhe rendeu o International Film Music Critics Award e o Bafta. Após a apresentação, faz escala rápida no Rio, onde pretende ter encontros informais com músicos, entre os quais Carlinhos Brown.

Livre Acesso


O Bondinho do Pão de Açúcar recebe, hoje, 60 crianças do Instituto Nacional de Educação dos Surdos, para uma visita gratuita, em comemoração ao 2º Dia Nacional da Pessoa com Deficiência em Parques e Atrações Turísticas.

Fernando Meirelles, Glória Perez, Daniel Filho e Washington Olivetto são os jurados do Prêmio Cazuza de Vídeo que a Sociedade Viva Cazuza lança esta quinta-feira, no Dia Mundial de Luta contra Aids. Os vídeos que melhor abordarem a conscientização para o carnaval de 2012, com o tema Você que se cuide, em 30 segundos, serão premiados. Inscrições pelo site http://premio.cazuza.com.br, até 2 de janeiro.

Rodrigo Constantino lança, hoje, a coletânea de artigos Liberal com Orgulho, pela Editora Lacre, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon.

Líder da área de mercado de capitais do Tauil e Chequer Advogados, Carlos Motta, do Tauil e Chequer Advogados, faz palestra, hoje, no 5° Encontro sobre IPO – Lançamento de Ações e Aspectos Regulatórios, no Hotel Caesar Business Faria Lima, em São Paulo.

A consultora Suely Magalhães dá palestra sobre Feng Shui, hoje, às 18h15, na BESI, loja de decoração e café gourmet no centro do Rio.

O Manekineko, as Pederneiras e o chef Olivier Cozan são os responsáveis pela parte gastronômica da Soccerex, feira com expectativa de atrair cerca de 5 mil pessoas até amanhã, no Forte de Copacabana.

A diretora-executiva do Prêmio Rio Sociocultural, Francis Miszputen, promove, hoje, um encontro com agentes culturais do Rio, às 14h, no Galpão Aplauso, em Santo Cristo. O objetivo da reunião é fomentar inscrições para o Prêmio, abertas até o dia 8 de dezembro.

O Sheraton Barra Hotel & Suites e a Galeria Romero Britto fazem, hoje, o vernissage Explosão de cores, uma seleção de obras do artista Romero Britto, às 19h no hotel.

Discurso e prática nos gastos com Saúde - EDITORIAL O GLOBO


O Globo - 29/11/2011


Com a inclusão, na Constituição de 1988, do direito de todo brasileiro ser atendido pelo sistema público de saúde, a sociedade, representada pelos constituintes, demonstrou grande senso de justiça social, mas criou para si um enorme problema, o de como financiar um gasto gigantesco protegido pela Carta.

Como não faz sentido debater o direito já adquirido, inamovível, discute-se o financiamento do Sistema Único de Saúde (SUS), uma gigantesca máquina com capilaridade em estados e municípios, sorvedora de bilhões.

Não seria diferente, pois os custos do setor de saúde costumam crescer acima da inflação, muito devido aos pesados investimentos em tecnologia, em novos remédios e equipamentos. E numa sociedade com grandes desequilíbrios sociais, a pressão dos gastos seria grande de qualquer forma. Assim tem sido desde sempre, com parlamentares ligados à atividade e lideranças setoriais com a reivindicação eterna de mais verbas.

A discussão sobre as finanças do SUS reacende com a proximidade da votação da regulamentação da Emenda 29, aprovada em 2000 para fixar de forma mais clara a vinculação de recursos federais, estaduais e municipais à Saúde.

Os gastos federais realizados na última década, divulgados ontem pelo GLOBO, ilustram este cabo de guerra entres os defensores de mais dinheiro para o SUS e aqueles que consideram sensato melhorar a deficiente gestão do sistema, para depois se saber se recursos adicionais são de fato necessários.

As estatísticas, expressas em percentual do PIB, mostram como o discurso político pode ser enganoso: com exceção de 2001, 2004 e 2009, houve queda relativa dos gastos, de um ano para outro. Em 2010, o 1,66% de PIB destinado à Saúde chegou a ser inferior ao 1,76% de 2000. Todo o discurso, no caso do governo Lula, a favor da CPMF, de temor com o "subfinanciamento" do SUS, não se materializou em ações. Tanto que o 1,66% do PIB gasto com o SUS no último dos seus oito anos de gestão é o mesmo índice de 2003, o primeiro do governo. No período, a arrecadação subiu bastante em termos reais, mas a Saúde não foi tratada com a prioridade com que costuma ser destacada nos discursos.

