terça-feira, novembro 15, 2011

ANCELMO GOIS - UPP valoriza imóveis


UPP valoriza imóveis
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 15/11/11

Veja só. O preço dos imóveis nas favelas cariocas com UPPs subiu 7% acima da taxa média de valorização dos imóveis do Rio em geral nos últimos três anos.

A conclusão é de pesquisa a ser divulgada amanhã pela FGV.

Pressão na Rocinha...
O economista Marcelo Neri, que coordenou a pesquisa, acha que, na Rocinha, o efeito dessa valorização imobiliária será ainda maior:

— A pressão imobiliária ali é maior. Na Rocinha, 13% das pessoas moram em residências com mais de uma família, contra 3% no Complexo do Alemão.

Ainda assim...
Neri acredita que o fato de um imóvel estar situado numa favela faz, por si só, cair seu preço em uns 25% em relação a outros lugares da cidade.

Ponto turístico
A Rocinha entrou de vez na rota do turismo. Da cobradora de um ônibus 309 (Central-Alvorada), ontem de manhã, para um grupo de turistas mineiros que não parava de tirar fotos:

— À direita, vocês podem ver a Favela da Rocinha, que acabou de ser pacificada...

Mato queimado
Domingo, nesse festival de rock SWU, em Paulínia, SP, a turma fumava tanta maconha sem repressão, inclusive na área vip, que um segurança disse para outro:

— Cara, tá tudo liberado! — O que, bebida?

— Não, maconha mesmo. Tá geral fumando.

Martinho da França
Martinho da Vila terá um dos seus livros traduzidos para o idioma de Baudelaire.

“Joana et Joanes — Romance dans l’État de Rio” será lançado em Paris no início do ano que vem, logo depois do carnaval.

Banco na Europa
O BNDES estuda financiar empresas brasileiras interessadas nos leilões de privatização de estatais de Portugal e Itália. Os dois países, na UTI, vão torrar nos cobres algumas empresas.

O banco já se comprometeu a financiar até 80% (no limite de 2,6 bi de euros) para a Eletrobrás, que disputa um terço da EDP, a estatal lusa de energia.

Boletim médico
O cineasta Paulo César Saraceni está internado no Hospital da Lagoa, no Rio.

Para custear despesas médicas, pôs à venda seu acervo.

Seu Jorge, o filme
Seu Jorge vai gravar um DVD, domingo, Dia da Consciência Negra, na Quinta da Boa Vista, com produção hollywoodiana.

Serão usados um helicóptero, uma grua e 14 câmeras com resolução 4k, a maior do cinema digital. A direção será de Paula Lavigne e do próprio Seu Jorge. O mote será a cultura africana.
Diário de Justiça
O juiz Gustavo Quintanilha, do TJ-RJ, determinou o desbloqueio dos bens de Marcelo Mattoso de Almeida, o piloto do helicóptero que caiu em junho, em Porto Seguro, BA, matando ele próprio e, entre outros, a namorada do filho de Sérgio Cabral.

Em agosto, a Justiça havia bloqueado os bens a pedido de Mara Kfuri, mãe de Jordana e Fernanda Kfuri, e avó de Lucas e Gabriel, mortos no acidente. Mara, segundo o advogado João Tancredo, vai recorrer.

Alunos fantasmas
A Secretaria estadual de Educação do Rio descobriu que há 10.900 alunos fantasmas nas escolas que compartilha com a rede municipal da capital.

Eles se matriculam, cursam um pouco e desistem.

Aliás...
Há diretores que não avisam do sumiço porque os colégios recebem recursos de acordo com o número de alunos.

Mãos ao alto!
Duncan Revie, o inglês que está no Rio para a SoccerEx, foi assaltado no fim de semana quando corria no calçadão de Copacabana, por volta de meia-noite.

Numa boa, seu gringo. Nem no Hyde Park, em Londres, é recomendável correr a essa hora.

Bolsa da perua
Surgiu na Saara, shopping popular a céu aberto no Rio, uma bolsa igual à de Teresa Cristina (Christiane Torloni) em “Fina estampa”, a novela da TV Globo. Comerciantes anunciam assim:

— Olha a bolsa da Teresa Cristinaaa!!! Até a inimiga Griselda (Lília Cabral) já comprou!!!

ALON FEURWERKER - O sujeito oculto



O sujeito oculto 
ALON FEURWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 15/11/11


A política das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) não parece ser o combate ao mercado das drogas, consumidor e vendedor, mas empurrar o comando do tráfico para mais longe do consumo

Uma regra essencial em guerras diz que é melhor vencer o inimigo sem luta. É preferível que, antes de começar a combater, ele conclua sobre a derrota inevitável, dada a diferença de forças. E desista antecipadamente de combater.
Foi o que aparentemente aconteceu no Rio, na espetaculosa ocupação da Rocinha pelas autoridades. Um procedimento ainda mais justificável se considerada a densidade populacional da área. Evitaram-se os chamados danos colaterais.
Outra regra é nunca fechar todas as saídas ao inimigo, sempre deixar uma válvula de escape, pois completamente acuado ele multiplicará a disposição de luta. Princípio seguido à risca nas ocupações cariocas.
A política das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) não parece ser o combate ao mercado das drogas, consumidor e vendedor, mas empurrar o comando do tráfico para mais longe do consumo.
Este continuará bem concentrado na chamada Zona Sul, um conceito mais sociológico que geográfico. Já aquele vem sendo socado para o subúrbio. O nome que os cariocas dão à periferia.
Um eufemismo, como o que de uns tempos para cá transformou, por mágica, as favelas em "comunidades".
Ou seja, o campo de batalha pelo controle do mercado estará cada vez mais distante das regiões frequentadas pelos ricos e pela classe média.
As balas perdidas ziguezaguearão onde menor é a chance de atingirem alguém cuja morte possa provocar manchete de jornal. Inclusive um turista distraído com a beleza do Pão de Açúcar e do Corcovado.
Um deslocamento também essencial na preparação dos grandes eventos esportivos. A Copa e as Olimpíadas vêm aí, e é indispensável "limpar" o Rio para ambos os eventos.
Se o modelo das UPPs e das ocupações não é sustentável no tempo, inclusive financeiramente, ele pode ser bastante útil no plano tático, num prazo curto e determinado.
E tem apoio. O que a opinião pública pede no Rio não é o combate ao mercado das drogas, mas a um subproduto dele: a violência. Daí a ubiquidade da palavra "paz".
Quando talvez o mais razoável fosse ir à guerra.
Antes de ceder ao politicamente correto no segundo filme da série, o Tropa de Elite havia desenhado o ecossistema com grande precisão. O problema das drogas tem um sujeito oculto: o consumidor.
A culpa não é "do sistema". É de quem fuma, cheira, injeta.
Comecei esta coluna falando em regras. Uma que ainda não foi revogada diz que a oferta se organiza conforme a demanda.
Podem ocupar quantas favelas/comunidades quiserem, podem hastear bandeiras e cantar o hino nacional à vontade, mas enquanto houver mercado o tráfico continuará a prosperar.
E como ele o potencial de violência.
Claro que há as mistificações. Como a de que o tráfico recruta apenas devido à falta de outras oportunidades.
O crescimento exponencial da atividade comercial criminosa e da violência exatamente onde o Brasil mais cresce e distribui renda já se encarregou de arquivar a tese.
Ainda que ela continue a vagar por aí como mecanismo de autoindulgência.

Maciço
Nos dias em que estive fora teve seu desfecho a ocupação da Reitoria da USP por manifestantes cuja reivindicação era transformar a universidade em território livre da presença da Polícia Militar.
A novidade no episódio foi o absoluto isolamento político e social dos manifestantes, medido inclusive em levantamentos junto aos estudantes. A maioria quer a PM por perto e ponto final.
É verdade que o movimento deu algum azar, foi desencadeado em torno de um episódio pouco defensável, quando a PM flagrou estudantes consumindo droga. E aparentemente portanto uma bela quantidade da mesma.
Se há amplo apoio político e social para a polícia e as Forças Armadas ocuparem a Rocinha, não há ambiente para defender que as universidades brasileiras se transformem em território livre para o mercado das drogas, e conexos.
O espírito do tempo é outro.

