quarta-feira, outubro 26, 2011

ANCELMO GOIS - A TV de Milton


A TV de Milton
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 26/10/11

Milton Nascimento, o cantor, está viciado em... “Malhação”, a novela da TV Globo. É que um afilhado seu, Pedro Bernardo, vive o jovem Dieguinho na trama.
Milton, aliás, torce pelo amor de Guido (Gil Coelho) e Laura (Letícia Spiller). Não é fofo?

A ANTIGA FÁBRICA da Skol, em Inhaúma, perto do Complexo do Alemão, onde 600 famílias moravam em condições precárias em galpões abandonados (veja a foto ao lado), vai virar conjunto habitacional. A Secretaria estadual de Obras construirá ali 640 apartamentos, áreas de lazer e quadras esportivas (veja o projeto acima). A antiga fábrica, fechada em 1994, foi invadida por moradores de áreas de risco do Alemão, em 2000, depois de um grande incêndio. Na ocasião, o prédio foi saqueado e, então, dividido em áreas batizadas como “Palace II” e “Ilha da Sedução”. Não havia janelas, banheiros nem elevadores. A secretaria vai preservar a velha chaminé da fábrica como um marco da comunidade. Vamos torcer, vamos cobrar

Prestes e o PCdoB
Luiz Carlos Prestes Filho, 52 anos, e a mãe, Maria Ribeiro Prestes, 81, filho e viúva de Luís Carlos Prestes (1898-1990), enviaram carta ao PCdoB “para agradecer a homenagem ao Cavaleiro da Esperança”.
Em questão, a citação ao grande comunista no programa do partido na TV, em meio a denúncias contra a legenda e o ministro Orlando Silva, seu filiado.

Laços de família...
A carta, na verdade, é resposta a outra enviada ao PCdoB por Anita Leocádia, filha de Prestes com Olga Benário, para, ao contrário deles, condenar o uso da imagem do pai neste momento:
— Desejamos que os outros partidos (PSDB, DEM, PSD, PDT, PSB...) sigam o exemplo. O povo, mais que seus filhos, netos e bisnetos, é o herdeiro de Prestes.

Carro e petróleo I
Sérgio Cabral terá hoje um novo papo com Dilma, no Planalto, sobre a questão dos royalties.
Ainda tem “esperança de que a presidente não permita que o Rio seja vítima dessa covardia”.

Carro e petróleo II
O papo será após Dilma receber, ao lado de Cabral, o francês Thierry Peugeot, que anunciará a duplicação da fábrica da Peugeot-Citroen em Porto Real, RJ (a produção vai pular de 200 mil para 400 mil carros/ano).

Cadê meu feriado?
Servidores federais estão de beicinho com Dilma.
É que a presidente publicou ontem no DO, em cima do laço, portaria que cancela o feriado do Dia do Funcionário, sexta agora. Adiou para 14 de novembro.

Marcados para morrer
A Turner/CNN prepara uma série sobre brasileiros ameaçados de morte.
Dirigida por Emílio Gallo e produzida por Nelson Hoinneff, terá 13 episódios, cada um com um personagem diferente. Será exibida nos países de língua latina e nos EUA, em 2012.

Lá e cá
Uma quadrilha de taxistas chineses tem agido em parceria com atendentes de hotéis. O hóspede pede um táxi, o funcionário chama um do bando e recebe sua parte depois (o bandalha frauda o taxímetro). Um parceiro da coluna caiu.
Não é aqui, mas em... Paris. Deve ser terrível... você sabe.

Cofrinho do Rappa
O Rappa, a banda que voltou aos palcos depois de dois anos, já captou de investidores, nesse retorno, uns R$ 2 milhões para seus novos projetos.

ZONA FRANCA
Hoje será inaugurada a Clínica da Família Aloysio Augusto Novis, na Avenida Brás de Pina 651.
João Máximo fala de João Saldanha, hoje, às 16h, na Biblioteca Nacional.
Creb faz sábado I Simpósio Avançado de Corrida, dirigido por Rodrigo Kaz.
Hoje será lançado o livro “A poesia é para comer”, no Café do Teatro do Jardim Botânico.
O advogado João Basílio dará aula sobre locação em shopping center, amanhã e sexta, na PUC-Rio.
World Study faz 10 anos de Rio.
Hoje, Muniz Sodré faz palestra no Teatro Casa Grande, no Leblon.
Luiz Aquila fará a instalação coletiva “Pelada plástica”, hoje, na Uniarte, em Dourados, MS.
O criminalista Gustavo Auler dá curso Direito para Jornalistas no Ibeex.

‘Advogays’
O Sindicato dos Advogados do Rio negocia com os patrões um acordo coletivo para permitir que o parceiro do mesmo sexo do doutor empregado seja reconhecido como “companheiro” e tenha todos os benefícios dados pelo escritório. Eu apoio.

Diário de Justiça
O juiz Gustavo Menezes, do Rio, condenou a americana Continental Airlines a indenizar em R$ 25 mil a passageira Fabíola Fantinato.
Em 2010, Fabíola foi algemada por agentes gringos em pleno voo 128 (Houston-Rio) após se desentender com comissárias.

Cinema 6D
O Rio vai ganhar um cinema 6D (além da imagem em três dimensões, tem cheiros, movimentos, vento, frio, calor e até os pingos da chuva do filme).
Ficará no Shopping PátioMix Costa Verde, em Itaguaí.

A partilha
Para festejar os 20 anos de seu maior sucesso nos palcos, Miguel Falabella remontará, até o fim do ano, a peça “A partilha”.
O espetáculo, que gerou até filme dirigido por Daniel Filho, terá o elenco original, de 1991: Suzana Vieira, Natália do Vale, Arlete Sales e Tereza Piffer.

Calma, gente
Fiéis da Igreja Nova Vida, liderados pelo missionário Waguinho, o ex-pagodeiro, farão vigília na Praça Mauá, no Rio, amanhã, na porta de uma festa da revista “Vip” que vai celebrar as 100 mulheres mais sexy do mundo.
Missão: “exorcizar” as mulheres-frutas e mostrar a elas “o caminho do verdadeiro paraíso”.

RUTH DE Souza e Milton Gonçalves, nossos grandes atores, posam no aniversário de 79 anos do mestre Ziraldo 

SOPHIE CHARLOTE, a bela Maria Amália, da novela “Fina estampa”, da TV Globo, estará assim na revista “Quem” que chega hoje às bancas

PONTO FINAL
Esta foto de Lula e Dilma, segunda, em Manaus, fez um gaiato lembrar a lenda amazônica da índia Potira e do índio Itagibá. Diz que, um dia, Itagibá, que significa “braço forte”, deixou a aldeia para lutar e nunca mais voltou. Potira, que quer dizer “flor”, então, chorou, chorou, chorou... até Tupã, com pena, transformar suas lágrimas em diamantes valiosos, cobiçados por todos. É. Pode ser.

GOSTOSA


CRISTIANO ROMERO - O Brasil, entre Argentina e Turquia



O Brasil, entre Argentina e Turquia
CRISTIANO ROMERO
VALOR ECONÔMICO - 26/10/11


Não faltam entusiastas no Brasil do modelo de desenvolvimento adotado pela Argentina. As altas taxas de crescimento econômico que o país vizinho vem experimentando desde 2003 inspiram alguns a defender a adoção desse modelo aqui dentro. Outros vão além: as mudanças promovidas pelo governo Dilma Rousseff na política econômica que vigorou nos últimos 12 anos são um sinal de que caminhamos para o exemplo argentino.

A Argentina, ao contrário do Brasil e de um grupo representativo de nações em desenvolvimento, não adotou o regime de metas para inflação. Depois da falência, em 2001, do regime de câmbio fixo, passou a tolerar inflação alta e, claramente, a trabalhar com política monetária frouxa, política fiscal relativamente apertada, meta para a taxa de câmbio e prioridade ao crescimento a qualquer custo.

Com exceção de 2008 e 2009, quando seu Produto Interno Bruto (PIB) avançou, respectivamente, 6,8% e 0,8% por causa crise mundial, a Argentina não cresceu, desde 2003, menos que 8% ao ano. A inflação, no entanto, disparou nesse período e segue invencível. Com um agravante: desde o início de 2007, graças à intervenção política do governo Kirchner no Indec, o IBGE argentino, as estatísticas oficiais de inflação perderam credibilidade. Neste momento, por exemplo, a inflação, segundo o Indec, está em 9,9% ao ano, enquanto estimativas mais realistas indicam alta de 24%.

Tony Volpon, estrategista de renda fixa da Nomura Securities, disse, em relatório recente, que, embora os níveis argentinos de inflação não sejam politicamente aceitáveis no Brasil, três decisões tomadas pelo governo Dilma vão na direção do modelo da Argentina. A primeira foi o aumento do superávit primário; a segunda, o início de um ciclo de alívio monetário, mesmo com inflação esperada para 2012 acima da meta oficial; e a terceira, a imposição de controles de capitais, por meio de impostos.

"A estratégia de elevado crescimento perseguida pelas autoridades argentinas resultou em taxas de inflação que só rivalizam, na América Latina, com as da Venezuela", ironiza Volpon. O que aparentemente tem ajudado a manter a popularidade da presidente Cristina Kirchner, que se reelegeu de forma esmagadora na eleição de domingo, é o crescimento da renda real dos trabalhadores da economia formal.

De fato, a renda tem crescido desde meados do ano passado, embora não nos níveis declarados pelas autoridades - com a inflação expurgada, o crescimento real é superior a 16% ao ano; considerando a inflação real, é pouco superior a 1/5 disso. No Brasil, a renda real cresceu no período mencionado bem mais do que na Argentina e, em agosto, estava em 3,2% ao ano.

