sábado, outubro 29, 2011

ANCELMO GOIS - Hospital do cérebro


Hospital do cérebro
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 29/10/11

Sérgio Côrtes, secretário de Saúde de Cabral, fechou ontem com o neurocirurgião Paulo Niemeyer uma parceria que promete pôr o Rio na vanguarda da neurocirurgia no país.

No antigo prédio do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, no Centro do Rio, que o ministro Padilha cederá ao estado, passará a funcionar o Hospital de Neurocirurgia Avançada.

Será assim...
O novo hospital vai concentrar o tratamento de tumores cerebrais, epilepsia, doenças vasculares cerebrais e toda neurocirurgia de alta complexidade.

— Teremos cirurgia neuronavegacional por computador. Uma das salas terá ressonância magnética acoplada para, se for o caso, o paciente fazer o exame durante a operação. Será a primeira no Brasil — diz Côrtes.

Paulo Niemeyer estará à frente. Vamos torcer, vamos cobrar.

Briga de saias
Um observador brasileiro que acompanha essa privatização de 21,35% das ações da estatal lusa EDP sugere que Dilma lute para valer no campo político.

É que o principal rival da Eletrobrás na disputa é um grupo alemão que conta com o apoio ostensivo de Angela Merkel.

Aliás...
A privatização da TAP só deve sair em 2012.

Ben é do bem
Ben Harper, o cantor americano que vem ao Brasil em dezembro para uma turnê, vai aproveitar para promover uma ação em defesa do meio ambiente.
Será no Rio. Busca parceiros.

Quem viver verá
O novo CD de Toquinho, “Quem viver verá”, terá duetos com Ivete Sangalo, em “Quero você”, e Zeca Pagodinho, num arranjo novo do samba “Regra três”, parceria com Vinícius.

Sai pela Biscoito Fino ainda este ano.

Tensão nas gôndolas
O presidente de uma rede de supermercados acha que está a caminho uma alta de preços nas gôndolas que pode pressionar os índices de inflação.
Mas, diz, o setor será responsabilizado “injustamente”. Segundo ele, a “culpa” seria dos cartões de crédito.

É que...
Segundo o executivo, parte expressiva das vendas no varejo é feita por cartão e tíquetes como Visa Vale, que aumentaram suas taxas em 50% para o setor de supermercados.
É. Pode ser.

Imprensa
A 20a- Câmara Cível do Rio determinou que a revista “Contigo” indenize em R$ 10 mil uma das filhas da atriz Cláudia Abreu por ter publicado fotos da rotina da menina.
Virou parceiro
Após escolher seu samba-enredo para 2012, a Portela decidiu alterar a obra.

O presidente Nilo Figueiredo assumiu a caneta. Mudou uma palavra e o andamento.

Colibri vive
A escola Colibri, que há 36 anos cuida de jovens e crianças com síndrome de Down no Rio, reabriu as portas, depois de despejada da Fonte da Saudade.
Está agora no Humaitá Viva!

Boletim médico
Amarildo, 72 anos, o ex-jogador campeão do mundo pela seleção na Copa do Chile, em 1962, está internado no Inca, no Rio.

Socialites de Cristo
Maria Helena Guinle e Ionita Salles Pinto, que foram casadas com o playboy Jorginho Guinle (1916-2004), começaram a frequentar a Igreja Universal.
Maria Helena, em Copacabana. Ionita, em Ipanema.

118 vezes Rio
Encerraram-se quinta as inscrições para o prêmio do Instituto Pereira Passos (IPP) para teses e dissertações sobre o Rio.

São 118 inscritos. O número surpreendeu. “É um modo de ver o que nossos acadêmicos estão pensando sobre o Rio”, diz Ricardo Henriques, do IPP.

Jornal do boteco
O Bar Devassa, na Tijuca, no Rio, vai fechar. Dará lugar a uma filial do restaurante Frontera.

O Braseiro da Gávea, paraíso da boemia jovem, baixou as portas. Mas, calma, rapaziada. Foi para uma guaribada. Reabre semana que vem. Ah, bom!

RENATA MARIZ - Guerra suja na Anabb



Guerra suja na Anabb
RENATA MARIZ
CORREIO BRAZILIENSE - 29/10/11

Denúncias de roubo, extorsão e até agressão física colocam em risco seguros de vida pagos por cerca de 27 mil funcionários do Banco do Brasil. Disputa interna já virou caso de polícia
Dez pessoas, em média, procuram mensalmente a Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb) para esclarecer problemas sobre os seguros de vida que contrataram. Trata-se de associados com dificuldades em receber sinistros ou premiações em vida, garantidos por meio de sorteios pela loteria federal. Os percalços que enfrentam explicam-se pela substituição, em março deste ano, da seguradora e da corretora que prestavam serviços à entidade de classe, numa transação que já rendeu boletins de ocorrência policial, processos na Justiça e no Ministério Público, além uma ação na Superintendência de Seguros Privados (Susep), do Ministério da Fazenda. As acusações vão da falsificação de documentos à apropriação indevida de quase R$ 4 milhões, e passam por tentativas de extorsão e até de agressão física.

Nessa briga, sobram versões acerca dos motivos da transferência da seguradora — no lugar da Tokio Marine, entrou a Icatu Seguros — e da corretora — a Guard Administração e Corretora de Seguros foi substituída pela Just Life Corretora e Administradora de Seguros — pela Anabb. A entidade garante que diversas ilegalidades foram feitas pela antiga corretora, de propriedade de Jadir Gomes, obrigando uma rescisão tanto com a Guard quanto com a Tokio Marine para garantir proteção aos cerca de 27 mil beneficiários diretos dos seguros. Já Gomes alega que a apólice que construiu desde o primeiro segurado, numa modalidade que lhe garante exclusividade sobre a carteira, foi roubada por Valmir Camilo, dono da Just Life e ex-presidente da Anabb entre 1996 e 2010.

Pagamentos
Para Camilo, o fato de a nova corretora dos seguros da Anabb ser de sua propriedade não representa um conflito de interesses. Ele, que comandou a entidade de classe dos funcionários do BB por 14 anos, hoje é apenas mais um associado. “Você não encontra um corretor de confiança em qualquer esquina. Ainda mais que abrisse mão do agenciamento para pagar apólices que não haviam sido comunicadas pela corretora anterior”, justifica. De acordo com ele, nos primeiros seis meses de 2010, apenas 24 sinistros foram pagos pela Tokio Marine intermediadas pela Guard Corretora, enquanto, no mesmo período de 2011, já sob a administração da Just Life, houve 94 pagamentos. “A corretora anterior deixava de comunicar os sinistros para receber bônus da seguradora”, acusa.

Gomes, dono da Guard Corretora, não apenas nega as acusações como alega ter sofrido uma tentativa de extorsão de Camilo, para quem teria depositado R$ 3,6 milhões, entre março e maio de 2010, na ocasião da troca de seguradora, da Icatu para a Tokio Marine. “Quando ocorre essa transferência, gera a figura do agenciamento, um valor que a nova seguradora oferece, comum e legal no mercado. Eu abri mão disso em favor da Anabb. O Camilo me deu, então, o número da conta da empresa dele, a Just Life. Autorizei os depósitos, mas soube que esse dinheiro nunca chegou à Anabb”, afirma, ao apresentar o que diz ser as cópias das transferências. “Em março deste ano, ele me pediu mais dinheiro. Como eu não dei, simplesmente trocou de seguradora, voltando para a Icatu, e levou a apólice para a corretora dele — uma apólice montada com meu suor, com venda de porta em porta”, sustenta.

Confiança
“Nunca recebi nenhum centavo da Tokio Marine”, rebate Camilo. Emílio Ribas, presidente da Anabb, endossa a declaração do ex-dirigente. “Não existe esse bônus. O doutor Valmir (Camilo) saiu da entidade para poder acionar o Jadir (Gomes), que no desespero faz denúncias sem critérios. Pela conduta e atenção com que (Camilo) sempre conduziu os trabalhos da Anabb, não havia motivos para não contratar a seguradora dele. É uma questão negocial e de confiança entre pessoas que fazem um bom trabalho”, destaca Ribas. A ata da reunião em que ficou decidida a troca de seguradora e de corretora existe, mas não pode ser apresentada, segundo o presidente da Anabb, por se tratar de um documento interno que depende da autorização dos demais conselheiros para divulgação.

