quarta-feira, setembro 21, 2011

MARTIN WOLF - Dissolver a união monetária europeia seria difícil demais


Dissolver a união monetária europeia seria difícil demais
MARTIN WOLF
FOLHA DE SP 21/09/11

DO "FINANCIAL TIMES"

Os membros da zona do euro estão sofrendo forte ataque de remorso pela adesão.
No entanto, o ponto central da união cambial estava em que ela seria irrevogável. Qualquer discussão sobre possíveis saídas volta a introduzir o risco cambial.
Ainda assim, agora que o tabu que impedia discutir o tema foi violado, a possibilidade de uma dissolução ou saída de alguns integrantes da união precisa ser examinada. Será que isso é possível, ou mesmo desejável?
Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, argumentou em artigo no "Financial Times" que a Grécia deveria tanto decretar moratória sobre suas dívidas quanto abandonar o euro.
A criação de uma nova moeda nacional se tornaria inevitável, nesse caso. A Grécia tem imenso deficit em conta corrente e uma economia deprimida. Uma grande depreciação real é requerida.
Mas a ideia de uma saída da zona do euro seria muito difícil de implementar. Em termos legais, significaria que o país teria de abandonar a União Europeia. O país, como resultado, provavelmente também seria excluído do mercado unificado.
E, além disso, encontraria dificuldades para sair de forma rápida e limpa. Quando a notícia começasse a se espalhar, surgiria uma corrida a todos os seus passivos.
O governo teria de limitar saques bancários. Muitas empresas quebrariam. E o contágio seria inevitável -boa parte da dívida grega é detida por instituições de fora.
Portanto, qualquer saída, mesmo de um país pequeno e fraco, assusta. O que aconteceria em caso de saída de um país forte como a Alemanha? Haveria imensas fugas de capital. Além disso, uma saída alemã desestabilizaria a porção restante da zona do euro e provavelmente resultaria em desintegração.
O abandono do euro pelo país central da União não representaria ameaça apenas ao mercado unificado, mas a todo o tecido cooperativo da Europa no pós-guerra.
Os países criaram a união monetária, e agora precisam garantir que ela funcione.
No momento, o necessário é uma expansão econômica agressiva no centro. Em longo prazo, o mínimo seria um grau muito maior de solidariedade e disciplina fiscal.
Será que isso é viável? Não sei. Mas sei o que está em jogo. Se a zona do euro odeia ser colocada na frigideira, não deveria pular no fogo.

Tradução de PAULO MIGLIACCI 

ANCELMO GOIS - Bala perdida


Bala perdida
 ANCELMO GOIS
O Globo - 21/09/2011

Caiu em 32,1% o número de vítimas de balas perdidas no Rio no primeiro semestre de 2011, em relação ao mesmo período de 2010. Reflexo da presença das UPPs nos morros, onde antes havia tiroteios entre gangues.

Ainda assim... 
De janeiro a junho deste ano, balas perdidas acertaram 57 pessoas. Seis delas não resistiram.

Coisa esquisita 
O ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão, teve a mala extraviada com seu computador de trabalho num voo da TAM da Ponte Aérea.

Prisão de Dado 
A 4a- Câmara do TJ confirmou sentença de primeira instância e condenou o ator Dado Dolabella a dois anos e nove meses de prisão pela agressão a Luana Piovani e à camareira de teatro Esmê de Souza, em 2008. Marcelo Salomão, advogado da atriz, diz que foi aplicada a Lei Maria da Penha, apesar de Dado e Luana não serem casados. O ator deve recorrer ao STJ.

Calma, gente 
O clima na Fifa é de prostração em relação ao projeto de Dilma da Lei para a Copa de 14. O que se diz é que o governo não cumpriu os acordos de 2007 com a Fifa. Um site de Zurique chega a falar na hipótese de levar a Copa para a Alemanha.

Já... 
O ministro Orlando Silva garante que o governo cumpriu os acordos com a Fifa e acha que é hora de acalmar os ânimos.

Vez das calçadas
Eduardo Paes vai criar o programa “Calçada lisa”, primo próximo do Asfalto Liso, que combate a buraqueira das ruas. O prefeito carioca promete recuperar por completo os principais corredores da cidade. Vamos torcer, vamos cobrar.

Vive la France!
Nicolas Sarkozy atravessava ontem a Rua 45, em frente à ONU, onde estava Obama, e um policial americano gritou: — O senhor não pode cruzar esta rua!

No que... 
O sangue francês do coleguinha Jorge Pontual, testemunha ocular da história, ferveu: — E o senhor não pode gritar com o presidente da França! — ralhou, em inglês. Sarkozy seguiu impávido. E Pontual, que é filho de francesa e tem dupla nacionalidade, ainda deu um brado retumbante: — Vive la France!

Que seja feliz 
Vera Fischer, 60 anos, que estava numa clínica de reabilitação na Barra, já está em casa.

Santa ciumenta
O santuário onde está a imagem de Santa Bárbara que você vê na foto foi instalado, pelos operários, nas obras do túnel da Grota Funda. Reza a lenda que a santa, padroeira da categoria, é ciumenta e não gosta de mulher de saia por perto. Só de calça.

Alô, Lei Seca! 
O Bar do Oswaldo, na Barra, resolveu lucrar com o pesado trânsito do bairro. Está oferecendo serviço de entrega de drinques no engarrafamento. Acredite.

Como ia dizendo
Veja como estes grandes eventos ajudam a economia do Rio. A Dow Chemical Company tornou-se parceira global das Olimpíadas. A empresa, com sede em São Paulo, abre um escritório no Rio de olho nos Jogos de 16.

Gois no Rock in Rio
Elton John vai ganhar um mimo da All Star, no Rock in Rio. O pequeno Zachary Jackson, filho do astro, adotado em 2010, será presenteado com este tênis, com a logo do evento. Não é fofo?

ILIMAR FRANCO - PSDB: lama no PT


PSDB: lama no PT
 ILIMAR FRANCO
 O Globo - 21/09/2011

Ficou pronta a pesquisa feita pelo PSDB e que vai orientar sua ação política nos próximos anos. Os tucanos ficaram entusiasmados com um dos dados coletados: para 21% dos dois mil entrevistados, o PT é um partido ligado a atos de corrupção e ao aparelhamento da máquina. O cientista político Antonio Lavareda registrou, para a cúpula tucana, que é a primeira vez em que um quinto de entrevistados faz essa associação e que o resultado é uma janela de oportunidade e de ação.

Mas a presidente Dilma vai bem
Os entrevistados pela pesquisa tucana fazem uma distinção entre o petismo e a presidente Dilma. Para 40% deles, Dilma está disposta a travar uma luta sem tréguas contra a corrupção. Outros 40% avaliam que a vontade da presidente se limita a uma faxina seletiva. Chamou a atenção dos tucanos a avaliação semelhante do desempenho do PSDB e do PT: competência e eficiência da gestão, 19% x 19%; melhoria dos serviços públicos, 18% x 18%; e qualificação dos quadros, 15% x 13%. Na parte qualitativa da pesquisa, Antonio Lavareda relatou que uma parcela expressiva acredita que, no futuro, os dois partidos vão se fundir.

Minas conta com Aécio. São Paulo conta com Aécio. O Brasil conta com Aécio" - Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, em solenidade na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte (MG), na noite de anteontem.

Vale quanto pesa?
O PT não tem votos no Congresso para aprovar um projeto de lei complementar (257 deputados e 41 senadores) ou uma emenda constitucional (308 deputados e 49 senadores). Os petistas só conseguem aprovar sozinhos, e numa sessão com baixo quórum, apenas leis ordinárias. Apesar da fragilidade legislativa, os petistas têm dois terços dos ministros. A história do governo Lula se repete. Os aliados, principalmente o maior deles, o PMDB, estão rendidos.

Xeque-mate
Diante do alinhamento do Ministério da Fazenda com a Petrobras, no caso da atualização da Participação Especial, os senadores do Rio apresentaram outra proposta: instituir por decreto o Imposto sobre Exportação de Óleo Bruto.

Estouro
O PSD acredita que o TSE dará sinal verde à sua criação na sessão de amanhã. Seus organizadores já falam em uma bancada com mais de 60 deputados federais. Só um pedido de vista pode atrapalhar os planos do novo partido.

Carimbo
A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) tentou impedir a rotulagem dos alimentos transgênicos. Seu projeto foi derrotado ontem na Comissão de Meio Ambiente. O rótulo - um "T" em cor preta num triângulo amarelo - nunca saiu do papel.

Michel Temer recebe Lula
Hoje, no Palácio do Jaburu, o presidente em exercício, Michel Temer, se reúne com o ex-presidente Lula. O relator da reforma política, Henrique Fontana (PT-RS), e os líderes Henrique Alves (PMDB-RN) e Paulo Teixeira (PT-SP) estarão lá. O PT quer financiamento público e um sistema no qual 50% dos deputados seriam eleitos pelo voto em lista e 50%, pelo voto proporcional. O PMDB aceita 50% na lista, mas quer 50% pelo voto majoritário (distritão), com financiamento público e privado.

Pedindo voto
O governador Eduardo Campos (PE) se reuniu ontem com a bancada evangélica na sala da presidência da Comissão do Trabalho da Câmara. Pediu apoio para a mãe, a deputada Ana Arraes (PSB-PE), na eleição de hoje para o TCU.

ARTICULAÇÃO de peso na Câmara para fazer do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) o relator do projeto que cria a Comissão da Verdade.

A SENADORA Ana Rita (PT-ES) defendeu ontem, para a ministra Tereza Campelo (Desenvolvimento Social), que refugiados estrangeiros idosos (65 anos) e deficientes também recebam recursos do Programa de Benefício de Prestação Continuada.

PROMESSA. Candidato ao TCU, o deputado Átila Lins (PMDB-AM) diz que vai privilegiar seus eleitores: "quando for acionado para resolver assuntos de minha competência constitucional e legal".

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Sobre rodas 
SONIA RACY
O Estado de S.Paulo - 21/09/2011

Quem pensa que o governo Dilma está dando“ de graça” incentivos às montadoras nacionais, por meio do IPI, se engana. Pelo que se apurou em Brasília, vem aí contrapartida por meio da manutenção de empregos.

Sobre rodas 2 
E erra quem aposta que a Abeiva – associação das importadoras de carros – vai se conformar com a situação. Pediu a Gleisi Hoffmann que consiga um encontro com o ministro mentor da ideia: Guido Mantega.