Caso exemplar aconteceu com o fim da CPMF, em 2007, quando o governo temeu por um "caos" em emergências e ambulatórios públicos, pois R$40 bilhões foram suprimidos, com a decisão do Senado, do Orçamento de 2008. Mas a arrecadação repôs os recursos em seis meses - sem impedir a campanha pela volta do "imposto do cheque", hoje apenas adormecida.

Os números da reportagem comprovam que a grande prioridade do governo é o assistencialismo de uma maneira geral, dono de grossas fatias do PIB, acima de 10%, se incluirmos a Previdência. Um debate a se travar é sobre este desencontro entre palavras de governantes e a vida real. A sensatez aconselha a se aperfeiçoar a gestão no SUS, algo que, afinal, começa a ser feito, por meio de consultorias e com a recente criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, para gerir hospitais públicos federais e universitários, ao largo do regime estatutário esclerosante.

Antes de se pensar em criar impostos para o SUS, é preciso tornar a Saúde de fato prioritária para o governo. As estatísticas comprovam que até agora, no lulopetismo, não o foi.

Humm, me engana que eu gosto - FRANCISCO DAUDT


FOLHA DE SP - 29/11/11


Eu prefiro sonhar a ser triste", disse o portuga da novela para Griselda, seu amor impossível. É, eu vejo novela de vez em quando, já que é a principal fonte de reflexão sobre assuntos nunca pensados pela maioria dos brasileiros.
Raramente vi uma síntese tão bonita do "me engana que eu gosto" quanto esta.
Nossa espécie não gosta muito da verdade, apesar de ser capaz de concebê-la e assimilá-la, às vezes.
É só pensar quantos creem na continuação da vida após a morte, mesmo sabendo que nenhum Windows roda depois que o disco rígido queima, que não há software sem hardware para fazê-lo funcionar, que não há alma que sobreviva a um cérebro morto.
Você já tomou anestesia geral? Uma situação em que o cérebro fica inoperante? Então já experimentou o sentimento do "nada". Não há sensações, nem memórias, não há nada. Você já experimentou a morte.
Quem somos nós? Um programa "Eu" que roda entre as conexões de nossos neurônios e nos dá a ilusão de existirmos. Entre outras ilusões: a de controle (tal coisa não existe, nem para atravessar uma rua: espere o sinal, olhe para os dois lados e você estará aumentando suas chances de chegar vivo ao outro lado); de sermos quem manda em nossas vontades, sem levar em consideração a natureza (pense nas vezes que você transou sem camisinha).
Uma de nossas ilusões é o tamanho do livre arbítrio (ou, escolha nossa, livre de condicionamentos culturais ou genéticos). Meus professores jesuítas diziam que Adão exerceu o livre arbítrio ao comer o fruto da arvore do conhecimento e por isto foi expulso do paraíso. "Mas, padre, se o Criador lhe deu curiosidade, foi seu modelo ideal, pôs a seu alcance o instrumento de torná-lo semelhante a seu Pai, ainda com o poder de divergir da opinião Dele, o que restava a Adão, senão querer aquele fruto?" A ilusão do livre arbítrio inaugurou-se na mordida da maçã, à força.
Esta lenda é um marco histórico da eterna conversa entre a consciência e a autoilusão, que é o que nos permite ir, às vezes mais para um lado (Copérnico, a dizer que não era a Terra o centro do Universo), às vezes para o outro (as várias maneiras de negar a morte, iniciadas há mais de 100 mil anos, com os rituais fúnebres, o que estabelece o começo de nossa espécie: sabemos que vamos morrer, mas "continuaremos vivos").
Você tem visto as propagandas eleitorais na TV. Preciso dizer mais em relação ao "me engana que eu gosto"? Está bem, nos últimos anos mergulhamos num clima de cinismo sem comparação, ministros corruptos são demitidos com lágrimas e elogios, mas mesmo assim...
A saúde mental combina uma confortável associação de busca da verdade e desprezo por verdades muito incômodas. Portanto, a crença na vida eterna não é nenhuma doença, e vivermos sem pensar na morte, pois estamos vivos, é um equilíbrio. Mas a obsessão pela morte a ponto de se explodir em nome de uma causa, para chegar ao paraíso, certamente é uma doença.
Um ditado dá num bom acordo: "A morte é um momento, e não me roubará da vida nada mais do que ela é, seu momento.