JOÃO PEREIRA COUTINHO - A Europa e os fascistas



A Europa e os fascistas
JOÃO PEREIRA COUTINHO 
FOLHA DE SP - 15/11/11

Não existe "o" projeto europeu, com artigo definido; o que existe é "um" projeto que falhou 


Na década de 60, o colunista William F. Buckley afirmava que preferia entregar o governo dos Estados Unidos à primeira pessoa que encontrasse na lista telefônica do que ao departamento de humanidades da Universidade Harvard. A frase sempre me pareceu excessiva.

Mas, com o tempo, uma pessoa começa a compreender a sabedoria do velho Bill: as universidades não servem apenas para produzir conhecimento teórico; servem, também, para fechar lá dentro esses produtores de conhecimento.

Pena que, de vez em quando, alguns consigam fugir cá para fora. Jürgen Habermas, esse gigantesco equívoco da filosofia europeia (Slavoj Zizek não é bem um equívoco; é mais um caso de polícia), deu uma conferência em Paris sobre a "crise da Europa". Não assisti à dita cuja, mas confio na Folha de domingo.

Segundo parece, Habermas afirmou que o problema central da crise é a falta de "interação entre os cidadãos e a comunidade". Em linguagem de gente: Habermas, do alto da sua arrogância racionalista, quer a "inserção" (atenção ao verbo) dos cidadãos nos debates europeus.

Não é admissível, acrescenta Habermas, que as últimas eleições para o Parlamento Europeu em 2009 tenham tido 56,99% de abstenção. Esse afastamento apenas oferece terreno fértil para a extrema-direita, que rejeita o projeto comum europeu (que horror! que horror!).

Nada do que Habermas afirma é novo. Pelo contrário: é apenas a velha litania utópica que, indiferente a esse pormenor ridículo que dá pelo nome de "realidade", conduziu a Europa para a derrocada corrente.
Os delírios utópicos de Habermas começam logo na defesa da "inserção" dos cidadãos na vida europeia.
Seria inútil, perante a cabeça fechada do filósofo, relembrar que a experiência democrática implica a existência prévia de um "demos": um povo que se define, primeiro que tudo, por um sentimento de pertença à sua comunidade.

Eu voto e participo porque me reconheço como parte dessa comunidade. E a Europa, histórica e culturalmente falando, sempre foi uma coleção de comunidades independentes: Estados distintos, muitas vezes com um patrimônio imemorial de rivalidades entre si, que nenhuma construção burocrática e elitista será capaz de suplantar.

A "inserção" dos cidadãos no "projeto europeu" só poderá ser conseguida pela violência, ou pela propaganda, ou pela farsa. Estará o filósofo Habermas disponível para montar nas capitais europeias gigantescas fotos dos burocratas de Bruxelas, ao estilo norte-coreano, de forma a incutir nos europeus um amor apaixonado pela União Europeia?

Em caso afirmativo, desaconselho o gesto. Até porque os europeus não são idiotas. Quando Habermas se horroriza com os 56,99% de abstenção para o Parlamento Europeu, ele deveria perguntar primeiro para que serve o Parlamento Europeu.

Eu respondo: para nada. Mesmo com o último Tratado de Lisboa, o Parlamento Europeu continua a ser um mero apêndice do real centro do poder: a Comissão Europeia.

E a Comissão, como Habermas sabe, não foi eleita por ninguém. Foi simplesmente cozinhada, na melhor tradição soviética, nos corredores anônimos de Bruxelas. O que espanta não são os 56,99% que se abstiveram, mas os 43,01% que ainda se deram ao trabalho de ir votar.

Finalmente, a extrema-direita e a rejeição do projeto comum europeu. É sempre a mesma conversa: quem levanta dúvidas sobre a União Europeia só pode ser fascista. Todos os projetos políticos autoritários precisam encontrar os seus inimigos, reais ou imaginários.

Infelizmente, nessa busca de inimigos, a União Europeia deveria olhar-se no espelho e perguntar primeiro se não é ela própria, na sua estrutura antidemocrática, que não os está a semear por todo lado.
Não existe "o" projeto europeu, com o artigo definido no singular. O que existe é "um" projeto que falhou, o que significa que talvez seja hora de tentar outro: uma Europa que seja um espaço de livre circulação de pessoas, bens, serviços ou capitais, mas onde a legitimidade desse projeto começa (e acaba) nos países democráticos e soberanos que o compõem.

A proposta não é original? Pois não. Mas, às vezes, é preciso dar um passo atrás para evitar o abismo que está à frente.

XICO GRAZIANO - Florestas energéticas


Florestas energéticas
XICO GRAZIANO 
O Estado de S.Paulo - 15/11/11

O homem, dizem, dominou o fogo há 500 mil anos. Juntamente com o raio solar, a queima da lenha energizou a civilização até começar a era dos combustíveis fósseis. Agora, com a crise ambiental se agravando, ressurge a madeira como energia renovável. O passado no presente.

Na fascinante história da energia, desde quando moradia se abrigava nas cavernas, a chama da madeira ocupou papel central na proteção humana. Inventada a máquina a vapor, a fogueira do lenho impulsionava as caldeiras da "maria-fumaça". Até ser substituída pelo óleo combustível. Coisa de 120 anos.

Fogão a lenha virou grife na culinária metropolitana. Poucos sabem, porém, que cerca de 3 bilhões de pessoas ainda utilizam a acha para a cocção alimentar, prática condenada pela Organização Mundial da Saúde em razão da intoxicação causada pela fumaça nos ambientes domésticos. Fogão a lenha no mundo mata, lentamente, 2 milhões de pessoas por ano.

No Brasil, os arbustos retorcidos da Caatinga nordestina encontram-se no limite de exploração. Percebe-se no Semiárido o desenrolar da história primitiva, agravada pela pressão populacional. O que antes significava uma boa condição de vida agora mostra um perigo ecológico: surrupiar a madeira das florestas nativas agride a biodiversidade e agrava o efeito estufa no planeta. Fazer o quê?

Plantar florestas. Ninguém melhor que os japoneses para ensinar a lição do reflorestamento. Lá a silvicultura começou a ser implantada a partir de 1700, proposta na era Tokunawa para recompor as florestas quase dizimadas por completo. A China, tardiamente, segue caminho semelhante. A África, ao contrário, desertifica-se a olhos vistos.

Edmundo Navarro de Andrade, visionário agrônomo, deve ter-se inspirado nos xoguns japoneses quando, em 1904, trouxe mudas de eucaliptos australianos para o Brasil. Era seu intuito produzir dormentes para assentar os trilhos da então Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Naquela época, frondosos e centenários ipês, perobas e jequitibás da Mata Atlântica tombavam para auxiliar, impulsionado pelas ferrovias, o progresso do País.

Mais tarde, em 1922, chegaram as primeiras mudas de pinheiros norte-americanos, introduzidos pela Companhia Melhoramentos. Neste caso a extração da celulose se vislumbrava. Seja para a finalidade do uso madeireiro, seja destinadas à fabricação de papel, as florestas plantadas demoraram a se expandir no Brasil. Somente após os anos 1970, estimulados por generosos incentivos fiscais, os reflorestamentos se avolumaram.

Em Minas Gerais, especialmente, as florestas de eucalipto motivaram-se também para abastecer os fornos da siderurgia do aço. Limpo, ecologicamente correto, tal carvão vegetal se distingue de seu parente ancestral, o carvão sujo oriundo das matas nativas. Onde reside a diferença?

Na energia renovável. Toda a matéria vegetal - folhas, galhos, troncos - se gera por meio da fotossíntese. Nesse processo, havendo água e radiação solar, as plantas "respiram" gás carbônico (CO2) da atmosfera, liberando oxigênio. O carbono assim absorvido se transforma, e se armazena, na biomassa.

A cada ciclo, as árvores crescem absorvendo gás carbônico e, se sofrerem combustão, devolvem para a atmosfera o carbono acumulado na madeira. Por essa razão, considera-se zerado o balanço de carbono oriundo de florestas plantadas.

Diferente conta se faz quando ocorre desmatamento das florestas nativas. Nesse caso as emissões de carbono das queimadas se contabilizam no efeito estufa do planeta. Idêntico procedimento se verifica na queima de petróleo, pois o negro combustível nada mais é do que acúmulo de matéria orgânica decomposta, ocorrido há milhões de anos.

Recentemente, visto o drama das mudanças climáticas, surgiram as florestas energéticas. O processamento da madeira com alta tecnologia gera um novo produto no mercado, conhecido como pellet - pequenos aglomerados secos que duplicam o poder calorífico da lenha comum. O fogo antigo moderniza-se e espanta o seu passado antiecológico.