O desempenho favorável da renda real mitiga o impacto da inflação na percepção da população. Nos dois países, ela já está em queda, graças ao aumento da inflação e possivelmente ao desaquecimento da atividade econômica. É possível que o governo Dilma continue relevando os riscos de perda de popularidade associados à alta da inflação, em defesa de uma taxa mínima de crescimento econômico - 3% neste e no próximo ano.

Outro modelo citado em conversas dentro e fora do governo como passível de inspiração para o Brasil é o da Turquia. Ao contrário dos argentinos, os turcos possuem um regime de metas para inflação, mas, desde a crise de 2008, o vêm deixando de lado para priorizar a queda dos juros e taxas mais altas de crescimento. O custo da opção, embora não seja na mesma magnitude do incorrido pela Argentina, tem sido inflação elevada, permanentemente acima da meta oficial.

A Turquia derrubou os juros na marra em 2008 e 2009. A ideia por trás do movimento era a de que o país precisava testar o mercado, que estaria viciado em juros altos. Se necessitasse aumentar a taxa novamente para combater altas de preços, como já ocorreu depois do início do experimento, o faria a partir de um patamar mais baixo. Os juros, de fato, mudaram de patamar, mas a inflação se tornou saliente.

O caso brasileiro é mais complexo. Embora a presidente Dilma tenha dado a entender, em mais de uma ocasião, que a ênfase de sua gestão, neste momento, é garantir o crescimento, a despeito da inflação, o regime vigente ainda é o de metas para inflação, embora o governo trabalhe para flexibilizá-lo. Por esse regime, o Banco Central (BC) persegue a meta oficial. Se a inflação, que aparentemente começou a recuar, voltar a subir, o banco elevará os juros.

Há quem veja, no governo e entre simpatizantes de mudanças no tripé de política econômica vigente no Brasil, exemplos a serem seguidos tanto no modelo argentino quanto no turco. Falta combinar com o BC. Este surpreendeu o mercado com o início do alívio monetário antes do esperado, mas nas decisões e sinalizações recentes avisou que só tem uma meta: trazer o IPCA para 4,5% até o fim de 2012.

O governo tem expectativas distintas: quer que o BC controle a inflação, mas assegure uma determinada taxa de crescimento e uma certa desvalorização do real, em meio um patamar de gasto público elevado. Esse conflito de expectativas produzirá dias animados em Brasília nas próximas semanas e meses.

AS BRUXAS DO GOVERNO


ROLF KUNTZ - Uma ousadia de Dilma


Uma ousadia de Dilma
ROLF KUNTZ
O ESTADÃO - 26/10/11

A demissão do ministro do Esporte, Orlando Silva, poderá ser um passo para a presidente Dilma Rousseff cumprir a mais audaciosa promessa de seu discurso de posse: "melhoria dos serviços públicos" e um trabalho "permanente e continuado" para elevar a qualidade do gasto. Até agora, ela pouco fez para cumprir esse compromisso. O afastamento de vários ministros acusados de envolvimento em bandalheiras serviu, por algum tempo, para purificar o ambiente. Mas não produziu resultados de maior alcance. Os padrões da administração federal e do uso de recursos pouco ou nada mudaram, nem mudarão sem o abandono de costumes enraizados. O desafio é muito mais político do que administrativo. Até a incompetência gerencial, notória nos últimos anos, reflete uma concepção de poder e um estilo de ocupação da máquina pública. As irregularidades no Ministério do Esporte ilustram de maneira quase didática esses padrões. Isso talvez estimule a presidente a ir além da vassourada, agora, e começar um trabalho mais ambicioso de renovação de práticas e costumes.

Desde o início do programa Segundo Tempo, em 2004, entidades "sem fins lucrativos" foram beneficiadas com R$ 345,7 milhões, quase metade dos R$ 782,3 milhões aplicados pelo Ministério do Esporte. Uma fatia muito menor, R$ 270,6 milhões, foi destinada a municípios, segundo informações coletadas e analisadas pela organização Contas Abertas, uma das principais fontes de informação para quem quer saber como se usa o dinheiro público no Brasil.

Nem toda entidade "sem fins lucrativos" é criminosa, mas boa parte das malandragens com verbas públicas envolve organizações desse tipo. Os escândalos na área do Esporte não deixam dúvida quanto a isso. Além do mais, bandalheiras semelhantes têm ocorrido, de forma rotineira, em outros setores do governo. Nos 20 meses terminados em agosto, o Ministério do Turismo destinou R$ 120,5 milhões à qualificação de profissionais. Boa parte desse dinheiro foi entregue a ONGs - um número espantoso de entidades capacitadas, pelo menos do ponto de vista do Ministério, para ministrar cursos especializados.

A imprensa divulgou, na ocasião, algumas histórias notáveis de safadezas com dinheiro federal. A cúpula do Ministério caiu, foi substituída, e mais uma vez foi observado o critério de controle partidário. O enfeudamento da administração federal tem sido preservado pela presidente Dilma Rousseff, como se os partidos tivessem de fato direito sobre certas áreas do Executivo. No caso do Ministério do Esporte, o padrão aparentemente se mantém. Nos últimos dois dias, o noticiário sobre a possível demissão do ministro Orlando Silva incluiu referências a eventuais substitutos - todos vinculados ao PC do B.

Os escândalos têm sido acompanhados, com frequência, por informações sobre falhas no sistema de prestação de contas. ONGs e outras entidades, incluídas muitas prefeituras, demoram a apresentar relatórios sobre a aplicação do dinheiro recebido. Muitas nem sequer prestam contas. Além disso, os Ministérios nem sempre examinam as contas num prazo razoável.

Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), estavam acumuladas no Ministério do Esporte, no ano passado, 1.493 contas sem análise. Os atrasos, no entanto, são comuns na maior parte dos Ministérios e isso tem sido apontado com frequência pelo TCU. A fiscalização de fato acaba dependendo, enfim, do próprio Tribunal e da Controladoria-Geral da União, já que os Ministérios falham, muitas vezes, tanto nos critérios de distribuição de verbas quanto na cobrança de relatórios das entidades financiadas com dinheiro público.

O primeiro desafio da presidente Dilma Rousseff, se ela quiser cumprir a promessa de mexer na administração pública, será a reforma de certos costumes políticos. Não haverá mudança relevante na gestão federal enquanto Ministérios forem considerados feudos partidários. Isso vale, naturalmente, para autarquias e empresas. Em outros países a administração é muito mais profissional e os postos preenchidos politicamente são muito menos numerosos. Nenhuma lei divina condena o Brasil a continuar preso aos padrões atuais.

Mexer na administração será muito mais que uma tarefa moralizadora. Será uma forma de reforçar a democracia e, ao mesmo tempo, elevar a eficiência do governo. Nenhum dos grandes investimentos prometidos para os próximos anos será completado em prazo razoável sem uma boa chacoalhada na máquina federal. Centralizar os grandes programas no gabinete presidencial será apenas uma forma de remover os sofás e de contornar os problemas - com resultados obviamente duvidosos. Juscelino Kubitschek criou uma administração paralela, os Grupos Executivos, para implantar seu plano de metas. Seria loucura, hoje, tentar uma solução semelhante.

ILIMAR FRANCO - A crise se arrasta



A crise se arrasta
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 26/10/11

O governo Dilma esperava que as ondas contra o ministro Orlando Silva (Esporte) refluíssem. Mas a maré continua alta e a decisão do STF, de abrir inquérito contra o ministro, pedido pela PGR, deu combustível ao caso. Muitos aliados estão se perguntando: "Vamos resistir, mas até quando?". Há quem ache a causa inglória e argumente: "O ministro mais poderoso do governo Lula caiu (José Dirceu). O ministro mais poderoso do governo Dilma também caiu (Antonio Palocci)".

Divisão entre os comunistas
As irregularidades no Ministério do Esporte estão incomodando os parlamentares do PCdoB, partido do ministro Orlando Silva. A publicidade negativa afeta a todos. Além disso, a crise fez aflorar ressentimentos das últimas eleições para a Câmara dos Deputados em São Paulo. Consta que o ministro montou uma poderosa máquina eleitoral em favor do cunhado, Gustavo Petta, candidato a deputado federal, que em determinado momento chegou a ameaçar a reeleição do ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Nos debates internos, teme-se que o partido se isole dos aliados ao adotar a tática da guerra contra a mídia.

"O que vai acontecer aos ministros que roubaram bilhões de reais? Está escrito aí, está gravado aí: se um ministro desses pegar cadeia, eu renuncio, senadores!”
— Mário Couto, senador (PSDB-PA)

PUTIN-MEDVEDEV. Num dia desses alguém perguntou ao ex-presidente Lula: "Lula, você quer voltar?". Sua resposta: "Nós só não podemos deixar os nossos adversários voltarem". Foi o suficiente para que se comece a especular com a fórmula Vladimir Putin-Dmitri Medvedev. Putin foi presidente e Medvedev primeiro-ministro na Rússia. Depois inverteram os papéis. Agora, Putin se prepara para voltar a disputar a presidência.

Na marra
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deu preferência para o senador Fernando Collor (PTB-AL) ler seu substitutivo contrário ao fim do sigilo eterno de documentos oficiais. Não adiantou. Eles foram derrotados.

Esforço
Para tentar aprovar a reforma política na Comissão Especial, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) desistiu do voto duplo. Seu relatório vai propor o voto belga, no qual o eleitor vota na lista do partido ou no nome de um deputado.

Despacho roubado
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), determinou a abertura de investigação, pela Polícia Legislativa, para averiguar o roubo de um pé de arruda do hall do apartamento do deputado Paulo Magalhães (PSD-BA). "Esta Casa está obrigada a adotar um posicionamento firme para apurar o desaparecimento desse vaso de arruda, que nós colocamos com o objetivo de nos proteger dos maus-olhados e trazer alguns benefícios", disse Magalhães, na tribuna.

