quarta-feira, novembro 02, 2011

IVAN MARTINS - Elas amam demais?


Elas amam demais?
IVAN MARTINS
REVISTA ÉPOCA

Não. Elas (e eles) apenas sofrem demais

Todo mundo conhece mulheres que amam demais - são aquelas que desabam quando os homens vão embora.

Ainda que elas vivam reclamando do sujeito, desmoronam no momento em que ele as deixa: não conseguem trabalhar, não conseguem dormir, não conseguem viver. Os amigos acorrem, a família se alarma, médicos são acionados. Mas nada é capaz de ajudá-las, nem ninguém. O desejo de viver parece ter sido levado pelo cara que foi embora. Tudo o que elas conseguem fazer é pensar nele. Mulheres que amam demais são obcecadas.

Conheci um rapaz que se envolveu num enredo desses.

Depois de um ano de namoro disfuncional – muita briga, um monte de sexo e nenhum plano em que coubessem os dois – o cara resolveu que era hora de terminar. Achou que a moça, que vivia reclamando dele, receberia a notícia sem surpresa, até com alívio. Qual nada. Assim que ele anunciou que não queria mais, ela sucumbiu. Não ali, na frente dele. Começou no dia seguinte, ao telefone: parecia outra pessoa, de tão abatida. Disse que não estava conseguindo sem ele. Depois começaram os torpedos no celular, num tom entre choroso e desesperado. Vários deles ao dia, que ele respondia meio sem jeito, tentando animá-la. Então as amigas dela começaram a ligar, deixando saber que a moça estava “praticamente suicida”. Sugeriam que ele fizesse algo. Mas fazer o quê, voltar? Ele não queria, muito menos com tanta confusão. Da última vez que eu soube do caso, ela continuava atrás dele, que tinha decidido bancar o doutor House: “Eu fico firme, mantenho a distância e digo a ela está fazendo papel de louca. Uma hora ela vai entender.”

Será?

Algo me diz que há muito mais a entender na vida dessas mulheres do que um pé na bunda. Mulheres e homens, aliás. Não são poucos os barbados que fazem esse papel desesperado. Rejeitados, preteridos ou abandonados, eles também abraçam o desespero como se não houvesse alternativa. Estão convencidos de que a vida sem aquela mulher não vale a pena. Desistem, ou quase isso – até que a próxima paixão os salve, e, tempos depois, os atire de volta ao fundo do buraco amoroso.

Eu tenho a impressão, porém, de que há menos homens assim do que mulheres, e não por razões biológicas. É que a cultura masculina, ao contrário da feminina, desestimula esse tipo de atitude. Quando o sujeito abandonado começa a enlouquecer, é mais provável que as pessoas digam, “Pô, rapaz, para com isso!” do que “Ai, amigo, eu te entendo tanto...” Faz diferença. Esse tipo de dor é uma questão íntima, claro. Pertence mais ao terreno da psicologia do que da sociologia. Mas a maneira como o mundo recebe certos comportamentos pode incentivar que eles ocorram. E o mundo, decididamente, está acostumado ao sofrimento amoroso das mulheres.

Há também o drama da cronologia. Homens com 30 anos acham que a vida está começando. Algumas mulheres com 30 anos sentem que já estão perdendo o bonde da própria vida. Dois relógios quebrados, mas cada um deles produz seu tipo de maluquice...

Seja ele feminino ou masculino, por trás desse bolero agonizante há um tipo de personalidade cuja principal característica, me parece, não é amar demais – é sofrer demais. Arrisco dizer que essa explosão de sentimentos não tem sequer relação verdadeira com o amor. Penso nos milhões de pessoas que amam de forma tranquila e profunda os seus parceiros. Penso em muitos que são deixados a cada dia e atravessam com dignidade o seu percalço. Penso naqueles que acordam de manhã, encaram o vazio e se levantam. Minha conclusão, diante do exemplo deles, é que não há correspondência entre a dor que se exibe e o amor que se sente. A dor dos sofredores é real. O amor eu não sei.

Minha impressão, nada científica, é que há um tipo de personalidade comum a essas grandes histórias de sofrimento, sejam de homens ou de mulheres.

O traço mais marcante dessa personalidade sofredora é a dificuldade em estar só. Gente que passa em paz um domingo de chuva não entra em pânico porque o namorado foi embora. Quem sabe o prazer de ir sozinho ao cinema não desespera com a perspectiva de ficar sem namorada. Uma pessoa que já tenha viajado sozinha sabe que as férias – ou o feriado de Ano Novo – podem ser uma ótima ocasião para conhecer gente legal. Não estou dizendo que a solidão é gostosa ou desejável, muito menos no longo prazo. Só estou sublinhando que há pessoas para quem a simples perspectiva da solidão é totalmente intolerável – e são elas que se desesperaram quando um relacionamento chega ao fim. Qualquer relacionamento.

Outra marca registrada das mulheres (e homens) que sofrem demais é a dificuldade em enfrentar rupturas. São os patologicamente apegados, a qualquer coisa e a qualquer um. Uma vez que você tenha entrado no círculo de intimidade dessa mulher ou desse homem, sair será um problema. A maioria de nós cultiva a mesma dificuldade em algum grau. Acertada uma situação – namoro, casamento, trabalho, endereço – a gente deseja que ela permaneça. Deve ser preguiça, escrita nos nossos genes. Mas pode ser também medo do que é novo e desconhecido. Quando alguém vai embora, por pior que seja, abre um vazio – que é preenchido, instantaneamente, pela mais intensa ansiedade. O que virá depois? Quem virá depois? Para alguns, esse doloroso período de dúvidas deve ser insuportável.

O terceiro elemento da alma desesperada é a dificuldade em arrumar companhia. Há pessoas para quem isso é fácil e outras para quem não é. Não se trata apenas de aparência ou de charme. Conheço mulher chata que não é bonita e nunca está sozinha. E outras bonitas e legais que penam para achar um par. Vale o mesmo para os homens, imagino. O tipo de gente que tem facilidade para achar parceiros reage com mais calma diante das perdas afetivas. Elas sabem, mesmo na dor, que daqui a pouco vai pintar outra pessoa. Quem não tem essa segurança pode facilmente cair no desespero. E muitas vezes cai.

O que se faz com tudo isso? Pouco. Saber não adianta muito quando uma amiga está descendo ao fundo do poço ou quando nós mesmos nos sentimos arrastados a ele. Mas ajuda, eu acho, dizer a quem sofre além dos limites que isso não é bom e nem é natural. É bom dizer a quem está assim que ela ou ele precisa de ajuda. O luto por um grande amor é normal, o desespero por uma relação meia boca não é. Há que entender a diferença. Nada pior do que uma pessoa mergulhada em depressão com gente em volta achando sublime, cena de romance. “Ai, eu te entendo tanto, amiga. Amar demais é difícil!” Nada disso. Amar demais é bom. Não poder amar é que é ruim (e sobre isso eu escrevo na próxima semana). Mas esse sofrimento aí não tem a ver com amor. A dor de quem sofre demais precisa ser tratada para que uma paixão de verdade possa aparecer.

ANCELMO GOIS - Centro de transplantes


Centro de transplantes
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 02/11/11

O ministro Alexandre Padilha costura a cessão do Hospital de Ipanema, no Rio, para a Secretaria de Saúde de Cabral.

A ideia é reformá-lo para fazer dele um centro de excelência de transplantes. O projeto seria gerido pelo Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo, em parceria com a Rede D’Or, mas 100% público. Vamos torcer, vamos cobrar.

Agenda de visitas
Dona Marisa assumiu a agenda de visitas a Lula.
Não se chega a ele sem passar por ela. Alguns amigos só conseguiram vaga na agenda para domingo.

Caro Lula...
Curado de um câncer linfático (o mesmo de Dilma) há oito anos, o ex-senador Saturnino Braga, 80, enviou mensagem a Lula com dicas para os meses de quimioterapia e radioterapia:

— Lula, querido, pare com o cigarro, mas beba de vez em quando vinho ou uma dose de uísque. Você não é de ferro. Não ligue se ficar enjoado e sonolento. Só passei mal uns seis meses. Depois, vida normal. Hoje, corro todo dia e bebo meu uisquinho.