Quem lidera, por aqui, a implantação de florestas energéticas é a Suzano, tradicional empresa do setor papeleiro, que anunciou vultosos investimentos nos novos negócios, de olho na Europa. Lá, as geradoras de energia precisam atender às rígidas diretivas que obrigam a aumentar a renovabilidade da matriz energética. Pellet da madeira tupiniquim vai limpar o Primeiro Mundo.

Esse movimento da economia de baixo carbono ajuda a turbinar a silvicultura no Brasil, atividade que já ocupa 6,5 milhões de hectares. Para comparação, os cafezais atingem 2,3 milhões de hectares plantados. Carregado por má fama no início, pelo fato de derrubar mata nativa, Cerrado principalmente, para plantar bosques homogêneos, o reflorestamento valoriza-se na agenda da economia verde.

O eucalipto, particularmente, está feliz, rompendo a velha sina de estragar o solo. Estudos como os do professor Barrichelo (Esalq-USP) comprovam que, afora o seu rápido crescimento, nada diferencia a demanda de água do eucalipto da advinda por outras árvores frondosas. Manejo florestal moderno protege, não compromete, os recursos hídricos.

Ambientalistas e ruralistas, perdidos no cansativo e infrutífero debate sobre o Código Florestal, bem que poderiam prestar mais atenção às reais oportunidades do mundo sustentável. Um olhar mais isento permitiria sair da agenda negativa do desmatamento e encarar o futuro. Nele, longe do preservacionismo puro e do vândalo produtivismo, se encontram as florestas energéticas.

Um patamar superior da produção no campo.

ILIMAR FRANCO - Lupi, o monitorado


Lupi, o monitorado
ILIMAR FRANCO 
O GLOBO - 15/11/11

Ao contrário dos casos anteriores, as denúncias contra o ministro Carlos Lupi (Trabalho) não pegaram o governo Dilma de surpresa. Segundo integrantes do governo: “as suspeitas de irregularidades se referem a outro momento” (governo Lula); “a gestão de Lupi está sob estrita vigilância há muito tempo” (governo Dilma); e “ele foi esvaziado, pois o diálogo com o movimento sindical foi centralizado pelo ministro Gilberto Carvalho”.

A luta interna no PT está comendo solta
A presidente Dilma tem reparos à atuação das secretarias setoriais criadas no governo Lula, nas áreas social e econômica, mas, de acordo com um ministro, ela teria dificuldade política para promover uma reforma administrativa que extinguisse algumas delas. As informações que circulam, avalia esse ministro, fazem parte da luta interna petista pré-reforma ministerial. Sobre as dificuldades: extinção de duas pastas dirigidas por mulheres (Racial e Mulher); excluir da Esplanada o grupo do PT Articulação de Esquerda; reduzir o espaço da tendência majoritária do PT (Pesca e Racial); e reduzir o tamanho do PSB (Portos).

LIGAÇÕES PESSOAIS. 
Quando o ministro Aldo Rebelo (Esporte) foi ministro da Coordenação Política do governo Lula (2004/2005), uma de suas tarefas era ajudar a aprovar no Congresso projetos do Banco Mundial com estados e capitais. Quem era responsável pelos projetos no banco voltados para a América Latina era a urbanista Paula Pini. Aldo Rebelo conta: “Eu vi que com ela o negócio (os contratos) andava.”

Parceiros
O novo assessor internacional do Ministério do Esporte, o embaixador Carlos Cardim, foi um dos organizadores, em 2003, ao lado do ministro Aldo Rebelo, do livro “Política externa do Brasil para o século XXI”, editado pela Câmara.

Velhos conhecidos
O novo secretário de Esporte da pasta, o almirante Afonso Barbosa, foi assessor parlamentar da Marinha quando o ministro Aldo Rebelo presidia a Comissão de Relações Internacionais e Defesa Nacional da Câmara (2007/2008).

O que dá para rir dá para chorar
O PSDB bate diariamente no governo Dilma, por causa de denúncias contra ministros, e no PT, no caso do governador Agnelo Queiroz (DF). Mas está morrendo de medo com o que pode acontecer com os governadores Anchieta Junior (RR) e Teotônio Vilela (AL). Anchieta é acusado por um ex-dirigente tucano de fazer caixa dois. Teotônio está em apuros porque um de seus secretários, para pagar um fornecedor, pediu 25% do valor devido como doação para a campanha da reeleição.

O povo quer saber?
Diante da ação policial na Favela da Rocinha, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) cobra do governo do Rio “quando começarão operações similares em áreas controladas pelas milícias, que dominam 50% das comunidades pobres”.

Fora do baralho
Os políticos fluminenses avaliam que o projeto de royalties aprovado no Senado foi implodido pela divulgação das projeções da renda do petróleo pelo governo federal. Avaliam que se criaram condições para um debate mais realista.

O PT elege hoje, no II Congresso da Juventude, seu novo secretário para a Juventude. O favorito é Jefferson Lima, da tendência Construindo um Novo Brasil, ligado ao governador Marcelo Déda (SE).

O BRASIL será a sede do Encontro da Juventude Católica em 2013. O Ministério do Turismo quer trazer quatro milhões de jovens para o evento.

O VICE Michel Temer reuniu a cúpula do PMDB no Palácio do Jaburu na semana passada. O motivo: homenagear a governadora Roseana Sarney (MA).

NIZAN GUANAES - Procura-se uma grande cozinheira



Procura-se uma grande cozinheira
NIZAN GUANAES 
FOLHA DE SP - 15/11/11

A razão do meu desespero por uma cozinheira é fruto do bom momento econômico do Brasil

Estou há anos procurando uma cozinheira de mão-cheia. Uma Dona Flor, mas que não precisa ter o corpo da Sônia Braga -precisa é cozinhar mesmo. Fazer aquela grande e vasta comida brasileira. E se ainda souber fazer comida baiana, melhor ainda. Um bom mal-assado, uma feijoada como se come lá nas festas do terreiro do Gantois.

Não precisa saber cozinha francesa e italiana. Porque a cidade já dispõe de grandes restaurantes para isso.

Precisa, sim, de leitão a pururuca, de sequilhinhos, de um belo bolo de laranja. Tendo mão e alma boa, não precisa nem ter gênio bom. Basta ser divina. Como a cozinheira da grande estilista Lenny Niemeyer, que faz todos os domingos o melhor almoço do Brasil.

Escrevo este artigo porque acredito muito na força mobilizadora da mídia impressa, dos jornais que todos os dias entram na nossa casa cedinho gritando as notícias em silêncio.

Escrevo também para lembrar que os primeiros anúncios publicitários feitos neste país foram de coisas triviais como vender um burro, achar um cão perdido ou buscar uma cozinheira.

O peixe que um anúncio vende pode ser vender um carro, um perfume, recrutar uma cozinheira, mas anúncios são feitos para vender o peixe.

Os melhores anúncios são aqueles que se não se esquecem disso.

Que não se esquecem de que a propaganda foi feita para chamar a atenção da pessoa, para reter o leitor, o telespectador. Como você já está lendo este texto por alguns parágrafos, é sinal de que estou sendo bem-sucedido nessa função.

O título "Procura-se uma grande cozinheira" é chamativo. Porque é inesperado. Sobretudo no caderno Mercado da Folha.

Títulos têm de ser inesperados, senão ninguém lê anúncio. E as pessoas, como você bem sabe, não nasceram para ler anúncios.

A chamada é verdadeira. Não é propaganda enganosa. Porque preciso de fato de uma cozinheira.
É verdade que a quituteira que procuro talvez não leia este caderno. Mas a Folha é o jornal mais lido em todo o país e certamente deve ter alguém entre seus leitores que pode conhecer a minha prenda.

Estamos chegando ao final do ano, ao período de Natal, as pessoas estão imbuídas do espírito natalino e podem fazer essa boa ação para um ex-gordo como eu.

Portanto, se você conhece uma grande cozinheira, mande um e-mail paranizan@africa.com.br. É óbvio que preciso de referências. Melhor ainda se forem de gourmets ou gordos, de pessoas de colesterol e acido úrico altos.

A razão do meu desespero por uma cozinheira é fruto do bom momento econômico do Brasil.
Como em qualquer país que se preze, graças a Deus não é mais fácil encontrar empregados domésticos no nosso prezado país.

As pessoas querem ter seu próprio negócio, abraçar profissões "mais nobres". E isso é ótimo para elas e para o país.
É uma mudança transformadora, que nos impacta das melhores maneiras possíveis, mas também nos coloca na desesperadora e cafajeste situação de desejar a cozinheira do próximo.