Previsões 
Serra chegou ao lançamento do site de Paulo Markun, segunda, dizendo estar “atrasado como sempre” e avisando que não falaria sobre eleições. Conversa vai, acabou comentando sobre o formato das prévias do PSDB. Não disse muito, mas defendeu que sejam amplas, com participação de todos os militantes e muita discussão.“ Devemos fazer debates entre os candidatos, nos finais de semana, até a data das prévias, funcionando com o pré-campanha. Em todas as cidades”. Pelo jeito, algo parecido com o que o PT já está fazendo.

Previsões 2
E José Dirceu, que também foi prestigiar Markun,minimizou a aproximação de Dilma como PSDB: “Normal. São relações institucionais. Se São Paulo e União não trabalharem juntos, não dá para resolver os problemas estruturais dessa cidade, por exemplo”.

Sim e não 
Depois dever indeferidos seus pedidos de passagens e diárias para realização de inspeções nos Estados, Eliana Calmon, corregedora do CNJ, foi ter com Fernando Marcondes, secretário geral do Conselho: “Não posso parar meu trabalho. Se precisar, vou usar minhas milhas e pagar o hotel com dinheiro do meu bolso”. Surtiu efeito: Marcondes justificou que os indeferimentos se deviam à contenção de gastos e reabriu a torneira.

Sim e não 2 
Na alta corte, corre que a convivência entre Eliana e Cezar Peluso, presidente do STF e do CNJ, é algo conturbada.“ Isso não existe.Minha relação de amizade com o Peluso é muito boa”. O Supremo julga, hoje, o fim da resolução que dá poderes investigativos ao Conselho.

Tipo exportação
Bárbara Berlusconi está encantada com os artistas brasileiros. A filha do premiê italiano – dona da galeria Cardi Black Box, em Milão – visitou, em julho, a galeria carioca Laura Marsiaj. No encontro, esboçou interesse em trabalhar com obras de Daniel Murgel e Kilian Glasner.

Tipo importação 
Danilo Miranda recebe, amanhã, Bob Wilson, multiartista americano. Assunto? A montagem brasileira de Happy Days,de Samuel Beckett.

Só elogio 
Edu Lobo tá que tá. Yan Pascal Tortelier gostou tanto da suíte que o músico compôs para a Osesp, que quer executá-la com a Sinfônica de Pittsburgh. Já Henry Fogel, ex-presidente da Liga das Orquestras Americanas e consultor da orquestra paulista, comparou a obra às danças sinfônicas de West Side Story,de Bernstein.

Mulher algo 
Dilma está impressionando os militares. Em recente reunião com técnicos das Forças Armadas, a presidente citou o general e filósofo Tucídides. É do ateniense a célebre frase “a mulher é algo; o homem é nada”.

Patrimônio? 
É precário o estado da Casa Modernista, construída em 1928 na Vila Mariana – e tombada pelo Condephaat. Grade sem portas e janelas descaracterizam a construção; a piscina está destruída;e há cômodos com sinais de infiltração. O jardim ainda é um alento...

ANTONIO C. DE LACERDA - Copom, PIB e o 'chororô'


Copom, PIB e o 'chororô'
ANTONIO C. DE LACERDA
O ESTADÃO - 21/09/11

Quando a realidade muda, minhas con- vicções também mudam" (John Maynard Keynes, 1883-1946).

A frase do mais importante economista do século 20 foi uma resposta a um interlocutor que o questionou por que havia mudado de opinião. É uma boa ilustração do momento vivido pela economia brasileira e das ações que temos de tomar para enfrentar os desafios impostos pela nova realidade internacional de menor crescimento econômico, talvez recessão em muitos países, fase prolongada de juros muito baixos, até mesmo negativos, e "guerra cambial" explícita.

A recente decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir em 0,5 ponto porcentual a taxa básica de juros e sinalizar que ela continuará em queda gerou grande discussão. De um lado,representantes do mercado financeiro aludindo a uma improvável ingerência política na decisão. Do outro, muitos que, como eu, viram coerência e determinação na decisão. O fato é que, interesses específicos à parte, o melhor para o País é adaptar rápida e antecipadamente o conjunto da política econômica para estes "tempos bicudos".

É importante que haja previsibilidade, como querem alguns, nos movimentos das medidas econômicas, mas não podemos nos tornar reféns dela nem torná-la instrumento de ganhos especulativos fáceis e sem risco, em detrimento do que é melhor para a Nação.

Assim, fez muito bem o Banco Central (BC) em considerar a nova circunstância, de uma economia internacional que se está deteriorando. É fácil criticar a decisão com base unicamente nos indicadores passados. Difícil é perceber a dinâmica das variáveis e como elas impactarão os níveis de atividade, de preços e demais indicadores no futuro próximo. Especialmente em momentos de grande transição, como o atual, isso se torna ainda mais desafiador, e é preciso contar com boas análises e ousadia para tomar as decisões mais acertadas. Criticar, pois, a decisão de reduzir os juros com o argumento de que a inflação acumulada nos últimos 12 meses ultrapassou o teto de tolerância da meta, de 6,5%, é equivocado. Por várias razões.

Primeiro, porque inflação elevada não é uma particularidade brasileira. O mundo viveu até recentemente uma pressão de elevação de preços. A inflação acumulada em 12 meses é de 6,4% na China. Há, ainda, países com inflação mais alta que a nossa: Índia, com 8,7%; Rússia,9,4%; Argentina, onde a inflação oficial é de 9,7%; e Venezuela, com 24%! Segundo, porque inflação em alta é um fenômeno com data marcada para terminar. Assim que o cenário de desaquecimento, talvez recessão, se consolidar em economias como EUA, Europa e Japão (mais da metade do PIB mundial), os preços vão cair. Se no passado recente tivemos o efeito da pressão inflacionária internacional, a direção se inverterá, com a desinflação vinda de fora.

Terceiro, porque o nível de atividades da economia brasileira está em franca desaceleração e isso não se trata de um prognóstico. Basta verificar a evolução dos indicadores. O PIB brasileiro, que vinha crescendo em 12 meses a 9% no 2º trimestre de 2010, foi se desacelerando e subiu só 3,1% no 2º trimestre deste ano. Se ficarmos inertes, teremos uma recessão desnecessária à frente!

Quarto, apesar da queda, continuamos no topo do "campeonato mundial de juros reais", muito distantes do segundo colocado e, mais ainda, da média mundial. Ficar nesta posição, com o mundo desenvolvido em crise, significará, além da queda do PIB, valorização adicional da taxa de câmbio, desincentivo ao investimento produtivo e desperdício de recursos públicos para financiar a dívida pública.

Não nos deixemos impressionar, pois, pelo chororô de alguns analistas e operadores do mercado financeiro que tentam desqualificar a decisão do BC e intimidá-lo para os próximos passos.

Os membros do Copom já demonstraram sua independência, não só em relação ao governo, mas também, e principalmente, diante das pressões advindas de vozes nem sempre comprometidas como interesse geral, mas segmentado.

ROSÂNGELA BITTAR - Infeliz coincidência


Infeliz coincidência
ROSÂNGELA BITTAR
VALOR ECONÔMICO - 21/09/11

O deputado Flávio Dino, PCdoB do Maranhão, presidente da Embratur, acabou transformando-se em um involuntário símbolo da luta do jovem político brasileiro contra as ainda poderosas oligarquias nordestinas, uma saga de cordel que começou há 10 anos e que não para de produzir novos versos. Embora em aparente declínio, essa, como todas as sobreviventes, tem um poder ainda extraordinário e suficiente para sufocar qualquer movimento de oxigenação da prática política.
Vindo de uma vida profissional como juiz, Flávio Dino foi eleito deputado federal em 2006 e despontou como fenômeno na eleição municipal de 2008, concorrendo à Prefeitura de São Luís, em segundo turno, com João Castelo, um dos ícones da política maranhense. Aliado à esquerda, o deputado passou a desafiar o clã Sarney, liderando os que abraçaram a causa da resistência à forma como o grupo do ex-presidente da República, integrado basicamente por sua família, conduzia os negócios do Estado.
Saindo bem maior daquele segundo turno de disputa da prefeitura, Flávio Dino estourou em 2010. Ao disputar o governo do Estado com Roseana Sarney, que vinha de uma retomada judicial do gabinete que perdera antes em mais um soluço de desgaste do esquema político do grupo, Flávio Dino foi derrotado. Mas passou por aquela experiência do "perder ganhando": por apenas oito centésimos, cerca de 2,5 mil votos, perdeu a eleição para governador do Maranhão. Até o ex-presidente Lula foi apoiar Roseana Sarney e impedir que o PT ficasse contra os Sarney.
Parte do PT queria apoiar Flávio Dino oficialmente, em coligação, ou não apoiar oficialmente os Sarney, mas o partido se dividiu e a metade do petismo Sarneysista, com apoio de Lula e do PT nacional, ganhou a disputa e aliou-se à candidata depois eleita. Ainda hoje os petistas no Maranhão estão rachados ao meio: O único deputado federal eleito, Domingos Dutra, que na campanha chegou a fazer greve de fome no Congresso Nacional para que houve liberdade de coligação no Maranhão, é do grupo de Dino; um dos três deputados estaduais do PT eleitos naquela campanha ficou também fora do Sarneysismo. O líder do PT que ficou contra Dino é Washington Oliveira, hoje vice-governador de Roseana. Metade do partido majoritário no poder federal segue com os Sarney, a outra metade com Flávio Dino e PSB, PDT, PPS.
Para esse grupo, passada a refrega em que Lula e a cúpula partidária renegaram seus aliados históricos em favor dos Sarney, foi ministrado um pouco de oxigênio, e o governo deu a eles a Embratur, hoje presidida por Flávio Dino.
A autarquia foi criada em 1966, faz agora 45 anos, e concentrava toda a ação governamental na área do turismo até 2003, quando Lula criou o Ministério do Turismo, mais um na expansão desordenada do Estado, como fez em várias outras áreas. Nesses últimos oito anos, ministério e autarquia dividiram suas tarefas. Enquanto o ministro do Turismo comandou a política interna, a Embratur ficou com a ação internacional. As famosas emendas parlamentares ao orçamento da área do turismo, espaço de cultura da corrupção na pasta, ficam todas com o Ministério, nada com a Embratur.
Assim, mesmo com um adversário pemedebista do Maranhão no comando, o ex-ministro Pedro Novais, Dino ficou no cargo e conseguiu levar adiante sua administração. Sob intensa artilharia e denúncias sucessivas de corrupção, Novais foi um ministro do Turismo recolhido a seu canto, nem sequer tomou iniciativas relacionadas à Copa do Mundo, cereja de vários ministérios, principalmente desse.
Eis porém que, caído Novais, a presidente Dilma nomeia um ministro do Turismo mais Sarneysista ainda, o deputado Gastão Vieira, e volta a ficar instável a vida política do grupo de Dino.
A presidência da Embratur é uma nomeação do ministro chefe da Casa Civil, por delegação da presidente da República, mas o titular do cargo deve satisfações ao ministro do Turismo, em cuja órbita se situa a autarquia. Dino despachava pelo menos uma vez por semana com Novais. Não foi avisado por ninguém da Presidência, a não ser pelo próprio Gastão, em telefonema à meia noite, após sair do Palácio da Alvorada quando recebeu o convite, que passaria a dever vassalagem a um possível algoz político mais característico que o anterior.
Nem Flávio Dino nem Gastão Vieira dão sinais, no momento, de que o desenlace está próximo. O ministro o avisou que fora nomeado, o que não deixa de ser uma deferência, e tem despachado com ele rotineiramente. O presidente da empresa, que tem orçamento, administração e pessoal próprios, não viu problemas até o momento nessa convivência e acha que o trabalho está fluindo.
Mas fora dessa cena oficial, começam a surgir pressões para que o deputado do PCdoB desista finalmente do cargo que ocupa. Inclusive têm sido difundidas informações, originadas no PMDB, de que, sendo impossível, por definição e erro de origem, a convivência entre o ministro do Turismo e o presidente da Embratur, este teria que ceder o posto. Até porque, de certa forma, a Embratur lhe dá um palanque mínimo para uma candidatura em futuro próximo.
As pesquisas no Maranhão dão a Flávio Dino, no pior cenário, 44%, e no melhor 52% das intenções de voto para prefeito de São Luís, em 2012. Há, nesses índices, muito de recall da campanha de 2010. Mas esta é uma definição adiada pelo grupo de Dino, por duas razões: primeiro porque no seu campo político há vários outros pré-candidatos a prefeito. E segundo porque seu interesse está todo concentrado na disputa pelo governo do Estado, em 2014. Prepara-se para buscar os oito centésimos de votos que lhe faltaram em 2010.