Caro sr. Inácio...
Martinho da Vila, que chama Lula de “sr. Inácio” e é chamado por ele de “Zé Ferreira”, também escreveu ao ex-presidente:

— Ainda faremos aquela pescaria que nos prometemos desde o primeiro mandato!

Ficou para depois...
Lula, antes de saber da doença, tinha marcado com Cabral e Paes de vir ao Rio sexta para conhecer as obras da Transoeste e almoçar na Gávea Pequena.

Fim de linha
Sandra de Sá e Adriana Milagres puseram o ponto final num relacionamento de 12 anos.
A Nega Produções, de Adriana, que cuidava da carreira da cantora, também não a representa mais. O desfecho evoluiu para uma ação na Justiça.

Brasil solidário
Já foram tantas as doações do Brasil a países pobres, sobretudo da África, que o Programa Mundial de Alimentos da ONU decidiu dar a Dilma o título simbólico de “Campeã Mundial na Luta contra a Fome”.
Josette Sheeran, diretora-executiva da entidade, vem ao Brasil segunda agora para isso.

Segue...
Será em Salvador, na inauguração do Centro de Excelência de Combate à Fome da ONU.
Jacques Wagner, governador da Bahia, prepara a festa para a presidente.

Lei Seca
O STF decidiu que não é preciso causar acidente ou morte para um motorista responder pelo crime de dirigir bêbado.

A decisão, relativa ao processo de um bebum de Minas parado numa blitz, cria jurisprudência para casos iguais no país todo. Eu apoio.

Beth tá na rua
Beth Carvalho, nossa cantora, assinou com a EMI (veja na foto com o diretor da gravadora, Jorge Lopes).
Vai lançar pela multinacional seu novo CD, “Nosso samba tá na rua”. O disco trará uma dedicatória à Dona Ivone Lara, que fez 90 anos em abril.

Loura nordestina
A cerveja Proibida, da cearense CBBP, contratou a Artplan para apresentar a marca ao Rio.
A loura premium chega às gôndolas cariocas este mês.

Corações partidos
A 6a- Câmara Cível do Rio condenou um carioca a indenizar a ex-noiva em R$ 11.553,03.
Segundo a sentença, o rapaz rompeu o noivado numa conversa, não com a moça, mas com os pais dela, aos quais teria contado detalhes do relacionamento. Além disso, teria ignorado despesas já feitas para o casamento.

Boletim médico
Dicró, o sambista, está internado desde sexta no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, RJ, onde passou por uma cirurgia na vesícula.
Ontem, já estava num quarto, estável.

Inflação de Deus
O valor da missa encomendada na Paróquia de N. S. de Copacabana subiu 100%, de R$ 5 para R$ 10, com a proximidade do Dia de Finados.

ROLF KUNTZ - A enrolação como política


A enrolação como política
 ROLF KUNTZ
O ESTADÃO - 02/11/11

Pelas contas do Planalto, até a crise internacional deve ajudar nas eleições de 2012 e na preparação da campanha de 2014. Mas o plano, um tanto ousado, pode sair caro a médio prazo. O governo aposta no esfriamento da economia para frear a inflação com os juros em queda e sem contenção de gastos. Ao mesmo tempo, e um tanto estranhamente, conta com o crescimento da receita para alcançar sem esforço a meta fiscal neste ano e no próximo. A disposição de evitar qualquer política séria foi duas vezes confirmada em menos de uma semana. O Ministério da Fazenda cortou um tributo e adiou a elevação de outro para conter temporariamente os preços. Isso foi chamado de política "heterodoxa". Mas é só um truque de ocasião.

O primeiro lance foi para amortecer o efeito de um aumento de preços da gasolina e do diesel. Para isso foi cortada a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) paga sobre combustíveis. O segundo foi o adiamento, até maio, da cobrança do aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) recolhido sobre cigarros.

Ao mexer nos tributos, o governo evitou o impacto imediato em alguns preços e, é claro, nos índices de inflação. Mas isso não é política anti-inflacionária. A inflação não é causada por aumentos de impostos nem pelo encarecimento de alguns produtos. O processo inflacionário sempre envolve mudanças de preços relativos, mas a recíproca não é verdadeira. No caso brasileiro, cortes de impostos podem conter os preços a curtíssimo prazo, mas novos aumentos voltarão a ocorrer, se a demanda for suficiente para absorvê-los.

Apesar de alguma piora no ambiente econômico, não há sinal, por enquanto, de redução significativa da procura. Pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo mostrou uma redução das perspectivas de consumo das famílias, mas o indicador ficou em 135,3 pontos, ainda muito elevado e praticamente igual ao de um ano atrás. Esse índice varia de zero a 200 pontos e é considerado positivo acima de 100.

Em agosto, segundo o IBGE, o volume de vendas no varejo foi 0,4% menor que em agosto e 6,2% superior ao de agosto de 2010. Os indicadores mensais diminuíram em oito dos dez segmentos cobertos pela pesquisa, mas, apesar disso, a demanda se manteve elevada. De janeiro a agosto, ficou 7,2% acima da registrada no ano anterior.

Em setembro, a desocupação observada nas seis maiores áreas metropolitanas ficou em 6%, o menor número para o mês desde 2002. A massa de rendimentos foi 1,9% menor que a de agosto - efeito evidente da inflação - e 1,4% maior que a de um ano antes. Com o emprego elevado e o crédito ainda em expansão (aumento de 1,7% no saldo de operações com recursos livres, em setembro), a própria inflação, por enquanto, é o principal fator de susto para os consumidores.

Como vem sendo observado há meses, há um descompasso entre a atividade industrial e a demanda interna. A produção caiu 2% em setembro, segundo informou o IBGE nesta terça-feira, mas a procura continua sendo suprida pelo fornecedor estrangeiro. Em outubro, o valor exportado, US$ 22,1 bilhões, foi um recorde para o mês, mas o bom resultado se deveu, novamente, às cotações dos produtos básicos. Em contrapartida, o valor importado, US$ 19,8 bilhões, também foi recorde, mas sem efeito especial de preços.

O valor gasto com bens de capital estrangeiros, US$ 3,9 bilhões, foi 10,3% maior que o de 12 meses antes. A produção interna de bens de capital, no entanto, diminuiu 5,5% de agosto para setembro e foi 0,2% maior que a de igual mês de 2010. As importações de bens de consumo, US$ 3,5 bilhões, ficaram 17,2% acima das de um ano antes. As de matérias-primas e bens intermediários, US$ 8,7 bilhões, custaram 11,8% mais que em outubro de 2010.

Muito mais que um esfriamento conjuntural da economia, há um claro problema de competitividade, mas o governo insiste em enfrentá-lo com medidas de alcance mínimo, como as do Plano Brasil Maior. A própria inflação torna o Brasil menos competitivo, ao ampliar de forma continuada o descompasso entre custos internos e externos, mas o governo despreza esse dado. A mesma indisposição para agir com seriedade se manifesta na política fiscal. O superávit primário tem dependido basicamente da arrecadação. Em setembro, as contas ainda foram ajudadas pela valorização efêmera do dólar, graças ao volume de reservas e à posição credora em moeda estrangeira.

Para manter os cortes de juros e obter o superávit primário programado para 2012, sem desconto de investimentos, o governo precisará cortar gastos estimados entre R$ 60 bilhões e R$ 67 bilhões, segundo consultorias citadas pelo Estado. Seria uma forma de atacar os problemas, em vez de contemporizar. Mas o governo parece ter esquecido essa cultura.

MURILO ARAGÃO - O cisne negro, o mercado e a política ante a doença de Lula


O cisne negro, o mercado e a política ante a doença de Lula
MURILO ARAGÃO
O TEMPO - 02/11/11

O mercado tende a ser míope quando se trata de política. Às vezes me pergunto se tal deficiência decorre de insuficiência intelectual - hoje mais do que comprovada com a sucessão de tolices e tragédias feitas pelo mercado financeiro e em nome dele mundo afora. Pelo menos no Brasil, a miopia do sistema não é justificada.

Entre meados dos anos 1990 e 2010, a lucratividade dos bancos foi de 196% contra 29% das empresas. O lucro extraordinário deveria ter estimulado uma visão mais reflexiva e até mesmo mais humana do mundo dos negócios. Não é o que acontece. O calote grego, que esperamos seja pedagógico, como foram os calotes russo e argentino, é a prova da "competência" e do "descortino" do sistema. Se existe o governo por trás bancando - o que não é nada "neoliberal" -, tudo funciona bem. Calotes não existem e os lucros vêm de forma avassaladora.