Em meados deste ano, o Conselho Fiscal da Anabb foi pressionado por alguns integrantes a investigar mais a fundo as denúncias das irregularidades, mas optou por uma apuração prévia. “Por quase unanimidade, a proposta de apurar preliminarmente, antes de instalar uma comissão de ética, foi aprovada. Se abro um processo, a situação de desconfiança para os associados, no meio de uma eleição, seria muito ruim. Queremos evitar conotação política nesse caso”, justifica Ribas.

Ele garante que a varredura na Anabb continuará, a fim de identificar todos os associados possivelmente prejudicados pela “gestão inadequada” da Guard Corretora e corrigir os problemas. As duas seguradoras foram procuradas, mas não deram detalhes do caso. A Susep não deu retorno à reportagem.

Acusações
O mais recente capítulo da guerra de acusações é uma ocorrência policial, registrada em 19 de outubro, na Polícia Civil do Distrito Federal, em que Jadir Gomes requer abertura de inquérito policial contra Emílio Ribas, presidente da Anabb, e outros dirigentes da entidade, devido à veiculação de notícias no site da instituição sobre supostas irregularidades cometidas por sua corretora de seguros. Ele acusa os citados de calúnia, infâmia e difamação.

Ilegalidades
Em resposta a um pedido de instauração de inquérito civil, feito pelo antigo corretor da apólice de seguros da Anabb ao Ministério Público do Distrito Federal, a entidade listou as irregularidades que teriam motivado o fim do contrato com a Guard Corretora e com a Tokio Marine. Entre elas, estão a retenção dos valores a serem pagos pelos sinistros, ausência de comunicação dessas ocorrências, divergências entre valores e até falsificação de documentos.

GOSTOSA


SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Novo personagem
SONIA RACY
O ESTADÃO - 29/10/11

Na contestação da sentença arbitral que deu, recentemente, a Daniel Dantas o direito mde comprar 3% das ações com direito a voto, a Bradespar (uma das donas da mineradora) tem um torcedor a seu favor: Benjamin Steinbruch. O empresário, por meio do contrato assinado na época do descruzamento da Vale com a CSN, em 1997, é corresponsável pela decisão da empresa que gerou esta gigante briga judicial com Dantas.

Personagem 2
Agora, se a Justiça disser que a sentença é definitiva, Dantas poderá ser, novamente, sócio da Vale.
Um prejuízo de mais de R$ 200 milhões a quemtiver (por decisão legal) que vender as ações para ele a um preço (também por decisão legal) bem inferior ao de mercado.

Mosqueteiros
Desta vez, não haverá briga. Tanto Alckmin como Serra e Aloysio Nunes vão estrelar as inserções do PSDB na TV nos dia 2 e 4 de novembro.

Agulhada
O Hospital das Clínicas está contratando dois médicos brasileiros que trabalham nos EUA para o primeiro transplante multivisceral do Brasil – ou seja, de vários órgãos ao mesmo tempo. Previsão? Início do ano que vem.
Já há fila de espera.

Agulhada 2
Comandante do projeto, Luís Carneiro Albuquerque só não está feliz com uma cláusula do contrato da empreitada, assinado com o Ministério da Saúde. A que exige prestação de contas por unidade. Algo como agulha por agulha.

Tipo exportação
Jô Soares acaba de lançar seu As Esganadas e os direitos já foram vendido para a França. O livro será publicado na terra de Sarkozy pela editora Les Deux Terres. Em 2013.

Ansiedade
Mal foi libertado, o soldado Gilad Shalitjá está cotado para o Nobel da Paz.

Corrida
O Teatro da Vertigem pediu, e o MinC aprovou. Poderá captar até R$ 2 milhões para seu novo espetáculo, Bom Retiro.

First time
AntônioManuel será ohomenageado da Pinta Art Fair de Nova York, em novembro. O artista da Galeria Nara Roesler expõe pela primeira vez nos EUA, no Americas Society.

Renascer de Celico

Mais à vontade em contar o que a levou a romper com a igreja evangélica Renascer, Caroline Celico, 24, explicou em conversa com a coluna: “Foi um baque quando percebi que estava querendo agradar mais a pessoas do que a Deus”.

Na cidade para divulgar seu CD e DVD gospel em uma maratona de programas na televisão, trouxe na bagagem, além de seus filhos, um novo projeto: o site Amor Horizontal, voltado a doações de produtos a ONGs que atendem crianças brasileiras, previsto para estrear antes do fim do ano. Que será bancado com recursos da venda do CD e do DVD.

O que mudou em você?
Acabo o DVD com a seguinte pergunta: “Para que denominações, para que religiões, se só há um nome, que é Jesus?”. Antes, achava que uma religião era melhor que outra, que estava mais certa que todo mundo. Não sei se por terem me ensinado assim. Hoje, pra mim isso é uma mentira.
Quando aconteceu o clique? Foi um baque perceber que estava querendo agradar mais a pessoas do que a Deus. Olhando as atitudes dos meus líderes, percebi situações em que a palavra não condizia com a atitude.

Como foi convencer o Kaká a cantar no CD?
Não convenci. No nosso casamento, um casal cantou Presente de Deus, música que o Kaká fez pra mim. E eu queria eternizá-la. Não dava pra cantar sozinha, então ele concordou e me deu essa prova de amor.

É verdade que vocês se casaram virgens?
Sim, era um sonho meu. E tive a sorte de me casar cedo, com 18 anos, com mais oportunidade disso acontecer, digamos assim. Mas não vejo como fórmula secreta para um bom casamento. Foi um pacto que fizemos para que fosse especial. Achava coisa de princesa.

É raro achar um homem que aceite isso...
É mesmo. O Kaká me contou, depois, que também queria muito uma mulher que quisesse se casar virgem. Começamos a namorar, ele tinha 20 anos e eu 15. Com seis meses de namoro, pensei: “Vou ter de falar. Porque esse cara, cinco anos mais velho, o que ele vai querer da vida?”. Ficava desesperada, falava: “Gente, ele vai terminar comigo”.

Foi difícil?
Oh... muito. Graças a Deus ele foi morar longe.
E como está o astral do Kaká? Ele voltou a jogar bem, já fez gol, está super feliz.

Você acha que ele pensa em voltar para o Milan?
Não sei... mas eu amo o Milan. As pessoas do clube são como uma família, sabe?

O Mano convocou Kaká para amistosos da seleção. Qual a importância, para ele, de participar da Copa de 2014?
O Mano gosta do Kaká e o Kaká gosta do Mano. É difícil o Kaká se dar mal com alguém. Mas não posso falar por ele, é uma grande responsabilidade, um peso. Deixo isso para ele mesmo.
PAULA BONELLI

Contemporânea
Obras de Mira Schendel chegam ao Instituto Moreira Salles, em dezembro. Com curadoria de Maria Eduarda Marques.

Além do axé
Sabine Lovatelli, do Mozarteum, está hoje em Trancoso para missão especial: explicar a amigos e parceiros como será o primeiro festival de música erudita do País realizado junto às falésias.

O anfiteatro começa a ser montado em novembro para que orquestras j ovens nacionais e alguns dos melhores solistas internacionais façam, em março, apresentações gratuitas durante sete dias.
Em tempo: os músicos darão aulas básicas nas escolas públicas da região e pelo País.

Tabelinha
O “cruzeiro do centenário” do Santos, marcado para março, será lançado segunda. Com torneio de futebol a bordo – de videogame.
Cada campeão terá a chance de desafiar, no joystick, os craques Neymar e Ganso.