MARIO MESQUITA - Implicações da decisão do Fed



Implicações da decisão do Fed
MARIO MESQUITA
FOLHA DE SP - 21/09/11




A decisão do Federal Reserve (Fed), o BC dos EUA, hoje, tem implicações potenciais bastante importantes para os demais bancos centrais e para os mercados. Há grande heterogeneidade de opiniões sobre o que o Fed deveria fazer, se é que deveria tomar alguma atitude, e, mais ainda, sobre quais seriam as consequências de suas ações. Em coluna anterior, tratei dos prós e contras das diferentes alternativas de política. Hoje, vale a pena considerar as consequências no que se refere aos preços de ativos.
Nesse contexto, vale recapitular o que ocorreu depois do anúncio da segunda rodada de relaxamento monetário quantitativo (que ficou conhecido pela sigla QE2) em agosto de 2010. Nos dois/três meses seguintes, o dólar perdeu quase 8% ante o euro e 6% em relação ao iene, enquanto os preços de ações americanas tinham alta de 18%.
Já os preços das matérias-primas, resumidos no índice CRB, tiveram alta de 21% -nosso índice de commodities, IC-Br, calculado pelo Banco Central para monitorar o impacto dessas mercadorias sobre a inflação brasileira, subiu 28%.
Assim, por um lado, do ponto de vista da economia americana, o impacto do QE2 foi favorável devido ao efeito riqueza positivo proporcionado aos investidores em ações e também pelo efeito colateral de enfraquecer o dólar, ainda que este último desenvolvimento não tenha sido reconhecido como um dos objetivos da iniciativa.
Do lado desfavorável, a alta dos preços de matérias-primas gerou um efeito renda negativo para a economia americana, pois elevou os preços relativos das importações.
A elevação dos preços de alimentos e combustíveis em particular afetou tanto a renda como a confiança dos consumidores. Nesse sentido, o comportamento dos preços de commodities teve efeito contraproducente para os propósitos do Fed de revigorar a atividade econômica.
Se houve um aspecto em que o QE2 foi bem-sucedido foi a redução do risco de deflação, que, ao lado de recuperação da atividade, foi uma de suas motivações -a inflação, que estava em 1,1% nos 12 meses até agosto de 2010, chegou a 3,8% em agosto passado.
Em economias emergentes, em especial aquelas que resistiram ao processo de enfraquecimento do dólar, o impacto inflacionário foi maior, em parte porque a ancoragem das expectativas é mais frágil e em parte pelo peso das matérias-primas nas cestas de consumo. Pode-se argumentar que, desta vez, uma terceira rodada de relaxamento quantitativo teria impacto menos destacado sobre o preço das commodities. Em primeiro lugar, pois impactaria uma economia mundial mais enfraquecida -estima-se crescimento do PIB mundial de 4,4% em 2011, com viés de baixa, ante 5% em 2010. Em segundo, alguns observadores argumentam que haveria algum desgaste natural da efetividade da política em sua terceira rodada.
Por outro lado, o efeito sobre o dólar poderia ser equivalente, ou até mais intenso, com exceção ante o euro, que também tem seus problemas. Uma nova rodada de ampliação da liquidez em dólares teria o efeito de renovar a pressão sobre as moedas de economias com fundamentos fiscais e de balanço de pagamentos mais sólidos.
Em 2010, o real foi um dos destinos preferidos dos investidores. Hoje, diante das ações do governo visando tornar as aplicações externas em reais menos interessantes, e que aumentaram a percepção de incerteza regulatória no país, o mesmo poderia não se repetir. Nesse caso, teríamos o impacto de alguma elevação do preço de matérias-primas, ainda que possivelmente menor do que em 2010, sem compensação pelo lado da taxa de câmbio. O saldo líquido seria mais e não menos inflação por aqui.
Mas esse não é o único cenário. É possível que o anúncio do Fed, que em parte já foi antecipado pelos mercados, seja decepcionante, o que poderia aumentar temores quanto a um enfraquecimento adicional da economia americana, com efeitos negativos sobre os preços dos chamados ativos de risco, o que inclui os brasileiros.
Nesse ambiente de grande incerteza, a cautela tende a prevalecer sobre a ganância, limitando o espaço para tomada de posições pesadas em risco.

MARCELO COELHO - Muita potência no motor


Muita potência no motor
MARCELO COELHO 
FOLHA DE SP - 21/09/11

Inventaram um novo "assassinato social": beber, entrar num carro e dizimar quem estiver passando


Nos Estados Unidos, o comum é um sujeito se encher de carabinas e rifles, invadir uma escola, atirar no máximo de pessoas que conseguir e terminar se matando também.
Os brasileiros estão inventando um tipo novo de "assassinato social". Consiste em beber bastante, entrar num carro -quanto mais caro e poderoso, melhor- e dizimar quem quer que esteja passando pela calçada.
Claro que uma notícia puxa outra. Não que o cretino tenha sido "influenciado" pelo atropelamento que leu no jornal (embora isso possa acontecer também).
Mas acontece de um caso específico atrair a atenção da população e os imediatamente seguintes acabarem entrando com mais destaque no noticiário, por força da coincidência.
Foi assim há alguns anos, quando se repetiram as cenas de motoristas bêbados guiando na contramão de rodovias como a Imigrantes ou a Fernão Dias.
Aquela moda, ao que tudo indica, passou. Os casos de Ferraris, BMWs, Land Rovers ou sei lá o quê subindo nas calçadas e matando gente se tornaram, entretanto, mais comuns -pelo menos, em regiões da cidade supostamente mais seguras e policiadas, como Pinheiros e Vila Madalena.
São regiões com muito trânsito também, e pelo menos isso poderia inibir o motorista embriagado de pisar tanto no acelerador. Começo a especular um pouco. Talvez os próprios congestionamentos sejam um motivo para esse comportamento assassino.
O feliz proprietário de uma máquina de grande potência, projetada para voar numa autobahn alemã, ou para enfrentar desafios "off-road" no deserto do Colorado, se vê, um belo dia, empacando a cada 15 metros num congestionamento da Rebouças. Sai por uma "via alternativa", como gostam de dizer no rádio, e encara o asfalto péssimo, as valetas, o catador de papel velho que se arrasta com sua carrocinha.
O motor, com toda sua potência acumulada, é um tigre enjaulado. Um mínimo de espaço à frente, eis que avança com ímpeto assassino. A solução não está nas faixas de pedestres, é claro. Desconfio até que a iminência de uma fiscalização mais rigorosa a esse respeito motivou inconscientemente alguns motoristas a um comportamento mais desenfreado do que de costume. Pedestres em liquidação. Aproveite enquanto é tempo.
Um dos últimos episódios de criminalidade automotiva, entretanto, pode jogar outras hipóteses na discussão. Na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, o jovem Pedro Henrique Santos furtou um ônibus e desembestou por 23 quilômetros. Só parou depois de ter batido em 18 carros. Estava bêbado e drogado, provavelmente, mas o que chama a atenção é a roupa que ele estava usando. O rapaz, que era estudante de direito, usava uma roupa de policial do Bope. Tinha saído de uma festa à fantasia; ao ser preso, chegou a dizer que era protegido da presidente Dilma Rousseff.
Fantasia é bem o termo. Com droga ou sem droga, está em jogo uma fantasia de poder. Nos Estados Unidos, o psicopata usa rifles para encenar algum tipo de vingança à moda de Rambo ou do faroeste.
Aqui, onde não é tão fácil comprar armas de grosso calibre, o carrão tipo tanque de guerra ou, na falta dele, um ônibus comum, dão conta do recado. O sujeito já fica sentado a uma altura muito superior à média. Assim como o atirador prefere mirar do alto de uma torre ou de uma colina, o matador motorizado enxerga seus semelhantes de cima para baixo. O mero pedestre talvez não baste. Com o aumento do poder aquisitivo da classe baixa, o carro popular pode se tornar, também, uma vítima apetecível.
Quem sabe, tudo não é fruto da prosperidade econômica? Por volta de 1950, os americanos pisavam fundo no acelerador e a ligação entre carro, bebedeira e morte estava no auge.
O pintor Jackson Pollock morreu disso, em 1956, matando também uma moça que pegava carona com ele. Talvez mais impressionante, anos antes, tenha sido o caso do poeta Robert Lowell, que dirigia bêbado ao lado da escritora Jean Stafford, por quem estava apaixonado. Já tinha ameaçado matá-la e suicidar-se caso ela não consentisse com o casamento.
Ela tentou resistir; ele arremeteu o carro contra um muro. O acidente desfigurou o rosto da moça. Casaram-se depois disso, amargando dez anos de infelicidade mútua, sem sexo. Não é regra geral, claro. Mas dá o que pensar tanta confiança na potência do motor.