A capa da "The Economist" da semana passada é emblemática: "nowhere to hide". Conversando com banqueiros e investidores em Londres na semana passada, a sensação que tive foi a mesma que tenho em relação à oposição brasileira: cachorros que caíram do caminhão de mudança e não sabem para onde ir. Aqui, ainda bem, é tudo diferente. Os governos FHC e Lula estabeleceram padrões elevados de governança das instituições financeiras, mantiveram mais de 50% do sistema debaixo das asas estatais e, ainda por conta de explicações mirabolantes, mantiveram os juros muito acima do razoável.

Pois bem, confiantes de que as coisas continuam indo bem, pouco a pouco se distanciam da política. Como bem explicou uma das melhores comentaristas econômicas do país, Thais Heredia, a demissão de Orlando Silva provou a "desimportância" da política para o mercado. Infelizmente, não é assim. Quem despreza a política será punido por ela.

A política tem um imenso potencial de destruição daquilo que chamamos de "mercado". A prova está na produção monumental de estrume pelos organismos políticos da Europa e no resultado catastrófico que isso resultou. Nicolas Sarkozy, pateticamente, afirmou que a Grécia não poderia ter entrado na Comunidade Europeia porque deu informações falsas! Ora bolas, será que os mecanismos institucionais comunitários e os próprios mecanismos de análise dos gigantescos bancos europeus não foram capazes de identificar a "roubada" em que estavam se metendo? Claro que não.

No afã de obter resultados e na adesão não reflexiva aos cânones ditos neoliberais, embarcaram na canoa furada e agora o erro vai custar caro para o cidadão comum europeu. Ora, o mercado financeiro brasileiro - abençoado tanto por lucros estratosféricos quanto por agentes reguladores competentes e clientes bons pagadores - não deve se afastar do que é a análise política. Vai que aparece um "cisne negro"?

Pois bem, antes mesmo de concluir este artigo, surgiu a notícia da doença de Lula. Foi triste e irônico. Na sexta-feira fiz palestra para investidores em Londres. Ao responder à pergunta sobre o que poderia dar errado no Brasil na cena de curto e médio prazos, disse que, entre o previsível - incompetência, burocracia, ineficiência - e o imprevisível - uma doença, um atentado terrorista ou coisa que o valha -, temia o imprevisível. Um "cisne negro", algo inesperado e fora do radar.

Infelizmente, o "cisne negro" apareceu: a doença de Lula. Felizmente, as chances de cura são razoáveis: acima de 60%. A feliz coincidência da ida ao hospital para examinar o mal-estar de dona Marisa fez com que o tumor fosse descoberto. Considerando o fato e o histórico de lutas e de sorte que acompanham Lula, tudo vai ficar bem. Porém, não devemos, jamais, deixar de pensar em como o processo político vai funcionar.

MARTHA MEDEIROS - Quarto



Quarto
MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 02/11/11 

Estamos em plena vigência da Feira do Livro e aproveito para fazer uma recomendação de leitura, já que ainda estou sob o efeito do prazer de tê-lo tido em mãos. Chama-se Quarto, da irlandesa (hoje residente no Canadá) Emma Donoghue.

Vou contar do que se trata, e vai parecer que estou estragando o prazer da descoberta, mas não é nada que já não esteja revelado na contracapa: a história é narrada por um garotinho de cinco anos que vive enclausurado com a mãe num quarto. Ele nasceu lá dentro e nunca saiu pra fora. Nunca.

Seu universo está concentrado entre as quatro paredes daquele cubículo, que a mãe se esforça para transformar num espaço lúdico e estimulante – o que, espantosamente, consegue, apesar da tragédia de estar sequestrada há sete anos.

Quando eu soube do enredo, vi algumas semelhanças com o filme A Vida é Bela, em que o personagem do ator Roberto Benigni faz o possível para que seu filho não perceba que estão trancafiados num campo de concentração.

Mas Quarto vai muito além dessa atitude de amor extremo que faz com que queiramos proteger nossos filhos da violência emocional, nem que para isso seja preciso ocultar-lhes a verdade. O livro confirma a tese de que nada é mais universal que o nosso umbigo e que uma história confinada em si mesma (e põe confinada nisso) traduz a humanidade toda.

Em geral, acho chato ler obras narradas por crianças, salvo algumas exceções. Essa é uma exceção com honra ao mérito. Jack, o garoto preso com a mãe, tem uma inocência que não é apenas terna, mas também inteligente. Através de seu olhar absolutamente inédito para tudo que conhece (e esse tudo é tão pouco), passamos a enxergar as coisas como elas de fato são, sem os condicionamentos a que nos acostumamos.

Não deixa de ser uma narrativa de horror e suspense, mas com profundo teor psicológico – felizmente, sem didatismo ou qualquer pretensão. Inclusive, a certa altura do livro, há um trecho em que a autora debocha das tentativas de se intelectualizar tudo o que acontece e de interpretações pseudofilosóficas que mais complicam do que explicam. Diante de um sabe-tudo exibicionista, um dos personagens resmunga: “Esses sujeitos passam tempo demais na faculdade”.

Quarto é um livro simples, com diálogos espertos e verossímeis. Não requer nota de rodapé. De forma comovente sem ser piegas, apenas utiliza uma história original – beirando o surreal – para lembrar o que todos intimamente sabem: que o cativeiro (ou o útero, a ignorância, os costumes, as convenções, os preconceitos – escolha sua própria metáfora para confinamento) é, no fundo, estabilizante, e que nada é mais assustador do que a liberdade.

GOSTOSA


ALON FEURWERKER - Será diferente?


Será diferente?
ALON FEURWERKER 
CORREIO BRAZILIENSE - 02/11/11

E agora vem o G-20. Mais uma reunião do G-20. Aquele grupo de países que iriam — lembram-se? — concretizar a multipolaridade planetária na esfera econômica e provar que a coordenação supranacional é o caminho da salvação

A reunião do G-20 vai trazer fortes emoções, com a corrosão do apoio político interno na Grécia a um ajuste capaz de reequilibrar a economia daquele país. A Europa vem tentando fazer sua parte, mas arrisca perder o controle da situação.

A Europa obrigou os bancos a engolirem o deságio de metade do valor de face da dívida grega. A União Europeia mostrou que tem líderes e que os contratos não são religião, cumpri-los não é dogma.

Mas o cenário político grego parece frágil demais para ajudar na estabilização. Como quando alguém está se afogando e quem vai salvar corre o risco de ir junto para o fundo. É um jogo perigosíssimo.

A Europa não pode deixar a Grécia sucumbir, e talvez os gregos acreditem que podem conseguir mais. Pois mesmo com metade da dívida perdoada o serviço do resto vai pesar sobre os ombros helênicos.

Fartaram-se no banquete e esperam ficar fora do rateio da conta.

Esse é um problema prático imediato. Outro detalhe preocupante são os vasos que propagam a desaceleração global. O economista Nouriel Roubini apitou ontem no Twitter: os emergentes não estão imunizados contra a crise e sentem o breque na economia.

No nosso caso, nem precisava advertir. Os últimos números da indústria brasileira, por exemplo, são muito ruins. Uma parada generalizada. Uma estagnação que se propaga pelos diversos ramos.

No acumulado, até agora o chamado setor secundário não se recuperou da “marolinha”. E que “marolinha”, hein?

O governo brasileiro tinha uma estratégia esperta para lidar com a crise de 2008/09. Atacar e culpar os países ricos, e esperar quietinho que as providências deles resolvessem nossos problemas por tabela. O melhor dos mundos.

O raciocínio na Esplanada era reto: uma hora os Estados Unidos e a Europa vão ter que descobrir o caminho de saída do buraco, e quando saírem, nós saímos junto. O ufanismo de boca acoplado ao reboquismo na vida prática.

Tanto que maiores providências só foram tomadas mais de dois anos depois, com medidas protecionistas e afrouxamento da política monetária.

Ao ilusório livrecomercismo (quem ainda se lembra da Rodada Doha?) e ao irracional aperto monetário bancados por Luiz Inácio Lula da Silva naquele momento decisivo, Dilma precisa, com atraso, contrapor o protecionismo e a queda forçada dos juros em cenário inflacionário não tão bom.