Na frente

A Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-libanês comemora 90 anos com jantar, dia 9, no Monte Líbano. Ao som da Big Band e de Carlinhos de Jesus.
Dudu Bertholini e Isabela Capeto emprestam sua criatividade para a Anacapri. Segunda, no Manioca.
Marcos Casuo, clown brasileiro do Cirque du Soleil, faz apresentação única no HSBC Brasil. Amanhã.
A grife 284 fará festa hoje. Na Ballroom.
Abre, hoje, a exposição Homenagem ao Quadrado. Na Dan Galeria
Correção: a reunião da Anatel aconteceu quinta.
Lotada de trabalhos, a Assembleia paulistana arrumou tempo para aprovar uma nova lei. Decretou 10 de novembro como Dia dos Inativos da Polícia Militar.

ZUENIR VENTURA - A lição que Tancredo deixou


A lição que Tancredo deixou
ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 29/10/11

Por mais imperfeita que seja, a democracia ainda é a maior construção da nossa sociedade civil no século XX. Uma demonstração de como foi essa (re)conquista está no mais recente documentário de Silvio Tendler, “Tancredo, a travessia”, uma viagem que reconstitui a história que vai do golpe militar de 64 até a morte, em 1985, daquele que foi sem ter sido – eleito primeiro presidente civil após a ditadura, Tancredo morreu antes de tomar posse. O filme emociona ao devolver os principais momentos do período.

Alguns são tristes, como as imagens do povo chorando nas ruas, num comovente pranto coletivo como só se vira 30 anos antes, com o suicídio de Getulio Vargas. Outros são de júbilo, como a campanha das Diretas Já, que levou para as praças das principais cidades do país milhões de pessoas em festivas passeatas e comícios, num espetáculo cívico de causar inveja aos Indignados de hoje e de nos fazer chorar de saudade de nós mesmos.

Entre as cenas dramáticas, está a da doença. Foram 38 dias de agonia, com sete cirurgias seguidas, opiniões divergentes e a tentativa de esconder a gravidade do estado de saúde do presidente. Nunca tantos médicos erraram tanto com o mesmo doente e ao mesmo tempo. Finalmente, no dia 21, em Brasília,Tancredo protagonizou um dos episódios mais frustrantes da História do Brasil. Numa data carregada de simbologia – execução de Tiradentes, descoberta do Brasil, transferência da capital para Brasília – ele subiu a rampa do Palácio do Planalto, depois de 21 anos de luta contra o regime militar, nos ombros dos cadetes, morto. Em vez da tão sonhada posse, o velório.

Até hoje se deve a esse articulador de consensos o exemplo de que um líder político pode ser esperto sem deixar de ser honesto, hábil sem apelar para trapaças.

A trajetória de contradições do novo ministro do Esporte fez o colunista Juca Kfuri chamá-lo de “o médico e o monstro”, por ter sido “brilhante” quando presidiu a CPI da CBF e ter mudado “ao chegar ao poder”. Mudou tanto que, como relator do Código Florestal, o ex-presidente da UNE virou ídolo dos desmatadores. Por esse desempenho, seu partido passou a ser considerado uma espécie de UDR do B, em referência ao movimento de Ronaldo Caiado, agora aliado.

Aliás, um dos primeiros parabéns que o político comunista recebeu foi da líder ruralista Kátia Abreu, que no twitter aplaudiu o governo pela escolha. O novo ministro, que promete moralizar a pasta investigando todas as denúncias de corrupção, terá como trabalho inicial apurar o que há de verdade na acusação feita pelo policial João Dias Ferreira (o mesmo que derrubou Orlando Silva) de que o irmão de Aldo, o vice-presidente do PCdoB-DF Apolinário Rebelo, está envolvido no já denunciado esquema de desvio de recursos no Ministério do Esporte.

ILIMAR FRANCO - Os limites


Os limites
ILIMAR FRANCO
FOLHA DE SP - 29/10/11

O governador Sérgio Cabral está tão inflexível quanto a União na negociação da lei de redistribuição dos royalties. "Não há acordo com o que já foi licitado. Tanto do pós como do pré-sal", diz ele. Já o governo federal não concorda em colocar mais do que R$ 2,5 bilhões de suas receitas em favor dos estados não produtores. Mesmo sendo minoritários no Congresso, fluminenses e capixabas não têm como recuar, sob pena de serem acusados de rifar interesses de seus estados.

Lula e a juventude
Em uma roda na comemoração de seu aniversário, anteontem, o ex-presidente Lula mostrou preocupação com o distanciamento entre os partidos de esquerda e a juventude. Ele acompanhou com atenção a Primavera Árabe, organizada por meio das redes sociais, e agora está interessado no movimento "Ocupe Wall Street". Lula tem conversado com lideranças do PT sobre a importância desses fenômenos e chamado atenção para o vácuo existente, principalmente nas periferias do Brasil, onde a juventude não se sente representada nem motivada pelos partidos políticos. Uma das formas de entrar nessa seara, segundo Lula, seria investir em políticas de combate ao crack.

PRÉ-COPA. 
O senador Jorge Viana (PT-AC), na foto, está defendendo uma CPI contra a CBF, para investigar a "máfia do futebol". O estopim foi a exclusão do Rio Branco da Série C do Campeonato Brasileiro. O time foi penalizado por ter recorrido à Justiça comum para garantir a realização de jogos na Arena da Floresta. "Há dirigentes do futebol brasileiro que não querem a Justiça comum perto deles. É uma máfia", disse o senador.

Amiguinhos
O governador Eduardo Campos (PE) desmarcou sua agenda em Recife, segunda-feira, para ir à posse do ministro Aldo Rebelo (Esporte). Quer desfazer as especulações de que eles estão afastados por causa da eleição no TCU.

Em campanha
Em sua festa de aniversário, anteontem, quando via um petista paulista, o ex-presidente Lula começava pedindo: "Você tem que ajudar o Fernando Haddad. Ele tem que ganhar a disputa no PT para concorrer à prefeitura de São Paulo".

Autofagia
A crítica pública feita ontem pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) à direção do PSDB foi a segunda neste mês e não deve ser a última. Ele tem funcionado como uma espécie de porta-voz do ex-governador José Serra, que não se conforma com o deslocamento de poder no partido de São Paulo para Minas e Nordeste. "Ele (Aloysio) tem razão em muita coisa, mas o PSDB somos todos nós, inclusive ele", disse o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE).

Motim
Parte da bancada do PP, em rota de colisão com o ministro Mário Negromonte (Cidades), reclama que, dos R$ 178 milhões que a pasta tem em emendas, só R$ 11 milhões foram liberados. O ministro põe a culpa na Caixa Econômica.

Contrabando
O governo Dilma quer derrubar no Senado emenda à MP 540 que permite o uso do FGTS para obras relacionadas à Copa. O dinheiro poderia ser usado para construir hotéis. Ela foi incluída pelo relator Ricardo Molling (PP-RS).

2 EM 1. A presidente Dilma deve sancionar a criação da Comissão da Verdade e o fim do sigilo eterno dos documentos oficiais em uma mesma solenidade.

DIANTE dos argumentos de um defensor da permanência do ex-ministro Orlando Silva, a presidente Dilma reagiu: "Coisinha? É uma coisona. Onde tiver isso, está fora!".

PARCERIA. A Fundação Vale incluirá beneficiários do Brasil Sem Miséria em ações sociais e de qualificação profissional desenvolvidas pela entidade.

GOSTOSA


MÔNICA BERGAMO - ABACAXI VERDE


ABACAXI VERDE
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 29/10/11

Um dos primeiros abacaxis que Aldo Rebelo, novo ministro do Esporte, terá que descascar é o do convênio da pasta com Sindafebol, sindicato presidido por Mustafá Contursi, ex-presidente do Palmeiras, que reúne associações do esporte. Há um ano, a entidade recebeu R$ 6,2 milhões para cadastrar 500 mil torcedores até a Copa. Até agora, nada. Mustafá e Aldo, também torcedor do Verdão, são amigos pessoais.

CONTA CORRENTE
O cartola diz que o sindicato está "finalmente finalizando as análises" do projeto. E afirma que na próxima semana dirá se consegue ou não realizar o cadastramento. Caso contrário, promete devolver o dinheiro.