EDITORIAL O ESTADÃO - O nó das escolhas políticas


O nó das escolhas políticas
EDITORIAL 
O ESTADÃO - 21/09/11


Não podem ser subestimadas as dificuldades de toda natureza que a presidente Dilma Rousseff tem para conviver com, e administrar, o arranjo político-partidário que dá sustentação parlamentar a seu governo. Mas gradativamente se acentua a impressão de que ela poderia - na verdade, deveria - fazer mais para impedir que a face perversa da "governabilidade" comprometa tanto a moralidade quanto a eficácia de sua administração. Na semana passada, durante a posse do novo ministro do Turismo, com a evidente intenção de fazer um afago no PMDB, que acumulou muitas contrariedades nos episódios das duas últimas demissões ministeriais, Dilma prestou uma homenagem ao óbvio: "Escolhas políticas não desmerecem nenhum governo". Sob aplausos, ainda se deu ao trabalho de explicar: "É com políticos e com partidos políticos, com técnicos e com especialistas, que se governa um país tão complexo como o Brasil".

Talvez para não melindrar a plateia, Dilma evitou cuidadosamente mencionar outras condições que, em qualquer tempo e lugar, são indispensáveis no perfil de administradores públicos: honestidade e zelo no trato da coisa pública. Pode haver quem diga que a omissão é natural e compreensível, na medida em que honestidade é, mais do que atributo, obrigação. E o mesmo se pode dizer de preparo e aptidão técnica. Ocorre que, por uma série complexa de fatores - inclusive a dificuldade da própria presidente para lidar com a questão -, são alarmantes tanto a falta de honestidade quanto a de competência técnica de pessoas nomeadas para os altos cargos da administração federal.

No que se refere à moralidade, os fatos falam por si. As substituições em cadeia dos ministros da Casa Civil, dos Transportes, da Agricultura e do Turismo foram todas motivadas pela mesma razão: improbidade. Desses ministros mandados para casa, três foram herdados do governo anterior e o quarto era apadrinhado do senador José Sarney, o que dá no mesmo. São nomes que, à exceção de Antonio Palocci, tudo indica não terem sido escolha pessoal da presidente e certamente não eram os de sua preferência. Mas ninguém em Brasília compraria um carro usado de qualquer dos quatro, o que pode significar que, na melhor das hipóteses, Dilma deu chance para o azar. Parece que agora está um pouco mais preocupada com a delicada questão dos antecedentes.

Já no que diz respeito à questão da aptidão técnica, o problema certamente não é menor e tem, no geral, a mesma raiz: o loteamento partidário. O noticiário cotidiano está repleto de exemplos de falhas no planejamento e execução de obras públicas - exemplos gritantes, para mencionar apenas os relacionados com a Copa de 2014 e a Olimpíada - que traem o despreparo e a incompetência de seus gestores. É claro que em muitos casos a corrupção responde solidariamente pelos trambiques, mas o desempenho das muitas pessoas, de todos os escalões, até mesmo as honestas, que estão nos cargos exclusivamente por indicação política é talvez a principal razão do mau funcionamento da máquina governamental.

Na edição do Estado da última segunda-feira (19), matéria do repórter Roldão Arruda revela um exemplo escandaloso de notória incompetência para o desempenho, não de uma função subalterna qualquer da administração federal, mas no posto de ministro de Estado. Nomeado para preencher cota de cargos loteados entre as várias tendências do PT, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, está praticamente alijado das decisões relativas a sua área porque "não é do ramo". As questões políticas da reforma agrária e dos assentamentos de terra são tratadas pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. As de caráter técnico são entregues ao presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Celso Lisboa Lacerda. Em recente reunião de ministros com a presidente no Palácio do Planalto, Florence teve uma intervenção interrompida por Dilma, porque os dados que estava expondo não coincidiam com aqueles de que a Presidência dispunha.

Escolhas políticas, tudo bem. Mas por que não de gente honesta e competente?

MARTHA MEDEIROS - Pareço, logo existo


Pareço, logo existo
 MARTHA MEDEIROS 
ZERO HORA - 21/09/11

Foi-se o tempo em que a disputa se resumia ao clássico Ser x Ter. Dizem que ninguém mais dá a mínima para o que é, só para o que tem. Exagero. As pessoas ainda se preocupam com o que são. O problema é que não gostam do que são. Gostariam de ser outra coisa. E aí entra o verbo que está no topo das paradas hoje em dia: parecer.

Tem gente que quer parecer rica, e adota um padrão de vida que não condiz com a sua realidade. Pra manter a fachada de bem-nascida, acaba colecionando dívidas e queimando seu nome na praça. Nos eventos sociais, pode até ser a mais fotografada, mas para os comerciantes é bola preta na certa. A rica mais sem crédito das colunas.

Tem aqueles que querem parecer mais bem relacionados do que são, e se enturmam, forçam intimidade e grudam feito chiclete em pessoas que mal conhecem, só para descolar um convite para uma festa, um show, uma estreia, qualquer lugar que projete.

Os que querem parecer mais cultos do que são, você sabe, são aqueles que nunca foram além do prólogo do livro e é o que basta para olharem a ralé de cima para baixo, como se fossem portadores da sabedoria universal.

Há os que querem parecer mais jovens do que são: bom, quem não gostaria? É uma dádiva parecer ter cinco anos menos, sem esforço. A genética é mais generosa com uns do que com outros. Há muito tempo que eu não tento mais adivinhar a idade de ninguém: sempre erro, já que todo mundo parece ter bem menos. Mas se você tem 56 e parece ter 56, não é caso para enfiar a cabeça dentro do forno.

Os casos mais patéticos, no entanto, são os daquelas pessoas que querem parecer mais felizes do que são. O recurso adotado: mentem.

O casamento delas está uma lua de mel, os filhos só dão alegrias, são muito requisitadas no trabalho, os amigos não param de telefonar, a vida tem sido um passeio num campo florido, e fica sem explicação aquele olhar melancólico, o sorriso forçado, a exaustão de ter que passar o falso entusiasmo adiante, como se não tivéssemos condições de perceber seu verdadeiro estado de ânimo, que é coisa que se transmite sem palavras. Ver alguém se esforçando para parecer feliz é das situações mais constrangedoras que se pode testemunhar.

Está triste? Esteja! Não é rico, nem jovem, nem belo? Nem por isso ficará sozinho. Pessoas não se apaixonam por estereótipos, mas pela singularidade de cada um, pela capacidade de ser surpreendido, pela sedução que o inusitado provoca. Uma pessoa que se preocupa em “parecer” já está derrotada no primeiro minuto de jogo.

Dá valor demais à opinião dos outros, não age conforme a própria vontade, não se assume do jeito que é, inventa personagens para si mesmo e acaba se perdendo justamente deste “si mesmo”, que fica órfão. Quer parecer mais inteligente? Comece admitindo que não sabe nada sobre nada e toque aqui: ninguém sabe.

PAULO SANT’ANA - Uma vertigem do mal


Uma vertigem do mal 
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 21/09/11 

Como por um milagre, começou a surgir dinheiro para todos os lados, dinheiro do PAC, verbas para aeroportos e estádios com vistas à Copa do Mundo, uma gastança incomparável.

Isto prova que há dinheiro, há verbas, quando o que se dizia anteriormente é que faltavam recursos.

Tem dinheiro pra tudo, até para a corrupção. Sendo assim, o que se faz com a Saúde é um crime ao manter-se arrocho nas verbas, sempre reduzindo o número de leitos e de consultas, sempre acionando o torniquete das verbas, que acaba ocasionando mortes e mutilações entre os pacientes.

O que se faz com a Saúde, vê-se agora nessa farra de recursos para Copa do Mundo e Olimpíada, é um crime.

A reportagem da revista Veja desta semana é estarrecedora: o advogado Márcio Thomaz Bastos, sem dúvida o maior e mais competente advogado do país, já indicou à Presidência da República seis dos atuais 11 ministros do Supremo Tribunal Federal.

E já se prepara, MTB, para indicar o sétimo ministro do Supremo.

Incrivelmente, Márcio Thomaz Bastos vê assim o Supremo julgar frequentemente ações em que ele é o advogado constituído.

Em outras palavras, o advogado é quem escolhe os juízes supremos dos seus pleitos profissionais no tribunal máximo.

A Veja escreveu assim, exatamente assim: “Márcio Thomaz Bastos, ou MTB, como preferem os antigos, participou da escolha de pelo menos seis ministros que julgarão o mensalão, definiu a estratégia como advogado do caso e continua a influir na composição da corte constitucional”.

Foi a Veja que afirmou.

São tantos os ministros que caem por corrupção denunciada pela imprensa – e reprimida prontamente pela presidente Dilma Rousseff –, há outros tantos que começam a balançar em seus cargos pelos mesmos motivos, que esse espetáculo horrendo transmite-nos por vezes a delirante impressão de que o atual tipo de governo brasileiro não passa de uma organização criminosa destinada a transferir recursos públicos para bolsos particulares.

E inacreditavelmente esse sistema espúrio de raspagem volumosa dos cofres públicos pela voracidade corruptiva, entre nós, é erigido pelos cidadãos, na forma de eleições que são convocadas para legitimar o status quo vigorante e perpetuador.

Tal fato aterroriza tanto os espíritos, que muitos deles passam a duvidar da eficácia da democracia, que no nosso caso derivou para a criação de uma classe especial dominante: a dos que metem a mão na coisa pública, locupletando-se.

Só um movimento popular maciço e transbordante pode pôr fim a essa distorção desse regime de libertinagem financeira.

Mudando de assunto e passando das dificuldades da nação para as minhas dificuldades íntimas. Escrevo à noite esta coluna e, nos intervalos do meu texto, sou jungido a recolher-me ao fumódromo, para fumar.

Ocorre que há obras nas proximidades do fumódromo e por isso ele fica às escuras.

Vejam a minha situação. O fumódromo é por essência um lugar ermo, esfumaçado, portanto sujo.