Precisa lidar com uma herança maldita.
E agora vem o G-20. Mais uma reunião do G-20. Aquele grupo de países que iriam — lembram-se? — concretizar a multipolaridade planetária na esfera econômica e provar que a coordenação supranacional é o caminho da salvação.

Até o momento, não aconteceu nada, mas não custa ter fé. Talvez ela remova essa montanha.

Como de hábito, haverá discursos em profusão e recriminações professorais. Com o Brasil certamente em posição de destaque no plano retórico e na função de palmatória do mundo, uma especialidade recente nossa.

Mas, em termos práticos, o que fazer? Ou, em miúdos, quem vai pagar essa conta? Que contribuintes? Que acionistas? Que consumidores? É disso que se trata.

O melhor cenário seria uma saída em ordem, mas é difícil. Pois é improvável que o balanço das perdas possa ser decidido na mesa de negociações. A humanidade costuma resolver esses impasses de um modo mais cruento. Será diferente desta vez?

Boa parte da prosperidade mundial era fictícia e chegou a hora de cair na real.

Fora os que sempre dão um jeito de sair ganhando, para a maioria da humanidade a vida reserva a destruição maciça da riqueza imaginária. E bem quando os governos já esticam a língua para tentar capturar um restinho de oxigênio.

Não está fácil para ninguém.
A História conta que encrencas assim costumam ser resolvidas na base da força, dentro de cada país e entre as nações. Em geral, os colóquios apenas chancelam esse balanço de vetores objetivos.

Repito a pergunta. Será diferente desta vez?

GAUDÊNCIO TORQUATO - A Fifa e o Brasil


A Fifa e o Brasil
GAUDÊNCIO TORQUATO
O TEMPO - 02/11/11

O maior espetáculo da Terra, a Copa do Mundo de 2014, é uma miragem no horizonte de 957 dias que faltam para sua abertura, mas as escaramuças que está causando ameaçam deixar mortos e feridos bem antes que os exércitos de 32 países entrem nas arenas de 12 estádios, uns em fase inicial de construção, outros em reforma.

A tensão que o evento provoca com tanta antecedência se deve não só ao fato de que a disputa terá a maior audiência acumulativa de todos os tempos - 26 bilhões de espectadores em 214 nações, com transmissão em 376 canais -, mas por ser o futebol a paixão brasileira por excelência. Como tal, é motor das emoções, arrastando multidões às praças esportivas, promovendo, enfim, uma explosão coletiva.

O objeto dos conflitos, por enquanto, não é a bola, mas as normas que as autoridades organizaram para determinar como será realizada a Copa no Brasil. Como o dono da flauta dá o tom, a Fifa, entidade de direito privado, proprietária exclusiva do certame, impõe regras, fazendo do Projeto de Lei nº 2.330, chamado de Lei Geral da Copa, a expressão de sua vontade.

O imbróglio se forma quando o tom que a Fifa quer dar soa estranho nos arranjos orquestrados pela banda social. A polifonia se estabelece. E para coroar a liturgia cívica que embala corações no anelo coletivo emergem polêmicas intermináveis, sob a égide do conceito que abriga o arsenal da guerra: soberania. Traduzindo: aprovada a Lei Geral da Copa nos termos encaminhados pelo Executivo ao Congresso, a soberania nacional estaria conspurcada.

O futebol, canalizador da avalanche catártica do país, ingressa profundamente no hemisfério emotivo, deixando estreita margem para uma análise mais racional. Sob essa hipótese, é complexa a tarefa de distinguir os polos certo/errado, ético/aético, justo/injusto que balizam a organização da Copa em nosso país. É razoável começar o exercício pelo campo que abre a polêmica, a soberania.

A Fifa, como empresa privada, objetiva auferir lucro, cooptando governos dos países-sede do evento, que se dobram às exigências por saberem que o futebol é um dos ímãs mais poderosos de que a política dispõe para atrair as massas. A catarse produzida pelos espetáculos acabará compensando os governantes com expressivos resultados eleitorais. É evidente que o negócio privado quer apitar todo o jogo: escolher parceiros, definir projetos, contratar fornecedores, estabelecer sistemas de promoção e vendas para comercializar marcas, símbolos, produtos e serviços. Até aí, tudo bem. É compreensível que os países, quando se candidatam a sediar uma Copa, procurem oferecer aos donos do empreendimento uma carta de compromissos e vantagens.Foi assim que o Brasil ganhou a condição de sediar o próximo mundial, a ser realizado 64 anos após a memorável Copa de 50. Quando as intenções entram, porém, no plano das ações, o caldo entorna. E é nessa encruzilhada que se encontram os parceiros do campeonato. A Lei Geral da Copa está eivada de aberrações jurídicas, de afrontas aos direitos dos consumidores. Pior, joga no lixo disposições integradas aos costumes sociais.

ANTONIO PRATA - Photoshop



 Photoshop 
ANTONIO PRATA 
FOLHA DE SP - 02/11/11

O que é o perfil no Facebook senão a capa da sua revista? O Twitter, senão sua coluna? O Instagram, sua galeria

A comediante americana Tina Fey, criadora da série "30 Rock", publicou recentemente sua autobiografia ("Bossypants", editora Reagan Arthur, inédito no Brasil). No livro, Tina dedica quase um capítulo inteiro ao Photoshop. O que se pergunta é: como equacionar a crítica à pressão para que toda mulher seja jovem, magra e bonita, com o onipresente programa de computador, que a deixa jovem, magra e bonita, toda vez que aparece numa revista?

Mais ainda: sendo humorista, e, portanto, tendo por ofício mostrar o que há de ridículo e humano por trás da pompa, da empáfia, da hipocrisia e demais tapumes, não estaria ela cometendo falsidade ideológica, ao sair em ensaios fotográficos com as orelhas de abano aplainadas e os pés de galinha surrupiados digitalmente?

Acredito que tais dúvidas vão além do universo das celebridades, das feministas ou dos humoristas. Afinal, desde que trocamos o balcão da padaria pelo salão bem mais amplo das mídias sociais, nos transformamos em pequenos personagens numa enorme competição midiática. O que é o perfil no Facebook senão a capa da sua revista? O que é o Twitter, senão sua coluna? O Instagram, sua galeria, o blog, seu jornal. E, como ninguém quer mostrar orelhas de abano ou pés de galinha, seja no rosto, seja na alma, vivemos num mundo cada vez mais retocado.

Por trás da falsa descontração dos tuítes, podemos ver as piadas encolhendo a barriga, as críticas estufando o peito, as celulites de nossas inseguranças escondidas sob leves camadas de sarcasmo. O resultado é uma abundância de opiniões e uma escassez de vozes. Muita inteligência e pouca sinceridade. Todo mundo bem protegidinho e parecido, como os corpos corrigidos no computador. Não quero parecer um desses apocalípticos que creem que o mundo piora na medida em que a tecnologia avança. Pelo contrário, parece-me que estamos bem melhor hoje do que há 30 ou cem anos, mas é que tenho achado a vida um pouco chata, as pessoas um tanto falsas -eu, principalmente.

Talvez isso não tenha nada a ver com a época, mas seja fruto da minha idade. Trinta e poucos anos. O idealismo da adolescência já se esgotou, a sabedoria da maturidade ainda não chegou. É nesse hiato que costuma brotar o cinismo, maior de todos os Photoshops. Agora mesmo, sussurra em meu ouvido que esse papo de autenticidade é uma bobagem. Que a verdade é apenas mais um equívoco do século 20 ou da juventude, como o socialismo ou a seleção de 82. Promete, em troca de uma ilusão puída e dois ou três sonhos não realizados, seu pacote completo: agilidade nas relações, rapidez nas decisões, uma vida tranquila e vazia.

No fundo, a proposta mefistotélica do cinismo é a mesma questão de Tina Fey, diante do Photoshop, e a mesma que temos que responder, a cada vez que abrimos a boca ou postamos uma informação nas redes sociais: afinal, o que queremos, dizer a verdade ou aparecer bem na foto? É uma pergunta ingênua, sussurra alguém ao meu lado. Talvez. Mas garanto que é uma pergunta sincera.