PARABÉNS, BRASIL
Mustafá, que reaproximou Aldo Rebelo de Ricardo Teixeira (ele nega), está entusiasmado com a nomeação do amigo. "Não é porque ele é palmeirense. É porque o Aldo é pessoa de grande competência e sucesso em todas as atividades que realizou. O país está de parabéns."

MÃO AMIGA
O ex-ministro Orlando Silva e Lula conversaram logo depois que o primeiro anunciou sua saída do governo. O ex-presidente o convidou para uma conversa em SP.

FOSSO
Há tempos Luciano já não vinha fazendo questão de disfarçar seu distanciamento do irmão, Zezé Di Camargo. Há algumas semanas, o cantor convocou família e amigos para leilão de gado que realizou em SP. Luciano só apareceu na hora do show. No aniversário de Zezé, em agosto, não deu as caras.

E EU?
O advogado Roberto Podval não se conforma por seu nome não ter sido incluído na pesquisa Ibope sobre as próximas eleições da OAB-SP. Pré-candidato à presidência da entidade, diz que o resultado, que mostra Rui Fragoso com 31%, não reflete a realidade, já que não apresentou aos eleitores todos os nomes que estão na disputa.

EMENDA
O deputado Tiririca (PR-SP) pediu audiência com Andrea Matarazzo, secretário da Cultura de SP. Avisou que vai destinar R$ 3 milhões em emenda parlamentar à área.

BOTA E CHAPÉU
Roberto Carlos participa hoje de leilão de gado de Ivan Zurita, da Nestlé, em Araras (SP). Há quatro anos, o Rei arrematou um boi por R$ 1 milhão.

ESGANADA
A atriz Cristina Mutarelli brincou com Jô Soares, na quarta, na hora de receber um autógrafo no novo livro dele, "As Esganadas", na Livraria Cultura. "Você escreveu pra mim, né? Com esse título!" A obra fala de um assassino em série que persegue jovens gordas.

NOITE LUSA
Em jantar para comemorar seus 99 anos, anteontem, a Câmara Portuguesa de Comércio homenageou o presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, que estava acompanhado de sua mulher, Maria Cavaco Silva. A amazona Luiza Almeida foi ao evento na Hípica Paulista, que teve show da cantora Paula Lima.

HORA DO LANCHE
No início do ano, Pedro Andrade fez o curta "Mr. Burguer" para concluir um curso de animação em SP. Por sugestão da escola, o inscreveu no Festival de Cinema Brasileiro de Toronto. Ele recebeu o visto canadense no mesmo dia do embarque e acabou vencendo a mostra UpTo3, de trabalhos em animação ou novas mídias de até três minutos. O curta mostra um menino que engorda para ficar parecido com seu ídolo, o herói Mr. Burguer. "Sempre gostei de desenho, comida e crianças gordinhas. Quis fazer uma história com tudo isso junto", diz.

TEXTOS DE DOUTOR
Celso Mori e Priscila Corrêa da Fonseca foram ao lançamento do livro "Grandes Advogados", que eles coassinam. Pierre Moreau, organizador da obra, estava com a mulher, Roberta Spera, e a filha Nina, na Livraria da Vila do shopping Cidade Jardim.

CURTO-CIRCUITO
O Haras Larissa inaugura hoje, com almoço, a primeira fase de sua estrutura de esportes e serviços.

Henrique Prata, do Hospital de Câncer de Barretos, recebe no dia 2, em Nova York, prêmio da Fundação Avon por seu trabalho no combate ao câncer de mama.

A top piauiense Laís Ribeiro estrelará a nova campanha de Tom Ford.

A peça "Cartas a Génica", com a atriz francesa Carole Bouquet, será apresentada de 3 a 6 de novembro, no Sesc Belenzinho. Classificação etária: 16 anos.

Ricardo Kalili e banda se apresentam no dia 2, às 18h30, na Livraria da Vila do shopping Higienópolis.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

LEONARDO CAVALCANTI - Ainda faltam oito ministros


Ainda faltam oito ministros
LEONARDO CAVALCANTI 
CORREIO BRAZILIENSE - 29/10/11

Arranjos numéricos e política combinam pouco, e um observador desatento pode até acreditar em eventual ímpeto de Dilma de se livrar de todos os auxiliares de Lula. Não é bem assim, como você sabe

A conta é um tanto cínica, mas necessária. Dos ministros sobreviventes do governo Dilma Rousseff, oito ainda são da era Luiz Inácio Lula da Silva. Eles trabalharam diretamente com o ex-presidente e permaneceram na cadeira por força e obra do petista. Com as quedas de Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Nelson Jobim, Wagner Rossi, Pedro Novais e Orlando Silva — todos, de uma forma ou de outra, chancelados pelo nosso ex-ocupante do Palácio do Planalto —, resta a pergunta: quem será o próximo a abandonar o cargo?

Arranjos numéricos e política combinam pouco, e um observador desatento pode até acreditar em eventual ímpeto de Dilma de se livrar de todos os ministros de Lula. Não é bem assim, como você sabe. As circunstâncias levaram Dilma a demitir os seis auxiliares, cada um por um motivo. Cinco por envolvimento em malfeitos, a palavra da moda, e um, no caso de Nelson Jobim, por desavenças diretas com a presidente e a equipe ministerial.

Não há qualquer evidência de que Dilma esteja com a mira apontada para os homens e mulheres próximos de Lula no governo passado. Uma das razões é que Edison Lobão, Alexandre Padilha e Paulo Bernardo são benquistos. E, de mais a mais, Izabella Teixeira tem um perfil técnico que ela aprecia. Guido Mantega executa com eficiência os pedidos de Dilma. Fernando Haddad, por sua vez, está prestes a deixar o ministério da Educação para encarar a disputa pela prefeitura de São Paulo — isso se as trapalhadas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deixarem. Sobra Carlos Lupi, do Trabalho, que conseguiu sobreviver até aqui. Até aqui.

O que está claro é que Dilma não tem o mesmo estilo de Lula no quesito derruba ministros. Lula partia para a defesa dos aliados. Com Dilma, a discrição ainda é a regra, ainda que faça um ou outro discurso mais enfático. De uma forma geral, a presidente tomou decisões quando as crises mudaram a rotina de trabalho no Planalto. Foi assim com todos, incluindo Jobim. No caso de Palocci, até a queda, a agenda da presidente resumia-se a encontros para tratar das denúncias. A disposição dela vem quando a situação de um ministro torna-se insustentável. O próximo a cair será aquele que tirar Dilma dos afazeres na Esplanada por mais tempo do que ela é capaz de tolerar.

Outra coisa
Poucas declarações de ministros foram tão desastrosas quanto a de Fernando Haddad na última quinta-feira. Vamos a ela: “Está configurado o ato delituoso. Não há mais dúvida. Não foi por processo de memorização ou aleatoriedade que esses itens chegaram ao conhecimento dos alunos”. Epa! Primeiro, é um tanto antecipado o ministro apontar o “ato delituoso”. Afinal, a Polícia Federal abriu investigação apenas na noite da última terça-feira e a própria assessoria da corporação garantiu que a apuração está no início.

Depois, partir para cima e criminalizar qualquer elemento da escola cearense sempre será um ato arriscado quando está em jogo a falta de segurança do exame e a dificuldade dos gestores em aplicar uma prova do tamanho do Enem. No Palácio do Planalto, como mostrou este Correio ontem, avalia-se que o agravamento do caso deve complicar os planos do ministro em disputar a eleição para a prefeitura de São Paulo. O comportamento atual e as frases soltas de Haddad também serão levadas em conta pelos estrategistas políticos ligados ao ex-presidente Lula.

Rock in Rio
Diga-me. E você, o que acha sobre os ingressos recebidos pelos funcionários do Ministério da Cultura e dos Correios para o Rock in Rio?

GILLES LAPOUGE - Ajuda chinesa será limitada



Ajuda chinesa será limitada
GILLES LAPOUGE 
O Estado de S.Paulo - 29/10/11

Nicolas Sarkozy, logo que encerrou a reunião de cúpula de Bruxelas que salvou (momentaneamente) a Grécia e a zona do euro, telefonou para o presidente chinês Hu Jintao. No dia seguinte, o diretor do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), Klaus Regling, já estava em Pequim para uma reunião com o próprio Hu Jintao.