E, além disso, se torna, portanto, entre lúgubre e sinistro. E vá fumaça na escuridão.

Só um safado fumante como eu pode se sujeitar a essas pérfidas humilhações.

ROBERTO DaMATTA - Seis por meia dúzia


Seis por meia dúzia
ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 21/09/11

Usamos essa fórmula quando uma pessoa faz uma troca na qual ela nada ganha ou perde exceto, eventualmente, a coletividade à qual pertence. A expressão é um belo exemplo de uma transação não histórica (ou até mesmo anti-histórica) na qual, parafraseando o velho Lavoisier "nada se cria, nada se perde" e nada se transforma, embora todos esperem o contrário.

Eis um caso perfeito do mudar para continuar como, aliás, admitiu a própria presidenta quando, na posse do novo titular do turismo, deu vivas ao Brasil e à sua aliança com o PMDB a cujo feudo - não se pode ter mais nenhuma dúvida - pertence o ministério em pauta. Claro que todos esperam que as coisas se transformem para melhor nessa indústria tão básica no mundo moderno e tão crucial para um Brasil que tem muito a avançar nesta área e será hospedeiro de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada.

Embora a presidente afirme, na significativa entrevista concedida à jornalista Patrícia Poeta que no seu governo não há uma desatinada troca de favores, no Ministério do Turismo o que se observa é uma curiosa preferência pelo Maranhão e pelo senador José Sarney como indicador de cargos. Aqui não há satanismo político, exceto o da monopolização de certos cargos e ministérios sem a menor preocupação com um mínimo de calibragem entre meios e fins: no caso, entre competências técnicas e a função a ser realizada.

No fundo, essa troca de seis por meia dúzia confirma um traço claro embora pouco discutido de nosso sistema de poder: o fato de que o cargo pode ser ocupado por qualquer ator, desde que ele seja devidamente empistolado ou tenha um padrinho de peso, de sorte que pouco importa se entende ou não das suas tarefas ministeriais, pois essa preocupação racional corriqueira torna-se irrelevante diante do aval (ou da Bênção) do poderoso padrinho. Essa onipotente política de indicação que avilta e abusa do elo racional entre meios e fins e hoje é justamente uma dimensão que uma parcela ponderável do eleitorado brasileiro não suporta mais. Ao lado dos impostos ela é um ponto central do "custo Brasil". Neste caso, trata-se de um "custo político" fundado nas relações pessoais mas mascarado por um elo partidário. Elo que, na maioria dos casos, só tem serventia para legitimar um velho sistema de parentescos e simpatias intransferíveis de modo que é o apadrinhamento travestido de coalizão que pode transformar um leigo num especialista em economia, em relações internacionais, em saúde, comunicação ou transporte. Nas magias das listas, temos um dos mais fortes exemplos das desordens e irracionalidades vigentes naquilo que chamamos de "política" e, por isso a "política" é vista como uma região social na qual os valores da ética, da moralidade, da racionalidade e, sobretudo, do bom senso são subvertidos ou desdenhados. Ao persistirmos em trocar seis por meia dúzia, ao supormos que a "política" (com seus interesses imediatos, sua necessidade de manter fachadas e sua lógica de só pensar o Brasil em termos de permanecer no poder) tudo pode, estamos retardando a transformação da nossa sociedade num sistema mais igualitário. Se o padrinho vale mais do que a educação, se o que conta no final é um partido político e não a competência, se o que efetua a troca é a bênção, então de que vale o mérito?

Se você, querido leitor, não contrata um eletricista para ser cozinheiro mesmo quando ele é recomendado pela Ana Maria Braga, como é que o governo federal pode entregar um ministério para uma pessoa que nada tem (ou teve a ver) com o objetivo básico daquela instituição? Você entraria num avião pilotado pelo papa, por Barak Obama ou por Ivete Sangalo? O nosso Silvio Santos poderia ser ministro da Saúde por indicação de São Pedro?

Ter ou não competência; servir ao papel e às instituições de modo hábil cedendo, é claro, ao bom senso tendo como objetivo o bem-estar do Brasil; ser ou não ser um trocador de seis por meia dúzia, é uma questão a ser posta na mesa dentro da nossa caminhada em direção a uma democracia que requer gerenciamentos mais eficientes da máquina pública. Porque esse elo pouco politizado (no sentido de ser discutido) entre papéis sociais que não nos pertencem (mas são de certas instituições e corporações como secretarias e ministérios) englobam também cargos políticos que devem ir além da mera capacidade de bater um bom papo ou até mesmo de saber escolher bons auxiliares. Por quê? Porque a mera política de indicação por meios de elos pessoais não fornece uma visão do Brasil e do seu lugar no cenário mundial. Você pode pensar que o poder permite isso, mas fique advertido que ele não é onipotente ou eterno. A política pode e faz, mas como estamos vendo reiteradamente nesses nossos tempos de neopopulismo, ela precisa ter um mínimo de afinidade com a competência e, acima de tudo, com a sinceridade. O mundo não funciona na base de uma república de Platão nomeando somente sábios. Aliás, conhecimento nem sempre garante sensibilidade e discernimento político. Dos políticos espera-se, sem dúvida, um mínimo de sintonia com os cargos que ocupam. Mas o que deles se exige de verdade não é apenas o gerenciamento eficiente e técnico da coisa pública. É, acima de tudo, o modo pelo qual tomam conta de nossas riquezas e ajudam a discernir o nosso futuro. Duas palavras definem esse estilo: sinceridade e ética. Elas não exigem diploma, mas tampouco são coniventes com apadrinhamentos e simpatias pessoais à custa do nosso trabalho.

MÔNICA BERGAMO - COMITÊ ELEITORAL



COMITÊ ELEITORAL
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 21/09/11

Lula recebeu o bispo Marcos Pereira, ex-diretor de relações corporativas da TV Record e atual presidente do PRB (Partido Republicano Brasileiro), para uma longa conversa em seu instituto, em SP, há alguns dias. Em pauta, as eleições de 2012. O ex-presidente quer atrair o partido para uma composição com o PT.

DIFERENÇAS
Pereira confirma. Diz que Lula falou sobre eventual coligação em torno da candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de SP. "Sua meta número um é realmente eleger alguém em SP", diz Pereira. O PRB, no entanto, não deve apoiar o PT -por "incompatibilidade de ideias" tanto com Haddad quanto com Marta Suplicy, também pré-candidata do partido.

CAMINHO PRÓPRIO
Com dez deputados federais e 780 vereadores no país, o PRB é cortejado no meio político como um braço da Igreja Universal do Reino de Deus e da Record. Pereira, no entanto, diz que são entidades muito distintas. "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Partido, igreja e TV caminham separados", afirma.

PINCEL
O cabeleireiro Celso Kamura desembarcou em Nova York no domingo para arrumar a presidente Dilma Rousseff, que discursaria ontem na ONU. Cuidou também do visual de outra cliente famosa, a apresentadora Angélica, que estava na cidade para o Brazil Foundation.

VELOCIDADE MÁXIMA
Kamura diz que pagou a passagem do próprio bolso. "São duas pessoas que eu amo e que tinham compromissos 'importantérrimos'. Cumpri minha obrigação de cabeleireiro, profissional." Ele diz também que tirou seu visto sozinho, sem a ajuda do Itamaraty. "Paguei R$ 2.000 a um contador, o Tirone, que faz isso em dois dias." Ele ainda pretende esticar para alguns dias de folga na cidade.

BATERIA
Além do hospital São Luiz, o craque Neymar foi também ao centro RDO, na avenida Brasil, para avaliação. O médico Joaquim Grava, que acompanhou tudo, confirma. "Foram exames de laboratório feitos para uma seguradora europeia da qual não me lembro o nome", diz ele. "Vários jogadores têm seguro. E as empresas me chamam para fazer o acompanhamento." Grava é consultor do Corinthians.

NADA SEI
De acordo com dirigente de importante clube de São Paulo, seguros especiais são feitos quando o jogador está sendo negociado com grandes times, que querem a garantia de que, se algo acontecer com o craque até ele se apresentar à nova equipe, não ficarão no prejuízo. Grava diz não saber quem contratou a seguradora nem se há negociação de transferência de Neymar para o Real Madrid ou para o Barcelona. "Não me envolvo nisso."

UM BANQUINHO
Começa à meia-noite de hoje para amanhã a venda de ingressos para os shows da turnê que celebra os 80 anos de João Gilberto. A compra para a apresentação no Rio, no dia 15 de novembro, poderá ser feita pelo site www.ingresso.com, e para as de Brasília (19/11) e Porto Alegre (25/11), em www.ingressorapido.com.br.




Ingressos para a abertura da turnê, em SP, em 5 de novembro, estarão disponíveis amanhã, a partir de meio-dia, no site do Via Funchal (www.viafunchal.com.br).

UM BANQUINHO 2
Os preços para as performances de João Gilberto vão de R$ 500 a R$ 1.000, em SP, e de R$ 600 a R$ 1.400, no Theatro Municipal, no Rio.

TABLADO
As atrizes Bianca Rinaldi e Gabriela Duarte assistiram à estreia da peça "Eu Era Tudo pra Ela... e Ela me Deixou", com Marcelo Médici, no Teatro Faap.

NO VAGÃO
O músico americano Arto Lindsay está produzindo dez faixas de "Estados Alterados", disco de estreia de Rodrigo Pitta, diretor dos musicais "Cazas de Cazuza" e "Patri Armada". O primeiro clipe do CD, "Underground", que teve cenas na estação Consolação do metrô de SP, será gravado em 3D, hoje, em uma festa no clube D-Edge.

CURTO-CIRCUITO

Paulo Franzine lança hoje, às 19h30, a empresa Florestas Inteligentes, de mudas para reflorestamento, na Fundação Maria Luiza e Oscar Americano.

A Câmara de Comércio Árabe-Brasileira faz jantar hoje para Lourenço Chohfi.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

CRISTIANO ROMERO - Uma nova política econômica


 Uma nova política econômica
CRISTIANO ROMERO
VALOR ECONÔMICO - 21/09/11


O governo Dilma Rousseff opera, sem fazer alarde, mudanças no tripé de política econômica que vigora no Brasil desde 1999. Dois aspectos do tripé - o regime de metas para inflação e o câmbio flutuante - estão sendo flexibilizados. O terceiro pilar, a política fiscal, não mudou muito, mas o cumprimento da meta de superávit primário em 2012 e nos anos seguintes ainda é uma promessa.