PS. Abraço ao vizinho de terça, Rubem Alves, que deixa de escrever sua coluna na Folha. Bom descanso. Mesmo não te conhecendo, era uma honra morar ao seu lado.

JAPA GOSTOSA


MARCELO COELHO - Lições de encolhimento



Lições de encolhimento
MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 02/11/11 

Das alturas do Hubble, tudo vai diminuindo de tamanho e 7 bilhões de habitantes se encolhem num planeta



A boa notícia, nesses cálculos de que já existem 7 bilhões de seres humanos no planeta, é que cabem todos, ombro a ombro, na ilha de Marajó.

Marajó? Nem isso. A ilha de São Luís, um triângulo bem menor encaixado no litoral maranhense, já basta. Não digo que fossem boas as condições de conforto ou de sobrevivência, mas é verdade que por lá, mesmo com menor número de visitantes, o luxo deve restringir-se a alguns pontos específicos de veraneio para a família Sarney.

Pegando a notícia do outro lado, o planeta parece evidentemente pequeno para tantos bilhões de habitantes. Vale perguntar se a Terra inteira não seria, afinal, uma pequena ilha de São Luís, escondida num dos obscuros maranhões da Via Láctea.

Sábado passado fui ver, num cinema 3D, um filme sobre o telescópio espacial Hubble, feito pela Warner Bros. em parceria com a Nasa. Tem 40 minutos, e paradoxalmente o tempo parece longo demais para o assunto a que se dedica.

Como assim? Toda aquela conversa de anãs marrons, buracos negros e pulsares cabe num média-metragem? O fato é que as explicações se reduzem ao mínimo. Mesmo o efeito tridimensional das estrelas voando em nossa direção, como uma invasão de gafanhotos cósmicos, logo se esgota.

O documentário se concentra no Hubble, ele mesmo, e nos astronautas que se dedicaram a consertá-lo. Na tela imensa, o aparelho telescópico surge mais "tridimensional" do que qualquer estrela ou galáxia que nos queiram mostrar. Um complicado brinquedo branco, cheio de garras e comportas, estica-se na profundidade da tela, quase encostando no queixo do espectador.

Os astronautas mergulham nas entranhas da máquina e escarafuncham seus defeitos.

Como em qualquer laptop de contrabando, o problema está "na placa". Os astronautas treinaram meses e meses, até debaixo d'água (onde se acostumaram à falta de gravidade), para proceder a essa tarefa das mais corriqueiras: "trocar a placa". O pior é que o grande mistério não foi nem mesmo a troca da placa. O maior desafio dos astronautas foi... desatarraxar cerca de 20 parafusos! Um deles não queria sair. Quando se usam luvas, naturalmente tudo fica mais difícil.

Boiando na escuridão infinita do Universo, suspenso na ponta mais extrema da técnica, um ser humano briga durante horas com um parafuso emperrado. Seria mais humano se xingasse e desse um tranco furioso no maldito equipamento.

Claro que o astronauta foi selecionado em razão de seu absoluto controle emocional. De volta à nave, o clima é de festa. Para que não fosse interrompido um programa científico bilionário, para que a humanidade prosseguisse no seu desafio de conhecer os limites e as origens do Universo, para que o menor casulo de um planeta futuro fosse identificado na galáxia mais extrema, um parafusinho precisava ser vencido.

Os astronautas estavam à altura da missão. Dentro da nave, comunicam-se amistosamente com a câmera. "Alô, meu nome é Bob... ou Will... e isto aqui é fantástico!"

"Ponha logo o capacete, Ted!"

"Certo, mas antes tenho de cuspir este chiclete."

"Cuidado, não o deixe grudado no painel, hein?"

"Ah, ah, ah."
Não vou ser rabu
gento a ponto de criticar tanta banalidade. Como poderia ser diferente? Os rapazes da Nasa são simplesmente humanos. Há uma moça também; seu sonho (adivinhe) sempre foi ser astronauta. O comandante se lembra do avô, que foi o primeiro a estimulá-lo nos assuntos da astrofísica. "Gostaria que ele estivesse me vendo agora."

Na verdade, nenhum comentário, nenhum depoimento poderia estar à altura do espetáculo que se dava a conhecer. A trivialidade das falas não faz mais do que expressar a pequenez do homem no Universo. Essa frase é trivial também.

Das alturas do Hubble, tudo vai diminuindo de tamanho: 7 bilhões de habitantes se encolhem num planeta, 7 bilhões de estrelas se encolhem numa galáxia, 7 bilhões de galáxias se apertam num vaporoso arabesco de luz. O filme exibe mais uma visão da Terra, um pontinho na escuridão. Parece a cabeça de um pequeno parafuso azul, girando em falso, sem parar.

PAULO SANT’ANA - O nó na tripa



O nó na tripa 
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 02/11/11 

Perguntaram-me como eu me sentia. Respondi: “Sinto-me como se tivesse um nó na tripa”.

Retrucaram-me: “O que se passa contigo?”. Respondi: “Não passa nada, está bem amarrado o nó da tripa”.

Vocês nunca se sentiram como se tivesse um nó na tripa? Logo eu, cujo forte é o meu aparelho digestivo, nunca tive nada abaixo do meu pescoço.

Tenho receio de que o nó na tripa seja o final de tudo. Tudo vai parar naquele nó, não segue adiante.

O nó na tripa me soa como o fim dos tempos.

Quem atou esse nó?

Quem foi capaz de me separar do mundo por esse nó?

Sem dúvida alguma, o progresso melhorou a nossa vida. Noto isso por essa gilete com cinco lâminas que lançaram recentemente e com a qual tenho feito a minha barba.

Fazer a barba sempre foi para mim um suplício. Se é verdade que sempre consegui arrancar toda a minha barba, porém, antes das cinco lâminas, sempre me restavam os talhos, o sangue, os rastros visíveis das cruentas operações.

Agora, com as cinco lâminas, o aparelho desliza suavemente pelos recônditos das minhas rugas, penetra sutilmente naquelas zonas de tênue fronteira entre os lábios e as bochechas, vai até atrás das minhas orelhas e me tira de lá os pelos que se transferiram com aquela cirurgia plástica que me fez o Pitanguy.

Uma delícia o exercício da minha barba. Depois de ela feita, sem restar nenhum pelo em toda a minha face, passo pelo rosto um leite de cabra, mais tarde um óleo desinfetante e estou pronto para mostrar meu rosto no Jornal do Almoço.

Aconselho a todos os seres masculinos que usem estas giletes de cinco lâminas, a vida me ficou bem mais fácil depois delas.

Mas me resta um problema: são as quatro pontas das unhas dos dedões dos pés que teimam em encravar.

Desde criança, as unhas dos meus dedões se encravam. Elas foram responsáveis por eu, na adolescência, ter de largar o futebol, deixando de me tornar o maior centroavante da história do futebol brasileiro, a julgar pelo estupendo rendimento que apresentava nas peladas do Partenon.

Mas aí vieram as minhas unhas encravadas e acabaram com a minha carreira.

Ainda mais doloroso se tornou o meu convívio com as unhas encravadas porque o calçado que meu pai designou para mim na infância foram os tamancos. Unha encravada com tamanco duro é sinal de tormentoso casamento. Ah, só eu sei o quanto sofri!

Não sei aparar as pontas das unhas dos dedões sem encravá-las. Inicialmente, usei de uma pedicure.Pois a danada me encravou pior ainda as unhas.

Então, me aconselharam uma podóloga. Achei o nome estranho, mas ela também não acertou com as minhas unhas.

Restou-me, parece-me que perpetuamente, a minha relação própria com minhas unhas encravadas.

Minhas unhas teimam em desbordar daquela canaleta que as separa dos dedos e penetram na carne. Dói, incomoda, vendo bem foi o principal martírio da minha vida.

Se alguém souber de uma podóloga que me solucione esse dolorido impasse, serei grato pela informação.

RUY CASTRO - Aposentadoria precoce



Aposentadoria precoce
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 02/11/11 

RIO DE JANEIRO - O primeiro gramofone, de cerca de 1900, tocava um disco de cera, a 78 rpm, com som precário e música gravada de um lado só. Eram apenas três minutos de música em cada chapa. Custou para a indústria fonográfica começar a gravar nos dois lados. Mas, dali, o formato se consagrou.