Essa pressa é emocionante. Mostra como a Europa está sedenta por euros, mesmo tendo que ir buscá-los numa fonte impura: a China. Esse país longíquo, emergente, comunista e, ao mesmo tempo, capitalista dá "água na boca" dos políticos e banqueiros europeus. Todos sonham com os US$ 3,2 trilhões que Pequim esconde nos seus cofres.

A China ascendeu ao status invejável de "terra prometida". O inconveniente é que ela é um país comunista, apesar de tudo. Mas e daí? Seus dólares e euros não são marxistas.

Recorrer aos chineses não agrada todo mundo. O "perigo amarelo" está também inscrito em euros. Pequim não estaria em vias de comprar por partes a Europa? Os chineses já se apoderaram do porto de Atenas e de uma parte importante da Islândia. E continuam a "fazer seu mercado" propondo fornecer dinheiro à zona do euro. Perigo! A verdade é menos diabólica. Mas uma coisa é certa: a Europa é o principal mercado para produtos chineses. Uma desaceleração da economia europeia e, uma razão mais forte, uma recessão ou um caos na Europa, significariam um golpe fatal à economia chinesa. Pequim, portanto, tem interesse em fornecer munição para a Europa, de maneira que o Velho Continente continue absorvendo a enorme produção chinesa.

Além disso, a China só consentirá em abrir seus cofres-fortes (a conta-gotas, e não mais do que 70 bilhões) se a Europa oferecer contrapartidas. E a mais urgente é essa: Pequim quer obter o estatuto de "economia de mercado" imediatamente e não esperar até 2016, como foi previsto pela Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse pedido já tinha sido apresentado em setembro pelo primeiro-ministro Wen Jiabao. E foi rejeitado pela Europa, que teme ser invadida pelas quinquilharias chinesas. Mas os chineses são obstinados. Os cofres-fortes de Pequim somente se abrirão se lhe for concedido o estatuto de "economia de mercado".

Uma outra exigência: a União Europeia decretou um embargo sobre vendas de armas para a China, para punir o país depois da sangrenta repressão do movimento democrático de 1989, na Praça Tiananmen. A França é favorável à suspensão do embargo, mas, entre os 27 membros da União, nem todos concordam.

Portanto, é flagrante que a China não virá facilmente em socorro do euro. A negociação será ainda mais tensa porque a China, por seu lado, começa a sofrer uma desaceleração da sua economia. A crise começa a rondar o país. Pequim tinha um programa de trens de grande velocidade ambicioso. Foi suspenso. A interrupção desse programa colossal deixou 3 milhões de operários desempregados, pois os quatro bancos do país se recusam a fornecer mais empréstimos para o ministério de estradas de ferro.

Será o momento, é o que pensa uma população cuja renda é precária, de emprestar bilhões de euros aos europeus? / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

GOSTOSA


CELSO MING - E se não vier a tempestade?



E se não vier a tempestade?
CELSO MING 
O Estado de S.Paulo - 29/10/11

Contra todos os prognósticos da meteorologia, o capitão Vasco Moscoso de Aragão ordenou que seu navio, fundeado no Porto de Belém, fosse fortemente amarrado para que estivesse preparado para enfrentar violenta tempestade. O que parecia improvável de fato aconteceu. Mas, porque foi bem preso, o navio do capitão-de-longo-curso foi dos poucos que se salvaram. É a história deliciosa que conta Jorge Amado em Velhos Marinheiros.

O Banco Central do presidente Alexandre Tombini opera diferentemente do capitão Vasco Moscoso de Aragão. Conta, sim, com um furacão global que deixará o Brasil mais ou menos ileso e avisa que ajusta a política monetária (política de juros) de acordo com essa percepção.

Agora se sabe que, ao contrário da aposta feita pelo Banco Central, a borrasca ficou bem menos provável. Apesar disso, a inflação pode recuar, por motivos diferentes dos que estão nos arrazoados do Banco Central, repetidos quinta-feira na última Ata do Copom.

Desde agosto, a política monetária do Banco Central está baseada em dois pressupostos que provavelmente não se concretizarão. O primeiro deles é a já mencionada catástrofe econômica global. O efeito esperado seria forte baixa das cotações das commodities, especialmente dos alimentos, que, por sua vez, deveria produzir desinflação global e, assim, retirar pressão sobre a inflação interna.

O acordo obtido nesta semana para circunscrever a crise europeia e os esquemas acertados para evitar uma quebra em cadeia dos bancos sugerem que ficou mais difícil que o pior aconteça. A tendência agora é que os preços das commodities voltem a subir. O segundo pressuposto é a desaceleração do sistema produtivo interno (o crescimento do PIB do Brasil deste ano não deverá ser superior a 3,5%), que se encarregaria de baixar o consumo e de esvaziar a inflação.

Pelo menos três fatores trabalham contra esse prognóstico. Apesar da retórica oficial, que prefere dar ênfase a uma suposta "moderação" na criação de empregos, o mercado de trabalho continua aquecido e deve contribuir para um importante aumento da massa de renda a partir de janeiro, quando o salário mínimo for reajustado em algo em torno de 14%. O avanço do estoque de crédito, que deveria recuar para a faixa dos 15%, na verdade está retomando a aceleração e, em setembro, crescia a 19,6% em 12 meses. E, embora a indústria trabalhe em marcha bem mais lenta, o setor de serviços se expande a quase 10% ao ano.

Tudo isso não significa necessariamente que a convergência da inflação para a meta de 4,5% em 2012 não ocorra num ambiente de afrouxamento monetário (queda dos juros). Somente torna a realização do prognóstico bem mais difícil.

O que pode dar razão ao capitão-de-longo-curso Alexandre Tombini é uma terceira variável que viria a ser reforçada - não por ele, mas pelo governo. Trata-se do aprofundamento do ajuste fiscal. A presidente Dilma Rousseff parece mais comprometida a "abrir espaço para a baixa dos juros", por meio da redução das despesas públicas.

Seria projeto de execução mais complicado num ano eleitoral como o de 2012, mas, se não se cumprirem as expectativas catastrofistas com que vem trabalhando o Banco Central, esse objetivo bem que poderia ser levado a termo, para permitir que os juros básicos fossem derrubados a 9% sem grande impacto na inflação.

O PRESENTE DE DILMA PARA LULA

O PRESENTE DE DILMA PARA LULA


FERNANDO RODRIGUES - Um país melhor


Um país melhor 
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 29/10/11

BRASÍLIA - O debate de quase uma década sobre a Lei de Direito de Acesso a Informações Públicas acabou circunscrito de maneira exces siva ao tema dos documentos secretos e ultrassecretos.
Sobretudo porque aqui, no Brasil, existia a regra, legal, do sigilo eterno -renovações sucessivas do segredo, de maneira indefinida.
Essa obsessão se materializou por um motivo principal: o fato de a ditadura militar brasileira, entre várias da América Latina, estar no grupo das menos esclarecidas.
Muitos especialistas se espantaram no exterior com a ênfase dada ao fim do sigilo eterno no Brasil. Rosental Calmon Alves, professor de jornalismo na Universidade do Texas, em Austin, considera mais relevante o conceito de dar transparência aos atos cotidianos da administração pública. "Os documentos secretos são uma parte ínfima do que o Estado produz", diz ele.
Rosental está certo. E esse é o maior desafio da aplicação da lei: implantar uma cultura de transparência pró-ativa sobre todos os atos dos governos em todos os níveis. Órgãos e entidades aqui em Brasília, nos Estados e nas cidades terão de seguir a "observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção", diz a nova regra. Precisam divulgar "informações de interesse público, independentemente de solicitações".
Como demorou mais para nascer, a lei brasileira determina também que seja "obrigatória" a divulgação dos dados na "rede mundial de computadores (internet)".
O governo terá de possibilitar "a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações".
São avanços enormes. Se vierem a se tornar realidade, claro. Dependem dos governos e da pressão dos cidadãos. Dando certo, o Brasil certamente será um país melhor.