Desde meados do ano passado, o Banco Central (BC) não consegue coordenar as expectativas de inflação dos agentes econômicos. Esses perceberam que a economia estava crescendo acima do potencial e gerando pressão inflacionária, agravada pelo aumento dos preços das commodities no mercado internacional. O BC, por razões político-eleitorais, adotou o discurso monocórdico de que a inflação, em algum momento, cederia. Não cedeu.

Em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5% e a inflação foi a 5,9%. Uma olhadela na série histórica recente de PIB e IPCA confirma um fato inegável: toda vez que o primeiro cresce acima de um determinado patamar, o segundo fica acima da meta inflacionária. Os números mostram que, quando a economia avança num ritmo superior a 4% ou 4,5% ao ano, o IPCA supera a meta oficial (de 4,5%).

Metas e câmbio flutuante estão sendo flexibilizados

Há de se considerar ainda que a inflação brasileira exibe uma persistência que desafia os teóricos. Mesmo em ano de recessão, como foi o de 2009 (PIB negativo de 0,64%), o IPCA se revelou saliente - 4,31%.

No regime de metas, quando as expectativas apontam inflação acima do alvo oficial, a autoridade monetária não consegue efetivamente levar o IPCA para o alvo. No início deste ano, as expectativas voltaram a piorar, o Banco Central elevou a taxa de juros, adotou medidas de contenção do crédito, mas optou por não derrubar o crescimento da economia a um nível que lhe permitisse conter a inflação. Ao agir dessa forma, assim como já havia feito em 2010, adiou para o ano seguinte a busca da meta.

No movimento mais recente, o BC inovou. Mesmo com a deterioração das expectativas, reduziu a taxa de juros, baseado na aposta de que a confusão lá fora atingirá o Brasil a ponto de cumprir o papel - de desaquecer a economia -, antes reservado à taxa de juros. As expectativas voltaram a piorar e, agora, apontam para o não cumprimento da meta, não apenas em 2011 e 2012, mas também em 2013, 2014 e 2015.

Dados do BC mostram que, na média, os agentes econômicos esperam inflação de 5,51% em 2012, 5,02% em 2013, 4,85% em 2014 e 4,73% em 2015. Quando se considera a mediana, os resultados melhoram um pouco, mas ainda são preocupantes - respectivamente, 5,50%, 4,80%, 4,50% e 4,50%. Se o cenário externo devastador não se confirmar, não demorará muito e o BC virá a público sinalizar que a perseguição à meta ficou para 2013.

Há uma novidade desagradável no momento atual do regime de metas. Pela primeira vez, desde 1999, o BC não se compromete com uma política efetiva de busca da meta de inflação. Isso pode ser dito de outra forma: pela primeira vez, os agentes não estão acreditando que o BC vá conseguir derrubar o IPCA.

Nos quase 12 anos do regime, o país enfrentou cinco momentos de pressão inflacionária. Em 1999, por causa da maxidesvalorização do real; em 2001, pelo inesperado apagão de energia; em 2002/2003, pela crise de confiança que se abateu sobre o Brasil; em 2008 e 2010/2011, pela aceleração do crescimento.

Em todos esses momentos, com exceção de 2010, o BC adotou política que convenceu os agentes que a inflação cairia nos meses e anos seguintes. Em apenas uma oportunidade, recorreu à prerrogativa de adoção da meta ajustada, mais alta que a original para os anos de 2003 e 2004. Não há mal algum no recurso a esse instrumento. Na prática, ele ajuda a suavizar os movimentos de juros em direção à meta e, o melhor, permite que o BC fique em sintonia com as expectativas.

O regime de câmbio flutuante também foi atenuado. Preocupado com o forte fluxo de capitais que ingressa no país, o governo adotou inúmeras medidas para taxar a entrada de "hot money" (recursos de curto prazo). Por causa dessas intervenções, o câmbio parou de flutuar - agora, sofre desvalorização mais acentuada que a de outras moedas, em grande medida por causa do aumento da aversão dos investidores a risco, mas também motivada pela surpresa da política monetária.

Na área fiscal, o governo ainda não disse como vai cumprir a meta cheia de superávit (3,1% do PIB) no próximo ano. Sinais contraditórios emitidos recentemente, como a decisão de contratar quase 55 mil funcionários públicos em 2012, tornam nebuloso o cenário fiscal, apontado pelo próprio governo como suporte fundamental para que o BC reduza a taxa de juros.

Especula-se nas ruas que Brasília caminha para a adoção de um modelo econômico mais parecido com o da Turquia ou o da Argentina, dois países que apresentam taxas elevadas de crescimento e inflação. Talvez, seja cedo para fazer essa afirmação, mas é certo que a política dos últimos anos mudou.

CELSO MING - O câmbio muda na moita


O câmbio muda na moita
CELSO MING
O ESTADÃO - 21/09/11

Depois de dezembro de 2004, a política cambial mudou várias vezes. Mas, de lá para cá, o governo já não anuncia mais seus objetivos.

A partir de seu piso, obtido em 26 de julho, a cotação do dólar já aumentou 16,8%. Apenas em setembro (até ontem),a alta foi de 12,5%. E não há nenhuma indicação de que a atual maré altista esteja próxima de ser revertida.

Em 2004, o Banco Central anunciou que passaria a comprar dólares no câmbio interno para cumprir dois objetivos: amontoar reservas e impedir a excessiva volatilidade do câmbio.

Depois de 2009, o Banco Central continuou suas compras quase diárias de dólares não mais para fazer reservas, porque os US$ 210 bilhões haviam se mostrado suficientes para transformar o impacto da maior crise desde os anos 30 numa "marolinha". O Banco Central não atuou tampouco para neutralizar a excessiva volatilidade das cotações. Sua meta óbvia passou a ser impedir uma valorização maior do real ante outras moedas estrangeiras (queda da cotação do dólar).

Só que essa mudança de política não foi anunciada nem antes nem depois. Os objetivos simplesmente mudaram na moita, sem que o Banco Central tivesse deixado claro o que passou a pretender.

Neste ano, o governo Dilma deu várias indicações de desconforto com a forte tendência a novas valorizações do real e tomou providências destinadas a reduzir a entrada de dólares, que culminaram, em julho, com a taxação de um IOF de até 25% sobre negócios com derivativos cambiais. O Banco Central, por sua vez,seguiu comprando moeda estrangeira, mas não se dignou a avisar que já não pretendia nem acumular reservas nem acabar com a grande volatilidade. Desde o final de julho, quando o governo completou umasé- rie de intervenções e as cotações reverteram sua tendênciaanterio r,avolatilidade tem sido enorme. No entanto, o Banco Central não teve interesse em atuar para estancar a volatilidade. E há duas sema- nas já não compra mais moeda estrangei- ra.Poderia,porexemplo,tervendidodóla- resde suasreservas paraestabilizar as cotações, mas não agiu nessa direção.

Depois de demonstrar suficientemente que não queria a cotação do dólar abaixo de R$ 1,50, o governo Dilma não indicou se trabalha com um teto das cotações.

O momento parece inteiramente atípico, porque a tendência de longo prazo continua sendo de valorização do real. Nenhum dos fatores que derrubaram a cotação para a casa de R$ 1,55 foi removido. As reservas, hoje de US$ 352 bilhões, continuam passando segurança na economia brasileira para o investidor; o déficit em Conta Corrente neste ano dificilmente passará dos US$ 60 bilhões ou 3% do PIB; o Investimento Estrangeiro Direto deverá alcançar US$ 70 bilhões (superior ao próprio déficit em Conta Corrente); os juros básicos estão em queda e ajudam a reduzir o afluxo de moeda estrangeira destinada a tirar proveito da alta remuneração do setor financeiro interno. E, mais do que isso, se o Banco Central concluir que a alta do dólar atrapalha a briga contra a inflação, poderá vender uma pequena parte de suas reservas no câmbio interno e, assim, desencorajar eventuais apostas na forte desvalorização do real.

Mas, decisivamente, as autoridades não anunciam mais o que pretendem.

CONFIRA

Ser ou não ser capitalizado

Na semana passada, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, desmentiu que os bancos europeus precisassem de reforço de capital de mais de 200 bilhões de euros, como o relatório interno do próprio FMI anunciara. E, ontem, o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchar, avisou, em entrevista à rede de TV France 24, que é essencial aumentar o capital dos bancos europeus.

Mantega reforça

Também ontem, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, afirmou à agência Dow Jones que os bancos europeus necessitam, sim, ser capitalizados.

Neymar y la deuda

O principal jornal da Espanha, El País, em artigo assinado por Joaquín Estefanía, afirmou ontem que a disputa por Neymar pelas principais equipes de futebol da Espanha e, ao mesmo tempo, a disposição dos Brics de ajudar os países do euro a pagar suas dívidas são "uma contradição" e "um sinal do nosso tempo".

ROLF KUNTZ - FMI aprova corte de juros no Brasil


FMI aprova corte de juros no Brasil
ROLF KUNTZ 
O Estado de S.Paulo - 21/09/11

Fundo leva a sério elevação da meta primária, mas refaz contas e prevê que PIB do País crescerá 3,8% ante previsão anterior de 4,1%


O governo brasileiro ganhou um importante aliado, o Fundo Monetário Internacional (FMI), na defesa do corte de juros. A inflação estará no centro da meta, 4,5%, no fim do próximo ano, segundo a nova projeção do FMI, incluída no Panorama Econômico Mundial divulgado ontem.

O governo começou a apertar a politica fiscal e isso ajudará o Banco Central (BC) a conter a alta de preços, segundo a economista Petya Brooks, da equipe de pesquisa econômica da instituição, chefiada por Olivier Blanchard. Foi uma rara demonstração de otimismo, numa exposição sobre um cenário mundial de baixo crescimento, de orçamentos em desordem no mundo rico e de rebaixamento dos títulos públicos de grandes economias, como EUA e Itália.

A inflação brasileira deve chegar a 6,3% em dezembro de 2011, pouco abaixo da média prevista para o ano, 6,6%. A média projetada para 2012 é 5,2% e as pressões continuarão cedendo até o fim do ano. O PIB deve aumentar 3,8% neste ano e 3,6% no seguinte, Na projeção anterior, divulgada em junho, o crescimento previsto para 2011 era 4,1%.