Peço aos leitores que sejam solidários comigo e aos jovens redatores de propaganda que lembrem o que o grande guru da propaganda David Ogilvy me ensinou: propaganda é para vender.

Ela tem de ser sedutora, confiável e vendedora como um bom corretor de imóvel. Seja o anúncio de um celular, seja o anúncio procurando uma cozinheira, ele tem de ter impacto, eficiência e graça.
Se não entretém, não chama a atenção e não vende, não é boa propaganda. Propaganda tem de ter molho e sal. E ser feito por gente que tem boa mão.

Espero que este artigo-anúncio classificado atinja seus objetivos. E que graças à força da Folha e de santo Expedito eu encontre a minha tão sonhada cozinheira.

Aliás, cozinheira anda tão difícil que hoje a gente não pede mais para santo Expedito, a gente pede é para santo Antônio.

GOSTOSA


MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Vendas de chocolate no Natal têm alta no país
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 15/11/11

O chocolate cresce como artigo para ser presenteado no Natal. Para a Cacau Show, as festas de fim de ano representam 80% das vendas da Páscoa, época do ano mais relevante para o segmento. Em 2008, a data representava cerca de 65%.

A expectativa da empresa é que o faturamento aumente 35% em 2011, para R$ 800 milhões, impulsionado pelas vendas de Natal, segundo Alexandre Costa, presidente da rede que atualmente é a principal do gênero no país.

"Além de o brasileiro estar comprando mais chocolates finos como presente de fim de ano, podemos atribuir o bom resultado à consolidação da marca também junto à classe A", diz.

No grupo CRM, das marcas Kopenhagen e Brasil Cacau, o crescimento previsto para este Natal é de 15%. A data representa 20% do faturamento do ano, enquanto a Páscoa equivale a 30%.

Para o final deste ano, está prevista uma produção de 940 toneladas.

Na Ofner, o volume das vendas de chocolates no Natal equivale a 10% do comercializado na Páscoa.

Mesmo assim, dezembro é o principal mês para a empresa. No total, são comercializadas 380 toneladas de produtos, principalmente panetones. Na Páscoa, são apenas 70 toneladas.

"Em dezembro, comercializamos um montante equivalente a três meses e meio de vendas. Na Páscoa, a dois meses e pouquinho", diz o diretor-comercial da empresa, Laury Roman.

OCUPE A 15 DE NOVEMBRO
O "Acampa Sampa", versão brasileira do movimento "Ocupe Wall Street", ganhou a adesão de Raymundo Magliano Filho, ex-presidente da antiga Bovespa.

Para o velho corretor da Bolsa, é mais do que hora de a população e de pequenas instituições financeiras independentes procurarem alternativas de produtos e serviços oferecidos pelos grandes bancos.

Diretor-presidente da corretora de valores que leva seu nome, Magliano foi ao vale do Anhangabaú (SP), onde ocorre a "ocupação" desde 15 de outubro, perguntar como poderia colaborar.

Ouviu dos manifestantes que não aceitavam doação financeira "porque o dinheiro corrompe", mas que era bem-vindo para doar alimentos e produtos para manter o acampamento.

"Estranharam porque um corretor estava lá apoiando. Eu disse que a concentração do poder econômico corrói a democracia", conta ele, um estudioso da obra do filósofo Norberto Bobbio.

Entusiasmado, Magliano diz que vai hoje ao protesto contra corrupção no vão livre do Masp.

AGENDA LOTADA
Com mais de 1.900 eventos realizados ou programados na agenda de 2011 até agora, a capital paulista já superou o total do ano passado, quando foram cadastrados 1.741, segundo levantamento do São Paulo Convention & Visitors Bureau.

No total de eventos segmentados por setor, temas ligados a saúde e medicina representam 25,7%, seguidos por ciência, tecnologia e comunicação, com 18,6%.

NOME SUJO
O cancelamento de protestos caiu 22,2% no mês passado, de acordo com o Instituto de Estudos de Protesto de Títulos da Seção São Paulo.

Em outubro, foram cancelados 18,7 mil títulos.

O número representa uma redução de 5.341 títulos em relação ao mês anterior.

Ao cancelar o título protestado, a pessoa deixa de ser listada como inadimplente.

Além dos cancelamentos, a quantidade de títulos protestados também sofreu queda em outubro, de 9,5%.

Entre cheques, promissórias, duplicatas, letras de câmbio e outros tipos de títulos, o número de protestos chegou a 57,6 mil.

O instituto faz o levantamento com base nos dez tabeliães de protesto da capital de São Paulo.

Social O Mega Start-up Lab, evento para empreendedores apresentarem seus negócios sociais a investidores, acontecerá na quinta-feira em São Paulo.

Aluguel... As regiões da Paulista, do Itaim e da Vila Olímpia registraram as maiores valorizações no custo de locação no terceiro trimestre do ano em São Paulo.

...valorizado Os preços dos escritórios comercializados nos três bairros aumentaram 10,2%, 13,3% e 7,2%, respectivamente, segundo levantamento da Cushman & Wakefield. O valor de locação do m2 na Paulista atingiu R$ 126.

SERVIÇO CONTRATADO
O setor de serviços aumentou a sua liderança no que se refere à quantidade de contratações no Brasil.

Até setembro de 2011, 29,2% das pessoas que entraram no mercado de trabalho se dedicam a esse segmento, segundo estudo da consultoria DBM. No ano passado, por sua vez, as companhias de serviços eram responsáveis por 23,3% das contratações.

O setor dos bancos manteve a segunda colocação, mas, nos últimos dois anos, apresentou queda de 15,0% para 9,3% no percentual de novas vagas no país.

Os empregos em serviços de tecnologia também diminuíram, de 10,3% para 7,1%.

Em seguida aparecem a construção civil e a indústria petroquímica, com 5,7% e 5,5%, respectivamente. Os dois segmentos registraram alta nos últimos 12 meses.

A consultoria fez o levantamento com base nas contratações realizadas no Brasil desde 2009.

com JOANA CUNHA, VITOR SION, LUCIANA DYNIEWICZ, TONI SCIARRETTA e CAMILA FUSCO

DORA KRAMER - Avis rara


Avis rara
DORA KRAMER 
 O Estado de S.Paulo - 15/11/11

Nesses tempos em que os fatos sustentam a desconfiança da população em relação ao poder público, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, é uma das exceções que confirmam a regra.

Sem vedetismo nem concessão ao voluntarismo triunfalista, privilegiando sempre a ação do coletivo, Beltrame conduz o processo de liberação dos territórios dominados pelo tráfico nos morros do Rio como um profissional na acepção da palavra e exala confiabilidade.

Pelo apoio que recebe da população local, a admiração que conquista no País e o capital político transferido ao governador Sérgio Cabral Filho, até poderia posar de herói, mas não é esse seu foco.

Para começar, não cede a mistificações. Avisa logo que o objetivo da ação executada no Rio desde 2008 com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não é acabar com o narcotráfico. É devolver à população e ao Estado os territórios que durante 40 anos foram gradativamente capturados pelo poder paralelo da bandidagem.

"Não tenho pretensão de acabar com o tráfico. Enquanto houver consumidores haverá drogas. Meu objetivo é tirar a arma pesada das mãos dos bandidos que escravizam comunidades, porque não é admissível que um sujeito de arma na mão determine aonde vai ou deixa de ir uma pessoa", disse em entrevista ao Estado em maio de 2010.

Há quem ache pouco e cobre mais. Evidente, é preciso muito mais diante do que governantes e (por que não dizer?) governados deixaram acontecer na cidade síntese do Brasil à vista de todos. 

Mas, uma construção de décadas feita na base na conjunção entre a leniência (não raro cumplicidade) das autoridades e a complacência da sociedade, não se desfaz de uma hora para outra. É preciso investimento, planejamento e, sobretudo, continuidade independentemente de quem venha a suceder Cabral.

Gaúcho, quando chegou ao Rio Beltrame se impressionou com a tolerância geral diante de uma óbvia deformação: "Há anos que se vê a Rocinha crescendo e ninguém se pergunta quais são os interesses que permitem que isso aconteça".

Na época, 17 morros já estavam ocupados. Com a Rocinha são 19. Beltrame avisava que a ofensiva era irreversível e não havia possibilidade de o tráfico retomar os territórios. "Se entrarem com 10, 15 bandidos num morro eu ponho 500 homens e corro com eles de lá."

E eles "correm" para onde? "As lideranças para seus redutos de origem, alguns são presos pela polícia antes da ocupação e o 'soldado' que fica no morro acaba sendo preso quando vai às ruas praticar outros crimes, ou denunciado pela população que perde o medo de falar."

Já anunciava a realização de uma "segunda etapa" de cerco aos "grandes chefes".

Delegado da Polícia Federal por mais de 20 anos, com experiência no desmonte de igrejinhas do crime organizado, no primeiro governo Lula trabalhou em Brasília, participou de um grupo organizado pelo então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos para investigar o que de podre havia na estrutura da PF no Rio e assim conheceu as peculiaridades do crime na cidade.

Na opinião dele, diferente de todas as demais em termos de combate à bandidagem: "Aqui a polícia precisa atuar em várias frentes ao mesmo tempo: o crime de rua, as facções fortemente armadas, as milícias e os territórios dominados".

Chamado pelo então recém-eleito governador Sérgio Cabral Filho antes do início do primeiro mandato em 2006, fez uma exigência e foi atendido: não haveria ingerência política na nomeação da equipe de Segurança Pública.

Foram dois anos de planejamento até a implantação da primeira UPP. Um trabalho vagaroso, mas que tem se mostrado consistente. Um enorme passo no enfrentamento de um tema que afugenta governantes.

Uma coisa são as impropriedades do governador Cabral, outra é o acerto da escolha e a autonomia conferida a Beltrame.

Fez a diferença. Basta ver os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva. Na Presidência durante oito anos cada, não fizeram coisa alguma para minorar a insegurança do público que assola o Brasil.

UPP não resolve o problema? Não, mas ao menos algo se move.

JOSÉ SIMÃO - Esculhambação da República!



Esculhambação da República! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 15/11/11

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!

Bandnews de Curitiba: "Parada Gay fará concentração na praça do Homem Nu". Ou seja, todas concentradas no homem nu!

Feriadão do Minuto: sábado à noite, luta de um minuto, e domingo de manhã, ocupação da Rocinha em um minuto! E um amigo vai estender a faixa no UFC: "Obrigado, Cigano, por nos livrar do Galvão em menos de um minuto".

E a ocupação da Rocinha? Adorei a piriguete do Nem: loira-farmácia com muito ouro. Sabe como se autodenominava no Facebook? Xerifa da Rocinha. Essa é babadeira!

E adorei a casa do Nem. Adoro casa de trafica: piscina de fibra, academia, uiscão e vista eterna! Aí dizem: casa cafona, brega. Mas é estética de trafica! Queria o quê? Sofá da Artefato com chaise longue do Niemeyer?

E adorei as manchetes: Nem traficou, Nem matou, Nem roubou. Então esse Nem é um santo! E uma amiga minha queria ser a Rocinha: "Ser invadida sábado à noite por um monte de homem musculoso".

E bandido tem que trabalhar em dobro: pra pagar os policiais corruptos e pra tirar lucro! E essa: "Morador cruza com traficante". O quê? Morador cruza com traficante. E nasce o quê? Uma metralhadora?

É hoje! Esculhambação da República. Ops, Proclamação da República. E sabe por que proclamaram a República? Pra gente votar no Collor, no Romário e no Tiririca!

Feriadão da República! Sendo que aqui no Brasil tudo é rei: rei Pelé, rei Roberto Carlos, "Rei do Gado", Rei do Bacalhau, rainha dos bumbuns, rainha dos baixinhos e a padaria Rainha da Traição. Adoro esse nome de padaria: Rainha da Traição. Esse não levou uma vida de rei, levou um corno de rei!

E um monarquista me disse o seguinte: "Você já viu algum restaurante chamado Presidente Bacalhau?". E o Lula não parece aquele reizinho de quadrinhos? E proclamaram a República, mas esqueceram de avisar o Fernando Henrique. Que tá sempre com aquela cara de rei no exílio. E brasileiro reclama tanto que devia ser Reclamação da República!

And that's it! Porque trabalhar em feriadão dá calo seco, espinhela caída, ovo virado e cansaço no coração. Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

COMO CONQUISTAR UM MACHO


MÔNICA BERGAMO - CABEÇA FEITA


CABEÇA FEITA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 15/11/11

O diretor de organização do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, que é careca, sugeriu que toda a cúpula da entidade raspasse a cabeça em homenagem ao ex-presidente Lula. Mas a ideia não chegou a ser votada -alguns companheiros brincaram que ele estava agindo em "causa própria". Lula será homenageado pelo sindicato, onde começou a carreira política, nesta quinta, em São Bernardo do Campo.

CABEÇA 2
O sindicato ainda pensa em "uma surpresa" para celebrar o ex-presidente, durante a plenária final do congresso da entidade. Entre as ideias cogitadas estão escrever o nome de Lula com laser e a distribuição de máscaras do petista para todos os participantes do evento.

MEU PAI-PAI
E Luís Cláudio Lula da Silva, filho caçula de Lula, está deixando crescer a barba. "Já que a do meu pai vai cair, vou manter a minha", explica ele, em tom de brincadeira, a amigos.

MANIFESTO
Antes de sua apresentação no Percpan, no sábado, no Auditório Ibirapuera, Criolo leu um manifesto em repúdio aos atos racistas que o rapper William Oliveira Santos afirma ter sofrido na estação Campo Limpo do Metrô de SP, em outubro. O cantor pediu que os seguranças supostamente envolvidos nas agressões prestassem serviços comunitários. Em seguida, o músico entregou um abaixo-assinado à plateia. Conseguiu 695 assinaturas.

UM CENTAVO
O programa Agita São Paulo, da Secretaria da Saúde e do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano, foi citado como exemplo de combate ao sedentarismo em relatório do Banco Mundial sobre doenças não transmissíveis. O documento apresenta o cálculo de que o governo gasta menos de um centavo por habitante com o projeto, que divulga a importância de se fazer atividade física durante meia hora por dia útil.

CENÁRIO PARTIDO
A banda católica Rosa de Saron foi condenada pela Justiça a pagar R$ 53 mil à designer Isabelle Bittencourt por plágio. Ela acusa o grupo de copiar um projeto cenográfico de sua autoria. Deborah Sztajnberg, advogada da banda, deve recorrer. Ela diz que a cenografia em questão "é pra lá de manjada".

FHC NA COZINHA
O restaurante Becco 388, de Higienópolis, batizou um prato com o nome do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cliente da casa.

O "Stracci FHC" (R$ 34) é feito com massa fresca de grano duro, cogumelos salteados com ervas frescas orgânicas, tomate "sweet" e uvas e decorado com amêndoas e queijo de cabra.

TUDO EM FAMÍLIA
A atriz Lucélia Santos retornou aos palcos paulistanos com a peça "Alguém Acaba de Morrer Lá Fora", em que é dirigida pelo filho, Pedro Neschling. Vitória Frate, namorada de Neschling, e Pedro Nercessian integram o elenco do espetáculo, em cartaz no Sesc Belenzinho.

VOU DE SMOKING
O Cine Joia, nova casa de shows de São Paulo, no bairro japonês da Liberdade, foi inaugurado na sexta com festa black tie. Entre os convidados, os VJs da MTV Gaía Passarelli e Chuck Hipolitho, a cantora Laura Taylor, a stylist Paula Reboredo e o designer Diego Cattani.

FOREVER YOUNG
Palestrante do Fórum Global de Sustentabilidade, no festival SWU, em Paulínia (SP), Neil Young foi a jantar na casa de Eduardo Fischer, na sexta

CURTO-CIRCUITO
A Faculdade de Medicina da USP faz hoje solenidade de abertura das comemorações de seu centenário. Às 20h, na Sala São Paulo.

O espaço Jardim Leopoldina abrigará, de amanhã até sexta, bazar em prol da ONG Projeto Felicidade.

Clarisse Abujamra e Carlos Navas fazem show em homenagem à obra de Vinicius de Moraes. Amanhã, às 21h, no teatro Cacilda Becker, na Lapa. Livre.

A ONG Make a Wish faz jantar de gala beneficente no dia 25, no hotel Hyatt.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA (interina) e THAIS BILENKY

ARNALDO JABOR - Eu, entre parêntesis



Eu, entre parêntesis
ARNALDO JABOR
O ESTADÃO - 15/11/11

Este texto está entre parêntesis. Isso. Passei as últimas semanas escrevendo sobre memórias de infância, bancando uma espécie de 'Proust de classe média' e hoje faço uma pausa para meditação: devo ou não continuar essa viagem 'para dentro'?