RUY CASTRO - Peritos na lei


Peritos na lei 
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 29/10/11

Uma grã-fina carioca disse ao marido, poderoso empresário, que sua vida estava um tédio. Não suportava mais a rotina de piscina, cabeleireiro, almoço com as amigas, chá beneficente e boate. O marido sugeriu-lhe quebrar a monotonia. Que tal fazer um curso de cerâmica, adotar um órfão vietnamita ou dirigir o "house organ" da empresa? Ela escolheu a última hipótese – e disso, em 1968, surgiu a lendária revista Diners.
O fato de um curso de cerâmica ser uma opção de vida dá uma ideia do prestígio que certas atividades extracurriculares podiam ganhar de repente. Nos anos 50, por exemplo, milhares fizeram o curso da Tabela Price. E com razão: não se comprava um pirulito a prazo que não fosse pela Tabela Price – um método complicadíssimo para calcular as parcelas de amortização de um empréstimo ou algo assim. Até pessoas que só pagavam à vista se sentiam na obrigação de fazer o curso.
Outro "must" dos anos 50 e 60 era o curso de etiqueta da Socila, no Rio, que ensinava a descer escadas com um livro na cabeça. Ou o de danças de madame Poças Leitão, em São Paulo, onde, de quebra, aprendia-se a deixar de roer as unhas. Um curso obrigatório em 1970 era o do parto sem dor – uma amiga minha fez, tendo como colega Leila Diniz; na hora do parto, doeu horrores e ambas acabaram na cesariana.
E o que dizer dos cursos de ikebana, feng shui, enfeite de Natal, dança do ventre, bordar arraiolo ou pintar ovos de Páscoa? E o cursilho? Todos tiveram o seu dia.
A nova doença nacional são os cursos de Lei Rouanet. E por que não? Não se monta hoje um circo de pulgas no Brasil sem a bênção da Lei Rouanet. Mas ela tem nuances e mistérios indecifráveis. Por sorte, há agora tantos cursos ensinando a nos "capacitarmos" que logo seremos quase 200 milhões de peritos em Lei Rouanet.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Eminência parda
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 29/10/11

Objeto da penúltima troca ministerial, há pouco mais de um mês, o Turismo virou palco de disputa entre o atual titular, Gastão Vieira, e o PMDB, que ele supostamente representa. Nomeado sem apoio real da bancada na Câmara, o maranhense sofre uma série de contestações dos correligionários. Segundo eles, quem manda mesmo no ministério hoje é Walfrido dos Mares Guia, ex-ocupante da pasta e amigo do peito de Vieira.
Peemedebistas atribuem a Walfrido a indicação de Suzana Dieckmann para a Secretaria de Desenvolvimento, a mais importante do ministério, em detrimento de Fábio Rios Mota, respaldado pelo líder do partido.

Muita calma... À frente da bancada, Henrique Eduardo Alves (RN) diz que a troca de Dieckmann por Rios Mota, indicado pelo PMDB da Bahia, está assegurada. Gastão Vieira de fato prometeu rever a nomeação, mas, até ontem, a medida não havia saído no "Diário Oficial".

...nessa hora De todo modo, Suzana Dieckmann não ficará ao relento. Será transformada em assessora especial do ministro.

Prazo de validade O contencioso no Turismo já leva setores no PMDB a defender que Gastão Vieira seja descartado na reforma ministerial prometida por Dilma para o início de 2012.

A postos Por telefone, Orlando Silva cumprimentou Lula pelos 66 anos. "Presidente, estou com tempo de fazer política em São Paulo. Me mobilize", disse o ex-titular do Esporte. Ele confirma presença na posse de Aldo Rebelo, segunda. "Estou com o discurso pronto."

In loco A saraivada de críticas ao funcionamento do Galeão motivou o presidente da Infraero, Gustavo do Vale, a convocar reunião extraordinária da diretoria da estatal no próprio aeroporto nesta segunda-feira.

Resolve aí Dilma incumbiu Gleisi Hoffmann de pilotar as negociações para que o programa Ciência sem Fronteiras, de concessão de bolsas a estudantes brasileiros no exterior, decole. A chefe da Casa Civil tem dedicado um bom tempo a conversas sobre o assunto com Eletrobras, Abdib (associação da indústria de base) e outras entidades empresariais.

Quem sai Alegando questões pessoais, o secretário Emanuel Fernandes (Planejamento) avisou Geraldo Alckmin que deixará o cargo para retomar o mandato de deputado federal. Será a quarta baixa no primeiro escalão de SP -já saíram, por razões distintas, João Sampaio (Agricultura), Jorge Pagura (Esportes) e Guilherme Afif (Desenvolvimento).

Quem entra A saída de Emanuel reabre a disputa pelo comitê da Copa, presidido por ele. Para o Planejamento, o governo não tem substituto natural. Para assumir as ações relativas ao Mundial de 2014, um dos cotados é Edson Aparecido (Desenvolvimento Metropolitano).

Quem vota Tanto ou mais do que a data, o elemento complicador das prévias tucanas para a prefeitura paulistana é o colégio eleitoral. O número de 20 mil votantes ainda é sujeito a debate. Muitos temem que a consulta seja barrada na Justiça.

#prontofalei Assim como havia ocorrido quando criticou a direção do PSDB-SP, Aloysio Nunes escolheu uma sexta-feira para disparar sua metralhadora via Twitter, desta vez contra a cúpula nacional da sigla, por não ter posição sobre o Código Florestal e a reforma política. Diante da coincidência, um tucano concluiu: "Virou dia de sessão de descarrego".

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio
"Lula e Dilma deram o Esporte ao PC do B e disseram: resolve aí o problema do partido. Só esqueceram de combinar com a imprensa e com o Judiciário. Deu no que deu."
DO DEPUTADO SÉRGIO GUERRA (PE), presidente nacional do PSDB, sobre a sucessão de denúncias que derrubou Orlando Silva do primeiro escalão.

contraponto

Casa de oração
Em recente sessão da comissão especial encarregada de analisar o projeto de prorrogação da DRU (Desvinculação de Receitas da União), o debate avançava pela madrugava quando o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) recorreu a um salmo para defender o dispositivo. O colega Ronaldo Caiado (DEM-GO) interveio:
-A esta hora? Eu espero poder convertê-lo...
Felipe Maia (DEM-RN) arrematou:
-Puxa, tenho dois companheiros religiosos: o padre Luiz Couto (PT-PB) e, agora, o pastor Eduardo Cunha.

GOSTOSA


ALBERTO GOLDMAN - As políticas do BC e nossas convicções

As políticas do BC e nossas convicções
ALBERTO GOLDMAN
O ESTADÃO - 29/10/11

Alguns analistas insistem em destacar pretensas semelhanças entre as políticas do Banco Central (BC) nos períodos Lula e FHC, consideradas neoliberais. Acusam setores do PSDB - chamam "de esquerda" - que, por criticarem as altas taxas de juros praticadas pelo BC, estariam apoiando um pretenso "programa da atual coalizão governista" que vem promovendo a redução dessas taxas.

Ora, a política implantada por FHC não teve nada de neoliberal. Ao contrário, expressa a tentativa (bem-sucedida) de dar parâmetros de funcionamento ao mercado financeiro interno, que vinha em ebulição a partir do rompimento da âncora cambial, e viabilizar as contas externas, em face das crises asiática e russa. Três foram, então, os instrumentos concatenados. O primeiro foi o fiscal, para dar solidez à percepção sobre a capacidade do Estado de honrar seus compromissos. O segundo foi o cambial, com a flutuação via mercado e intervenções ocasionais do BC, para mitigar a formação de posições especulativas, danosas às contas externas brasileiras. O terceiro, a grande inovação, foi o regime de metas de inflação, que tinha como objetivo balizar as expectativas dos agentes econômicos no sentido da convergência para as indicações do BC de que se utilizaria da taxa Selic como ferramenta principal, mas não exclusiva, de correção de rumos.