Unha e carne
Antes de apresentar emenda à Lei Orçamentária para conceder aumento real aos aposentados que ganham acima de um salário mínimo, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), se reuniu com o PSDB.

Vigilância
Nas audiências com seus ministros, nesta semana, a presidente Dilma pede que todos reforcem a fiscalização dos convênios com ONGs. Dilma alerta que não aceitará que seus ministros digam que não sabiam de eventuais problemas.

AS BANCADAS do Rio e do Espírito Santo podem entrar com mandado de segurança no STF para tentar impedir a votação da Lei dos Royalties pela Câmara. Vão alegar perdas irreparáveis para seus estados.

O DEPUTADO petista André Vargas (PR) diz que o fato de ser do partido do governo não fez com que suas emendas fossem liberadas: "Eles foram isonômicos".

O LÍDER do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), anda ameaçando deixar o partido. Reclama do tratamento recebido do governador Beto Richa (PSDB-PR).

RUY CASTRO - Ela iria ouvir



 Ela iria ouvir 
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 26/10/11 

RIO DE JANEIRO - Tom Jobim era exigente com as casas em que morava. Cuidava de que as janelas deslizassem nos encaixes, sem emperrar; que os corredores fossem espaçosos e iluminados; as escadas, com corrimão; os abajures se acendessem por interruptores nas paredes, para não ser preciso tatear no escuro; as torneiras, em formato de orelha de Mickey, fáceis de usar por mãos ensaboadas; a garagem, ampla para manobras.

O que importava era o conforto dos moradores. Donde nada de copos quadrados, pias baixas ou degraus altos, que podiam ser "modernos", mas, no fundo, eram falsas boas ideias. Sentado ao piano, bastava-lhe estender a mão para pegar o de que precisasse: pautas, partituras, lápis, um ou dois dicionários, fósforos, caixa de charutos, copo. A harmonia, parte tão importante da música, era essencial também para uma casa funcionar.

Pergunto-me o que Tom, morto em 1994, estaria achando do complexo aeroviário que desde 1999 leva o seu nome e que ele não pediu para batizar: o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim/Galeão. E não vamos sequer considerar as frequentes notícias de que a Polícia Federal apreendeu "200 kg de cocaína no Tom Jobim" ou que "traficantes de aves e animais silvestres operam pelo Tom Jobim" -ligando seu nome a práticas e produtos opostos a tudo que ele representava.

Basta ver o que o Tom Jobim significa hoje em termos de eficiência: aviões que demoram a receber autorização de pouso, desembarque demorado, péssima sinalização, alfândega e imigração caóticas, bagagem que leva uma hora para chegar, esteiras e escadas rolantes paradas, elevadores enguiçados, banheiros em mau estado, cheiro de urina no estacionamento, taxistas que se atiram.

Sorte da Infraero que Tom não seja mais usuário do aeroporto de que ela se diz administradora. Ela iria ouvir.

ANTONIO DELFIM NETTO - Origem da crise


Origem da crise
ANTONIO DELFIM NETTO 
folha de sp - 26/10/11

Para entender os movimentos dos "indignados" americanos e da "ocupação de Wall Street", é preciso considerar alguns fatos:

1) A renda per capita não cresce desde 1996;

2) A distribuição dessa renda tem piorado há duas décadas;

3) O nível de desemprego em abril de 2008 era de 4,8% da população economicamente ativa, o que, em parte, compensava aqueles efeitos;

4) Em janeiro de 2010, o desemprego andava em torno de 10,6% e, desde então, permanece quase igual (9,2%);

5) O colapso da Bolsa cortou pelo menos 40% da riqueza que os agentes "pensavam" que possuíam;

6) A combinação da queda da Bolsa com a queda do valor dos imóveis residenciais fez boa parte do patrimônio das famílias evaporar-se;

7) Ao menos 25% das famílias têm hoje menos da metade que "supunham" ter em 2008.
O grande problema é que a maioria dos cidadãos não entende como isso pode ter acontecido. Sentem que foram assaltados à luz do dia, sob os olhos complacentes das instituições em que confiavam: o poder Executivo e o Banco Central. Assistem confusos o comportamento do Legislativo. Pequenos grupos mais exaltados tentam reviver, com passeatas festivas de fim de semana, o espírito "revolucionário" de 1968, que deu no que deu...

É muito pouco provável que essa pressão leve a alguma mudança séria em Washington. Talvez algum efeito nos resultados da eleição de 2012. Isso não deixa de ser preocupante e assustador dado ao reacionarismo do influente Tea Party no partido Republicano e à pobreza intelectual dos seus atuais candidatos.

A história não opera em linha reta. Nada garante que, mesmo com as suas fortes instituições, o atual disfuncionalismo político americano não possa produzir algo ainda pior do que o que estamos vendo.
O último levantamento do Gallup (15 e 16 de outubro de 2011) perguntou a quem o consultado atribuía a crise que estava vivendo. As respostas foram: 64% ao governo federal; 30% ao comportamento das instituições financeiras e 5% não tinham opinião formada.

Modelos de previsão eleitoral como os de Ray Fair, da Universidade de Yale (adaptados no Brasil pelo competente analista político Alexandre Marinis), ainda dão uma probabilidade maior à reeleição de Obama -apesar de que quase dois terços dos americanos acreditam que ele é o responsável pela crise.

Injustamente, porque a crise é produto dos governos Clinton (democrata) e Bush (republicano), que se esmeraram em demolir, com a desculpa ideológica de que os mercados financeiros eram eficientes e se autocontrolavam, a regulação do sistema bancário construída por Roosevelt (democrata) depois da crise de 1929.

GILLES LAPOUGE - "A união não faz mais a força"


"A união não faz mais a força"
GILLES LAPOUGE 
O Estado de S.Paulo - 26/10/11

Hoje, os europeus, chamados com urgência a Bruxelas, pretendem salvar o euro. E provavelmente conseguirão. Eles já se habituaram a tirar da beira do abismo esta triste moeda, e sabem bem como fazê-lo. São profissionais: palavras, promessas, imprecações, créditos, austeridade e lirismos pérfidos. O euro poderá sair do hospital.

Mas em que condições? Num carro pequeno, com tubos no nariz, nas veias e nos rins, um pulmão artificial e um coração transplantado.

E retomará seu curso, se podemos dizer assim, até a próxima síncope.

Na espera, remédios tentarão fazer o possível: curas de austeridade ferozes, abandonos dos créditos pelos bancos que emprestaram para os países enfermos (Grécia), aumento do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), o "corpo de bombeiros" acionado para apagar, na Grécia e em outros lugares, os incêndios da dívida.

A multidão de médicos em volta do euro faz suas avaliações, preconiza remédios. E esses remédios são tantos que é impossível enumerá-los, tanto mais que já são bem conhecidos. Mas o martírio do euro é antigo, tão grave e sistêmico que, ao lado dos políticos, homens de finanças, banqueiros e especialistas, desta vez vozes mais raras, a dos intelectuais e filósofos, se erguem, tentando ler a crise nos eventos da história, da civilização.

O polonês Zygmund Baumant não se consola em ver o "sonho europeu" se transformar num "pesadelo". Ele não dá à Europa um atestado de óbito, mas um "atestado de vida a crédito".

São os alemães, "mestres da filosofia desde o século 18", que discorrem mais brilhantemente sobre a crise. Peter Sloterdjik analisa o uso deletério, demoníaco, do crédito: "Entramos num período em que capacidade do crédito de abrir um futuro sólido está bloqueada, porque hoje tomamos crédito para pagar outros créditos. O "creditismo" entrou numa crise financeira.

O ensaísta alemão Hans Magnus Eizenberger escreve ironicamente que "a união não faz mais a força, mas a coerção e o absurdo. Basta olhar para o Tratado de Lisboa, essa pseudo Constituição que serve de base para a União Europeia; ela coloca o cidadão europeu diante de dificuldades insuperáveis de leitura. (Poderíamos dizer uma barragem de arame farpado.)

O euro foi concebido nos bastidores como uma abstração.

Mas foi o maior dos filósofos alemães, Jurgen Habermas, da Escola de Frankfurt, que investe com mais violência: "A Europa entrou numa era pós-democrática". Ele teme que Nicolas Sarkozy e Angela Merkel concluam uma espécie de pacto entre "o estatismo francês e o liberalismo econômico alemão, em detrimento da legitimidade democrática". De que maneira? Habermas responde: "Governos de diferentes Estados, e não os representantes dos cidadãos europeus, decidiriam no lugar destes últimos a alocação das verbas orçamentárias nacionais pelo Conselho da Europa. O risco de um curto-circuito da democracia é grande."

E ele troveja. "Os chefes de governo transformarão o projeto europeu no seu contrário: a maior comunidade supranacional democrática legalizada se tornará o órgão da dominação pós-democrática". / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

EDITORIAL O ESTADÃO - Uma zona risonha e franca


Uma zona risonha e franca
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 26/10/2011

A Zona Franca de Manaus poderá funcionar por mais meio século, se o Congresso aprovar a proposta de emenda à Constituição recém-assinada pela presidente Dilma Rousseff. Além disso, a área beneficiada por incentivos fiscais será ampliada para cobrir toda a região metropolitana em torno da capital amazonense. A presidente anunciou os dois "presentes" - a palavra é dela - aos manauaras durante a inauguração da ponte sobre o Rio Negro. Com essa decisão, o governo renega mais uma vez, na prática, sua promessa de formular e de pôr em execução uma política industrial voltada para o aumento da competitividade e da criação de empregos. As medidas anteriores passam longe de qualquer estratégia de modernização e de aumento de produtividade. Sua maior ousadia é um protecionismo indisfarçável e simplório.

Não há uma única justificativa razoável para a concessão de mais 50 anos de existência à Zona Franca de Manaus nem para a sua ampliação geográfica. A Zona Franca foi criada em 1967 para dar um primeiro impulso à industrialização da Amazônia. Sua extinção foi prevista para 1997, mas bem antes disso, em 1986, o presidente José Sarney providenciou a primeira prorrogação, desta vez até 2007.

O prazo foi esticado mais duas vezes, até 2013 e depois até 2023. A última extensão foi uma gentileza do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há muito a concessão de benefícios a empresas da Zona Franca deixou de ter qualquer relação com genuína política de desenvolvimento regional. Tudo se resume em distribuição de favores e manutenção de privilégios, com resultados negativos para a economia nacional.

Em geral, a criação de zonas francas é compatível com estratégias de desenvolvimento quando sua produção é destinada ao mercado exterior. Nessas condições, a concessão de benefícios fiscais favorece a industrialização regional, a criação de empregos e o fortalecimento das contas externas. Não tem sentido fazer da zona favorecida um mero polo de atração de investimentos, sem levar em conta as condições de competição das indústrias instaladas em outras áreas.

A história da Zona Franca de Manaus é uma crônica de distorções. Lá se instalaram muitas fábricas de eletroeletrônicos domésticos, atraídas por incentivos fiscais, terrenos baratos e serviços de utilidade pública a custos muito baixos. Essas indústrias são as mais conhecidas, mas o polo reúne também outros tipos de indústrias. Os formuladores da política, deixaram de lado os objetivos de comércio exterior. As empresas puderam desfrutar de facilidades para comprar insumos estrangeiros, mas não tiveram de se empenhar na exportação. Ao contrário, puderam dedicar-se tranquilamente ao abastecimento do mercado interno, concorrendo em condições privilegiadas com quem ousasse se instalar no resto do País.

A balança comercial do Estado do Amazonas mostra um dos efeitos dessa política incompleta. O saldo negativo passou de US$ 3,15 bilhões em 2000 para US$ 9,94 bilhões no ano passado. Neste ano já chegou a US$ 9,18 bilhões até setembro.

A Zona Franca de Manaus é, portanto, importadora líquida. Se operasse como as zonas desse tipo instaladas em outros países, seu balanço seria positivo, porque o insumo importado livre de imposto ou com imposto reduzido seria uma de suas várias vantagens competitivas.

Diante da perspectiva de nova prorrogação do prazo da Zona Franca de Manaus, empresários de outras partes do País cobram compensações. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, já anunciou a intenção de pedir uma renovação da Lei de Informática, com extinção prevista para 2019. Sem isso, argumentou, as empresas do setor serão forçadas a transferir-se para Manaus.

Mas isso não é solução. Incentivos promovem o desenvolvimento quanto têm prazo para acabar. Sem isso, o estímulo para investir, para inovar e para ganhar competitividade tende a diluir-se. Estratégias de desenvolvimento podem transformar-se facilmente em políticas cartoriais de distribuição de favores e privilégios. Isso é bem conhecido no Brasil. Mas a presidente Dilma Rousseff parece gostar desse tipo de política.

MARCELO COELHO - Feliz Natal


Feliz Natal
MARCELO COELHO 
FOLHA DE SP - 26/10/11

Como já não sobra tempo para nada, vamos logo encerrando o que ainda resta deste ano


Quem me dá a notícia não esconde certo alarme na voz. "Já apareceu a primeira árvore de Natal!" Como assim? Em outubro? Já? Não que os preparativos estejam especialmente adiantados neste ano. Pode até ser, mas meu sentimento é sempre o mesmo: o Natal está chegando cedo demais, e muita gente parece fazer o possível para adiantar o processo.

Há motivos comerciais, claro, para isso; cumpre acelerar o fluxo de caixa. Ou então é porque os lojistas se comportam como alguns doentes (os mais saudáveis) diante de alguma injeção ou tratamento doloroso: vamos logo com isso, não quero enrolação, arranquem-me de uma vez os pontos, o curativo, o dente, a perna.

Trata-se de acabar o ano de uma vez por todas; fim de outubro! O ano "está praticamente encerrado", como gosta de repetir Carlos Alberto Sardenberg na rádio CBN.

Jornalistas são assim, aliás: acostumados aos prazos corridos do "fechamento", querem respostas rápidas para tudo, e dão por favas contadas a demissão do ministro, o colapso da Grécia, o fracasso da Copa, a deposição do ditador. Parte da chatice dos jornais se deve a isso. De tanto antecipar os fatos, o noticiário não se adapta ao ritmo que eles realmente têm. Cada dia repete, portanto, o anúncio da véspera, e quando a coisa anunciada finalmente acontece, já não constitui surpresa para ninguém.

Seja como for, a primeira árvore de Natal (que tenta simbolizar um acontecimento alegre) acaba tendo um efeito melancólico; menos que um advento, é um crepúsculo.

Corresponde, neste país tropical, à tristeza do outono nos países europeus. Tem-se aqui mais um exemplo do desajuste brasileiro com relação ao imaginário ocidental.

No hemisfério Norte, o fim do ano corresponde à queda das folhas e ao resfriamento da temperatura: é o correto, afinal de contas. Aqui, o ano acaba no auge das próprias forças. O pico da vitalidade coincide com sentimentos de declínio e retrospecção. Enfeitar de luzes uma árvore verde, em pleno inverno, significa manter as esperanças da vida. Aqui, pendurar uma guirlanda de Natal na porta de casa é celebrar, com uma coroa fúnebre, o fim de mais um ano; e cada pinheiro se posta nas lojas e nas ruas com a gravidade dos ciprestes de um cemitério.

É exagero de minha parte. Sofro de certa melancolia diante de todo enfeite, de todo ornamento. Quando criança, incomodava-me não o adiantamento do Natal, mas o quanto as decorações natalinas se prolongavam além da data. Era fevereiro ou março, o ano letivo já estava em curso, e algumas lojas ainda seguravam nas fachadas, com letras despencando e lâmpadas faltantes, suas mensagens de feliz Natal e próspero 1967.

Existiam também as decorações de Carnaval em algumas ruas; máscaras de rei Momo cor de laranja, tamborins de plástico, colcheias e claves de sol amarravam-se aos fios de eletricidade, e de lá não saíam nem por decreto.

Na cidade praiana onde eu passava as férias, esperavam penduradas, já sem cor e aos frangalhos, até a minha volta na Semana Santa. Hoje o comum é ver tênis velhos, suspensos pelos cadarços, na fiação elétrica. Acho-os menos tristes que os farrapos carnavalescos ou os despojos natalinos. São, quem sabe, sinais do crescimento de um menino, em quem os sapatos não servem mais. Talvez também esperem, lá do alto, algum presente impossível de Natal.

O poeta italiano Corrado Govoni (1884-1965) dedicou alguns versos a uma cornetinha de brinquedo. Aqui vão.

"Eis o que resta/ de toda a magia da quermesse:/ essa cornetinha/ de lata azul e verde/ que uma menina sopra/ caminhando descalça pelo campo./ Mas aquela nota forçada/ contém os palhaços vermelhos e brancos,/ a banda de ouro rumoroso,/ o carrossel com os cavalos, o órgão, as luzes./ Como o gotejar da calha/ contém o susto da tormenta,/ a beleza dos relâmpagos e do arco-íris;/e o fósforo úmido do vaga-lume/ que se desfaz entre as folhas de uma moita,/ toda a maravilha da primavera."

Logo os troncos das árvores, por aqui, vão se cobrir também de vaga-lumes. Começa agora a chover, enquanto escrevo, neste dia de calor; mas a chuva chegou sem susto. Estamos na primavera. Corrijo-me; já é tempo de dizer feliz Natal.

ELIO GASPARI - De Steve.Jobs@com para Dilma@gov


De Steve.Jobs@com para Dilma@gov
ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 26/10/11 

No Brasil, eu e meus produtos somos tratados como estorvos, vocês importam mais lixo do que máquinas da Apple

SENHORA PRESIDENTE,
Eu pensei em escrever para a senhora em duas ocasiões. Na primeira, quando a sua burocracia tributária disse que o iPad não era um computador porque não tinha teclado. Nunca ouvi tamanha besteira. Na segunda, quando soube que a senhora usava um iPad (achou o teclado?).
Desisti porque algum Bozo diria que estava defendendo meus interesses. Resolvi fazê-lo agora porque vim para cá e acaba de ser publicada por aí a minha biografia, escrita pelo Walter Isaacson. Eu acho que ele foi bonzinho. Diz 34 vezes que eu tenho um "campo de distorção da realidade". Maneira elegante para mostrar que fui um refinado mentiroso.

A senhora já se deu conta de que, no Brasil, eu e os meus produtos somos tratados como estorvos? Por causa dos impostos, os iPods, os iPhones e os iPads vendidos na sua terra são os mais caros do mundo.
Quem traz um MacAir na volta de uma viagem paga R$ 650 de impostos. Se trouxer máquina fotográfica, paga nada. Mais: pode comprar, no desembarque, US$ 500 de bebidas alcoólicas. Vocês importam mais lixo e roupas usadas do que computadores Apple.

Agora mesmo, a Foxconn negocia com seu governo a montagem de iPads no Brasil. Não acompanho essa conversa, mas o Alan Turing (aquele gênio gay que se matou comendo uma maçã com cianeto) me contou uma história de "transferência de tecnologia" e percentagem de componentes nacionais. Isso é "bullshit".
Transferimos o que nos convém transferir, desde que a produção brasileira tenha preços competitivos. Fora disso, nem pensar. A senhora tem no Brasil uma artilharia de interesses que atrasaram o progresso do país em 20 anos na área dos computadores (hoje o atraso está nuns dez). Lembra da "reserva de mercado"? Até meados dos anos 80, seria mais fácil para mim entrar no Brasil com um pacote de pastilhas de LSD do que com um Mac. Enquanto isso, alguns bobalhões montaram em São Paulo um galpão para clonar minhas máquinas. Garantiram-me que a senhora defendia essa maluquice. Não acredito.

Eu soube que há prefeituras comprando lotes de iPads. Falam até num projeto de um tablet (seja lá de quem for) para cada um dos 7 milhões de estudantes brasileiros. Não permita isso, dona Dilma, eles não querem melhorar a educação, querem rapinar os contribuintes.

Seu programa de "Um Computador por Aluno" é um engano administrativo a serviço da marquetagem política e do bem-estar dos fornecedores. Outro dia pararam de pagar a capacitação de professores, mas continuaram a pagar as máquinas. Seu governo quer levar computadores para as escolas? Treine os mestres, dê um bônus a cada família e ela compra a máquina que quiser.

A senhora já notou como o mercado de e-books brasileiros está atrasado? Pois pense no tamanho do negócio dos livros didáticos. Seu programa de distribuição gratuita desses livros é o maior do mundo depois do chinês. Imagine esse mercado dentro de dez anos, quando os tablets escolares custarem menos de US$ 50.

Façamos de conta que estamos na Apple. Esse cenário pedirá novos produtos, novas editoras e novos modelos de livros. Eu faria assim: ponha dois sujeitos para pensar só nisso. Um para projetar boas ideias. Outro para enxotar más ideias trazidas por bons amigos.
Atenciosamente,
Steve Jobs

ALON FEUERWERKER - Tudo dentro do previsto

Tudo dentro do previsto
ALON FEUERWERKER
CORREIO BRAZILIENSE - 26/10/11

E o cenário medíocre para o governo Dilma Rousseff vai ficando mais nítido. No primeiro ano ela contratou crescimento fraco e abaixo da inflação. Para o segundo ano algo parecido está encaminhado
A economia caminha como esperado, perdendo fôlego, e as previsões do Banco Central sobre a desaceleração provaram-se corretas. Para sorte do Brasil, o governo e o BC preferiram não dar ouvidos a quem pedia cautela na redução de juros.

Nos últimos dias, as projeções para a inflação declinaram, assim como o dólar. A moeda americana vai a meio caminho entre 1,70 e 1,80 reais. Tudo dentro da normalidade.

É a prova de que o Brasil, com Selic algo menor, continua um ótimo negócio no mundo de juros reais zero ou negativos. O atual BC pegou a taxa real a 6%. Se entregar em 2012 na metade disso ainda estará oferecendo belos lucros ao emprestador.

Coloquem o juro real a 3% e o dinheiro continuará vindo para cá, com gosto. O recorde nos investimentos diretos até setembro apenas confirma.

Mas, como assim, investimentos diretos? Por que misturar na análise o dinheiro que entra para capitalizar empresas, supostamente recurso de “melhor qualidade”, e o que cai na ciranda financeira?

Porque as empresas giram o caixa no mercado financeiro e distribuem os lucros não operacionais aos acionistas. Uma desnacionalização silenciosa e rentável. Medida nas remessas também recordes. E no déficit das transações correntes.

O investimento direto este ano já passou dos 50 bilhões de dólares. Mais que o dobro do ano passado. Se esse dinheiro viesse mesmo para o investimento na produção, as projeções econômicas seriam brilhantes. Pois no ano passado o PIB cresceu 7,5%.

Mas em 2011 vamos crescer a metade, se tanto. Ora, se o país recebe o dobro de investimentos para crescer só a metade, para onde vai o dinheiro? Para novas plantas e novos empregos é que não será.

E o cenário medíocre para o governo Dilma Rousseff vai ficando mais nítido. No primeiro ano, ela contratou crescimento fraco e abaixo da inflação. Para o segundo ano, algo parecido está encaminhado.

Felizmente o BC evitou o pior, a parada completa da economia. Mas as nuvens no horizonte andam carregadas.

Persiste a ameaça de nova recessão global, desencadeada pela falta de solução para a balbúrdia fiscal na Europa. E mesmo a economia chinesa já ensaia perda de dinâmica.

Também pela dependência a um mercado mundial sem força e pelo desequilíbrio interno entre investimento e consumo.

É um cenário econômico desafiador, e perigoso politicamente para o governo.

Nada muito grave pelo lado da política partidária oficial, pois a maioria parlamentar está bem pendurada na máquina e a oposição parece incapaz de fazer uma crítica que entusiasme o povo com alternativas palpáveis.

O último vestígio de ação oposicionista nesse campo foi quando reagiram à queda de juros acusando o BC de se submeter ao Palácio do Planalto. Houve as exceções de praxe, mas o comando da oposição preferiu acenar ao financismo, com a defesa doutrinária da independência do BC.

Dilma não chegou a agradecer publicamente, mas aposto que ficou satisfeita. Apareceu na foto como quem mandou o BC cortar os juros, enquanto a oposição gritava contra. Quem não gostaria de ter uma oposição assim?

Mas o quadro social, fora das salas acarpetadas, não é bacana para o governo.

As greves sucedem-se, os sindicatos andam inquietos e há um cansaço diante dos seguidos casos de corrupção. Ela é mais bem suportada em intervalos de prosperidade, mas se é hora de apertar os cintos, a paciência do povo diminui muito.

Relativo
O Brasil diz que não vai mais discutir Belo Monte no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde as entidades que resistem à usina lutam para defender os direitos delas.

Ambas as posições são legítimas. O Brasil cuida de sua soberania e quem se opõe a Belo Monte busca internacionalizar o tema.

Estranho apenas que o Brasil abra mão de defender seus pontos de vista num espeitado fórum multilateral. O Itamaraty diz que todos os esclarecimentos já foram dados por escrito e não há motivo para ir lá.

É um argumento razoável, porém permite interpretar que o amor do nosso governo e da nossa diplomacia pelo multilateralismo é seletivo.

Nada espantoso, mas vale o registro.

ROSÂGELA BITTAR - Na perspectiva do PCdoB


Na perspectiva do PCdoB
ROSÂGELA BITTAR
VALOR ECONÔMICO - 26/10/11

As marchas e recuos do calvário de Orlando Silva (PCdoB) no governo do PT provaram como um partido pequeno mas orgânico, com poucos recursos políticos mas densidade ideológica, pode se impor. São poucos, se não apenas dois, os que têm tais características no Brasil de hoje, e os comunistas estão reunidos em torno de uma dessas legendas.

Orlando Silva já estava ferido de morte desde o primeiro instante da denúncia atirada contra ele. Fragilizou-se irremediavelmente com a autorização do Supremo Tribunal Federal para abertura de inquérito destinado a investigá-lo, num momento, como ontem, em que o Palácio do Planalto dava-lhe oxigênio e ainda tentava levar o público a se acostumar com a ideia de deixá-lo no cargo.

Houve justificativas para todo o agravamento de sua situação, principalmente para o despacho da ministra Cármem Lúcia, que desferiu o tiro de misericórdia. Até ela própria achou necessário esclarecer, depois da repercussão de sua decisão, que "abrir" (o inquérito) não significa "prosseguir" com ele, e que tudo dependeria do que o procurador-geral da República irá encontrar nas investigações. Não havia, porém, mais volta, a crise recrudesceu de repente.

No Palácio do Planalto, mencionava-se a diferença entre o caso Orlando e o caso Antonio Palocci, também sustentado por seu partido, o PT, que ficou quase um mês tentando equilibrar-se na cadeira de ministro da Casa Civil. Houve um momento de grande distensão da crise Palocci quando o procurador-geral deu despacho recusando a denúncia, e, sendo assim, sequer pediu autorização ao Supremo para abrir inquérito. Mesmo com isso não foi possível segurá-lo no cargo. No caso Orlando deu-se o inverso, o procurador aceitou a denúncia, pediu ao STF para abrir o inquérito e o Supremo, como foi pedido, o autorizou, levando mais tensão à crise. Se no caso anterior o ministro teve que sair apesar de libertado pelo procurador-geral, no caso Orlando, não dispensado, razão maior haveria para se ver defenestrado.

Nada disso, porém, absolutamente nenhuma argumentação, sensibilizou o PCdoB que se manteve firme na estratégia política traçada de ficar unido em torno de seu representante no governo. E houve boa dose de racionalidade nessa decisão do partido.

O PCdoB manteve-se coeso no aguardo de iniciativas de que quem levou Mateus ao mundo. Ou seja, deixou o caso, seu desfecho e as soluções futuras integralmente nas mãos da presidente Dilma Rousseff, e nada fez para facilitar a arrumação política.

Os princípios dos comunistas têm nitidez. Em sucessivas reuniões nos últimos dias, o PCdoB avaliou minuciosamente a questão. O primeiro ponto do arrazoado é que Orlando Silva, alvo do PM João Dias, dono de ONG brasiliense que denunciou esquema de desvio de verbas no Ministério do Esporte, não viu nada ser provado contra ele. Toda a artilharia, então, foi redirecionada para o partido.

Sem as provas, a presidente Dilma Rousseff manteve seu apoio a Orlando Silva, como fez durante algum tempo com Palocci, Wagner Rossi, Alfredo Nascimento e Pedro Novais, os ministros do seu governo que depois caíram por denúncias de corrupção.

O PCdoB recusou-se, durante todo o período no pelourinho, a abandonar Orlando, a especular sobre substituição por outros nomes do próprio partido, ou a avançar em soluções que não considerou se sua alçada. Ontem, no momento de mais intensa pressão pela demissão do ministro do Esporte, agora politicamente inviabilizado pela decisão do Supremo, integrantes da cúpula partidária ainda desfaziam uma a uma as especulações sobre substituições. Manuela D"Ávila (RS) será candidata a prefeita em Porto Alegre; Aldo Arantes (GO) é um quadro importante mas não foi sondado; Aldo Rebelo (SP) não foi sondado; Flávio Dino (MA) não foi sondado. Luciana Santos e Jandira Feghalli, também citadas, não foram sondadas. E assim todo o PCdoB tinha ouvidos moucos.

"No PCdoB não tratamos de nomes, estamos apoiando o Orlando", foi o slogan partidário nos últimos dias de especulação. A estratégia estava fundamentada no fato de que, se o ministro saísse sem provas, ficaria carimbado como corrupto. E não houve voz dissonante ou divisão interna, como nas demais agremiações da base de apoio a Dilma..

As razões em torno de novas escolhas de substitutos davam menos consistência ainda às especulações e fortaleciam a estratégia do PCdoB. Por exemplo, dizia-se que Dilma escolheria Dino para resolver um problema do seu desafeto José Sarney nas eleições municipais de São Luis (MA), afastando-o de uma vitória certa no ano que vem; ou que escolheria Aldo Rebelo para afastá-lo da disputa da presidência da Câmara, não levando risco ao acordo de revezamento PT-PMDB. Se os partidos e esses políticos estivessem livres de perder seus lotes no governo como estão de a presidente Dilma levar em conta essas questões e estar pensando, no momento, em presidência da Câmara e prefeitura no Maranhão...

O PCdoB avaliou, em seus debates, que para a presidente a preocupação certa, e era a que ela estava manifestando, tinha relação com a Copa do Mundo e a Olimpíada, dois problemas de tamanho amazônico dos quais o governo tem que dar conta, e não está dando.

E, por último, talvez o mais importante a incentivar o partido a manter-se na rota, o PCdoB avaliou que a responsabilidade das irregularidades denunciadas estava muito definida, e longe do partido e de Orlando Silva. Este era apenas o Secretário Executivo, vindo de São Paulo para um Ministério dirigido, à época, por Agnelo Queiroz, atual governador de Brasília, que depois migrou do PCdoB para o PT. Foi ele quem levou o PM João Dias para o partido e que mantinha relações com as causas brasilienses do atual arrastão de denúncias.

Agnelo, no momento de fogo mais alto, estava em vilegiatura internacional atrás de exibições em estádio que constrói em Brasília. Não acusou ainda o golpe da abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal, como o PCdoB e Orlando Silva já acusaram, e que ocorreu exatamente no dia em que se declarava mais animado com as perspectivas futebolísticas da capital federal.

ROBERTO DaMATTA - A sociabilidade dos clubes


A sociabilidade dos clubes
ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 26/10/11

Nos clubes acontece uma forma de estar (e de ser) adequada às associação voluntárias - essas organizações nas quais entramos (e saímos) não por nascimento ou morte, mas por gosto, interesse e escolha. Num país como o Brasil, onde tudo que é escuso ocorre justamente nos espaços situados entre amizades, parentescos e, hoje, partidos e o "governo" que deveria ser impessoal e servir a todos, vale a pena falar um pouco de clubes e de sua sociabilidade. Ao fazer isso, inspiram-me os notáveis 190 anos da Sociedade Germania. Um clube fundado por alemães no Rio de Janeiro dos 1821, em pleno reinado de Pedro II.

Existe pouca reflexão sobre essas organizações. Uma rara exceção é o livro de Robert H. Lowie, Primitive Society (Sociedade Primitiva), publicado em 1921. Lowie, nascido em Viena e filho de mãe austríaca e pai húngaro, foi um daqueles imigrantes cujo estranhamento foi responsável por aquele atraente cosmopolitismo americano talvez por sua associação ser de um imigrante com os Estados Unidos. Imigrantes e expatriados são como sócios de um clube, muitas vezes, sócios sem carteirinha. Talvez por isso, ele tenha revelado que as chamadas sociedades "primitivas" também possuíam estruturas que congregavam pessoas por meio de critérios fora do parentesco e da família. Como especialista em sociedades indígenas da América do Norte, Lowie estudou esses "clubes" tribais sem escrita e lista de sócios, que uniam pessoas vinculadas por ensejos semelhantes, tal como fazem os nossos sindicatos, clubes, associações e partidos políticos. Em 1921, isso rompia com o evolucionismo de Morgan e de Engels, o qual estabelecia que todas as formas de sociabilidade humana tinham como origem a família e o clã.

* * * *

O destino levou-me ao Germania onde Margret Möller, sua presidente, chamou minha atenção para uma orgulhosa continuidade de quase dois séculos. Pertencer a duas sociedades simultaneamente é experimentar o humano de um modo radical, pois trata-se de construir uma ponte entre o "ser" e o "estar" - esses verbos misteriosos. Eles se entrelaçam (como ocorre em inglês) e se separam. Quem nasce num lugar é desse lugar. Os poetas (que podem dizer tudo) adornam os "naturais" do Brasil ou da Rússia com um elo fixo com a floresta, os índios, o sol, o calor tropical ou as estepes e o frio intenso. Mas, como mostram as viagens e os clubes, o humano vai além do "ser"; ele surge também no "estar". Somos de algum lugar, temos uma casa, mas estamos também nos clubes e nas relações que nos unem a outros mundos.

* * * *

O duplo ou o múltiplo pertencer nos torna mais humanamente contraditórios nas nossas desconcertantes identidades. Assim, Lowie foi um vienense-americano tal como os alemães que fundaram o Germania puderam continuar sendo alemães num Rio de Janeiro de monarcas, barões e escravos - uma cidade fechada para sociabilidades alternativas.

* * * *

Em São João Nepomuceno, Minas Gerais, vivi um intenso clubismo. Os clubes aos quais pertenci - o Mangueira e os Democráticos - eram brasileiros, mas a sua sociabilidade era tão gratificante quanto a que experimentei no Germania, quando fui gentilmente recebido por Margret Möller e alguns amigos do coração; ou a algum clube inglês numa Inglaterra que, dizem os ingleses, os inventou.

Qual o segredo dos clubes? Ora, seu ponto de atração está na alternativa que eles oferecem às nossas casas e famílias. Em casa somos determinados e não temos escolhas (nem piscina ou restaurante). Nos clubes ocorre justamente o oposto. Temos a escolha dos amigos e, em seguida, as facilidades que as pessoas comuns só podem ter quando se congregam em grupo - esse traço do igualitarismo que marca muitos sistemas tribais, mas que até hoje não é aceito no Brasil. Esse associacionismo "voluntário", descoberto por Alexis de Tocqueville no seu A Democracia na América, quando ele discerne como a igualdade política radical predispunha os americanos à congregação e a uma vida partidária que os compensava pela ausência do nome de família e de fortuna pessoal. Na França, isso não ocorria porque cada "estamento" ou "casa aristocrática" era uma miniatura da própria sociedade e todos sabiam com quem estavam falando, tal como até hoje ocorre no Brasil. Para Tocqueville, o clubismo e o partidarismo compensavam a igualdade e o individualismo da vida democrática.

* * * *

Nos clubes, experimentamos uma convivência marcada por uma ética da igualdade que nos obriga a relativizar a família com a sua sociabilidade hierarquizada, carimbada por sexo e idade. Neles, é complicado misturar parentesco (que não dá carteira nem ordena mensalidade) com um relacionamento que exige carteira, mas exclui o favor (com o seu dar e receber) - esse mestre dos sistemas com dois pesos e medidas. Em trabalhos acadêmicos, acentuei como o Brasil resiste a essas sociabilidades igualitárias, impessoais, baseadas em escolhas e compromissos sempre públicos - esse relacionamento clubístico e partidário, mais universalista do que particularista, íntimo e pessoalizado.

Viva, pois, um clube com quase dois séculos num Brasil em que a vida associativa fora da família tende a mudar de acordo com o messias ou, para não entrarmos na escuridão de nosso sistema político, a cada negócio.

VINICIUS TORRES FREIRE - Importação de vexames


Importação de vexames
VINICIUS TORRES FREIRE 
FOLHA DE SP - 26/10/11

Impostaço sobre carros importados rende derrotas para o governo, que pode modificar o decreto do IPI

O IMPOSTAÇO sobre carros "sem conteúdo nacional mínimo", o IPI extra sobre os importados, não tem rendido mais que reveses, perdas de tempo e vexames para o governo de Dilma Rousseff. Não suscitou aplauso político além do lobby das montadoras já instaladas aqui, de alguns industriais interessadamente solidários e de uns raros defensores teóricos do protecionismo nu e cru.

Mas os economistas de Dilma o defendiam como se tratasse de questão de princípio e programa, quando na verdade o decreto do imposto não passava de medida "ad hoc", que brotou das ideias gelatinosas que passam por política industrial no governo. Agora, pressionado por derrotas e evidências do disparate pragmático da iniciativa, pensa-se em reformá-lo.

O que se vai fazer? Pode sair um alívio para montadoras de marcas ora importadas que planejam se instalar aqui. Isto é, poderia haver um prazo de carência para que tais empresas apresentassem carros com um "conteúdo nacional mínimo". Podem ser exigidas contrapartidas das montadoras "nacionais" (múltis que se tornaram "nacionais" por, digamos, usucapião: as que estão aqui faz mais tempo).

Lembre-se de que, na política industrial anunciada semanas antes do impostaço, pretendia-se oferecer isenção fiscal para as montadoras "nacionais" desde que as empresas melhorassem a tecnologia de seus produtos. O lobby das montadoras transformou esse pão já meio amanhecido em pedra protecionista.
Se vier a mudança do decreto, será preciso esperar mais 90 dias para que as novas alíquotas sejam cobradas. Logo, o impostaço ou seu substituto entraria em vigor lá por 2012. Tanto barulho ainda por quê?

Desde que o governo apareceu com essa história, colecionou derrotas e, enfim, por ora a tática protecionista é contraproducente. Houve derrota político-jurídica. A vigência imediata do impostaço caiu no Supremo, devido a uma ação do DEM. O imposto, como parece dizer a Constituição, só poderia ser cobrado após 90 dias de decretado.

Houve o vexame de imagem. Neste outubro, as montadoras "nacionais" começaram a anunciar programas de demissão voluntária, que costumam ser prévias de programas de demissões impostas mesmo. Decerto o câmbio desfavorável e malandragens comerciais de países da Ásia ajudaram a derrubar as vendas da indústria brasileira (e não apenas as de automóveis, claro).

Mas um dos motivos do esfriamento do mercado de carros foi a própria e, no caso, correta política econômica do governo (no caso do Banco Central): era preciso conter o consumo, dada a inflação. Enfim, a venda de carros importados aumentou, dada a perspectiva de aumento de imposto e preços.

Houve ainda o vexame no debate do comércio internacional. O Brasil vinha lançando a mão da carta de crítico do protecionismo. De repente, aparece com uma medida de proteção mambembe e canhestra.
Houve, por fim, o vexame "teórico". Mesmo entre adeptos ponderados de medidas de proteção comercial ou de política industrial, defende-se a ideia de exigir contrapartidas tais como melhoria do produto e aumento de produtividade em um prazo estipulado, depois do qual as empresas deveriam ser capazes de competir no mercado mundial -e não de pedir mais favores.

MARTHA MEDEIROS - O Caso Rafinha


O Caso Rafinha
 MARTHA MEDEIROS 
ZERO HORA - 26/10/11

Soube do caso Wanessa Camargo x Rafael Bastos pela imprensa escrita. Não havia assistido ao programa CQC em que ele disse “Comeria ela e o bebê”. Li essa frase numa matéria. Num primeiro momento, achei que o cara merecia mesmo o repúdio público.

Então intuí que poderia haver algo de injusto nesse julgamento sumário e entrei no YouTube para assistir à cena que deu origem ao estardalhaço. E, de repente, ficou muito claro: o comentário foi cretino, mas estava totalmente de acordo com o espírito do programa.

Se ele tivesse dito o que disse numa entrevista para o Jornal Nacional ou durante o sermão da missa, teria sido chocante, mas cumprindo seu papel de Rafinha Bastos no CQC, foi mais uma baboseira coerente com a pauta do programa.

O que nos traz ao assunto desta crônica: o contexto.

Fora do contexto, não temos como fazer uma avaliação isenta. As frases ditas por celebridades, destacadas entre aspas em seções de jornais e revistas, recebem quase sempre um grau de importância desproporcional ao contexto em que foram pronunciadas. O que parece uma ofensa era só uma ironia. O que parece definitivo era apenas uma especulação. O que parece uma confissão era uma brincadeira.

Não sei qual é a audiência do CQC, mas sou capaz de apostar que 95% das pessoas que palpitaram sobre a polêmica não assistiram ao programa: souberam através de blogs, sites, redes sociais e matérias de revista. E, como sempre, a frase impressa sobressaiu de forma mais contundente do que deveria.

Não tiro o direito da cantora de se ofender, ainda mais que sabemos que toda mulher grávida se sente sacralizada por sua condição, mas partir para um processo é um exagero evidente.

Como muitos, desprezo esse humor que humilha, que é deselegante, cafajeste, coisa de guri bobo e arrogante. Sinto saudade do humor inteligente de um TV Pirata, por exemplo, que fazia a gente rir sem precisar apelar.

Mas o que eu gosto ou desgosto não importa. O humor do CQC, do Pânico e de outros programas afins é uma tendência mundial que tem milhões de fãs. Rafinha Bastos é um expoente desse humor canalha e está fazendo o trabalho dele. Podemos torcer o nariz? Podemos.

Mas convém levar o contexto em consideração. O caso Wanessa me parece bem menos grave do que a alusão a um comercial de uma empresa de telefonia, em que o humorista comparou Fabio Assunção a um traficante. Porém, pouco se debateu a respeito, até porque o próprio ator não levou tão a sério, e acabou virando notícia de segundo escalão.

Seja a declaração que for, é sempre bom não perder o contexto de vista. Sem isso, corremos o risco de superdimensionar um comentário idiota e relevar os desaforos verdadeiramente sérios que perpetuam preconceitos.

PAULO SANT’ANA - Cerveja no cárcere


Cerveja no cárcere
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 26/10/11 

Fiz este poemeto em homenagem a Porto Alegre, cidade onde nasci, ou melhor, onde estreei, e vivo.

Cidade do meu cansaço,

Do meu repouso também,

Lhe amo, lhe quero bem,

Porque no fundo contém

Os liames dos meus amores,

Cidade dos meus queixumes,

Cidade dos meus ciúmes,

Cidade das minhas dores!

É indevida a esmola que tu deres quando o mendigo que a receber se alegrar mais do que tu.

O bem que se faz não tem memória. O mal que se faz, este nunca sai da memória.

Fui almoçar ontem no Bandejão, o restaurante mais popular da RBS. Comi esplêndida abobrinha com queijo gratinado, pastel de galinha, arroz, feijão, bife de alcatre com molho de carne, sopa, salada, suco de frutas diet e de sobremesa um delicioso creme de amendoim.

Disseram-me que para nós, funcionários, a refeição custa apenas em torno de R$ 2,50.

Deli Matsuo, o novo vice-presidente de gestão e pessoas da RBS, andou também lá pelo Bandejão, antes de mim, o que prova que por onde ele passa continua crescendo a minha grama.

O senador Paulo Paim (PT-RS) solicitou da tribuna do Senado Federal um voto de aplauso a este colunista pela comemoração de meus 40 anos de trabalho na RBS.

E leu por inteiro da tribuna a coluna de sexta-feira passada, quando transcrevi a letra do samba-enredo que a Imperadores cantará na avenida no ano que vem, em homenagem ao próprio Paim.-

Não há turno mais propício ao tédio do que a tarde de domingo. A semana foi pesada e ameaça voltar na segunda-feira.

Essa monotonia cotidiana é amassante e se a gente não passeia com o cachorro ou não anda de bicicleta, ameaça soçobrar.

O trabalho enobrece o homem, mas cansa pra burro.

Essa notícia da apreensão de 2.600 latas de cerveja no interior de uma prisão para policiais militares no Rio de Janeiro é objetivamente um marco na desordem que grassa pelo país.

De um lado, já estranha que haja 300 policiais militares presos em um estabelecimento, eles tinham sido talhados para prender e cuidar de presos e acabam se tornando detentos.

Por outra parte, soa como odioso o privilégio de que presos consumam 2.600 cervejas. Mas, num país em que é proibido o consumo de cerveja nos estádios de futebol mas se permite à Fifa que haja exceção na Copa do Mundo de 2014 e voltará então a se beber cerveja nos estádios, tudo é possível.

Ninguém sabe explicar como podem passar pelo portão principal de uma prisão 2.600 cervejas sem que os responsáveis pelo estabelecimento carcerário tomem conhecimento dessa carga.

A que serviriam as milhares de latas de cerveja? A um aniversário de preso ou a um show que apresentaria o Zeca Pagodinho, cantando com uma lata de cerveja na mão?

É o fim da picada!

EDITORIAL O ESTADÃO - O capital do camarada ministro


O capital do camarada ministro
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 26/10/2011

Em outros tempos se diria que "são desencontrados os rumores" sobre o destino do ministro do Esporte, Orlando Silva, do PC do B. No fim de semana atrasado, um PM do Distrito Federal, João Dias Ferreira, seu correligionário, ongueiro e beneficiário de convênios suspeitos com a pasta, o acusou de participar de um esquema de cobrança de propina nos contratos do programa Segundo Tempo, para jovens carentes. Desde então, o ministro tem sido alvo de uma ou mais denúncias por dia, não apenas sobre favorecimento aos camaradas nos negócios esportivos, mas também de casos clamorosos de desídia. Ainda ontem, por exemplo, este jornal revelou que obras previstas em um convênio com a Prefeitura de Campos do Jordão, assinado em 2006 pelo ministro, praticamente continuam na estaca zero - mas já consumiram R$ 1,37 milhão dos cofres federais.

O desencontro de versões sobre o que a presidente Dilma Rousseff irá fazer com o único membro do PC do B no seu Gabinete exprime, na realidade, o fato singelo de que ela não sabe como sair de mais essa enrascada no viscoso cipoal da corrupção no governo. Na sexta-feira, Dilma convocou o ministro para uma conversa de horas - ao fim da qual assessores da presidente anunciaram que ela havia lhe dado o equivalente a um visto de permanência na administração. Seria, no entanto, uma permanência temporária, a julgar por um comentário atribuído a Dilma, em dado momento de sua estada em Manaus, ao lado do patrono Lula, na segunda-feira. Orlando Silva "não resistiria a uma denúncia nova", teria ela afirmado. Também o ex-presidente parece ter caído em um poço de dúvidas.

Depois de dar apoio ostensivo ao ministro que ficou no governo Dilma a seu pedido e de instar o PC do B a cerrar fileiras em torno dele, Lula teria confessado não ter mais "convicção de nada" e se queixado dos comunistas. "Só me contam o que (lhes) interessa. O que não interessa eu fico sabendo pelos jornais", desabafou, segundo uma fonte, numa involuntária homenagem à imprensa cuja leitura o fazia sentir azia. Ainda que o noticiário o convença de que o Esporte é uma arena de maracutaias, será a extremo contragosto que ele cessará de blindar o suspeito de tolerá-las, ou de promovê-las. Deixaria assim Dilma livre para fazer o que achar mais conveniente. Lula tem uma dívida de peso com o PC do B - e a presidente sabe disso. A legenda comunista ortodoxa foi a única, além do PT obviamente, a apoiar todas as tentativas de Lula de alcançar o Planalto.

Por ora, o PC do B é o capital de Orlando Silva. Para conservá-lo, escreveu uma carta aos seus hierarcas, citando o poeta comunista chileno Pablo Neruda. Ele disse certa vez que se sentia indestrutível porque "contigo, meu partido, não termino em mim mesmo". O ministro ressaltava assim a sua indestrutível identificação com a legenda que "jamais reviu os seus dogmas". A sigla da foice não poderia ceifar do poder um quadro que de tal modo proclama a sua firmeza ideológica - além de transformar as denúncias contra si em expressão de uma imaginária "luta de classes". Mas há também uma razão política real para o governo não comprar briga com o PC do B. O partido poderia partir para cima do antecessor de Orlando Silva, com quem os "malfeitos" na pasta teriam começado - o governador do DF, Agnelo Queiroz, que migrou para o PT.

Por sinal, os companheiros, enquanto se mantêm publicamente solidários ao ministro, fazem já os seus cálculos para a eventualidade de sua queda. Partindo da premissa de que o PC do B poderia ser aplacado com a indicação de outro camarada para o lugar de Orlando Silva, os petistas ventilam os nomes dos deputados Aldo Rebelo e Manuela D"Ávila e o do presidente da Embratur, Flávio Dino. Coincidentemente, todos eles têm planos próprios inconvenientes para o PT. Rebelo gostaria de voltar a dirigir a Câmara. Manuela quer ser prefeita de Porto Alegre. Dino, desafeto do amigão de Lula, José Sarney, ambiciona se eleger em São Luís. São essas coisas que contam para os políticos. A imprensa que se ocupe do que não lhes interessa.

CELSO MING - Sumiu a oposição



Sumiu a oposição
CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 26/10/2011

Sob muitos aspectos, a reeleição da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, no último domingo, foi contundente. Obteve 54% dos votos em primeiro turno, ampla maioria no Congresso e, agora, de 24 governos provinciais, 21 estão nas mãos de aliados.

Seu marido, Nestor Kirchner, foi eleito presidente em 2003 com apenas 22% dos votos, o menor índice da história do país. Cristina mesmo não arrancou mais do que 45% em sua primeira vitória, em 2007. Agora, obteve a maior votação para a Presidência desde 1983.

O primeiro impulso dos analistas é atribuir esse desempenho aos bons resultados da economia que, em nove anos (desde o fundo do poço, em 2002) acumulou crescimento do PIB de 82,7% e, desde novembro de 1992, o menor índice de desemprego (7,3% da população ativa). É um excelente balanço, obtido graças ao sucesso das exportações que, por sua vez, se apoiaram na demanda crescente de China, Índia e Brasil.

Mas o consultor Dante Sica, secretário da Indústria no governo de transição do ex-presidente Eduardo Duhalde, adverte que não entende o fenômeno eleitoral Cristina Kirchner quem apenas tenta manipular planilhas Excell. O bom momento econômico é só um pedaço da explicação. A parte mais importante pode ser encontrada na força subjacente da cultura política argentina, agora eficientemente acionada, observa ele.

Esse complexo da cultura política não é somente a sensação de proteção que o Estado argentino vem transmitindo ao cidadão comum pela forte presença do setor público na economia e pela insistente política de transferência de riquezas do setor primário (produtores do setor agropecuário) para toda a sociedade, protegendo salários e benefícios previdenciários. É também pelo novo modo de o eleitor argentino ver a presidente após a morte de Nestor Kirchner, em outubro de 2010: "A viúva que passa determinação e firmeza".

A vitória de Cristina aposenta grande número de políticos da velha guarda – Duhalde, Alfonsín (Ricardo, filho do ex-presidente Raul Alfonsín, falecido em 2009) e provavelmente Carrió – e traz para o centro do palco relevante grupo de quarentões dos quais o ainda ministro da Economia (vice-presidente eleito), Amado Boudou, é dos mais destacados representantes. A oposição, inteiramente fragmentada, praticamente desapareceu. Votaram em Cristina inclusive os ruralistas, segmento que ao longo de 2008 tentou fazer oposição cerrada a seu governo.

Para Dante Sica, a economia terá de ser administrada agora de forma a equacionar alguns dos mais importantes problemas macroeconômicos (inflação e oferta de energia), para não ter de usar demais a microeconomia (controle de preços, salários e tarifas). Do ponto de vista da política social, possivelmente o projeto mais importante é a implantação de um programa de saúde com boa abrangência, algo que falta à Argentina.

É da política que se esperam maiores novidades. Dante Sica crê que será muito difícil uma reforma constitucional que abra espaço para um terceiro mandato para Cristina. Mas ela deverá tentar que o Congresso, amplamente favorável, aprove a adoção do parlamentarismo. É a tentativa de esticar um período de hegemonia por meio de primeiros-ministros escolhidos a dedo. O que não deixaria de ser um contraponto inédito para quem busca explicações para esta eleição no substrato da cultura política da Argentina, que nunca adotou esse sistema de governo.

CONFIRA

Cada vez mais. O Investimento Estrangeiro Direto (IED) em 12 meses terminados em setembro alcançou US$ 76,3 bilhões, maior volume da história. O Banco Central se surpreende a cada mês. Projetava, em janeiro, US$ 55 bilhões para todo o ano. Em agosto, US$ 60 bilhões. É provável que supere US$ 70 bilhões.

Serviços. Em 2011 (até o final de setembro), o setor com mais IED foi o de serviços (48,1%). A indústria ficou com 36,0% e o setor primário (de agricultura e mineração), com 15,3%. Outro 0,6% foi para aquisição de imóveis.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Fazendo água
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 26/10/11

Inquérito da Polícia Federal que investiga o socorro ao PanAmericano revela que a cúpula do banco foi alertada sobre a fragilidade de caixa pelo menos nove meses antes de a instituição de Silvio Santos quebrar em consequência de um rombo de mais de R$ 4 bilhões -motivado, principalmente, pela declaração fantasiosa de receitas e carteiras.

O então diretor de crédito, Adalberto Savioli, informou por e-mail, em 25 de fevereiro de 2010, que não estava "conseguindo segurar o número" e que eram necessárias medidas de emergência para regularizar as contas, "senão 2010 será uma tragédia".

Visão Para a PF, outro e-mail reforça as suspeitas de fraude. Em 8 de abril, o então diretor financeiro, Wilson de Aro, relata a impossibilidade de remendar o problema de caixa ("o que eu tinha de fazer eu já fiz") e avisa que "é bem provável" que a auditoria contratada pelo banco (Deloitte) "enxergue" o que estava acontecendo.

Free-shop A polícia descobriu, porém, que, em agosto, quando o BC se debruçava sobre os números inconsistentes do banco, o então presidente do PanAmericano, Rafael Palladino, comprava um apartamento de luxo em Miami. Mais: semanas antes, ele negociava a abertura de uma empresa no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe.

Oxigênio O Planalto considerou malsucedida a tentativa de Orlando Silva emplacar uma "agenda positiva". Para o governo, o ministro não vem aproveitando a sobrevida que lhe foi dada. Chamou a atenção a ausência de governistas de peso em sua defesa ontem na Câmara.

Palpite Integrantes do PC do B discutem abertamente a sucessão de Orlando. Aposta dominante: "Vai ser o Aldo".

Banco Se a situação do ministro se deteriorar mais rápido do que Dilma gostaria, uma das opções avaliadas seria a nomeação de um interino até a reforma ministerial.

Bumerangue Quem conhece Dilma Rousseff adverte: se a Fifa quer mesmo derrubar Orlando, deve parar de cobrá-la em público, como fez ontem indiretamente o secretário-geral, Jérôme Valcke, em entrevista à Folha.

Tecla SAP Do relator da Lei Geral da Copa, Vicente Cândido (PT-SP), rebatendo a entrevista de Valcke: "Quando ele vier à Câmara vai ter de falar em português".

Outro lado O advogado de Orlando Silva, Antônio Carlos de Almeida Castro, procurou ontem a ministra Carmen Lúcia, do STF. "Estou impressionado. Só o que existe neste inquérito são matérias que saíram na imprensa e requerimentos da oposição", reclamou. Ele pediu que a investigação não corresse em sigilo, medida que já havia sido tomada.

Pechincha Cumprida a interinidade na Presidência, Michel Temer foi visto no sábado passado acompanhando a mulher, Marcela, em sessão de compras domésticas na Preçolândia do bairro paulistano de Pinheiros.

Oiê José Serra fez aparição surpresa, no sábado à tarde, em reunião da juventude tucana em São Paulo. Falou da necessidade de o PSDB reagir rápido à ofensiva do PT nas mídias sociais. Disse ainda que as chances de vitória na capital dependem da reedição de uma "ampla aliança". Leia-se, com o PSD de Gilberto Kassab.

Termômetro A tendência do Supremo é considerar constitucional, em julgamento hoje, o exame da OAB.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio
"Deste jeito, até vendedor de 'churrasquinho de gato' vai ter que comercializar Budweiser durante a Copa do Mundo. E será obrigado a pedir autorização à Fifa em francês."
DO DEPUTADO RUI PALMEIRA (PSDB-AL), sobre o conteúdo da Lei Geral da Copa e a amplitude das exigências feitas pela entidade que organiza a competição ao governo brasileiro.

contraponto
Palavra de mineiro

Em depoimento ao filme "Tancredo - A Travessia", José Sarney (PMDB-AP) narra a articulação para Aureliano Chaves apoiar Tancredo no Colégio Eleitoral, precondição para a aliança entre os dissidentes do PDS e o PMDB.
-Aureliano exigiu uma carta de compromisso do Tancredo, que achávamos que ele não assinaria.
Ele e Ulysses Guimarães levaram o pleito a Tancredo, que na hora concordou:
-Assino, mas só entrego depois do apoio. Em Minas, a gente só escreve carta quando já sabe a resposta.