É preciso esperar para ver como o esfriamento da economia mundial afetará a demanda interna e as pressões inflacionárias no Brasil, disse Petya Brooks durante a entrevista de apresentação do Panorama. O BC, lembrou a economista, deu ênfase a esse fator para justificar sua decisão: "Mas ao mesmo tempo houve um aperto na política fiscal. Isso deverá contribuir para aliviar as pressões inflacionárias e nos dá alguma garantia."

A ênfase maior no ajuste fiscal foi indicada pela decisão do governo de elevar o superávit primário neste ano, explicou a economista ao Estado logo depois da coletiva. Ela manteve a avaliação mesmo quando lhe foi lembrado um par de detalhes: a receita fiscal está crescendo muito neste ano - cerca de 14% até agosto, descontada a inflação - e metade dos R$ 10 bilhões acrescentados ao resultado primário foi proporcionada por um grande pagamento de tributo da Vale.

A mesma questão foi examinada com um misto de entusiasmo e cautela pelo economista Philip Gerson, assessor do Departamento de Assuntos Fiscais. A mudança da política fiscal nos emergentes é "boa demais para acreditar", segundo ele. Algo divertido está ocorrendo nas contas públicas e as pessoas não estão percebendo, acrescentou. No caso do Brasil, é bem-vindo o aperto anunciado para este ano.

Mas ele fez duas advertências: 1) a meta de superávit primário de cerca de 3% em 2012 é adequada, mas será importante as autoridades indicarem como chegarão lá, 2) o Brasil ainda terá de cuidar de outros desafios fiscais, como a rigidez do gasto, a estrutura tributária, a vinculação de verbas e -como no caso de outros emergentes e de muitas economias avançadas- os problemas derivados do envelhecimento da população e ao crescimento dos gastos com saúde.

ROBERTO ABDENUR - Novo conflito no Oriente Médio?


Novo conflito no Oriente Médio?
ROBERTO ABDENUR
FOLHA DE SP - 21/09/11

A ausência de atitudes flexíveis de Israel e dos EUA traz risco de nova "intifada" nos territórios ocupados

MANTIVE, DURANTE minha gestão como embaixador em Washington, cordiais relações com o então embaixador da Arábia Saudita, Turki al Faisal, um influente membro da família real, ex-chefe do Serviço de Inteligência e ocupante de altos cargos governamentais.
Reencontro seu nome, agora, como assinante de um inusitado e insólito artigo publicado na imprensa dos EUA e outros países, inclusive o Brasil.
O artigo, intitulado "Se vetarem um Estado, perdem um aliado", chama a atenção por ser um verdadeiro ultimato, redigido em termos enfáticos, agressivos e até ameaçadores, ao governo norte-americano.
Turki afirma que os EUA "têm a obrigação" de apoiar o pleito palestino pelo reconhecimento como Estado. Que em caso contrário a Arábia Saudita não mais poderá manter sua "histórica relação especial" com os EUA.
Depois de lamentar que a administração Obama tenha deixado de oferecer "novas propostas viáveis" para a solução da questão palestina, reitera ser "crucial" o endosso americano ao Estado palestino, sob risco de que um veto norte-americano no Conselho de Segurança da ONU provoque "profundas consequências negativas [...] levando a uma grita geral entre os muçulmanos no mundo inteiro".
Termina por dizer, brutalmente, que se os EUA não quiserem apoiar o pleito palestino, pelo menos "saiam da frente" e não atrapalhem os esforços da Arábia Saudita e de outros países árabes moderados.
O artigo, saído antes da sessão da Assembleia Geral da ONU, não fica só na hipótese de um sério abalo no relacionamento dos EUA com um de seus principais aliados no mundo árabe -surge quando nuvens negras pairam sobre o Oriente Médio a propósito da questão palestina e no contexto da crescente instabilidade e imprevisibilidade acarretadas pela Primavera Árabe e a deterioração das relações entre Israel e países como Egito e Turquia.
Quando a agora liberada opinião pública nos países árabes dá vezo a seus -compreensíveis- sentimentos negativos em relação a Israel, por conta de sua política expansionista e intransigente. E quando a moderada democracia islâmica na Turquia passa a projetar uma renovada influência sobre a região.
Ancara chega a acenar com o recurso a medidas como a mobilização de sua Marinha para proteger barcos dirigidos a Gaza.
As crises no Iraque, Síria, Iêmen, Líbia, somadas à inquietação popular nos países do Golfo -inclusive na própria Arábia Saudita- podem levar a um ponto de ebulição as tensões na região. A gravidade da situação não pode ser subestimada.
Na provável ausência de posturas mais flexíveis da parte de Israel e dos EUA, há risco de que se precipite uma nova "intifada", a rebelião civil nos territórios ocupados. Ou mesmo de choques militares.
Por indesejável ou impensável que seja, se apresenta nesse contexto o risco de um novo conflito no Oriente Médio. O incêndio que lá lavra precisa com urgência ser contido, com mais razão pelos efeitos devastadores que teria sobre uma já combalida economia internacional.
Bem faz o governo brasileiro em apoiar a causa palestina, sem prejuízo de seu compromisso com a sobrevivência e bem-estar de Israel.

ANTONIO DELFIM NETTO - Garantia legal


Garantia legal
ANTONIO DELFIM NETTO
FOLHA DE SP - 21/09/11

O "capitalismo" não foi inventado: é um processo de organização social e produtiva que os homens foram "descobrindo" ao longo de sua trajetória. Ele é sujeito a crises porque: 1º) O próprio comportamento do homem oscila entre o entusiasmo e a depressão e 2º) As "respostas" do sistema produtivo (variações da oferta) aos estímulos da demanda são, simultaneamente, condicionadas pelas incertezas do futuro opaco e pela natureza do avanço da tecnologia.
Ele sobreviveu porque, de cada crise, saiu mais ajustado ao processo civilizatório. A história mostra, sem nenhuma possibilidade de contradita, que a permanente elevação da produtividade do trabalho e a imensa elevação do padrão de vida que o acompanhou, com a liberdade individual que permite, são um enorme sucesso.
Obviamente ele tem muito a caminhar na direção de uma sociedade mais "justa" na qual prevaleça uma efetiva igualdade de oportunidade para todo cidadão, não importa o ambiente em que tenha sido gerado. O que justifica a nossa esperança é que a combinação de uma democracia liberal (urna) com o capitalismo (mercado) tende a se autocorrigir na direção daquele objetivo.
As duas instituições (a democracia liberal e o mercado) dependem de um Estado constitucionalmente limitado que dê garantias legais para que elas possam produzir o resultado desejado.
Talvez o exemplo mais palpável dessa simbiose seja o enorme crescimento da Inglaterra após a "Revolução Gloriosa de 1688", que eliminou o "poder do soberano" que podia mudar a regra à sua vontade; comprometeu o Estado com o respeito aos direitos da propriedade privada e tomou-lhe o poder de confiscá-la.
Talvez não seja exagerado dizer que foram essas mudanças e o desenvolvimento tecnológico (ele mesmo, talvez, estimulado por elas) que deram origem à primeira Revolução Industrial (1760-1830), que mudou o mundo.
A história econômica dos últimos 300 anos é pouco mais do que a descrição do aperfeiçoamento dos dispositivos legais de imposição do cumprimento dos contratos que obrigam ainda o poder incumbente.
Esse assunto é do maior interesse no estágio de desenvolvimento em que se encontra o Brasil, onde a "segurança jurídica" é ainda precária.
Como disse o ilustre ex-ministro Pedro Malan, "no Brasil até o passado é incerto". Isso é muito prejudicial ao desenvolvimento de longo prazo. Infelizmente, não vamos muito bem nesse quesito, como mostram o "Rule of Law Index" de 2011 e os dados do Economic Forum de 2011-2012.
Amanhã, por estímulo de um prêmio oferecido pela Fundação Getúlio Vargas, haverá uma discussão do assunto, no ambiente Leopoldo, a partir das 12 horas.

RUY CASTRO - Três portas



Três portas
RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 21/09/11

RIO DE JANEIRO - Antes que você comece a ler, devo adverti-lo: sou ignorante a respeito de carros. Nunca dirigi, não distingo um fusca de uma jamanta, e o único equipamento de bordo que, como copiloto, já manobrei foi o isqueiro do carro.
Páginas e páginas na mídia estão anunciando que "finalmente chegou o lançamento mais espetacular de todos os tempos": o carro de três portas. Embatuquei: por que "finalmente"? Não sabia que a humanidade estava paralisada, sôfrega e expectante por essa novidade que vem alterar a ordem do universo. E o que impedia que tal maravilha fosse inventada antes? Também não sei. Mas, e daí? O fato é que finalmente temos o carro de três portas.
Virando a página do anúncio, leio que o carro de três portas é "simplesmente genial". Exceto pelo apreço do redator por advérbios de modo, o texto informa pouco a respeito das vantagens de um carro ter três portas, e não duas ou quatro como de praxe desde 1900. Tirando os óculos para ler melhor, descubro em letras miúdas: "Total segurança para desembarque de passageiros somente pelo lado direito".
Ah, bom. Significa que, a partir de hoje, ninguém será abalroado por outro veículo ao sair de forma atabalhoada de um carro pelo lado esquerdo -porque não existe mais a porta traseira esquerda. Mas, pelo visto, o motorista continuará correndo esse risco. Por que não eliminar também a sua porta, mantendo apenas as duas do lado direito?
Para o Rio, o carro de três portas chega em má hora. Com as pistas da direita reservadas agora somente aos ônibus e táxis em Copacabana, em Ipanema e no Leblon, os particulares são obrigados a trafegar, embarcar e desembarcar pela esquerda. Donde o carro de três portas nasceu impraticável em três dos bairros mais abonados do Brasil.

GOSTOSA


MERVAL PEREIRA - O caminho do PSDB


O caminho do PSDB
MERVAL PEREIRA 
O GLOBO - 21/09/11

O PSDB precisa revalorizar sua trajetória, fixar seus valores diante da sociedade e apresentar propostas que abram espaço para esta mobilidade social que está sendo registrada nos últimos anos, que o eleitorado já identifica com as primeiras iniciativas do partido, com o Plano Real.

Essa é a conclusão principal de uma pesquisa que o cientista social Antonio Lavareda apresentou ontem aos senadores do partido em Brasília para basear uma reorganização partidária.

Há um longo caminho a percorrer, mas alguns sinais positivos estão à frente. Embora venha em segundo lugar, na frente do PMDB, na preferência do eleitor, tem uma distância muito grande do PT, que é o preferido.