No período Meirelles os instrumentos foram os mesmos, mas as diretrizes e a execução, diferentes. Em 2003, o BC conduziu o regime de metas de inflação da forma mais ortodoxa possível. Explicitou ao mercado que a meta seria cumprida a qualquer custo, fosse qual fosse a redução do produto. Por isso, a taxa de juros foi manipulada para níveis inimagináveis numa situação de ausência de crise no front externo. O PIB brasileiro avançou apenas 1,15% e a indústria de transformação caiu 0,2%, enquanto o mundo crescia, mas a inflação, medida pelo IPCA, se manteve em 9,3%. Enquanto isso os lucros do setor financeiro aumentavam. Nem em 2004 a inflação chegou próxima da meta - foi 7,6% -, caindo apenas com a enorme valorização do real em 2005 e 2006. O resultado na inflação foi pífio, mas a demolição do emprego e do produto foi profunda.

Essas não foram as únicas diferenças entre as políticas econômicas de FHC e Lula. O BC de Lula simplesmente não viu a farra dos derivativos no período pré-crise internacional, assim como nunca conseguiu atuar contra a enorme valorização do real, calcada no diferencial entre as elevadíssimas taxas de juros praticadas no mercado doméstico ante as baixíssimas taxas vigentes no mundo. Mas foi na crise mundial de 2008 que o BC de Lula mostrou o quanto não tinha compromissos com a produção e o emprego. Enquanto o mundo reduzia suas taxas de juros a zero, o nosso BC aumentava o seu diferencial ante o resto do mundo.

Outras diferenças foram marcantes. As reformas estruturais no governo FHC foram levadas adiante. Nessa área Lula nada fez e Dilma nada faz. Eu mesmo, que já tinha iniciado, como ministro dos Transportes do governo Itamar, as concessões de rodovias federais e participado como membro, relator e presidente das comissões que, na era FHC, deram os pareceres sobre as reformas nas áreas de infraestrutura, pude aquilatar a inação nos dois últimos governos, quando não o desmonte do que havia sido feito. Só agora o BC começa a promover uma baixa da taxa de juros e a enfrentar o desafio de trazer o setor privado, ainda de forma lenta, envergonhada e incompetente, para construir a infraestrutura do País. É pouco, mas pode significar uma mudança de rota.

Afinal, o que fazer diante do recrudescimento da inflação? O aumento da taxa de juros? Só porque a Dilma pretende baixá-la devemos renegar tudo o que sempre defendemos?

Claro, existem riscos, principalmente porque o governo atual não tem a coragem de enfrentar a questão fiscal, o que é necessário para o sucesso das ações do BC. Mas estamos muito longe de apoiar o "programa da atual coalizão governista". Até porque ele não existe.

Alberto Goldman:Engenheiro pela USP, vice-presidente nacional do PSDB, foi deputado, secretário de estado, ministro dos transportes e governador de São Paulo

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Aldo tem o Rebelo preso?!

Ueba! Aldo tem o Rebelo preso?!
 JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 29/10/11

Manda cimentar a Amazônia e faz um estacionamento pra Copa. E o Aldo tem o Rebelo Preso?

Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República! Socuerro! Todos para o abrigo! Salve-se quem puder! O mundo TEM que acabar! "Ozzy Osbourne vira vegetariano". Mas ele não comia morcego?! Mas nem um morceguinho criado em cativeiro? Já tá fazendo ioga também?
Em vez de comer morcego no show, ele vai comer algo mais exótico: couve-de-bruxelas! E sabia que, para preservar a espécie, morcego transa até com a sogra? Verdade! Por isso que eles transmitem raiva.
Rarará! Ainda bem que não nasci morcego!
E esta piada pronta: "Dilma presenteia Lula com dois livros". Rarará! E olha esta placa do edifício Messina: "Proibido circular com volume grande no elevador social". Entendi, quem tem volume grande só pelo elevador de serviço. Rarará! E esta: "Eike Batista quer administrar o Maracanã".
E o Amado Batista, o Itaquerão?! Rarará! Cada estádio com o seu batista. E mais esta: "Búlgaro campeão olímpico de levantamento de peso é preso em Cumbica com 9 kg de cocaína". O cara é campeão olímpico em levantamento de peso e não consegue carregar 9 kg? E é búlgaro. Deve ser parente da Dilma.
Só que a Dilma é campeã olímpica em levantamento de peso morto. E sabe o que a Dilma falou pro Aldo Rebelo? Aldo, Aldo, Aldo, cada um no seu quadraldo!
E o Aldo ficou famoso pelo Código Florestal. Ele vai desmatar os gramados. Rarará! Mas no Brasil agora tá assim: você tem um sítio na beira do rio, mas não pode fazer um buraco porque senão mata a minhoca!
Manda cimentar a Amazônia e faz um estacionamento pra Copa. E o Aldo tem o Rebelo Preso? Rarará!
E o Pan com ovo? Tá acabando! Tô estressado. Quero ouro em cadeira de praia! E o ranking das medalhas do Brasil: três ouros no judô, um no taekwondo, dois no boxe e três no caratê. PANcadaria! O Brasil é ouro em PANCADA!
E o Brasil é ouro em remo. Ótimo, na primeira enchente saem todos remando. E por que Ilhas Cayman só têm um ouro? E o monte de ouro que os políticos brasileiros mandam pra lá? Sub-representação!
E sabe por que Cuba não tá indo bem na natação? Porque os melhores nadadores já chegaram a Miami.
Rarará! E mais um predestinado! Funcionário da Caixa Econômica: AGÊNCIO Alves Salgado. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CLAUDIO DE MOURA CASTRO - Liberdade de cátedra, herança e ambiguidades


Liberdade de cátedra, herança e ambiguidades
CLAUDIO DE MOURA CASTRO
O Estado de S.Paulo- 29/10/11

Apesar de suas aspirações a arauto do progresso e da ciência, a universidade convive com algumas heranças do passado. Uma delas é curiosa, mas inofensiva.

Uma vez por ano, todos se vestem como na era medieval, com becas pretas e chapéus ridículos. Ora vejam, esses eram anos obscurantistas, carentes de liberdade de expressão e de leitura, pois nem a Bíblia podia ser lida sem autorização, arriscando-se os transgressores a terminar assados em praça pública. O individualismo era inaceitável e as irracionalidades borbulhavam. Por que, então, se fantasiam de Idade Média os membros de uma instituição que se propõe a ser o oposto disso tudo? Tais liturgias pitorescas, contudo, carecem de consequências nefastas.

Não obstante, há um outro resíduo do passado, este de grande relevância, pelo que tem de bom e de mau. Trata-se da liberdade de cátedra, postulada por Wilhelm von Humboldt ao propor o seu modelo de universidade, materializado na Universidade de Berlim, no início do século 19. Eram três os pilares. O primeiro, a liberdade dos professores para defenderem as suas ideias, por mais impopulares ou cáusticas que fossem. O segundo, a liberdade de escolher os tópicos de sua pesquisa. O terceiro, o certificado de garantia, plasmado na estabilidade da cátedra, impedindo que eles perdessem o emprego caso cutucassem os poderosos.

O papel dessas liberdades na História da civilização ocidental não admite dúvidas. Sua restrição é testemunha, com papel passado, dos autoritarismos de Hitler, Mussolini, Stalin e até dos episódios tristes do macarthismo. Mais adiante, a História da América Latina registra os choques dos professores com os ditadores de plantão e o papel corrosivo que tiveram essas colisões no encurtamento dos regimes autoritários.

Porém as leis mudaram o alcance desse princípio. De um lado, garantem essa liberdade para todos, portanto, também para professores. De outro, restringem a liberdade em certos assuntos. Por exemplo, defender racismo ou terrorismo é proibido ou pode trazer ações legais. Portanto, a liberdade de cátedra é parcialmente esvaziada pelo marco legal. Essa questão é jurídica e trata de um confronto entre lei maior e lei menor.

O que sobrou? Um lado bom, um lado supremamente embaralhado e um lado ilegítimo.

O lado bom - Da intenção original de garantir liberdade política, nada a remendar, nem pensar em fragilizar tais garantias.

O lado embaralhado - A versão original da liberdade de cátedra começa a mostrar seu desgaste e suas ambiguidades. Que liberdade deve ter um professor de uma instituição católica para pregar que Deus morreu? Numa instituição privada, com fins de lucro, os professores terão liberdade de pregar a queda do sistema capitalista? E nas públicas? Os professores de História devem poder pregar em seus cursos uma visão marxista da História ou o materialismo dialético - como ocorre amiúde? Que liberdade deve ter um professor para entrar em rota de colisão com as políticas e crenças dos donos da instituição? Nesses assuntos, estamos num limbo. Pessoalmente, vejo a necessidade de limites. Com direitos vão as responsabilidades. Há padrões de rigor intelectual a serem respeitados. Minimamente, os dois lados de uma controvérsia devem ser apresentados, afinal, a cátedra é para educar, não para doutrinar ou convencer. E há os "combinados". É no contrato inicial do professor que se determina o que pode e o que não pode.

Podemos estender essas liberdades para o ensino básico? Será que devem incluir a forma de ensinar? A escola deve ter o direito de impor uma linha pedagógica aos seus professores? Visto do outro lado, o professor deve ser livre para escolher o seu método? O alcance da liberdade deveria ser diferente em escolas públicas ou privadas? Novamente, é preciso acertar antes.

A liberdade de pesquisa, aparentemente tão anódina, não é menos prenhe de ambiguidades. Nossa pesquisa até que é abundante, mas padece de uma crônica pulverização temática, impedindo a criação de massa crítica em alguns temas estratégicos para o País. Se há completa liberdade de escolha de tema, estaremos condenados a seguir com esse picadinho? É possível orientar a pesquisa pelos financiamentos. Mas isso apenas transfere o problema para os professores que vão decidir os assuntos financiados. Quanta liberdade devem ter, diante do que o Estado percebe como prioridades estratégicas para a Nação?

O lado ilegítimo - O conceito de liberdade se espraia para assuntos administrativos, alcance ainda mais nebuloso. O princípio vem sendo invocado para justificar a liberdade de ensinar o que está fora das ementas, de não as seguir ou de criar as suas próprias, ao arrepio da orientação acadêmica da instituição. Ou de oferecer um ensino fora da qualidade esperada ou aulas sem preparação adequada. Tampouco é defensável o direito de não cumprir os horários estabelecidos.

Parece razoável supor: quem foi contratado e ganha para fazer pesquisa não tem liberdade para não fazê-la. Na prática, é descomunal a proporção de professores das federais que não faz pesquisa, apesar de contratados em tempo integral. Estamos espichando demais.

No fundo, vivemos uma situação triplamente delicada. 1) A liberdade de cátedra distanciou-se dos propósitos de Humboldt, entrando em territórios pantanosos. 2) Sua extensão para a gestão do ensino, além de ilegítima, está sendo usada para justificar irresponsabilidades. 3) Finalmente, nem há discussão séria sobre o assunto nem se forja um consenso acerca dos limites dessa liberdade. Nesse assunto, vivemos no pior dos mundos, com um princípio nobre sendo brandido ou interpretado ao sabor das conveniências.

GUILHERME FIUZA - Orlando, ocupe Wall Street!



Orlando, ocupe Wall Street!
GUILHERME FIUZA
O GLOBO - 29/10/11

Orlando Silva é inocente. Ou, pelo menos, quase inocente. Estava apenas cumprindo o script preparado por seus caciques - aqueles que apareceram de cocar em Manaus, inaugurando uma ponte de R$1 bilhão. Pode-se imaginar a perplexidade do ex-ministro dos Esportes, em suas conversas privadas com Dilma e Lula sobre a crise no seu ministério: "Ué, não pode mais pegar do Estado pra engordar o partido? Ninguém me avisou nada."

Provavelmente Orlando Silva não usou essas palavras. No dialeto da tribo, as coisas têm nomes mais sonoros: cidadania, capacitação, implementação, inclusão, vontade política, espírito republicano, contrapartida social. Os quase R$50 milhões desviados de convênios com o Ministério dos Esportes - para ficar só no que a Controladoria Geral da União enxergou - também não devem ter entrado nas conversas do ex-ministro com os caciques. Todos ali sabem que a vontade política dos companheiros é grande, e a carne é fraca.

O fato é que Orlando Silva tinha razão. Estava seguindo à risca o programa de governo de Dilma Rousseff, isto é, colonizando o Estado brasileiro em benefício político e pessoal dos companheiros. Por que seus chefes iriam questioná-lo agora?

Como se sabe, a tecnologia do mensalão foi testada e aprovada no primeiro mandato de Lula. O duto entre os cofres públicos e a tesouraria do PT funcionou bem e saiu barato: o presidente foi reeleito, Delúbio voltou ao partido com festa, João Paulo Cunha assumiu a principal comissão da Câmara dos Deputados. Abre-alas de Marcos Valério na magia dos contratos publicitários com o governo, Luiz Gushiken continua mandando e desmandando à sombra, e nem julgado será. Seu nome sumiu do processo do mensalão - aquele que, em sono profundo no Supremo Tribunal Federal, proporcionou aos mensaleiros a preservação da espécie.

O PCdoB não fez nada de mais. Apenas reproduziu no Ministério dos Esportes a tecnologia consagrada pela Justiça, pelo Congresso e pelo povo na cúpula do governo popular. Orlando Silva teria todo o direito de perguntar aos caciques: a implementação do processo de inclusão dos companheiros vai acabar logo na minha vez, cara-pálida?

Mas não foi preciso. Diante dos milhões de reais vazando a céu aberto no festival de convênios, capacitações e farta distribuição de cidadania, Dilma Rousseff tomou uma decisão de estadista: chamou Lula. E este, do alto de seu espírito republicano, não hesitou: mandou Orlando Silva e o PCdoB resistirem. Tratava-se evidentemente de denuncismo da mídia, fenômeno que o ex-presidente diagnostica muito bem.

Foi Gilberto Carvalho, secretário geral da Presidência (e da ex-Presidência), quem explicou por que Dilma decidira apoiar o ministro dos Esportes: "O governo não quis entrar no clima de histeria."

De fato, o clima de histeria é o grande inimigo do governo popular. E, para piorar, o Supremo Tribunal Federal, histérico, decidiu investigar Orlando Silva. O que essa gente aflita tem contra os convênios, as ONGs e a cidadania esportiva?

É preciso acabar com esse clima de histeria, antes que ele acabe com o governo. Os ministros dos Transportes, da agricultura, da Casa Civil e do Turismo foram vítimas da mesma onda histérica. Todos foram publicamente apoiados por Dilma antes de cair, e elogiados por ela após a descida da guilhotina. Também tinha sido assim com Erenice Guerra, que privatizara o Gabinete Civil com seus entes queridos e caiu de pé, efusivamente abraçada por Dilma em sua posse na Presidência. Em todos os casos, a mensagem foi clara: os métodos da turma estavam OK, o problema foi a tal da histeria.

Ao mandar Orlando Silva resistir, Lula estava exigindo o cumprimento de sua ordem unida após a degola dos outros ministros: "O político tem que ter casco duro."

Faz sentido. Os superfaturamentos no Dnit, os convênios piratas no Turismo, o tráfico de influência na agricultura, a consultoria milionária de Palocci, os desvios na Bolsa Pesca, o ralo não governamental nos Esportes e outras peripécias da aliança progressista de esquerda que manda no Brasil são irrelevantes. Ou melhor: são a alma do negócio, mas isso é assunto deles. O importante é neutralizar as manchetes e manter o cabide. Com casco duro.

A imprensa burguesa atrapalha um pouco, criando o clima de histeria, mas isso não vai longe. No escândalo dos Esportes, como sempre, a opinião pública vai consumir o caso do comunista degenerado e virar a página. Nem se dará conta de que Orlando Silva é a enésima confirmação de um projeto parasitário instalado no Estado brasileiro - essa mãe gentil dos companheiros de casco duro e cara idem.

Aliás, a farra das ONGs de Orlando teria continuado intacta se dependesse do bravo Movimento Brasil contra a Corrupção. Não se viu uma só vassourinha nas ruas. Deviam estar ocupando Wall Street.

GUILHERME FIUZA é jornalista.