Afinal, que tenho para descobrir e revelar senão detritos de lembranças, que talvez não iluminem verdade alguma? Que estranho procedimento - ficar garimpando irrelevâncias do passado em um Brasil tão brutalmente presente, onde tudo grita, onde se exibem 'verdades' escandalosamente paralisadas.

Que vão pensar de mim? Imagino o le itor: 'Será que ele está querendo se exibir, bancar o 'culto'? Como ousa querer ser 'artístico', neste mundo digital, em que a superficialidade da criação multidirecional e sem autores virou um cânone estético?'.

Fiquei até com sentimento de culpa, pois ousei ser um pobre 'proustiano' em vez de criticar, por exemplo, a carantonha gargalhante de Carlos Lupi, o atual retrato escarrado da desgraça brasileira.

Mas, na vida que levo, comentando política, fiquei ultimamente com desejo de tocar em alguma coisa relevante, alguma coisa que (pareça) 'real' e que (pareça) revelar o mistério inalcançável da existência (oh, esperança inútil...).

Proust viveu uma época conturbada como a nossa: nacionalismos que deram na Primeira Guerra Mundial, o surgimento do antissemitismo que explodiu no caso Dreyfus, a lenta formação de uma tragédia que ia se desencadear no nazismo e suas consequências. Como nós, ele viveu à beira de catástrofes anunciadas - qual serão as nossas?

Então, ele se trancou no quarto e partiu para a epopeia de 'irrelevâncias' que guardassem verdades profundas sobre a sociedade francesa (e humana). No turbilhão de acontecimentos terríveis, ele se refugiou para escrever e salvar-se pela beleza e arte.

Do meu canto, diante de tantas 'certezas' modernas, também quero voltar-me para as 'coisas vagas' de que falava Valéry, as 'coisas ausentes', sem as quais é impossível viver. E as 'coisas vagas' talvez estejam em nossa mínima experiência pessoal.

Contudo, a narrativa subjetivista pode ser uma expressão de banalidade, que só pode ser evitada se problematizarmos a representação do 'eu' e a própria noção de identidade, nos obrigando a retroceder para fora de nossa experiência comum - como escreveu há 6 meses Alcir Pécora, analisando a literatura autocomplacente de hoje e fechando com a sentença fatal: 'Atitude resolve o problema do roqueiro, mas não resolve a questão da literatura'.

Ou, como prescreve Paulo Henriques Britto num poema excepcional: 'No poema moderno, é sempre nítida uma tensão entre a necessidade de exprimir-se uma subjetividade numa personalíssima voz lírica e, de outro lado, a consciência crítica de um sujeito que se inventa e se evade, ao mesmo tempo ressaltando o que há de falso em si próprio - uma postura cínica, talvez, porém honesta, pois de boa-fé o autor desconstrói seu artifício, desmistifica-se para o leitor-irmão'.

É isso aí. Tão forte é a 'desumanização' da 'tecnocultura' multidirecional, tão intrincado é o mundo pós-ideológico, que os artistas buscam ínfimas certezas sobre o que nos resta de 'humano'.

O leitor torcerá talvez o nariz, irritado com meu papo meio 'cabeça': 'Mas, afinal, qual é essa de fazer como esse tal de Proust, que dizem que era veado?'.

Respondo que o tal de Proust encetou uma tarefa de trágica impossibilidade - atingir o 'real'. No entanto, fez uma compilação profunda das minúcias psicológicas da sociedade burguesa e aristocrática, salvou nosso rico delírio inconsciente, salvou nossa humana loucura contra o duro racionalismo que deu na Segunda Guerra. Que imensa coragem! Que solidão! O que fez esse homem ficar à margem da vida, analisando a frágil insanidade que nos define, ele, uma bicha solitária em pleno preconceito dos anos 10, ele, que transformou a própria 'anomalia' em arte total, ele que escreveu uma 'Ilíada' interior, existencial, sem fim nem começo, da infância até a morte num trajeto circular e recorrente.

Como Cézanne, igualou os homens à natureza, misturando sujeitos e objetos, examinando em detalhes desde os salões de duques e príncipes até irisados matizes de uma corola, desde o brilho das flores nos bosques até o tremor dos cílios da vaidade, dos lábios vorazes da glória mundana até a dentadura brutal do rancor - o esgar da inveja, o desespero da solidão sexual nos bordeis de sadomasoquistas, a crueldade dos amores, o ciúme como tortura desejada, tudo em uma sociedade se contorcendo sob a luz negra da Primeira Guerra, Paris em pânico, com viciados sodomizando-se no breu dos túneis do metrô, sob as bombas dos aviões alemães, a bravura sem prêmio de soldados, a covardia de duques arrogantes, o horror do caso Dreyfus, dividindo a sociedade em antissemitas e tolerantes. Ele analisava o ridículo com compaixão e sem se excluir, ele, que tudo via com a mente implacável de um Homero das irrelevâncias, mas também com o olho feminino e atento tanto para o vermelho Carpaccio das sedas da duquesa de Guermantes como para o azul Veronese de um robe de Fortuny.

Proust fez a geometria das emoções, descrevendo ciúmes, amores, inveja, hipocrisia, com a nitidez de um teorema, com a limpidez de um mapa de geógrafo. Irritava-se quando diziam que ele era um microscópio dos detalhes, pois, ao contrário, queria descobrir leis, regras fixas que resumissem a estrutura dos comportamentos.

E fez isso imolando a vida à arte, querendo deixar algum vestígio no Tempo, pensando não em leitores que o aprovassem mas, generosamente, em criar 'leitores de si mesmos' (como ele escreveu).

Esta é a sensação de vazio que me toma ao ver o mundo tão cheio de acontecimentos bombásticos, mas cada vez mais longe do 'humano' originário.

Daí, meu desejo de virar-me para dentro, para saber: o que sobrou de mim?

Continuarei esta viagem interior, esta minissérie sobre mim mesmo? Não sei. Aguardem os próximos capítulos. Ou não...