Em 1948, um disco de material mais leve, vinilite, girando a 33 rpm, permitiu sulcos mais delicados, nos quais cabiam de quatro a seis faixas, ou 15 a 25 minutos de música de cada lado, com ótima qualidade de som. Era o LP, ou "long playing". Foi um grande progresso. Pelas décadas seguintes, esse disco expandiu-se em lindos álbuns duplos e triplos ou em caixas com dez discos, num total de, às vezes, horas de gravação ou centenas de faixas.

Em 1985, veio o CD. Embora gravado de um só lado, continha 70 minutos de música. Dali também evoluiu para duplos e triplos e caixas inteiras, estas sem limite de discos e faixas. Um amigo meu comprou pela Amazon a caixa com Mozart completo -170 CDs que, tocados um atrás do outro, dia e noite, sem interrupção, levariam quase oito dias para ser escutados. E olhe que meu amigo nem é tão fã de Mozart.
Até que, há dez anos, ouvi falar de um novo dispositivo, chamado iPod, fabricado pela Apple e capaz de acumular mil músicas. Não dei muita atenção e devo ter me distraído porque, na vez seguinte em que me falaram do treco, ele já podia acumular 40 mil músicas. Pensei comigo: o que vou fazer com 40 mil músicas?

Os amigos nunca me perdoaram: "É um absurdo você não ter um iPod!". Mesmo assim, sobrevivi. E logo agora em que, por cansaço, estava admitindo a ideia de aderir à engenhoca, fico sabendo que o iPod, tão jovem, já se tornou peça de museu e está sendo aposentado pela Apple!
Que pena. Bem, de volta à velha vitrola.

GOSTOSA


SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Voando alto
SONIA RACY
O ESTADÃO - 02/11/11

São Paulo se programa para investir mais em seus 31 aeroportos regionais. “As cidades crescem em torno deles”, constata Geraldo Alckmin, lembrando que a capital é a maior cidade do Estado, seguida por Guarulhos e Campinas. E Viracopos é o segundo aeroporto que mais cresce no mundo. “Não chamo mais essas cidades de metrópoles, mas de aerotrópoles”, diz, bem humorado, ponderando que as aerovias fazem, hoje, o papel que foi das ferrovias no século passado.

Em 2010,1,7 milhão de passageiros passaram por esses aeroportos. Até setembro de 2011, já foram 1,9 milhão, por meio de nove empresas aéreas regionais.

Maomé vai à...
E não é que o Fedvem ao BC? Dennis Lockhart, de Atlanta, estará em Sampa no fim do mês para conhecer melhor o modelo de supervisão bancária do País. Bem como nosso sistema de pagamentos.

Começará o dia em um café da manhã com banqueiros; depois, almoçará com Alexandre Tombini.

Fumacê
A respeito da flexibilização das leis anti-fumo, a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas questiona: o governo pretende compensar a indústria do tabaco onerando ainda mais a saúde pública?

Números oficiais: o fumante passivo custa R$ 37 milhões por ano aos cofres da União. Até o fim de 2011, o Ministério da Saúde destinará outros R$ 45 milhões a programas que ajudam quem deseja parar de fumar.

Batuta

Marin Alsop, da O se sp, é fundadora de programa de incentivo a novas mulheres na regência – o Taki Concordia Conducting Fellowship.

Este ano, a vencedora foi Alexandra Arrieche, uma brasileira. Que trabalhará com Marin por aqui em 2012-13. Bem como com orquestras americanas.

Martelo batido
Novo livro de ficção de Alain de Botton – sobre casamento–já tem editora brasileira e data confirmadas. Sairá em 2014, pela Intrínseca.

Olho na Copa
Fábio Lepique, assessor de Alckmin, se programa para visitar os 32 municípios pré-selecionados para receber os times que participam da Copa de 2014. Conversa com os prefeitos buscando centros de treinamento para acomodá-los.

O Comitê Paulista fará seminário envolvendo essas cidades. Em janeiro.

Cacau brasileiro
Diego Badaró e Luiza Olivetto, do chocolate AMMA, foram centro de festa, semana passada, na embaixada brasileira em Paris. Com direito a Jaques Wagner e secretários.

Comemoraram acordo com o Salon du Chocolat, que será realizado pela primeira vez no Brasil, em 2012. Tema? Preservação da Mata Atlântica. Afinal, o cacau é sistema agroflorestal competente para tanto.

Cacau 2
O chocolate brasileiro ecológico também entrou para a seleta academia francesa... do chocolate. Sim, ela existe: Académie Française du Chocolat et de la Confiserie.

Posicionamento
Mohsen Maklmalbaf, cineasta iraniano que ganha homenagem na Mostra de Cinema de SP, fez um pedido especial aos organizadores do evento.

Crítico da aproximação de Lula como regime de Mahmoud Ahmadinejad, assiste hoje à palestra de FHC na Sala São Paulo.

“Desinformatizado”
Quem entrou anteontem, às 21h, no site do Ministério do Esporte não entendeu nada. Lá estava Dilma empossando Aldo Rebelo. E na janela “ministro”,foto e biografia de... Orlando Silva.

Na frente
• Apesar das sessões de quimioterapia e tudo mais, a presença de Lula continuava ontem confirmadíssima na entrega do Prêmio Raça Negra. Dia 13, na Sala São Paulo.
• Patrícia Pillar e José Wilker entregam o Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa. Dia 8, na Casa Fasano Itaim.
• Carolina Brandão e Ana Noronha estreiam o espetáculo de dança Espelho D’Água. E Natureza, parceria de dançarinos residentes no Brasil e em Mônaco, tem apresentação única. Ambos amanhã, no Sesc Pinheiros.
• Eduardo de Souza Ramos, da Mitsubishi, foi escolhido administrador emérito de 2012 pelo CRA-SP. Ganha, dia 8, almoço do presidente do conselho Walter Sigollo.
• Cidade, de Fernando Lee, segue para a Sala Crisantempo. A partir de sexta.
• Léa Michaan lança Maly. Dia 20, na Livraria da Vila do Shopping Higienópolis.
• E não é que a Tunísia está entre os destinos mais cobiçados para o réveillon? A Primavera Árabe é a principal causa da procura pelo país.

ROBERTO DaMATTA - NGOs & ONGs



NGOs & ONGs
ROBERTO DaMATTA
O ESTADÃO - 02/11/11

Como as ONGs e os "ongueiros" de plantão estão em moda, comecemos do começo que, dizia Guimarães Rosa, é tudo. E o começo aqui é o Wikipedia, a mãe de todos os burros virtuais.

Em inglês, o verbete NGO ensina (os grifos são meus): "Uma organização não governamental (NGO) é uma organização legalmente constituída, criada por pessoas naturais (cidadãos no sentido amplo do termo) ou legais que operam independentemente de qualquer governo. O termo se origina na Organização das Nações Unidas e é normalmente usado para se referir a organizações que não fazem parte do governo e que não são criadas como negócios com fins lucrativos. Em caso de serem fundadas parcial ou totalmente por governos, elas mantêm seu estatuto não governamental pela exclusão de representantes e membros do governo de sua organização".

Vejamos agora, na mesma Wikipedia, uma outra definição em português: "As Organizações não governamentais (ONGs) atualmente significam um grupo social organizado, sem fins lucrativos, constituído formal e autonomamente, caracterizado por ações de solidariedade no campo das políticas públicas e pelo legítimo exercício de pressões políticas em proveito de populações excluídas das condições da cidadania. Porém seu conceito não é pacífico na doutrina (...). Essas organizações podem ainda complementar o trabalho do Estado, realizando ações onde ele não consegue chegar, podendo receber financiamentos e doações dele, e também de entidades privadas, para tal fim. É importante ressaltar que ONG não tem valor jurídico".

* * * *

Nenhuma instituição social entra em espaços vazios. No Brasil, as ONGs mudam de significado e são um elo explícito entre o governo e certos setores sociais. Assim, as ONGs que têm aparecido no noticiário político-criminal, derrubando um monte de ministros, têm sido atores ideais na negação das origens dessas associações que, no mundo moderno (e, evidentemente também aqui, no Brasil) estão divorciadas formal e explicitamente de propósitos político-partidários, embora tenham forte atuação política como todos os seres ativos de um sistema social igualitário, liberal e democrático.