A corrupção chegou mais perto do PT, mas a percepção do eleitor é que ambos os partidos estão ligados a problemas de corrupção.

Embora a igualdade de posições possa indicar que a questão moral fica neutralizada como arma política, uma visão otimista, do ponto de vista eleitoral, seria a de que o PT perdeu a fama de ser um partido puro e está fragilizado nessa área.

O aparelhamento político da máquina como gerador da incompetência da gestão pública está ficando claro para o eleitor, enquanto o diferencial favorável aos tucanos seria a qualificação dos seus quadros e as gestões estaduais.

Em relação à presidente Dilma, metade dos entrevistados acha que ela realmente está querendo fazer uma grande limpeza, mas outra metade desconfia que ela seja seletiva nessa limpeza, por interesse partidário.

Houve resgate parcial da imagem de Fernando Henrique, e o PSDB tem possibilidade de resgatar seu passado, mas perdeu bandeiras históricas para o PT.

Até a Lei de Responsabilidade Fiscal: há quem pense que foi feita pelo PT, que na verdade votou contra ela.

A memória do Plano Real voltou fortemente na opinião pública devido ao aniversário de sua implementação e também às homenagens prestadas pelos 80 anos do ex-presidente FH.

A associação do partido com o processo que pôs fim à inflação, estabilizou a economia e preparou o país para o crescimento é muito clara.

Um ponto importante do levantamento, ressalta Lavareda, é a coincidência da percepção do PSDB como oposição com o que a maioria do povo considera sobre como deve agir um partido de oposição: oposição moderada, criticando o que está errado e colaborando com o que acha certo.

Essa posição moderada, fiscalizadora, sem radicalismos está bem sintonizada com a expectativa da opinião pública.

O PSDB está, porém, muito aquém do PT nas atividades da internet, longe das novas redes sociais. A grande largada do resgate do legado do partido será um seminário no Rio em outubro, organizado pelo instituto coordenado pelo ex-senador Tasso Jereissatti.

Na avaliação do senador Aécio Neves, a agenda que está em curso no Brasil é a proposta do PSDB de 20 anos atrás, que começa com a estabilidade econômica, passa pela modernização da economia e pelos programas sociais, e vem sendo conduzida pelo atual governo com avanços em algumas áreas, como a distribuição de renda, e retrocessos em outras, como a questão ética na política e a não formalização das grandes reformas estruturais que são necessárias para que o país realmente se desenvolva.

Nesse seminário, além do resgate do legado para mostrar que, se o Brasil hoje vai bem, é porque "tivemos a ousadia de fazer o que fizemos", Aécio diz que vão focar para o futuro basicamente na educação básica e na saúde.

Antonio Lavareda fez uma "auditoria de marketing" para o PSDB que não é apenas uma pesquisa, mas um diagnóstico pós-eleitoral.

O objetivo do trabalho é fornecer subsídios para a reestruturação do organograma partidário de um modo geral e em especial da parte de marketing e comunicação.

O balanço da análise mostra que do ponto de vista da principal eleição do país, que é a presidencial, o PSDB desde que deixou o poder, em 2002, nas três últimas eleições seguintes, em que pesem as derrotas, tem tido uma votação ascensional.

Levando-se em conta os resultados dos segundos turnos, há crescimento linear do desempenho do partido, mostra Lavareda. Mas, ainda assim, na última eleição o partido chegou apenas a 84% da votação que teve em 1998, quando ganhou no primeiro turno com FH.

Em algumas regiões, como no Sul, já chegou na última eleição a 94% do que atingiu em 98; no Sudeste, a 87%, no Centro-Oeste, a 80%; no Norte, a 74%. No Nordeste onde o problema é maior, o desempenho de 2010 já foi substancialmente melhor do que em 2006, alcançando 72% da votação de 1998.

Foram eleições difíceis e perdidas, mas a pergunta, para Lavareda, tem de ser: perdeu indo para baixo ou indo para cima?

No Sudeste e no Centro-Oeste, por exemplo, o partido está próximo de atingir os 50% dos votos.

Nos governos estaduais há claro perfil ascensional, mas para deputados estadual e federal tem havido um declínio, assim como nas eleições para vereadores e prefeitos, o que se constitui na grande preocupação do partido, sendo necessário, para Lavareda, grande esforço para reverter isso já nas eleições 2012.

Essa queda tem exceções, como no Sudeste, onde o perfil de eleição de prefeitos é de crescimento, e no Sul, onde é estacionário. Nas demais regiões, o declínio é importante.

O estudo demonstra que há grande relação entre nossas eleições intermediárias para prefeitos e vereadores e a das bancadas de deputados estaduais e federais subsequentes.

Do ponto de vista de "emoções negativas", há uma grande proximidade das médias, PT e PSDB se igualam na rejeição. A distância maior se dá no campo das emoções positivas, o que mostra, para Lavareda, que o caminho importante para o PSDB trilhar é cultivar os laços positivos com a sociedade, em vez de demonizar o PT.

Este novo Brasil que está surgindo, com a classe C emergente, quer isso. Setenta por cento dos brasileiros concordam que os governos FH e Lula juntos representaram nova fase na nossa História, e 45% concordam que esse novo país começou com a criação do real.

De lá para cá, nos governos de FH e Lula e agora no de Dilma, apesar dos problemas que surgem, o país vem melhorando a cada ano, na opinião da maioria dos entrevistados.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO



Motorola quer montar no país aparelho de TV a cabo
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 21/09/11

A Motorola Mobility planeja abrir, em Manaus, uma linha de fabricação de "set top boxes", aparelhos instalados nas residências para o uso de TV a cabo.
As discussões para substituir, em 2012, as importações, que hoje são provenientes da Ásia e da Europa, por uma produção local foram estimuladas pela recente aprovação do projeto de lei 116, de acordo com Marcos Takanohashi, diretor da companhia. A nova legislação autoriza a entrada das empresas de telecomunicações no mercado de televisão por assinatura no Brasil, o que deve elevar o consumo do produto.
A empresa estima que a demanda do mercado brasileiro para o setor alcance 500 mil unidades ao ano dentro dos próximos cinco anos. "Estamos vinculando a fabricação a esse aumento de demanda", diz Takanohashi. "Inicialmente, esse mercado deve crescer por volta de 300% a 400%, porque hoje o número de assinantes é próximo de zero. Após os primeiros dois anos, deve se estabilizar entre 15% e 20%", diz.
Os mercados maduros, como EUA e Europa, tiveram a mesma curva de crescimento, com estabilização em 5% após atingir a maturidade. "Já temos hoje fabricação de 'cable modem' [roteadores residenciais para acesso a internet] em Jaguariúna (SP), que entra na legislação de informática. Os 'set top boxes', que estão na legislação de audiovisual, precisariam ser fabricados em Manaus", diz.

DE TERRA ESTRANGEIRA
A cobrança de 6% de IOF na entrada de investidores estrangeiros em renda fixa desestimula a saída do país, mas é digna de nota a insatisfação deles com as últimas medidas do governo. Parte desses investidores de fora critica o que chama de protecionismo e mudança de rumo. Há rumor de uma grande posição zerada, mas o que se ouve falar nas mesas de operação é redução nos últimos dias do fluxo que estava vindo para o Brasil.

NEGOCIAÇÃO NOS BANCOS
O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região discutem amanhã em assembleia a contraproposta de reajuste salarial de 7,8%, feita pela Fenaban (Federação Nacional dos Bancos). Os dirigentes sindicais, que pedem aumento de 12,8%, defendem rejeição da proposta e greve a partir da próxima terça-feira. "O aumento real dessa proposta é de apenas 0,37%", afirma a presidente do sindicato, Juvandia Moreira. A Fenaban, por meio de sua assessoria de imprensa, argumenta que o reajuste será acima da inflação pelo oitavo ano consecutivo. A entidade também "estranha a radicalização, já que ficou acordado retomar as discussões na sexta", quando haverá nova reunião.

Carteira... O emprego no comércio varejista da região metropolitana de São Paulo subiu 0,6% em julho ante junho e alcançou 954.717 vagas, segundo a Fecomercio.

...assinada O total de admitidos ficou 4,4% abaixo do registrado em junho. O volume de demitidos foi 7,75% inferior aos 44.799 funcionários dispensados no mês anterior.

AMÉRICA DO SUL ELETRÔNICA
A América do Sul será responsável por 12% das compras mundiais de produtos eletrônicos neste ano, segundo pesquisa da empresa GfK. Em 2010, a participação da região no mercado foi de 10% e, no anterior, de 9%. Produtos de tecnologia da informação, principalmente os que permitem mobilidade, foram os que tiveram maior crescimento nas vendas. No primeiro semestre deste ano, a comercialização de notebooks no Brasil cresceu 26%, ante mesmo período de 2010. Na Argentina, o aumento foi de 76%. Apesar da expansão relativamente pequena, o Brasil foi responsável por 80% das vendas na região.
No segmento de desktops, o mercado brasileiro foi em direção contrária ao mundial. Enquanto as vendas caíram na maioria dos países, no Brasil, aumentaram 4%. Os consumidores da nova classe média que adquiriram seu primeiro computador foram os responsáveis pela expansão.

Argentina e Venezuela compram menos, e exportação de celular cai

A exportação de telefones celulares produzidos no Brasil caiu 72% em três anos, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Entre janeiro e agosto deste ano, 4,3 milhões de unidades foram vendidas para outros países. No mesmo período de 2008, esse número era de 15,4 milhões.
"Os principais mercados dos nossos produtos eram Argentina e Venezuela, que criaram medidas para obrigar as fabricantes a produzirem em seus territórios", afirma o presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato. A importação de celulares, por sua vez, cresceu 111% desde 2008 e deve chegar a 15 milhões de unidades neste ano. "O mercado interno está absorvendo a produção, mas, com o câmbio atual, além do aumento da importação, a tendência é que até mesmo as companhias com fábricas no Brasil transfiram a produção para outros países."

"Os principais mercados dos nossos produtos eram Argentina e Venezuela, que criaram medidas para obrigar as fabricantes a produzirem em seus territórios"
HUMBERTO BARBATO
presidente da Abinee

MATERNIDADE
A farmacêutica MSD investirá, em todo o mundo, US$ 500 milhões (cerca de R$ 895 milhões) nos próximos dez anos para reduzir as mortes em decorrência de complicações na gravidez e no parto. O novo projeto foi discutido ontem entre a empresa e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. O valor será aplicado no desenvolvimento de novas tecnologias e na conscientização da população, entre outros projetos.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