MIRIAM LEITÃO - Perto e longe



Perto e longe
 MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 15/11/11

Quem esticar os olhos para o alto, de vários pontos da Zona Sul, consegue ver a Rocinha; qualquer morador dos bairros instalados no entorno da favela ouve há anos as histórias do que se passa lá. Ao mesmo tempo, sempre pareceram histórias de outro mundo, do reino dos Lulu, Bem-Te-Vi, Nem. As estatísticas mostram que a fronteira não é ilusória.
Um morador da Rocinha tem menos da metade dos anos de estudo que um da Lagoa. Pelos dados do IBGE, já com base no censo de 2010, no Flamengo e em Copacabana há 263 e 245 pessoas com mais de 65 anos para cada grupo de 100 pessoas com menos de 15 anos. No Leblon, a relação é de 164 e na Gávea é 127. Na Rocinha são apenas 13 pessoas com mais de 65 para cada 100 pessoas com menos de 15 anos. Uma população envelhecida, de um lado, e uma população espantosamente jovem, do outro. Veja a comparação entre a pirâmide etária de Copacabana e da Rocinha no blog. Parecem dois países.
Uma pesquisa sobre as favelas do Rio feita pela FGV com base no Censo de 2000, mas atualizada pela Pnad, mostra que a taxa de fecundidade de jovens de 15 a 19 anos da Rocinha é cinco vezes maior do que as da mesma idade que moram na Lagoa.
Há várias distorções e distâncias no Rio. Entre as favelas e os bairros; entre as favelas; dentro delas. A Rocinha emprega mais de 6 mil pessoas de outras áreas da cidade, é geradora de emprego. Mas ao mesmo tempo tem bolsões de pobreza, alto índice de doenças, como a tuberculose, por exemplo.
Sempre houve também diversas formas de os moradores lidarem com a realidade da autoridade que os traficantes se investiram diante da omissão do Estado. Alguns temiam, outros odiavam, uns, pragmaticamente, se curvavam a seu poder, pedindo ajuda para disputas de propriedade ou até brigas familiares.
O estado do Rio chegou lá antes da ocupação. Ruth Jurberg, coordenadora de trabalho social da Casa Civil, tem liderado uma série de trabalhos na Rocinha. Uma das pesquisas que coordenou foi sobre a economia local, as empresas que atuam lá. Mas tem sido feitos outros trabalhos, pesquisas e consultas aos moradores há cinco anos.
- O canteiro social que montamos lá funcionava com o tráfico e tudo, sem se intimidar, e em contato direto com os moradores. Capacitamos 450 moradores para fazerem o Censo habitacional e empresarial. Havia muita dúvida sobre quantos eram os moradores: são 101 mil. Fizemos o Censo Empresarial que trouxe muitas informações - disse Ruth.
A Rocinha tem uma economia forte, pelo menos três grandes bancos brasileiros estão instalados lá. Há também 6.529 empresas de empreendedores locais funcionando na favela. A pesquisa levou um ano e dois meses, de maio de 2008 a julho de 2009, trabalhando todos os dias da semana, inclusive sábado e domingo. Quase a totalidade das empresas respondeu ao questionário. Apenas 12,6% funcionam na própria casa do empreendedor. Em geral, o estabelecimento funciona em local separado. A maioria é de serviço, cuja oportunidade surgiu como a de creches, lavanderias, transporte. Elas estão distribuídas de maneira desigual: se em Barcelos há 17% das empresas, mais de mil delas; na Rua Quatro, 11,5%, mais de 700; na Curva do S há apenas duas empresas.
Noventa por cento são informais, e destas, 76,2% não querem se formalizar: 44% nunca sentiram necessidade e as outras disseram que falta capital, é muito burocrático, falta informação, os impostos são altos. Portanto, se alguém está achando que, pacificada, a Rocinha vai querer entrar na economia formal, precisa entender que primeiro é necessário convencer os empreendedores de que vale a pena; criar vantagens. A maioria (63%) tem computador e está conectada na internet. Diante da pergunta de como vai seu negócio: 71,7% responderam "estável"; 20,5%, "crescendo". Os empresários têm baixo grau de escolaridade: só 1,1% com curso superior; 48,2% têm o primeiro grau incompleto e até 5,2% se declararam analfabetos.
A economia foi encontrando seu caminho e os empreendedores foram surgindo, ou pelas oportunidades abertas ou pela necessidade criada pelo desemprego. A taxa de desemprego é mais alta nas favelas, a renda familiar é bem menor, segundo atestam estudos da Fundação Getúlio Vargas para o Instituto Pereira Passos.
A Rocinha tem uma completa simbiose com os bairros ao lado. No domingo, fui andando da Gávea ao Leblon, mas o restaurante que escolhi estava fechado para almoço. Os garçons e os cozinheiros não conseguiram ir ao trabalho.
- Todos moram na Rocinha - explicou uma das recepcionistas.
Pela simbiose e pela geografia, Rocinha e Vidigal ficam perto de Leblon, Gávea, São Conrado. Pela realidade vivida pelos moradores, até agora ficavam num reino distante.
Os helicópteros sobrevoam a área há vários dias. Ontem continuavam, mas foram mais insistentes na noite de sábado para domingo; de madrugada deram voos rasantes. Eles nos lembraram que o outro mundo do qual nos falam nos restaurantes, nas cozinhas, nos salões de beleza não é distante, e nossos destinos sempre estiveram conjugados.

JANIO DE FREITAS - Nossos pequenos Iraques



Nossos pequenos Iraques
 JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 15/11/11

O que ameaça as invasões às favelas do Rio não é e não será a arma inimiga; é a política

É total a naturalidade com que todos testemunhamos, via imprensa e TV, o uso necessário dos monstros blindados em favelas. Mas são em tudo veículos de combate assemelhados ou idênticos aos das brutais guerras do Iraque, do Afeganistão, da Líbia -no entanto necessários aqui para a reincorporação ao Estado e à cidade de uma área que nem chega a um pequeno bairro.
Por mim, entre o fenômeno do poder de traficantes e a naturalidade dos bem-letrados ante a necessária situação bélica, não sei o que é mais ridículo para o país e mais doentio na sociedade brasileira.
Assim estão feitas com êxito as três invasões simultâneas. O que as ameaça não é e não será a arma inimiga. É a política, que, caso não seja ainda, não está longe de ser mais uma distorção doentia da atualidade brasileira.
Se ao governador Sérgio Cabral não for reconhecido outro mérito, a determinação de destroçar, com o auxílio de José Mariano Beltrame, o domínio criminoso das favelas ninguém lhe poderá tirar. Mas depois vem o depois. E o depois, na política brasileira, tem vícios perversos que só muito raramente não se impõem.
No problema das favelas cariocas há uma sucessão desses depois. Na primeira eleição estadual livre, por exemplo, Brizola foi eleito em 1982 com programas sociais que incluíam vários projetos para as favelas e outras zonas carentes.
Um deles, que avançou muito e se estendeu pelo Rio e pelo Estado, foi o dos Cieps, colégios de período integral, com alimentação e todas as atividades pedagógicas, em prédios projetados por Niemeyer. Pouco tempo já comprovava resultados fascinantes, o que produziu apoio até na oposição para mais colégios. Moreira Franco sucedeu Brizola. Sustou de imediato o programa de construção de Cieps e abandonou os já ativos.
Moreira Franco elegeu-se por força da promessa de acabar com a incipiente violência urbana em seis meses. Passados os rapapés de dois ou três meses, deu sumiço no falso mago que inventara e abandonou a violência a si mesma.
Tiveram o igual fim os programas de creches, postos de saúde e esportivos que encontrara. Moreira Franco foi ajudado a eleger-se pelos meios de comunicação, pelo governo Sarney e pelo poder econômico para tentar extinguir os laços da parte majoritária da população com Brizola. O demais eram problemas de quem os tinha e continuaria a tê-los, multiplicados.
Exemplo recente, forçando-se um salto lamentável, está em uma das favelas agora ocupadas. Cria política de Cesar Maia, o arquiteto Luiz Paulo Conde empenhou-se, como prefeito, no projeto Favela Bairro, bastante interessante como presença do Estado.
Para sua efetivação no Vidigal, Conde fez comprar um correr de moradias desde a célebre avenida Niemeyer até o alto final da favela. Seria a área de um plano inclinado ou de carros suspensos em cabos aéreos.
Apressado pelo fim próximo do mandato, Conde pagou preços altíssimos pelas moradias visadas, para evitar retardamentos. Pagou o bastante para os vendedores comprarem, entre outros, a maioria dos apartamentos duplex em três prédios de projeto muito criativo de Sérgio Bernardes.
Conde teve tempo apenas para deixar tudo encaminhado ao sucessor. Que seria Cesar Maia, àquela altura, porém, brigados política e pessoalmente. Cesar e seu secretário de urbanismo, o verde Alfredo Sirkis, abandonaram o legado de Conde, para não lhe servir de promoção.
As casas da longa e cara faixa desapropriada foram reocupadas, com outras desapropriações. E a falta da urbanização planejada continuou a facilitar, cada vez mais, a inviolabilidade dos que agora precisaram ser desalojados com carros blindados de combate, nesse mínimo Iraque vizinho do Leblon. Depois, pode ser qualquer coisa.

ROBERTO ABDENUR - Crise moral


Crise moral
ROBERTO ABDENUR 
O Estado de S.Paulo - 15/11/11

As notícias sucedem-se dia a dia. É ministro que cai após acusações de corrupção em sua pasta. É deputado que acusa os colegas de venderem emendas. É detento que consegue regalias na prisão por meio de facilidades concedidas por algum carcereiro. É obra concluída com base em documentos de autorização forjados. É estabelecimento comercial que consegue alvará por meio de propina.
A esta altura os cidadãos brasileiros se perguntam como pode um país se desenvolver com base na tão disseminada cultura das transgressões. Isso mesmo, cultura das transgressões - expressão, que, no nosso entender, designa de forma clara o conjunto de ideias e atitudes que não respeitam a ética, pondo o interesse pessoal acima do interesse coletivo e das leis.
Se queremos mudar essa cultura, precisamos todos entender que o único caminho para chegarmos a um Brasil desenvolvido econômica e socialmente é o do respeito às leis, não corrompendo nem sendo corrompido, pagando impostos e combatendo a pirataria, a falsificação e o contrabando. Para começar, precisamos exigir de nossos governantes que ajam sempre dentro dos padrões éticos. E - por que não dizer? - dos mais elevados padrões éticos. Afinal, a corrupção instalada na base da sociedade é mais fácil de ser combatida do que a corrupção que permeia esferas elevadas de poder.
Já passamos por momentos históricos em que parecia que os brasileiros iam perceber o prejuízo generalizado que a corrupção causa. Chegamos até a aprovar o impeachment de um presidente da República, numa onda de civismo que parecia estar nos levando a uma nova nação, de cidadãos conscientes e éticos. Mas, quase 20 anos depois do impeachment, pouco mudou.
O historiador José Murilo de Carvalho, professor titular de História do Brasil da UFRJ, distingue bem o medo e o respeito à lei. Só uma sociedade que tenha respeito às suas leis pode alçar-se a um patamar destacado de desenvolvimento. Enquanto a lei só for cumprida por medo, sem que os valores que a nortearam sejam compreendidos pela população, não conseguiremos modificar a cultura de leniência e até conivência com as transgressões.
Estudos e pesquisas mostram que os sonegadores recorrem ao argumento de que não adianta pagar impostos se as autoridades responsáveis por lhes dar o destino previsto acabam por desviá-los. Ou seja, se não há confiança em que os recursos serão aplicados para o bem geral - na saúde, na educação, na infraestrutura, na habitação -, por que ser um cidadão ético?
Sempre insistimos em que uma coisa não depende da outra. Se formos esperar o modelo ideal de governante, não construiremos nada. Temos de pagar os impostos previstos em lei e exigir que eles sejam aplicados onde devem. E é isso o que estamos fazendo agora: exigimos que os governantes brasileiros se imbuam de seu dever maior como cidadãos e deem o exemplo de boa conduta a toda a população.
Há tempos dizemos que a crise no Brasil não é econômica. É social, não há dúvida. Mas, mais do que tudo, é uma crise moral. Chegamos a um ponto em que empresários comentam que as regras do jogo são essas mesmo e que sem "molhar a mão" de quem concede licenças e autorizações nada se consegue. Na medida em que a iniciativa privada acaba por se mancomunar com as autoridades de várias instâncias, fica difícil desatar o nó da corrupção.
Isso se aplica a negociações entre poderosos e entre pequenos. Grandes conglomerados de empresas acabam se enredando em ligações perigosas com quem tem o poder de autorizar obras e empreendimentos, de conceder licenças ou autorizações. Da mesma forma, e seguindo o mesmo rito, ela se dá entre um fiscal municipal e um camelô. Não é de hoje que, nas ruas do centro de grandes cidades, um veículo de fiscalização passa devagar, anunciando-se ostensivamente para que os camelôs tenham tempo de recolher sua mercadoria irregular. É o fiscal fingindo que fiscaliza.
Por isso não só políticos e administradores em geral, como fiscais e gestores do que deveria ser a coisa pública, têm sido alvo de denúncias de corrupção. As discussões chegaram ao Poder Judiciário, que, por definição, deveria estar acima e à distância de qualquer suspeita de irregularidade ou malversação. As divergências entre a corregedora do Conselho Nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, e alguns integrantes do Judiciário são impensáveis em qualquer país que preze a imaculabilidade de seus juízes.
Com um PIB de R$ 3,6 trilhões, o Brasil deveria ter um atendimento à saúde decente, uma educação pública exemplar, aeroportos à altura dos eventos internacionais previstos para os próximos anos, sem falar em ferrovias e rodovias - estas mostram como parcerias podem ter bons resultados, já que as rodovias concedidas à iniciativa privada são as melhores do País.
A corrupção não deve ser tolerada em nenhum nível. Se ela chega a dimensões tão escancaradas quanto hoje no País, é impossível calar. É impossível aceitar esse fingir que as leis são cumpridas, pois isso envenena as entranhas da sociedade e provoca, lentamente, sua destruição.
A esperança de mudar essa cultura vem com a estabilidade da economia (após 17 anos de Plano Real), o respeito às regras democráticas e a ascensão da classe C. Não poderia haver melhor momento para o Brasil fazer uma profunda análise comportamental e mudar sua cultura no que diz respeito a transgressões. É o momento de incentivar campanhas para que esqueçamos, de uma vez por todas, que no passado alguns de nós valorizavam a Lei de Gerson, pensando em tirar vantagem de tudo.
É o momento histórico de construir uma sociedade em que o caminho seja impérvio para a corrupção. É o momento perfeito para pensarmos coletivamente em como construir uma sociedade da qual todos nos possamos orgulhar.

GOSTOSA


RENATA LO PRETE - PAINEL


Para o público externo
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 15/11/11

Sem força suficiente para provocar a saída do encrencado ministro Carlos Lupi (Trabalho), expoentes da minoritária "ala ética" do PDT preparam embarque na CPI da Corrupção, fazendo coro às manifestações sobre o tema marcadas para hoje nas principais capitais do país. Eles acreditam que as assinaturas de apoio à investigação no Congresso servirão para sinalizar ao Planalto o crescente desejo de independência de setores pedetistas em votações caras ao governo.

"Com o partido sob suspeita, precisamos mostrar que nosso voto, inclusive na DRU, não tem relação com cargos", diz o senador Cristovam Buarque (DF).

Placar Cristovam será o terceiro pedetista a subscrever a CPI, seguindo o deputado Antônio Regufe (DF) e o senador Pedro Taques (MT). Até o momento, a oposição colheu 130 das 171 adesões necessárias na Câmara e 21 das 27 no Senado.

Termômetro Por ora, a movimentação dos "éticos" não faz nem cócegas no Planalto, que continua decidido a manter Lupi respirando por aparelhos até a reforma ministerial do início de 2012.

Ele disse Mesmo perdendo fôlego no movimento sindical, que discute reservadamente opções para a sua sucessão, Lupi se apoia na fala do líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz (MA), segundo quem a bancada "não indicará nomes para a pasta". Se conseguir sobreviver até sábado, o ministro usará reunião da Executiva Nacional para reiterar sua defesa.

Deixa estar Depois de oferecer 43 votos ao governo na difícil tramitação da DRU, o PSD voltou a recusar convite de Cândido Vaccarezza (PT-SP) para participar das reuniões da base aliada. A liderança da bancada argumentou que o gesto colocaria em xeque a alegada "independência" do partido de Gilberto Kassab na Câmara.

Fita métrica Marco Maia (PT-RS) está numa saia-justa. Quando foi eleita a Mesa Diretora da Câmara, o presidente firmou acordo com PSDB, DEM e PPS para manter as estruturas física e de assessoria destinadas aos três partidos, que depois perderam deputados. Cobrado pelo PSD, ele agora terá de optar entre cumprir o prometido ou fazer uma "reforma agrária".

Câmera... Refeito da primeira sessão de quimioterapia, Lula estava de ótimo humor quando gravou, na sexta-feira passada, depoimento para o próximo programa de televisão do PT, com exibição em 8 de dezembro. O partido, que já havia se conformado em reutilizar material antigo do ex-presidente, contará com três falas inéditas dele na peça de 20 minutos.

...ação Lula aparecerá também em dois comerciais da sigla, um deles em dobradinha com Dilma Rousseff. A participação da presidente ainda será gravada.

Arquivo Dilma estará também no programa do PMDB, a ser levado ao ar dias antes do petista. Neste caso, porém, serão usadas imagens de discurso feito pela presidente durante encontro do partido, em setembro.

Focalizado Um dos agraciados com tempo de tela no programa nacional peemedebista, o pré-candidato a prefeito Gabriel Chalita falará aos "brasileiros que vivem em São Paulo" sobre a importância de "cuidar da cidade".

Recrutamento Secretário estadual de Gestão Pública e presidente do PSDB paulistano, Julio Semeghini lidera a bolsa de apostas para assumir o Planejamento, vago desde o afastamento, a pedido, de Emanuel Fernandes. Na atual estrutura do governo, o titular dessa pasta é também o responsável pelo comitê paulista da Copa.

Lipo Como parte das mudanças em estudo, Geraldo Alckmin pensa em retirar do guarda-chuva da Gestão Pública órgãos como Detran, Poupatempo e Prodesp.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio
"Estão fazendo bullying com o Rio de Janeiro e o Espírito Santo. Todo deputado tem o dever de preservar o pacto federativo e defender o direito adquirido."

DO DEPUTADO JUTAHY JÚNIOR (PSDB-BA), manifestando alinhamento com a posição dos Estados produtores no acalorado debate sobre a redistribuição dos royalties do petróleo.

contraponto
Papo musical
Presente ao Fórum Global de Sustentabilidade SWU, sábado passado, Geraldo Alckmin foi apresentado a Neil Young, que fazia 66 anos. O tucano aproveitou para trocar conhecimentos musicais com o guitarrista:

-Você sabia que a autora da versão em português de "Parabéns a Você", Bertha Celeste Homem de Mello, nasceu na minha cidade, Pindamonhangaba?