Resultado: temos no Brasil, ONGs e ONGs, seguindo lógicas diversas, como testemunhamos com aversão no caso do Ministério do Esporte e sob a égide do Partido Comunista do Brasil. Logo, diga-se de passagem, esse Ministério cuja responsabilidade é gerenciar, estimular, regular e incrementar o esporte. Essa atividade na qual é imperativa a consciência das normas, a competitividade é fundamental, a igualdade perante as regras é indisputável e a eficiência é a marca registrada dos bons atletas e times. É lamentável!

Aqui, cabem as duas formas. Na sociedade e na banda sadia do sistema político atuam as NGOs que não visam ao lucro e são universalistas e conscientes da sua importância para o bom funcionamento da sociedade. No lado podre do sistema, dominam os "ongueiros" filiados a partidos políticos em ONGs que trabalham mais para o partido do que para a sociedade. Com isso, as ONGs são um novo tipo de compadrio político-eleitoral e, como organizações de fachada, elas acabam modernizando ao contrário, servindo ao governo em nome da sociedade. O que deveria ser um instrumento de igualdade passa a ser mais um instrumento de desigualdade, como é o caso da corrupção.

Algo parecido tem ocorrido no capitalismo americano que virou, como alguns cronistas têm acentuado, um "capitalismo de companheiros ou compadres" - um "cronie capitalism". Felizmente, em ambos os casos, existem protestos. Aqui há uma marola contra a corrupção. Nos Estados Unidos, como diz Nicholas Kristof no The New Times, o Ocupar Wall Street não é um movimento para liquidar o capitalismo, mas para devolver-lhe a responsabilidade e os limites.

* * * *

Levamos séculos para estabelecer um sistema político no qual uma competição eleitoral livre, norteada por regras que valem para todos, leva ao poder representantes da sociedade. Soa estranho pensar seriamente num mecanismo que venha, pelo voto, a "deseleger" pessoas e, em paralelo, processar legalmente - isso mesmo, leitor, levar à barra da Justiça - administradores públicos notória e recorrentemente preguiçosos, incompetentes, desonestos, e sórdidos como esses que temos sistematicamente conhecido no Brasil. O "recall" americano é um mecanismo interessante e deveria ser discutido seriamente entre nós. O processo civil seria um outro recurso, talvez mais efetivo. Sou assaltado ou testemunho o assalto de minha neta Serena aqui, em Niterói, e tomo as providências no sentido de processar o secretário de Justiça ou o delegado de Polícia local. Peço justiça por danos morais porque, se há gerenciamento público sustentado regiamente pelos desabusados impostos pagos obrigatoriamente pelos moradores da cidade, tem de haver um sistema correspondente de atribuição de responsabilidade que torne o mundo público mais justo no Brasil!

TÚMULO DO CORRUPTO DESCONHECIDO


TÚMULO DO CORRUPTO DESCONHECIDO

RENATA LO PRETE - PAINEL


Soft landing
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 02/10/11

Quem conhece a fundo o PT paulistano e sabe fazer contas não tem dúvidas quanto ao desfecho de eventual consulta interna sobre a eleição de 2012. "O resultado dessa prévia todo mundo conhece", diz um cardeal do partido, prevendo a vitória de Fernando Haddad.

Feito o diagnóstico, ninguém pediu nem pedirá a Marta Suplicy para desistir. As abordagens serão todas no sentido de tornar confortável uma atitude que, acredita-se, a senadora tomará por iniciativa própria. A real preocupação dos apoiadores do ministro da Educação -Lula e Dilma à frente- é garantir o "pouso suave" de Marta e seu engajamento na campanha.

Incógnita 
Não obstante inscrições anunciadas para os próximos dias, dirigentes apostam que, se Marta recuar, Jilmar Tatto e Carlos Zarattini acabarão por segui-la. A dúvida é Eduardo Suplicy.

Pauta 
No Sírio-Libanês, Lula orientou Dilma a martelar, no G20, a necessidade de manter a Europa unida: "A criação da UE foi uma conquista da democracia mundial. Qualquer dissolução disso afeta o mundo inteiro".

Passatempo 
No período de cinco dias em que deverá ficar "de molho", Lula pretende "ler bastante, ver muito filme e conversar o que der".

Agenda 
Assim que terminar de receber a primeira dose de quimioterapia, Lula quer retomar, ainda que de leve, a rotina no instituto.

Aquele abraço 
José Dirceu conversou ontem por telefone com o ex-presidente. "Eu disse que ele sabe que pode contar comigo sempre." Ficou de visitá-lo domingo.

Conte comigo 
Diante da notícia de que seu partido poderia lançá-lo à presidência da Câmara em aliança com o PSD, Márcio França (PSB-SP) tratou de ligar para Henrique Alves (PMDB-RN), desde sempre candidato ao posto: "Se você tiver dois votos nessa disputa, um será seu, e o outro, meu".

A pé 1 
Para garantir aos moradores de Itaquera acesso seguro ao futuro estádio do Corinthians, o governo estadual construirá a maior passarela da Grande SP, com 180 m de extensão e vãos de 110 m e 70 m. A ligação suspensa cruzará a Radial Leste, a avenida José Borges Pinheiro e os trilhos da CPTM.

A pé 2 
A obra fará parte do pacote viário de R$ 478 mi previsto para o entorno da arena de abertura da Copa. Técnicos da CET apontaram à Dersa, responsável pelas melhorias, que, sem a passarela, só usuários de trem e metrô teriam caminho livre e desimpedido às arquibancadas.

E então... 
O caso da nomeação de Suzana Dieckmann para a Secretaria de Desenvolvimento do Turismo já percorreu os mais altos gabinetes de Brasília. Na segunda, os peemedebistas Michel Temer e José Sarney ligaram para o ministro Gastão Vieira, em tese da cota do partido, cobrando a prometida substituição de Dieckmann por Fábio Rios Mota. Vieira jurou à dupla ter encaminhado o pedido à Casa Civil.

...como é... 
Dilma discutiria o assunto com o vice na segunda, mas teve de antecipar a saída de Brasília. Os peemedebistas, antes indignados somente com o ministro, já começam a procurar outros culpados.

...que fica? 
Ontem, Temer e Gilberto Carvalho conversaram. O Planalto soube que o episódio fez crescer a tensão no PMDB. E que, com a votação da DRU batendo à porta, líder sem controle da bancada não pode ser responsabilizado por eventuais resultados adversos.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio
"Túnel faraônico, escolas superfaturadas. Parece que o partido do Kassab vai ter um preço elevado para os paulistanos."

DO VEREADOR ANTONIO DONATO, PRESIDENTE DO PT MUNICIPAL, sobre a obra na região da avenida Roberto Marinho e a revelação, feita ontem pela Folha, de que escolas e creches a serem construídas pela prefeitura ficaram 28% mais caras entre a fase de pré-qualificação das empreiteiras e a assinatura dos contratos para a realização das obras.

contraponto
Leite das crianças

Em conversa com a deputada Ângela Albino (PC do B-SC) pouco antes de embarcar em Florianópolis no voo 3075 da TAM, anteontem, rumo a Brasília, o ex-titular da Pesca Altemir Gregolin falava de suas atuais atividades:
-Estou muito feliz, com consultorias no Ministério da Pesca e da Agricultura. Está dando para ganhar um bom dinheiro. Tenho que agradecer à Dilma.
O petista ainda acrescentou:
-Sabe, eu até queria voltar à política, mas preciso de uma base financeira...

DORA KRAMER - Saudações partidárias


Saudações partidárias
DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 02/11/11

A cerimônia de posse de Aldo Rebelo no Ministério do Esporte não foi a primeira a se transformar em ato de desagravo ao demitido, nesse verdadeiro dominó de queda de ministros em série na administração Dilma Rousseff.

Orlando Silva, a despeito de todas as denúncias que levaram a presidente da demissão à ordem para uma devassa nos convênios da pasta com ONGs, foi celebrado, elogiado, aplaudido de pé e condecorado com a condição de "vítima" pelo sucessor.

Em junho, a posse de Gleisi Hoffmann na Casa Civil já fora uma sessão de homenagem a Antonio Palocci, demitido por não conseguir explicar a legalidade do crescimento de seu patrimônio. Na ocasião, Palocci também foi aplaudido de pé pela plateia e chamado de "amigo" pela presidente.