Tiro no pé - ILIMAR FRANCO



O GLOBO - 29/11/11

Aliados do senador Aécio Neves (PSDB-MG) filiados a outros partidos estão incomodados com ataques de tucanos a ministros não petistas, diante de denúncias de irregularidades. Citam como exemplo as críticas ao ex-ministro Alfredo Nascimento (PR) e aos ministros Carlos Lupi (PDT) e Mário Negromonte (PP). Um experiente parlamentar diz que, para desgastar o governo Dilma, os líderes tucanos afastam o PSDB de potenciais aliados nas próximas eleições presidenciais.

Lavando as mãos
Integrantes da Comissão do Orçamento estão cobrando uma posição mais política do relator-geral da peça orçamentária, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Dizem que é seu papel construir um entendimento para aprovar a matéria até o final do ano. Chinaglia tem reclamado que não consegue falar com a ministra Miriam Belchior (Planejamento); que o deputado Gilmar Machado (PT-MG), vice-líder do governo no Congresso, não cumpre acordos; e que o líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), não vai às reuniões. Para Chinaglia, o governo não tem interesse em aprovar o Orçamento no prazo.

"Cai a máscara e dois catões são desnudados” — José Dirceu, dirigente do PT e réu do mensalão, sobre o expresidente do TCU Ubiratan Aguiar receber acima do teto do funcionalismo e o presidente da OAB, Ophir Cavalcante, receber salário no Judiciário do Pará sem dar expediente

ESCONDIDINHO. Para evitar problemas políticos, sobretudo com estados governados por aliados, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) não divulga levantamento do ministério sobre quanto cada estado gasta com Saúde. Pelos dados conhecidos, tendo como base o orçamento executado em 2008, 13 estados, oito governados por aliados, não aplicam 12% na Saúde, como prevê a Emenda 29. O levantamento devia estar pronto em outubro.

Arroubo
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ligou, sexta-feira, para pedir desculpas à ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) por ter dito, na votação do Código Florestal, que o governo negociou com os ruralistas "na calada da noite".

Melhoria da gestão
O Ministério da Saúde anuncia hoje que 71% dos municípios aderiram ao Saúde Mais Perto de Você. Eles assinaram compromisso para melhorar a qualidade do atendimento. O governo vai liberar R$ 4 bi até 2014 para essas cidades.

Puxando a fila das cassações
O TSE deve julgar hoje recurso do governador Anchieta Junior (PSDB-RR) contra a cassação de seu mandato pelo TRE local, por abuso de poder econômico. Se a decisão do TRE for mantida, o tucano será o primeiro dos governadores eleitos em 2010 a perder o mandato. No seu caso, as provas que o incriminam foram fornecidas pelo ex-tesoureiro do partido. Há processos de cassação contra outros dez governadores.

Cansaço
A presidente Dilma está reclamando da intensa agenda que terá na Venezuela, durante reunião da Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos. Sua prioridade será conversar com Hugo Chávez e Cristina Kirchner.

Rumo a 2014
O PPS vai aprovar, em seu congresso nacional, em dezembro, candidatura própria à Presidência da República. Já a proposta de mudar seu nome para Partido Socialista Verde, aprovada pelo diretório de Pernambuco, será engavetada.

O LÍDER do PMDB, Renan Calheiros (AL), não está só na luta para suceder José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado. O ministro Garibaldi Alves (Previdência) e o presidente da CCJ, Eunício Oliveira (PMDB-CE), também estão se articulando.

A OPOSIÇÃO ficou alvoroçada com a rebelião do PMDB, que retardou em uma semana a sabatina da ministra Rosa Weber. Alguns líderes sonharam em derrotar a indicação da presidente Dilma para o STF.

O TSE decide até 15 de dezembro se o PSD terá direito aos recursos do Fundo Partidário e a tempo de propaganda partidária e eleitoral na TV.

Sindicatos de fachada - ALMIR PAZZIANOTTO PINTO



O Estado de S. Paulo - 29/11/2011


Cerca de 41 milhões de brasileiros arcam, uma vez por ano, com um dia de salário destinado à manutenção de uma estrutura burocrática, viciada, enraizada e numerosa, dirigida por acomodados pelegos, que se beneficiam da arrecadação de mais de R$ 2 bilhões. Falo da Contribuição Sindical obrigatória, regulada pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), designação dada pelo regime militar ao velho Imposto Sindical criado por Getúlio Vargas em 8 de julho de 1940, mediante o Decreto-Lei n.º 2.377.

A instituição do Imposto Sindical teve dois significados: de um lado, justificou a intervenção da ditadura varguista em associações profissionais que até 1930 gozavam de liberdade e, a partir de 1931, passaram a viver sob controle do Estado; de outro, passou recibo da incapacidade de as entidades sindicais darem conta das responsabilidades de representação, com recursos próprios, arrecadados entre os associados.

Sob o primeiro governo Vargas (1930-1945), era compreensível que ambas as coisas ocorressem. Foi Getúlio Vargas quem modelou, de cima para baixo, as regras que tornaram possível fundar sindicatos, federações e confederações. Para tanto lhes assegurou arrecadações obrigatórias que lhes permitiram sobreviver.

O controle do Estado sobre a estrutura sindical sobreviveu à queda de Vargas, em 1945. Não convinha aos governos que se seguiram conceder-lhes autonomia nos moldes da Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelo receio de presenciarem a expansão da doutrina comunista. É necessário reconhecer que a pelegada concordava em viver à sombra do Ministério do Trabalho, mesmo se ocasionalmente alguém era punido por eventuais excessos.

Durante o regime militar a situação manteve-se inalterada. Sindicalistas combativos e independentes haviam sido cassados, presos ou caíram na clandestinidade em 1964. Dentro do vazio que se criou o peleguismo ganhou força, raros sendo os dirigentes com postura independente, como se viu em São Bernardo do Campo na década de 1970.

A Constituição de 1988 modificou a CLT. Em nome da liberdade de associação, o artigo 8.º vedou a interferência e a intervenção do poder público em entidades sindicais. Receptiva, entretanto, à pressão das confederações, das federações e dos sindicatos profissionais e patronais, manteve a estrutura verticalizada, o monopólio de representação por categoria econômica ou profissional, instituiu a Contribuição Confederativa e garantiu a cobrança generalizada do imposto anual, sob a roupagem de Contribuição Sindical. A Constituição extinguiu, é verdade, a Carta de Reconhecimento deferida discricionariamente pelo ministro do Trabalho. Criou, entretanto, o registro no Ministério do Trabalho e Emprego, exigência burocrática responsável pelo aparecimento do profissional especializado em fundar sindicatos, federações e confederações artificiais.

Coube ao deputado Ricardo Berzoini, ministro do Trabalho no primeiro governo Lula, dar destaque, em projeto de emenda constitucional, ao fenômeno da pulverização. Em 2005 alertou o então ministro sobre "a proliferação de sindicatos cada vez menores e menos representativos - por ele denominados "sindicatos de carimbo" - , o que só reitera a necessidade de superação do atual sistema, há anos criticado por sua baixa representatividade e reduzida sujeição a controle social".

A ausência de regulamentação do artigo 8.º da Constituição, mediante lei ordinária, provocou a edição de cinco instruções e duas portarias ministeriais sobre registro - a primeira, baixada pela ex-ministra Dorothea Werneck e a última, editada pelo ministro Carlos Luppi. Todas revestidas de caráter autoritário, porque invadiram espaço destinado à lei, a teor do artigo 5.º, II, da Lei Maior. Ademais desse aspecto relevante, a maleabilidade de instruções e portarias, sobretudo da última, possibilita a formação dos ditos "sindicatos de carimbo", controlados pelo neopeleguismo lulista, que visa à estabilidade sem trabalho, e com excelentes rendimentos.

A liberdade de associação profissional ou sindical é idêntica à liberdade de organização de partidos políticos, prescrita no artigo 17 da Constituição da República. Não estamos, contudo, diante de liberdades ilimitadas e absolutas. A Lei n.º 9.096, de 1995, dispõe sobre partidos políticos, regulamenta os artigos 17 e 14, § 3.º, inciso V, da Constituição federal, e ninguém se atreve a acusá-la de ditatorial.

A inexistência de lei regulamentadora do direito de associação sindical, cujo espaço passou a ser preenchido por meras portarias ministeriais, faz com que recaia sobre o Ministério do Trabalho e Emprego, conforme o Estado, na edição de 14/11, a pecha de "mercado de lobby comandado por ex-funcionários".

A experiência atesta que, no tratamento dispensado à estrutura sindical, a Constituição de 1988 consegue ser a pior. Pior até do que a Carta Constitucional de 1937, cujo artigo 138 não ocultou suas raízes corporativo-fascistas. Já o artigo 8.º da vigente Carta Magna, como o fizeram as anteriores, a partir de 1946, declara que são livres as associações profissionais ou sindicais, mas, a começar do inciso I, revela o autêntico caráter, pois conserva a estrutura verticalizada, reafirma o monopólio de representação por categoria profissional ou econômica, impõe o registro e prestigia a contribuição obrigatória. Em resumo, embora nascida de aspirações democráticas do povo, fortalece o nefasto peleguismo, presente entre nós desde 1939.

Causa perplexidade o fato de, mesmo diante de tantos escândalos, o Congresso Nacional conservar-se omisso, tal como em 1946, e permitir a perpetuação do modelo corporativo-fascista, adotado desde a Carta de 1937.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO



FOLHA DE SP - 29/11/11




Shopping centers terão investimento de R$ 430 mi em MG

A 5R Shopping Centers, joint venture criada entre a 5R Properties e a Integra, anuncia nesta semana a construção de dois empreendimentos em Minas Gerais.

O investimento nos projetos, localizados nas cidades de Uberaba e Uberlândia, será de R$ 430 milhões.

"Há pouca oferta de shopping centers médios e grandes nessa região", diz o presidente da 5R Shopping Centers, Carlos Felipe Fulcher.

As duas obras começarão até o final desta semana.

O shopping de Uberlândia será inaugurado no segundo semestre de 2013 e o de Uberaba, em 2014.

A área bruta para locação em cada um dos empreendimentos é superior a 30 mil m2.

No primeiro trimestre de 2012, a companhia anunciará mais três shopping centers no Sul e no Sudeste. O aporte deverá ser superior a R$ 500 milhões.

"Por ser dependente do consumo interno, que continua em alta no Brasil, o segmento está à margem da crise", afirma Fulcher.

Em setembro passado, também foi anunciado um projeto de R$ 120 milhões em Rio Grande (RS).

Desde que a joint venture foi criada, em março deste ano, 21 áreas já foram selecionadas como possíveis terrenos para abrigar shopping centers, segundo Paulo Cesar Rossi Cuppoloni, sócio e conselheiro da empresa.

"Estamos licenciando outras áreas nas regiões Nordeste e Centro-Oeste", afirma Cesar Garbin, diretor e sócio da companhia.

Prazo de entrega de máquina cai para pior nível desde 2008
O setor produtivo brasileiro freou investimentos em maquinário, diante da situação da economia global.

Além da redução de encomendas de bens de capital importado, a demanda por máquinas e equipamentos nacionais se desacelerou nos últimos meses.

Termômetro do aquecimento do setor, o prazo de entrega da carteira de pedidos de equipamentos caiu para o menor nível, registrado nos piores momentos da crise de 2008, segundo Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

"Há três meses, o nível de pedidos em carteira tinha prazo de entrega de 24 semanas. Caiu agora para 17 semanas. Isso só aconteceu na crise de 2008", diz Neto.

Como os sinais da crise atual são ainda preliminares no Brasil, estima-se que a situação piore.

"O faturamento ainda não mostra [redução] porque estamos queimando carteira. Ainda temos carteira para entregar. Não tenho dúvida de que o primeiro trimestre do ano que vem vai ser crítico", afirma Neto.

Uma queda superior a 15% no faturamento do setor deve ocorrer em 2012, de acordo com a entidade.

O setor começa a se movimentar para pedir apoio ao governo em um momento difícil. Em busca de maior competitividade, a entidade foi levar ao governador Geraldo Alckmin neste mês uma solicitação pela desoneração de ICMS para o comprador de bens de capital.

"São Paulo está perdendo muitos investimentos por continuar com o recebimento do crédito em 48 vezes", afirma Neto.

PIZZARIA
A Pizza Hut prevê inaugurar seis novas lojas no próximo ano em São Paulo.

Será a maior expansão dos últimos anos da empresa, que vai encerrar 2011 com três novos pontos de venda abertos.

A marca ainda pode anunciar mais uma unidade até o fim do ano, segundo o diretor-geral, Jorge Aguirre. A decisão depende de negociação para a localização favorável.

Em 2010, foram inauguradas duas unidades e no ano anterior, apenas uma.

INDICAÇÃO DA RAINHA
O Reino Unido usará a vacina quadrivalente contra o HPV, da farmacêutica MSD, em seu programa público de vacinação em 2012. A vacina protege contra os tipos de HPV que causam mais de 70% dos casos de câncer de colo de útero. No Brasil, foi aprovada para prevenção da doença em mulheres de nove a 26 anos e está disponível apenas na rede privada. O Ministério da Saúde avalia incluir mais vacinas no Programa Nacional de Imunização.

Financiado A agência de fomento paulista Nossa Caixa Desenvolvimento concedeu empréstimos no valor de R$ 17,7 milhões para a indústria em outubro. O valor é 6% acima do que foi desembolsado no mês anterior e 5% superior ao financiado em outubro do ano passado.

Regulação A minimização de falhas da Bolsa é discutida no livro "Regulação e Autorregulação do Mercado de Bolsa", lançado hoje por Luiz Felipe Calabró, da BM&FBovespa.

GÁS EM SANTOS
Cerca de 6.000 micro e pequenas empresas podem atender a demanda gerada pela cadeia de petróleo e gás da Baixada Santista, segundo estudo do Sebrae-SP que será divulgado hoje.

São companhias de materiais elétricos, de refeições, de medicina ocupacional e de engenharia civil e ambiental, por exemplo.

A maioria (63%) das empresas, no entanto, não conhece quais são os processos de contratação e quais são as exigências para comercializar com o setor criado pela exploração do pré-sal.

Apenas 45% dos entrevistados disseram acreditar que têm o perfil para serem fornecedores deste mercado.

Para realizar a pesquisa, 720 empresários da região foram ouvidos.

NA CONTRAMÃO
Enquanto quase toda a Europa preocupa-se com as incertezas econômicas, os alemães aumentam sua propensão para consumir.

Estudo da GfK mostra que o índice de propensão a comprar atingiu 40,3 em novembro (em escala de -100 a +100). Desde janeiro, não se registrava um valor tão alto.

A empresa explica que o aumento no índice se deve à queda do desemprego e ao incremento da renda. Além disso, a crise diminuiu as taxas de juros. Assim, a tendência a poupar e a investir também caiu.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

GOSTOSA


Vitória agroambiental - XICO GRAZIANO



O Estado de S. Paulo - 29/11/2011


Na polêmica sobre o Código Florestal, entre ambientalistas e ruralistas, não tenha dúvidas: fique com ambos, unindo-os. Já deu para descobrir que a polarização do debate namora o simplismo. E que o fundamentalismo fragiliza o pensamento.

Mesmo no futebol, em que as paixões se arrebentam no grito, circunstâncias permitem torcida pelo empate, nem vencedor nem vencido. Assim, em certo sentido, disputam a agronomia e a ecologia.

Qual paixão intensa, ora se adoram, ora se odeiam, mas nunca se desgrudam. As ciências biológicas, complexas por tratarem dos fenômenos vivos, dificilmente se encaixam na controvérsia trivial da política, muito menos se submetem ao desígnio polarizado de uma competição esportiva. Detestam também a motivação quase religiosa que guia alguns de seus expoentes, sejam, no caso, ruralistas ou ambientalistas.

Produzir, e não apenas coletar, exige alterações no equilíbrio natural. No bê-á-bá da moderna agronomia se ensina que a agricultura, ao afetar os ecossistemas originais, pode seguir dois caminhos: o predatório ou o sustentável. No primeiro, a produção rural se expande desprezando brutalmente as leis naturais; no segundo, técnicas adequadas de cultivo e criação mitigam os impactos no agroecossistema modificado.

Aqui mora a essência do dilema agroambiental, qual seja, a disputa histórica entre produzir e preservar. No início da civilização, e até há pouco tempo, o caminho predatório predominou, pois os impactos da destruição eram localizados, insignificantes na dimensão planetária. Mas o crescimento contínuo da população humana, juntamente com a tecnologia, avolumou o problema, começando a ameaçar a própria sobrevivência humana. Crise ecológica global.

O ambientalismo jamais teve a coragem de admitir que o maior desastre ecológico existente na Terra é o exagerado predomínio da espécie Homo sapiens. Foi a mente inteligente, ao romper as condições naturais da existência e procriar indefinidamente, que causou graves consequências sobre a estabilidade da vida. Simples. E dramático.

A arrogância do saber imaginou ser possível dominar a natureza a seu bel-prazer. Agora, sofrendo por causa dos impactos ambientais, a humanidade busca novamente no conhecimento a saída para o infortúnio que criou. Os dejetos nas cidades poluem as águas, inventam-se formas de tratamento; as lavouras provocam o surgimento de pragas e doenças, sintetizam-se agrotóxicos para controlá-las; e assim por diante. Até quando, não se sabe.

Denominada recentemente como "pegada ecológica", a pressão da população humana sobre os recursos naturais, mostram os estudiosos, já ultrapassou em 25% o limite da Terra. De duas, uma: ou se reduz a população, algo impensável até pelo menos 2040, ou se modificam os hábitos de consumo e a produção geral. Nada será fácil.

Nas estimativas mais comuns, a população humana se estabilizará entre 8,5 bilhões e 9 bilhões de habitantes. Mas o acréscimo de renda, verificado hoje em dia especialmente na Ásia, fará crescer entre 70% e 100% a demanda por cereais e carnes, pressionando. O cenário positivo anima os agricultores a produzir mais, mesmo porque ninguém ainda teve a coragem de propor que as famílias pobres, que somente agora fartam a mesa, comam menos. Churrasco democrático.

Mas a ingenuidade de certos ambientalistas aqui, no Brasil, alicerça a ousadia de proporem que a agricultura brasileira recue em sua produção, estabelecida historicamente. Gente séria, porém ilusória, defende para a roça algo semelhante ao que pretende que ocorra na cidade, a desabitar as várzeas paulistanas do Tietê, do Pinheiros e do Tamanduateí. Ou a demolir as moradias nos morros cariocas. Nada factível.

Em Minas Gerais, a criação de gado embeleza a geografia montanhosa da Zona da Mata e da Mantiqueira desde o ciclo da mineração. Remanescentes de mata misturam-se com os rebanhos nas grotas e escarpas, caracterizando uma zona de produção peculiar, bonita, embora de baixa produtividade e estável. Nessa paisagem, típica das regiões montanhosas, nasceu o famoso queijo mineiro acompanhado do delicioso doce de leite.

Pois bem, segundo os modernos conceitos da legislação, parte dessas áreas, a mais inclinada e que margeia córregos, passou a ser protegida. Virou as polêmicas áreas de preservação permanente (APPs), que representam milhões de hectares de pastagens, espalhados por aí, geralmente apropriados por pequenos agricultores. Decididamente, não foram eles que causaram a crise ambiental.

Ambientalistas ingênuos, todavia, defendem a tese de que tais áreas de pastagens deveriam ser interditadas, retornando a elas a cobertura vegetal originária. Um deles chegou a caracterizar como crime de "lesa humanidade" manter as vaquinhas morando por lá. Deu um cartão vermelho aos sitiantes, rumo ao chuveiro das favelas. Esdrúxulo.

Tais teses catastrofistas encontram algum respaldo na grande mídia, induzindo a opinião pública a pensar que estamos próximos do fim se o novo Código Florestal for aprovado. Puro exagero. Por outro lado, ruralistas tradicionais defendem continuar tocando fogo na floresta para combater a fome no mundo. Absurdo. Caminhos extremos do beco sem saída.

Nem será necessário desmatar novas áreas ecologicamente sensíveis, nem carece reduzir o tamanho de nossa agricultura. Fora as exceções, consideradas no novo Código Florestal construído no Senado, o empate é a estratégia possível na equação da sustentabilidade agrária. Vitória do bom senso, derrota do fundamentalismo.

Chega de tratar nossos avôs como "criminosos ambientais". Confundir o feito dos antepassados com a bandidagem atual na floresta interessa apenas à torcida da ignorância.