Esquisito, já que a saída se deu por motivo de quebra de confiança, mas com boa vontade e algum cinismo compreende-se que o aspecto estritamente partidário pesa. Ademais, o PT daquela vez não estava envolvido na confusão.

Já com o PC do B a coisa foi diferente. Contra Orlando Silva há inúmeras evidências de que dirigia o ministério com mãos excessivamente frouxas e todas envolviam o partido, sobejamente favorecido com dinheiro do ministério.

Levantamento feito pelo jornal O Globo a partir de documentos de tribunais de contas mostra que 73% das verbas liberadas irregularmente foram para entidades ligadas ao PC do B.

Partido que consagra em seu estatuto o princípio de que os filiados ocupantes de cargos públicos devem estar "a serviço do projeto político partidário".

Em comparação com o PT - com presença forte no Parlamento e em todo o País, além de três vezes vitorioso na eleição presidencial - as reverências em relação ao PC do B, que até direito a discurso do presidente da legenda teve na posse de Aldo, suscitam a dúvida: o que deve o governo tanto ao PC do B?

Alguma carta muito poderosa essa agremiação com 14 deputados federais, 18 estaduais, 2 senadores e 608 vereadores guarda na manga para merecer tanta atenção. A representatividade popular é que não é.

Seja qual for a razão, a festança de segunda-feira no Palácio do Planalto consolidou a impressão de que na coalizão governamental há partidos de primeira e segunda categorias.

E é nas despedidas, nas posses dos substitutos, que essas diferenças ficam marcadas. Há os demitidos de luxo, por assim dizer, que merecem tratamento especial, são tratados como legítimos heróis da resistência e há o pessoal que viaja para fora do governo na classe econômica, relegado à frugalidade.

Se não, vejamos por ordem de entrada em cena. Depois de Palocci foi demitido Alfredo Nascimento (PR), dos Transportes, cujo substituto, Paulo Sérgio Passos, nem sequer contou com cerimônia de posse alegadamente por já ser o secretário executivo da pasta. Ficou só com a nomeação no Diário Oficial. 

Sem discursos nem reverências ao demitido. Na verdade, o PR manifestou-se de fora, esperneando e ameaçando romper.

Para Nelson Jobim (PMDB), que nem esteve presente à posse do sucessor Celso Amorim no Ministério da Defesa, não houve agradecimentos.

Em seguida, deu-se a demissão de Wagner Rossi (PMDB), da Agricultura, que, apesar de indicado (ou talvez por isso mesmo) pelo vice-presidente Michel Temer, mereceu na cerimônia de posse de Mendes Ribeiro apenas uma declaração protocolar da presidente sobre a "herança de êxito".

Pedro Novais (PMDB) tampouco recebeu referências e nem estava presente na troca por Mendes Ribeiro, cuja posse ocorreu em cerimônia restrita numa sala de audiências tão pequena que a imprensa não pôde entrar por falta de espaço.

Mas, para Orlando, nem o céu foi o limite para tantas saudações. Não se esperava que a presidente o humilhasse ou coisa parecida. Mas tantos elogios só encontram explicação na necessidade de governo e partido falarem "para dentro".

Quando caberia que falassem "para fora", aos brasileiros que nas últimas semanas souberam que o Ministério do Esporte era um braço avançado do PC do B.

Dilma emitiu um sinal dúbio e, na prática, tornou menos verossímil a presumida disposição de dar um choque de ordem na Esplanada.

MÔNICA BERGAMO - PELÉ EM CAMPO


PELÉ EM CAMPO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 02/11/11

O núcleo duro da equipe de Dilma Rousseff avalia o impacto da doença do ex-presidente Lula no governo. A conclusão inicial é que a dificuldade política aumentará. De acordo com um dos principais interlocutores da presidente, ela estava jogando com "o Pelé" no banco de reserva. Agora, ele se contundiu.

PELÉ 2
Com isso, outros jogadores vão "se ouriçar" em campo: Eduardo Campos, governador de Pernambuco, Sergio Cabral, governador do Rio, e outros pré-candidatos à Presidência "vêm para cima", diz o mesmo interlocutor de Dilma. Com a possibilidade de "Pelé", ou Lula, não estar em plena forma para entrar em campo em 2014 e desequilibrar a partida, eles se animariam a tentar jogadas mais ambiciosas.

PELÉ 3
A situação se acalmaria no começo do próximo ano. É quando Lula termina seu tratamento e o Planalto espera que ele volte à cena já curado e com todo o gás.

AFAGO
Dilma terá também que assumir temporariamente "missões" antes nas mãos do ex-presidente. Uma delas: convencer Marta Suplicy (PT-SP) a desistir de disputar as prévias para ser a candidata do PT à Prefeitura de SP. Numa reunião com petistas, há uma semana, Lula tinha se comprometido a conversar com ela e a fazer um apelo público por sua permanência no Senado.

CARDÁPIO
Anteontem, no hospital, Lula se alimentou com refeições leves e evitou açúcar. Jantou um filé de merluza ao molho de endro, salada de alface roxa, abobrinha e cenoura, farofa de maracujá, legumes salteados e salada de frutas. Dona Marisa, de chinelinho, circulava pelo corredor e conversava com outros pacientes, que mostravam a ela jornais com as notícias sobre Lula.

TUDO AZUL
Dona Marisa comentava com eles que, "em três meses, tudo vai passar. A quimioterapia [de Lula] vai terminar e nosso neto vai nascer". Lucas, filho de Sandro e Marlene, será o quarto neto do casal -Lula tem outros dois, filhos de Lurian.

SOTAQUE BRITÂNICO
A top Fernanda Tavares será o rosto da próxima campanha da loja de departamentos inglesa Marks & Spencer. Ela será clicada no fim do mês, no sul da Itália.

No contrato, foram colocadas cláusulas que impedem a modelo de engravidar ou ganhar medidas ao longo de pelo menos um ano.

CINE ESPAGUETE
O filme "As Idades do Amor", com Robert De Niro e Monica Bellucci, vai abrir a Semana Pirelli de Cinema Italiano, no dia 10. A mostra terá sessões e debates na Faap, no MIS, no Cine Sabesp e no Cinemark.

BRIGA DE COXIA
Produtores teatrais reclamam de "sabotagem" da Secretaria Municipal de Educação contra o Festival de Teatro Raul Cortez nos CEUs de SP, idealizado por Lulu Librandi. Peças como "Thom Pain", da Sutil Companhia, e "Viver sem Tempos Mortos", com Fernanda Montenegro, programadas para este ano, não devem ser apresentadas por problemas burocráticos. Fernanda já desistiu de fazer o espetáculo em 2011.

QUESTÃO DE BATISMO
"Como foi a Lulu que sugeriu o projeto ao prefeito, o secretário de Educação se sente atropelado", diz o produtor Germano Baía. O secretário Alexandre Schneider teria até mudado o nome do projeto para CEU É Show. Ele se diz "surpreso". E afirma que o fato de a iniciativa ser de Librandi não o chateia. "Vamos continuar o projeto, hoje com cinco peças em cartaz."

CENAS DE MUSICAL
Fotos Zanone Fraissat/Folhapress

Cláudia Raia
Os atores Cláudia Raia, Guilherme Magon e Jarbas Homem de Mello fizeram, anteontem, a estreia para convidados do musical "Cabaret". O diretor José Possi Neto, a atriz Rachel Ripani, o ator Luiz Gustavo e sua mulher, Cris Botelho, foram ao teatro Procópio Ferreira, em São Paulo.

DUPLO PARABÉNS
O ator Lázaro Ramos comemorou seu aniversário, anteontem, junto com colegas de "Amanhã Nunca Mais", que teve pré-estreia no mesmo dia. Maria Luisa Mendonça e Fernanda Machado, que estão no longa, e o diretor Jorge Furtado foram ao Gorila Café.

CURTO-CIRCUITO
A Osesp apresenta o concerto "3 Pianos", de amanhã até sábado, na Sala São Paulo. Classificação etária: sete anos.

O diretor polonês Jerzy Skolimowski vai dar uma aula magna e integrar o júri da competição Novos Olhares no Festival de Cinema de Paraty, que começa no dia 10.

A Câmara de Comércio Argentino-Brasileira de São Paulo promove na sexta-feira, a partir das 19h, no Memorial da América Latina, a Festa da Amizade e Integração.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY