terça-feira, setembro 20, 2011

EDITORIAL O Globo - A volta do cacoete do protecionismo


A volta do cacoete do protecionismo 
EDITORIAL
O Globo - 20/09/11

O aumento do IPI em surpreendentes 30 pontos percentuais sobre veículos com menos de 65% de conteúdo nacional reflete bem um tipo de pensamento vigente em Brasília saudosista dos tempos da reserva de mercado, quando qualidade e preço eram questões menores.

Importante era garantir o máximo de “autossuficiência” no maior número possível de setores. Eficiência empresarial e o interesse do consumidor ficavam em segundo plano.

A barreira tarifária é um retrocesso em relação à saudável abertura deste mercado à concorrência externa, iniciada no governo de Fernando Collor, que, com razão, tachou de "carroças" os automóveis brasileiros.

Como o brasileiro não tinha alternativas, os veículos continuavam ultrapassados. Só começaram a ser melhorados com o choque de concorrência.

Esta e outras reservas de mercado, como a de computadores, foram fator de atraso em incontáveis ramos de atividade, obrigando a sociedade a arcar com preços altos para ter produtos de baixa qualidade, quando não era obrigada a apelar para o contrabando. Caso dos computadores. Ganhos de produtividade na economia deixaram de ser obtidos devido àquela política.

Com este salto no IPI de veículos importados parece ter sido restabelecida a aliança entre sindicatos de trabalhadores e a Fiesp. Antes da abertura do país para o exterior, a partir do início da década de 90, mercados protegidos da concorrência externa permitiam preços nas alturas para sustentar generosos aumentos salariais, sem reduzir a margem de lucro dos empregadores.

A impressão digital do lobby está na própria abrangência da elevação do imposto, calibrado para atingir quem ainda não tem fábrica no Brasil, basicamente chineses e coreanos.

Dos 531 mil veículos importados de janeiro a agosto, 76% (401.719) estariam fora de alcance do tarifaço, pois são trazidos por fábricas instaladas no Brasil de suas unidades na Argentina e México, sob proteção de regras do Mercosul e de um acordo especial de tributação.

Assim, apenas 24% das importações (129.281, de janeiro a gosto) seriam atingidos. Ou menos de 7% do mercado. Pouco, mas deve ter incomodado alguém.

Partia-se do pressuposto de que barreiras alfandegárias defendiam empregos. Uma ilusão, pois, sem concorrência, investimentos eram adiados e, consequentemente, a própria geração de novos empregos era prejudicada. Sem considerar que o primeiro passo para a instalação de fábricas no país é a abertura de canais de importação.

Conquistado o consumidor, parte-se para a substituição de importações. Foi assim que as primeiras fábricas de automóveis vieram para o Brasil.

Ao sucumbir ao lobby empresarial e sindical, o governo aborta este processo e prejudica o consumidor. Seja pelo efeito indireto da redução da concorrência interna — aumento de preços dos modelos “nacionais”— ou pelo encarecimento em si do produto importado.

Isso porque Brasília prefere não trilhar o caminho — mais difícil, porém o correto — de melhorar o ambiente de negócios, para que empresas instaladas no país consigam compensar o peso de um câmbio valorizado (aliás, no momento já não tão valorizado assim).

Por preferir não atacar para valer a desmesurada carga tributária, a burocracia e o problema da infraestrutura deficiente, prefere recorrer ao protecionismo puro e simples, quando a indústria caminha cada vez mais para cadeias de suprimento globalizadas.

O Brasil engatou marcha à ré.

ANCELMO GOIS - QUEM MANDA FUMAR?



QUEM MANDA FUMAR? 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 20/09/11

Pelo visto, a Justiça cria jurisprudência contra doentes que processam as cigarreiras.
O desembargador Cherubin Schwartz, da 12ª Câmara Cível do TJ-RJ, disse a um ex-fumante de cigarros da Souza Cruz, hoje com câncer na garganta, “que ele fez uma opção consciente entre o risco e o hábito de fumar, no exercício do livre-arbítrio”.

SEGUE... 
Sob o mesmo argumento, no inicio do mês, o juiz Magno Assunção negou indenização de R$ 1,2 milhão a um carioca que teve câncer após fumar 50 anos.

PRIMAVERA DA VERDADE 
Levando flores da primavera artistas entregam amanhã a Marco Maia, presidente da Câmara, manifesto a favor da Comissão da Verdade, que pretende apurar denúncias de tortura e mortes na ditadura.
O documento reúne, entre outros, Caetano Veloso, Chico Buarque, Fernando Morais, Eric Nepomuceno, Herson Capri, Emir Sader e Milton Hatoum.

XUXA E DINA SFAT 
Xuxa, parece, não gostou do livro Palmas Para Que Te Quero, de Dina Sfat e Mara Caballero. É que será leiloado dia 1º, por Raul Barbosa, um exemplar do livro com a seguinte dedicatória: “Xuxa, amiga, amada, mil beijos da Dina Sfat – 1/1989”.

NO MAIS 
Até outro dia, a Copa de 14 parecia ser só de Ricardo Teixeira e Sepp Blatter. Agora, Dilma e Pelé ensaiam assumir o mando de campo.
Ou seja: o time está desentrosado. Com todo o respeito.

HELENO, O FILME 
O site da Hollywood Reporter, uma das mais prestigiadas revistas do cinema americano, publicou um texto cheio de elogios a Heleno, a cinebiografia de José Henrique Fonseca sobre o lendário craque do Botafogo.

ALMIRANTE BRANCO 
Virou polêmica nas redes sociais a denúncia dos movimentos negros contra a Caixa, que teria mostrando um Machado de Assis branco num anúncio.
Não é a primeira vez que um preto, ou mulato, no caso de Machado, aparece branco numa propaganda do governo federal.

FOI ASSIM... 
Em 2010, o rosto de João Cândido, celebrado como “Almirante Negro” numa música de João Bosco e Aldir Blanc, teve que ser “escurecido” às pressas num folder do Palácio do Planalto.
Na versão original, o líder da Revolta da Chibata de 1910 era quase um nórdico. 

CONTRA O MESSI 
O Flamengo está em entendimentos com o Barcelona, para a realizar, a partir de 2012, dois amistosos por ano, um lá, o outro aqui.
Ronaldinho Gaúcho, ídolo dos dois clubes, está ajudando na negociação.

PLANET ZICO 
O Planet Globe, time de artistas peladeiros, ganhou um reforço ilustre para o amistoso do dia 25, em frente ao Copacabana Palace: Zico.
O evento divulgará a Campanha Nacional de Doação de Órgãos, do Ministério da Saúde.

GOIS NO ROCK IN RIO 
Ontem pela manhã, um camelô gaiato aproveitou a fila imeeeensaaaa para comprar o Rio Card Rock in Rio no Terminal Alvorada, na Barra, para ganhar um dinheirinho.
Vendia camiseta com os dizeres: “Rock in Rio 2011 – eu vou... andar muito!” 

JOÃO PEREIRA COUTINHO - Os burros da Europa


Os burros da Europa
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 20/09/11 

Os "líderes" europeus lembram a fábula do burro no meio da ponte, incapaz de optar por um lado

E agora, Europa? Boa pergunta.
Sim, o "projeto europeu" era uma ideia nobre. Foram duas guerras mundiais, 75 milhões de mortos, o descrédito civilizacional do Velho Continente. Em 1950, chegava a hora de sentar as nações da Europa na mesma mesa. Partilhar interesses, contribuir para a prosperidade geral.
Mas eis que surgiu a tentação utópica: e se a Europa desejasse ser mais que isso? Não apenas um grande mercado comum -mas uns Estados Unidos da Europa, capazes de rivalizar com os originais Estados Unidos da América? Acenderam-se luzes vermelhas entre os mais céticos. E alguns lunáticos, entre os quais me incluo, lembravam com alarme que a Europa não era os EUA. A Europa surgia marcada por uma diversidade de identidades nacionais (e nacionalistas) que não poderiam ser submergidas por um único diretório político.
A história era o melhor retrato dessa evidência: as tentativas de uniformização política do continente, pelo menos desde Carlos Magno, tinham gerado a exata conflitualidade que pretendiam suplantar.
Os federalistas moderaram a ambição. Passaram para o plano B. E o plano B não era defender abertamente a opção federalista. Era introduzir na "construção europeia" elementos criptofederalistas que, cedo ou tarde, acabariam por conduzir a Europa ao seu destino prometido. A moeda comum foi apenas o instrumento mais ambicioso.
Pergunta fatal: mas seria possível que diferentes países, com diferentes estruturas econômicas, pudessem partilhar uma moeda comum? Nada na história autorizava esse otimismo. Só que considerações econômicas nunca entraram na cabeça dos arquitetos do euro, que até acreditaram ser possível a existência de uma moeda comum sem um Tesouro central.
Para eles, o euro não era uma moeda; era o passaporte para a última etapa do projeto federal. E, se rolasse alguma crise, melhor ainda: como dizia Jacques Delors, antigo presidente da Comissão Europeia, as "crises benéficas" seriam a alavanca da "construção europeia".
A crise acabou por chegar. Pena não ser benéfica. Nem poderia. O euro, ao permitir baixas taxas de juro e facilidades inéditas no acesso ao crédito, era um convite para o endividamento ruinoso dos países do sul. Países sem disciplina orçamental ou crescimento econômico visível.
Para agravar a espiral de endividamento, a crise financeira de 2008 obrigou os Estados a um esforço suplementar para salvar a economia real. Quando chegou a conta, não havia como a pagar. Pior: no passado, quando os países deficitários da Europa ainda tinham moeda própria, era sempre possível desvalorizá-la, reganhando competitividade. Uma moeda comum impedia agora esse velho expediente.
Vieram os pacotes de resgate para Grécia, Irlanda e Portugal. E, com eles, medidas de austeridade. Simplificando, a ideia era despejar dinheiro sobre países insolventes, obrigando-os também a amputar, com aumentos brutais de impostos, qualquer possibilidade de crescimento econômico. Não vale a pena perder tempo com a lógica da coisa. Exceto para dizer que, por ora, a economia grega está liquidada; e Atenas só tem dinheiro até outubro. E agora, Europa?
Os "líderes" europeus, se merecem esse nome, reuniram-se na Polônia para decidirem nada decidir. Há quem os critique pela paralisia evidente. Eu compreendo essa paralisia. Ela faz lembrar a fábula do burro que está no meio da ponte, incapaz de optar por qualquer um dos pedaços de feno que estão nas duas extremidades.
Eis os "líderes" da Europa: burros no meio da ponte. De um lado, a opção federalista. Uma opção que os eleitorados -do norte e do sul- rejeitam por diferentes motivos. Os do norte, por não quererem assumir, agora e sempre, as dívidas dos do sul; e os do sul, por não quererem a alienação da sua soberania, agora e sempre, para os do norte. Do outro lado da ponte, um calote grego, a possível saída do euro e a desagregação da União Europeia. Com consequências -políticas, econômicas- imprevisíveis.
Na fábula, o burro fica no meio da ponte e, indeciso, morre de fome. Talvez essa seja a estratégia dos burros da Europa. Morrer. Mas de vergonha.

ILIMAR FRANCO - A luta pelo poder



A luta pelo poder 
ILIMAR FRANCO
O Globo - 20/09/2011

Com a oposição fragilizada, a luta política está polarizada pela disputa: PT x aliados. Os petistas já elegeram seus objetos de desejo na primeira reforma ministerial: Transportes, Cidades e Esporte. Por isso, fomentam rebeliões no PP e no PR contra Mário Negromonte e Paulo Passos. O PMDB também está em campo. Quer mais pastas. O PT tem um ministro a cada 4,9 votos no Congresso. O PMDB tem um ministério a cada 25,2 votos.

São dois para lá, dois para cá
Primeiro, o Planalto blindou ministros alvo de denúncias (Antonio Palocci). Depois, mandou se explicarem no Congresso (Wagner Rossi e Pedro Novais). Agora, na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara, vetou as idas de Paulo Bernardo (Comunicações) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil), e aceitou os convites para Fernando Haddad (Educação) e Orlando Silva (Esporte). "O governo está sem estratégia. Não sabe se vai ou se fica", disse o deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), autor da maioria das convocações.

Eu fico
O deputado Milton Monti (PR-SP) garante que não cogita retirar sua candidatura ao TCU. "Essa versão é de quem precisa de meus votos", ironizou. Quem perde com isso é a candidatura de Átila Lins (PMDB-AM), que contava com a desistência.

Improvisado
Há sete meses o presidente da Infraero, Gustavo do Vale, prometeu reformar o terminal de passageiros do Aeroporto de São Luís (MA). Não fez, e o verão está chegando. Quem embarca e desembarca por lá é atendido em tendas de lona.

Reforma política
Apesar da ação do ex-presidente Lula, líderes partidários não acreditam na aprovação da reforma política. Petistas com influência no rito parlamentar não vão mover um dedo para votar o texto do deputado Henrique Fontana (PT-RS).

O petróleo e a Federação
O economista José Roberto Afonso, a pedido do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), fez estudo sobre a tributação dos combustíveis no país. Constatou que, desde a Constituinte (1988), que descentralizou em favor de estados e municípios, sucessivos governos adotaram medidas para recentralizar cada vez mais as receitas nas mãos da União. Fazem parte desse movimento o IPMF, do governo Itamar Franco; a DRU, a Cide e a CPMF, do governo Fernando Henrique; e a partilha do petróleo, no governo Lula. "Desde o regime militar, esta é a maior recentralização de receitas da História", conclui José Roberto Afonso.

A corrida
Faltando quatro meses para o fim do ano, o governo está correndo. Todos os órgãos federais trabalham para liberar os recursos do Orçamento. Cumprida a meta de economia determinada pela presidente Dilma, a ordem agora é gastar.

QUE EXEMPLO! O autointitulado "ministro-cidadão" à vaga de ministro do TCU, o auditor Rosendo Fraga, está convocando os funcionários do tribunal a entrar em sua campanha, pedindo votos aos deputados. Uma das entidades de funcionários, a Auditar, está mobilizando os servidores para irem hoje e amanhã à Câmara para pressionar os deputados. A mobilização "cidadã" vai estar se realizando durante o horário de expediente.

Parece que o líder Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) acordou. Disse a ele: "A minha derrota será a sua derrota, a minha vitória será a sua vitória"" - Átila Lins, deputado federal (PMDB-AM), candidato a ministro do Tribunal de Contas da União

ACABOU a lua de mel. Contrariado com a perda de espaço, o MST está decidido a detonar o ministro petista Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário).

DRU. Alguns governistas temem pelo prazo para votar a renovação da DRU. Sobre isso, fala o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP): "Estamos de lápis na mão e no controle do calendário. Não vejo risco."

LEI SECA. Racionada a água para beber nos gabinetes de deputados, lideranças e comissões da Câmara. Está atrasada a entrega de dois caminhões que abastecem a Casa com milhares de garrafas.

MERVAL PEREIRA - Jogo de pôquer


Jogo de pôquer
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 20/09/11

A disputa pelos royalties está caminhando para um acordo entre estados produtores e não produtores que colocará o Executivo contra sua própria base congressual, na defesa dos interesses da Petrobras e das demais companhias que exploram o petróleo brasileiro.
A solução de consenso parece ser a alteração do decreto que define o pagamento das participações especiais, mesmo que a Petrobras e o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), que representa as companhias petrolíferas que atuam no Brasil, digam que isso seria uma quebra de contrato.
As participações especiais representam a parte a ser paga sobre o que as petroleiras ganham, similar ao Imposto de Renda, e que acabou na troca de regime de concessão para partilha.
Elas são baseadas em "grande produção ou grande rentabilidade", dentro do princípio de que produziu mais do que o normal, ou ganhou mais do que o normal, tem que pagar mais, progressivamente.
As companhias petroleiras alegam que os contratos estão ligados ao decreto de 1998, e uma mudança do decreto seria uma mudança nas bases do contrato, o que é ilegal.
A proposta dos estados produtores é baseada na alteração do cálculo das participações especiais, sob alegação de que as tabelas e as alíquotas não estão incluídas no contrato nem na lei, ao contrário, por exemplo, dos royalties, cujo percentual está expresso na lei.
Se fosse para congelar o decreto, por que não fizeram como no caso dos royalties e publicaram as tabelas?, argumentam os defensores da tese.
O fato é que os estados não produtores estão cada vez mais aceitando a proposta dos produtores, e, se fizerem uma aliança, o governo não conseguirá controlar no Congresso onde, historicamente, quando se entra em questões regionais, não há controle partidário, ou de bloco, nem voz unida.
Tudo indica que rolo compressor não funciona em matérias como essas. O governo pode vir a ter que escolher entre ele próprio e a Petrobras.
O nó político é que a saída que os estados produtores estão encontrando é aumentar as participações especiais dos campos atuais e distribuir também entre os não produtores.
Essa, aliás, era a saída para adaptar o regime de concessão ao pré-sal, sem precisar criar essa confusão política. A proposta foi feita até mesmo pelo IBP, que levou ao ministro Edison Lobão o apoio ao aumento das participações especiais em campos com elevado potencial exploratório, como as áreas no pré-sal.
É claro que eles estavam falando sobre campos ainda não licitados, mas os defensores da mudança imediata usam esse exemplo para dizer que é possível mudar o decreto.
Por sua vez, os estados não produtores não querem saber de esperar pelos supostos lucros do pré-sal em cinco ou dez anos, querem resultados imediatos, que só as PE podem dar.
A negociação virou um jogo de pôquer. No que o governo está apostando é que os estados produtores estão com uma espada sobre a cabeça, porque, se o veto do presidente Lula for a votação, ele deve ser derrubado, e eles perderão tudo.
Mas quem está com problemas parece ser o próprio governo, pois o texto que foi vetado acabou ficando muito mal escrito.
Os representantes do Rio já avisaram aos estados não produtores: se derrubarem o veto, a questão vai para a Justiça.
O texto vetado está cheio de inconsistências, sendo que uma é básica: quando a Constituição fala que cabe aos estados e municípios produtores participar do resultado da exploração, como compensação financeira, a única maneira de mandar dinheiro para o não produtor é a União dar através dos Fundos de Participação de Estados e Municípios.
Outra maneira de distribuição, como a prevista no projeto de deputado Ibsen Pinheiro e do senador Pedro Simon, seria inconstitucional.
Se o Estado do Rio não receber nada, quebra financeiramente e, meses depois, vai ter que parar de pagar despesas fundamentais como Segurança, Saúde, Previdência. Quem vai bancar esse ônus?
Os governadores Eduardo Campos, de Pernambuco, Marcelo Déda, de Sergipe, e senadores como Wellington Dias, que estão negociando pelos estados não produtores, estão se aproximando do acordo.
E o líder do PMDB Henrique Alves também está chegando a essa posição. Apesar de que esse aumento nas participações especiais vai certamente provocar uma corrida aos tribunais por parte das petroleiras, o risco desse recurso jurídico é percebido como menor do que o risco do embate federativo, que embute inclusive um risco social e político gravíssimo.
O senador Lindbergh Farias vai hoje à tribuna fazer um pronunciamento em nome dos estados produtores, reafirmando que é inaceitável alterar as regras em campos já licitados sob o regime de concessão, incluindo o pós e o pré-sal.
Além do princípio de preservação dos contratos, ele dirá que alteração nos campos licitados traria graves consequências imediatas às finanças públicas dos estados produtores.
Lindbergh defenderá a tese de que, dado o novo patamar de arrecadação advindo do pré-sal, os recursos oriundos da exploração de petróleo devem servir também para reduzir desigualdades regionais, portanto, parcela maior desses recursos deve ser destinada à repartição pelos estados e municípios não produtores.
A referência, lembrará, deve ser o acordo celebrado com o presidente Lula, na presença da então ministra Dilma Rousseff.
Como a produção do pré-sal não licitado só se tornará significativa a partir de 2016-2017, a proposta dos estados produtores é instituir uma regra de transição com a criação de um fundo a ser distribuído, desde já, para estados e municípios não produtores, com base nas participações especiais.
Lindbergh apresentará recente estudo do FMI que aponta o Brasil como o país que menos cobra entre uma dúzia de países, já excluídos os árabes, saltando aos olhos, segundo ele, a pouca progressividade com respeito ao preço do óleo e aos custos de extração, que seria justamente a função da PE no regime de concessão.
A forma como as tabelas progressivas foram fixadas não permitiu à PE "captar os ganhos extraordinários decorrentes da expressiva elevação dos preços, dentre outros fatores que melhoraram a produção e a rentabilidade na extração de óleo e gás no Brasil", na opinião dos estados produtores que o senador vocalizará na tribuna.
Logo, "o equilíbrio contratual, que foi perdido nesses anos, precisa agora ser recomposto".

PAULO SANT’ANA - Lendas sobre o Bagre


Lendas sobre o Bagre
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 20/09/11

Os meus momentos de maior felicidade são quando trabalho me divertindo.

Ontem, por exemplo, fiz meu segundo programa Sala de Redação diretamente da Casa da RBS no Acampamento Farroupilha.

E me diverti a valer no debate do Sala com meus cinco companheiros de programa.

Não satisfeito, como o programa do Lasier Martins era feito também no Acampamento Farroupilha e nele se apresentava a grande figura chamada Bagre Fagundes, ingressei na transmissão e fiz seis versos de trova desafiando o Bagre, que respondeu. Eu fiz mais 12 versos de trova improvisada respondidos pelo Bagre, e mexi com os dele pra valer. Eu irrito o Bagre com muita facilidade, fico contando proezas dele, ele as nega. Porque, se fossem reais, pegariam mal.

Só que o Bagre Fagundes tem de se capacitar que ele pertence ao folclore da cidade e a respeito dele se contam lendas. E eu nada mais faço do que transitá-las.

São lendas, não são verdadeiras, mas elas se aplicam maravilhosamente naquele jeitão simples e espontâneo do Bagre Fagundes. Deixa pra lá, Bagre, são lendas.

O Bagre Fagundes é bacharel em Direito, chefe de família exemplar, ostenta a glória de ser parceiro de seu irmão Nico Fagundes na música Canto Alegretense, uma das canções mais delirantemente preferidas pelo público no cancioneiro regionalista. Além disso, Bagre é conhecidíssimo como colorado fanático, o que ele é, tanto que vai sempre inteiramente vestido de vermelho aos jogos do Inter no Beira-Rio.

Uma das lendas que se contam sobre o Bagre é que ele era candidato a vereador e estava em campanha.

E foi fazer campanha no Morro da Cruz, que então era uma das comunidades mais pobres de Porto Alegre.

Havia umas cem pessoas escutando o comício do Bagre. Ele subiu numa caixa de cerveja e falou para o público:

“Povo do Morro da Cruz, vocês têm água aqui?”.

Todos responderam com um sonoro NÃO.

“Vocês têm luz aqui?”, indagou novamente o Bagre.

A resposta do público foi um NÃO altissonante.

O Bagre insistiu: “Vocês têm escola aqui?”.

O público pela terceira vez pronunciou um NÃO.

O Bagre, então, não resistiu e gritou: “Então por que vocês não se mudam daqui?”.

E a segunda lenda preciosa que se conta do Bagre é que ele estava na mesma disputa ao cargo de vereador e foi fazer comício na Vila Dona Teodora.

Estavam umas 200 pessoas reunidas para ouvi-lo e ele começou:

– Povo da Vila Dona Teodora! Eu sei dos problemas que vocês enfrentam nesta Vila (hoje, a Vila está muito melhor, mas no tempo do discurso do Bagre a coisa era feia por lá). Eu sei como vocês sofrem aqui com a escassez de recursos, sem água, sem luz, sem esgotos, sem creches, sem nada. Mas eu sei como ninguém dos problemas de vocês porque eu também já fui chinelão.

O Bagre não gosta que eu conte isso. É que a gente, você que é folclorista sabe, Bagre, como ninguém, não pode censurar nem conter a lenda.

VLADIMIR SAFATLE - Suportar a verdade


Suportar a verdade
VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 20/09/11

Nos próximos dias, o governo deve conseguir aprovar, no Congresso, seu projeto para a constituição de uma Comissão da Verdade. O que deveria ser motivo de comemoração para aqueles realmente preocupados com o legado da ditadura militar e com os crimes contra a humanidade cometidos neste período será, no entanto, razão para profundo sentimento de vergonha.
Pressionado pela Corte Interamericana de Justiça, que denunciou a situação aberrante do Brasil quanto à elucidação e punição dos crimes de tortura, sequestro, assassinato, estupro e ocultação de cadáveres perpetrados pelo Estado ilegal que vigorou durante a ditadura militar, o governo brasileiro precisava mostrar que fizera algo.
No caso, "algo" significa uma Comissão da Verdade aprovada a toque de caixa, sem autonomia orçamentária, sem poder de julgar, com apenas sete membros que devem trabalhar por dois anos, sendo que comissões similares chegam a ter 200 pessoas.
Tal comissão terá representantes dos militares, ou seja, daqueles que serão investigados. Como se isso não bastasse, a fim de tirar o foco e não melindrar os que se locupletaram com a ditadura e que ainda dão o ar de sua graça na política nacional, ela investigará também crimes que porventura teriam ocorrido no período 1946-64. Algo mais próximo de uma piada de mau gosto.
Um país que, na contramão do resto do mundo, tende a compreender exigências amplas de justiça como "revanchismo" não tem o direito de se indignar com a impunidade que se dissemina em vários setores da vida nacional.
Aqueles que preferem nada saber sobre os crimes do passado ainda estão intelectualmente associados ao espírito do que procuram esquecer.
O povo brasileiro tem o direito de saber, por exemplo, que os aparelhos de tortura e assassinato foram pagos com dinheiro de empresas privadas, empreiteiras e multinacionais que hoje gastam fortunas em publicidade para falar de ética. Ele tem o direito de saber quem pagou e quanto.
Esta é, sem dúvida, a parte mais obscura da ditadura militar. Ou seja, espera-se de uma Comissão da Verdade que ela exponha, além dos crimes citados, o vínculo incestuoso entre militares e empresariado. Vínculo este que ajuda a explicar o fato da ditadura militar ter sido um dos momentos de alta corrupção na história brasileira (basta lembrar casos como Capemi, Coroa Brastel, Lutfalla, Baumgarten, Tucuruí, Banco Econômico, Transamazônica, ponte Rio-Niterói, relatório Saraiva acusando de corrupção Delfim Netto, entre tantos outros).
Está na hora de perguntar, como faz um seminário hoje no Departamento de Filosofia da USP: Quanta verdade o Brasil suporta?

CLÓVIS ROSSI - Israel tem que sair de Masada


Israel tem que sair de Masada
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 20/09/11

País revive complexo cujo nome deriva de resistência de judeus a ataque dos romanos, há dois milênios


ISRAEL REVIVE o complexo de Masada, a fortaleza em que 960 judeus resistiram até a morte às hordas romanas, vitoriosas no ano 73.
Complexo de Masada é um tema frequente no léxico político-diplomático de Israel, por designar a sensação de que o mundo inteiro está contra os judeus.
Nos últimos anos, a expressão caíra em desuso mas reapareceu ontem na mídia, explicitamente, e no Parlamento, indiretamente.
Carlo Strenger, chefe do Departamento de Psicologia da Universidade de Tel Aviv, escreveu no jornal "Haaretz" que o governo israelense "continua a ser guiado pelo mito de Masada, em vez de [adotar] uma avaliação realista da realidade internacional".
No Parlamento, a líder oposicionista Tzipi Livni afirmou que o governo está contando a história do momento como se "todos fossem contra nós", como se "todo o mundo fosse antissemita".
A líder oposicionista acrescentou que Israel não tem apenas inimigos, mas também um grande amigo, os Estados Unidos, que, no entanto, estão sendo colocados contra as cordas pelo que chama de "estupidez diplomática" do governo: "Eles [os EUA] não entendem a teimosia sobre os assentamentos, eles não acreditam no primeiro-ministro de Israel quando ele diz 'dois Estados' mas não faz nada para isso".
Essa sensação de isolamento -uma característica relativamente permanente da psique coletiva de Israel- tem até motivos objetivos para ressurgir. Escreve, por exemplo, Bradley Burston, colunista do "Haaretz": "É a primeira vez desde a fundação de Israel, em 1948, que o Estado não tem como aliada nenhuma das três potências regionais, Egito, Turquia e Irã".
Para fechar o cerco, vem o pedido da Autoridade Palestina de reconhecimento do Estado palestino, o que, qualquer que seja a fórmula afinal aprovada, colocará o que boa parte dos israelenses veem como inimigo em pleno território que esses mesmos israelenses consideram seu (a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, para não falar da faixa de Gaza), mas que a legalidade internacional atribui aos palestinos faz 64 anos.
Refugiar-se de novo nessa Masada muito ampliada que é o território hoje ocupado por Israel e colonos não vai resolver o problema.
Nem os palestinos conseguirão jogar os judeus ao mar, como muitos de fato gostariam, nem Israel vai conseguir empurrar os palestinos para a Jordânia, uma limpeza étnica que aparece e desaparece em segmentos radicais da sociedade israelense.
Resta, pois, negociar a solução dos dois Estados, para o que Netanyahu terá que ceder territórios, já que a Autoridade Palestina calcula que seu pedido de Estado cobre apenas 22% do território originalmente destinado a ele pela ONU.
É penoso, mas, como escreve o ex-chanceler israelense Shlomo Ben Ami, "enquanto não terminar a ocupação [dos territórios palestinos], enquanto Israel não viver em fronteiras internacionalmente reconhecidas e os palestinos não recuperarem sua dignidade como nação, a existência do Estado judeu não estará assegurada".
Masada, pois, continuará assombrando Israel.

RAFAEL ELDAD - Para uma paz duradoura


Para uma paz duradoura
RAFAEL ELDAD
FOLHA DE SP - 20/09/11

A partir de amanhã, a direção palestina pretende apresentar às Nações Unidas, durante a Assembleia Geral dessa instituição, seu pedido de adesão à ONU e de reconhecimento do Estado palestino.
Conforme atestam declarações do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em diversas ocasiões, Israel é a favor de uma solução pacífica para o conflito na região, com a formação de dois Estados: um judeu para os israelenses e um árabe para os palestinos. O que Israel não vê de maneira positiva, além de saber ser perigosa para a região, é uma declaração prematura e unilateral de um Estado palestino.
Os palestinos buscam o resultado de um processo de paz sem passar por esse processo e sem negociar com Israel. Se buscam uma solução sem dialogar ou negociar, então com quem querem fazer a paz? Israel continua engajado na possibilidade de negociações bilaterais para resolver o conflito.
Por outro lado, a liderança palestina decidiu não estar mais interessada nas negociações diretas. A história tem mostrado que os tratados de paz entre Israel e seus vizinhos tornaram-se possíveis por meio de negociações entre as partes envolvidas, como nos acordos com o Egito e com a Jordânia.
Além disso, mesmo que uma resolução a respeito de um Estado palestino seja obtida na ONU, ela violaria os acordos bilaterais já existentes entre israelenses e palestinos, prejudicando os esforços para a paz. Não será possível evitar negociações com Israel se se quiser alcançar essa paz.
É também importante lembrar que a Autoridade Palestina assinou um acordo de reconciliação com o Hamas, grupo considerado internacionalmente como terrorista, que continua seu chamado à destruição de Israel e rejeita as condições mais básicas da comunidade internacional para ser reconhecido como um ator legítimo na região.
O apoio a esse acordo, sem qualquer alteração da posição do Hamas, serviria como um reconhecimento internacional da legitimidade do Hamas.
O Oriente Médio atravessa um período de muitas mudanças, que podem levar aos países árabes resultados como o avanço da liberdade individual, da democracia, do direito da mulher, entre outros. Mas existe também um aspecto perigoso vindo de elementos fundamentalistas islâmicos que podem chegar ao poder nesses países. Israel e o mundo não querem que os extremistas usem essa oportunidade para assumir um novo Estado.
Israel, como único país verdadeiramente democrático no Oriente Médio, deseja que sua vizinhança siga o mesmo caminho. Os palestinos têm uma oportunidade de negociar um Estado próprio, que conviva pacificamente com Israel, gozando de paz e prosperidade. Acreditamos que o único caminho para chegar a essa meta seja a aceitação, o diálogo e a negociação direta entre israelenses e palestinos.
Do mesmo modo, esperamos que os palestinos vejam esse fato em uma perspectiva de longo prazo e não somente tratem de conseguir uma satisfação superficial, passageira e sem valor real.
Israel, como único país no mundo ameaçado constante e abertamente em sua existência, tem a obrigação de tomar precauções para garantir sua segurança e sua sobrevivência. Devemos ter em conta que o conflito do Oriente Médio não é só entre israelenses e palestinos; Israel está ameaçado também pelo Irã, pelo Hamas, pelo Hezbollah e por tantos outros elementos.
A situação no Oriente Médio é muito sensível e pode facilmente gerar outra onda de violência. Temos todos, israelenses, palestinos e o mundo, a responsabilidade de empreender um esforço para evitar essa situação.

RAFAEL ELDAD é embaixador de Israel no Brasil

MARCOS SAWAYA JANK - Coragem para retomar o etanol


Coragem para retomar o etanol
MARCOS SAWAYA JANK
O Estado de S.Paulo - 20/09/11


O etanol brasileiro acabou? Estamo-nos tornando importadores de etanol? São essas as indagações que mais tenho ouvido nos últimos tempos e me conduzem a escrever este artigo, até para evitar que elas erroneamente virem afirmações.

A redução da oferta de etanol no Brasil tem três explicações.

Primeiro, o setor reduziu seu crescimento após a crise financeira de 2008, que atingiu fortemente as empresas que mais haviam investido naquele momento. Um terço do setor entrou em dificuldades e passou por forte reestruturação financeira e societária. Em vez de novas unidades, os investimentos deslocaram-se para a compra de empresas endividadas e a expansão caiu de 10% para 3% ao ano, não acompanhando as vendas de carros flex.

Segundo, nos últimos seis anos o custo de produção do etanol aumentou mais de 40%, ao mesmo tempo que o diferencial tributário do produto ante a gasolina se estreitou. Terceiro, as três últimas safras foram marcadas por graves problemas climáticos e produtividade em queda, numa incrível sequência de chuvas e seca em excesso, além da geada deste ano.

Para evitar problemas de abastecimento e reduzir a volatilidade dos preços o governo, as distribuidoras e os produtores vêm se reunindo desde o início do ano para monitorar com lupa a produção e o mercado. Deveremos importar este ano 1 bilhão de litros de etanol, o equivalente a 4% da produção brasileira, valor compreensível diante de uma quebra de produtividade que atingirá 20% em produto nesta safra. Importar etanol ainda é melhor e mais barato, econômica e ambientalmente, do que importar gasolina.

Aliás, por se tratar de um combustível de origem agrícola e, portanto, sujeito aos conhecidos riscos climáticos, é preciso estar sempre preparado para recorrer a eventuais importações. Agora, imaginar que o Brasil se tornará "importador estrutural" de etanol (ou de alimentos básicos) é simplesmente desconhecer o enorme potencial do País. Só o seremos se formos muito incompetentes, no médio e no longo prazos.

O monitoramento estrito e as importações aumentaram a segurança de abastecimento do sistema. A ampliação das linhas de crédito proposta pelo governo permitirá uma recuperação dos canaviais afetados pelos problemas climáticos. Em breve novas medidas serão implementadas, como a ampliação do programa de financiamento de estocagem de etanol e o sistema de contratação prévia de etanol anidro pelas distribuidoras no início da safra, vinculado à compra de gasolina. Vale destacar ainda que o setor está disposto a buscar novos mecanismos contratuais para alongar ainda mais o compromisso de oferta de etanol anidro e garantia de abastecimento de longo prazo. Etanol anidro é aquele misturado na gasolina a uma taxa de 18% a 25%. O hidratado é o que é vendido puro nas bombas e compete diretamente com a gasolina.

Os carros flex foram desenvolvidos para usarem etanol ou gasolina indistintamente, e essa livre escolha é uma vantagem de que só o consumidor brasileiro dispõe hoje no mundo. Entendemos que, no longo prazo, o País tem interesses ambientais e de saúde pública que justificam que os carros flex utilizem volumes cada vez maiores de etanol em seus motores. Mesmo com a dádiva do pré-sal, que certamente fará do Brasil um grande exportador de petróleo e derivados, não devemos abrir mão do nosso compromisso de ter uma matriz energética cada vez mais limpa e renovável. E isso passa pela definição clara do papel dos biocombustíveis e da bioeletricidade na matriz energética brasileira.

Portanto, é preciso desde já definir políticas públicas e privadas que restabeleçam a competitividade e ampliem a participação do etanol na matriz de combustíveis do País. Diversos são os caminhos possíveis para isso, mas os mais inteligentes são: 1) Ganhos de eficiência que reduzam custos agrícolas, agroindustriais e de logística e 2) mudanças efetivas na estrutura tributária que reconheçam os benefícios econômicos, ambientais e de saúde publica do etanol para a sociedade.

Boa parte dos países do planeta tem graves restrições em termos de clima, água, solos ou tecnologia agrícola. Esse não é o caso do Brasil. Hoje a cana-de-açúcar ocupa menos de 3% de nossas terras aráveis (9,7 milhões de hectares), uma área quase 20 vezes inferior à ocupada apenas por pastagens (180 milhões de hectares). Já duplicamos a produção de etanol por área desde os anos 1970 e podemos duplicá-la novamente nos próximos dez anos. Portanto, não se trata de optar entre açúcar e etanol ou entre mercado interno e mercado externo. Nossa verdadeira meta deveria ser duplicar a quantidade de cana produzida no País até 2020 para atender a todos esses mercados, começando, obviamente, pelo atendimento ao flex, mas não deixando de lado nenhum mercado atual e potencial.

A presidente Dilma foi muito feliz ao citar em seu discurso de posse uma frase do mestre Guimarães Rosa que reproduzo aqui, pois serve com perfeição para ilustrar o atual momento que vive o etanol brasileiro. "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela requer da gente é coragem".

Tivemos imensa coragem ao lançar, em 1975, o primeiro programa mundial de substituição de petróleo por um combustível renovável em larga escala, o Proálcool. No momento em que estamos completando 50% de frota de flex, precisamos novamente da mesma coragem para completar essa bela jornada brasileira e mostrar ao mundo que, mesmo tornando-nos grandes produtores e exportadores de petróleo, continuaremos contando com alternativas energéticas do mundo de baixo carbono pós-petróleo - o etanol e a bioeletricidade da cana-de-açúcar, segunda fonte da nossa matriz energética exemplar.

ARNALDO JABOR - Dilma pode fazer um bom governo


Dilma pode fazer um bom governo
ARNALDO JABOR
 O Estado de S.Paulo - 20/09/11

Quando Dilma era candidata, eu ataquei-a como 'clone do Lula', que estava ali apenas para esquentar a cadeira até 2014. Cheguei a escrever: "Coitada da Dilma - sendo empurrada, com resignação militante, para cumprir tarefas, como os tarefeiros rasos que pichavam muros ou distribuíam panfletos. Dilma me dá a impressão de que prefere o sossego e que não quer governar".

Não era isso. Assim que foi eleita, Dilma mostrou traços de uma personalidade com bom senso e bom gosto. Tinha dado um livro de poesias de Adélia Prado para uma amiga, disse numa entrevista que estava lendo Cecília Meirelles e que gostava muito do filme Casablanca - o que também me animou. Depois, soube que ela não tinha aguentado um livro do Carlos Fuentes (que também acho um chato de galochas), sem contar o 'chega para lá' que deu no assassino Armadinejad do Irã.

Conheci várias 'dilmas' como estudante, na UNE - 'pequenas burguesas' corajosas, idealistas e informadas, querendo bem ao Brasil. Eleita, Dilma convocou mulheres obstinadas que demonstram um 'élan' verdadeiro para melhorar o País e que começaram a 'faxina', sem esfregão e pano de chão, uma faxina delicada, trabalhosa, para fechar o buraco negro de alianças que Sr. Luis Bonaparte da Silva deixou de herança maldita.

O governo anterior (que a pariu, sem dúvida) tinha criado uma sopa sem sal, uma cobra mordendo o próprio rabo, um círculo vicioso, um 'nada' depressivo. Todos os delitos e desmandos sempre foram absolvidos pela força carismática do ator Lula, pela mídia oficial (bilhões em propaganda) e pela credulidade abobalhada de pobres sem cultura e 'militantes imaginários'. Vivíamos o que Mario Henrique Simonsen apelidou de "país sob anestesia, mas sem cirurgia". Vivíamos uma época sem acontecimentos reais, sob a aparência de grande agitação, que Lula bem sabia aferventar com discursos indignados e autoelogios.

Lula, de boné, dançando o forró do "nunca antes", nos convencia de que algo se movia, quando tudo estava congelado.

Os escândalos pareciam acontecimentos. E isso gerou um caos morno, porque o caos não é uma zona agitada - é um vazio sem horizontes. E no caos não há eventos. Para haver 'acontecimentos', é preciso alguma 'normalidade' a ser rompida.

Tudo que acontecia se coagulava, coalhava como uma pasta, um brejo de não acontecimentos. A anormalidade ficara "normal" e os escândalos foram desmoralizados. Nosso presente enguiçado já se desenhava no ar, para pavor dos entendidos: estouro das contas públicas, obras de pacotilha, empreguismo, velhas ideologias e terceiro-mundismo ridículo. Lula inventou a 'ingovernabilidade' e só hoje podemos avaliar a extensão do desastre.

A corrupção evoluiu como um novo partido político - uma 'pós-corrupção' sem disfarces, com a chantagem viva, usada como alavanca de apoio. A velha esquerda virou uma espécie de 'direita', apoiada por intelectuais que ainda sonham com um socialismo ilusório que resolva nosso bode "capitalista", quando justamente o 'injusto capitalismo' seria a única dinamite capaz de arrebentar esse patrimonialismo de pedra. As reformas necessárias foram ignoradas, detidas pela resistência suja dos velhos donos do poder e dos 'revolucionários' que acham 'reforma' coisa de 'pequeno-burguês'. Assim, continuamos sob o domínio do ferro velho mental do País, de oligarquias felizes e impunes, de um Judiciário caquético, das notas frias, da boçalidade dos discursos, dos superfaturamentos - tudo compondo uma torta escultura de detritos de vergonhas passadas, infraestrutura podre, analfabetismo funcional e irresponsabilidade fiscal. Nas notícias de jornal, só havia um mesmo assunto: as coisas que 'não' aconteceram - 'não' termina a greve, 'não' puniram os responsáveis, 'não' conseguiram isso, nem aquilo. Nossas notícias são narrativas de fracassos.

O Brasil continua esmagado pelos 'desacontecimentos'.

No entanto, no estreito espaço deixado por Lula, nas frestas das impossibilidades políticas, Dilma e suas assessoras vão criando fatos concretos, desejos realizados ou em fase de realização. A estrutura de impasses e encrencas está mais fraturada. E isso já é muito, em um país tomado pela direita corrupta e pela neodireita petista, sob os olhos de uma oposição patética. Há quanto tempo esperávamos por isso: fatos. Só tínhamos falsos eventos. Dilma está criando acontecimentos. Sua maior virtude é pautar-se por convicções de uma ética pessoal e não apenas por estratégias políticas ou oblíquas intenções. Ela passa uma sinceridade (certa ou errada) e tenta governar como pensa, e não como querem que pense. Uma mulher que conheceu a solidão da tortura é muito superior ao vagabundo esquerdismo de pelegos e intelectuais em seus feudos teóricos. É inacreditável que estejamos animados apenas porque o Executivo está tentando 'executar' - a que ponto chegamos...

Dilma fala o que pensa, atenta à necessidade de co-habitar com aliados, mas sem o desbragamento voluptuoso de tudo topar para não se aporrinhar. Dilma tenta diminuir gastos públicos que Lula escancarou. Dilma está protegendo os fundamentos da economia que FHC deixou e não se aproximou dele ou de Alckmin por necessidade estratégica, mas por um dever de justiça. Dilma está dando os primeiros passos para uma co-habitação com o PSDB, que Lula evitou sempre, movido por seu primitivismo invejoso e pautado pelo que Dirceu decretou: 'não se aproximar jamais do PSDB'. Por que não? Por que não levar adiante reformas iniciadas e necessárias? Ainda estamos no início de seu mandato, mas, se Dilma continuar afirmando suas convicções sensatas e modernas, talvez faça um grande governo.

XICO GRAZIANO - Mel da primavera


Mel da primavera
XICO GRAZIANO 
 O Estado de S.Paulo - 20/09/11

Vai começar a primavera. Mais quente e úmida, a época das flores renova as cores da natureza e rejuvenesce a biodiversidade. Podem verificar: as árvores já vestiram seus novos trajes. Para as abelhas é tempo de fabricar o mel.

A apicultura representa uma antiga atividade humana. Recebeu a atenção pioneira dos regulamentos de Sólon, na Grécia, fixando a distância mínima, de 90 metros, entre as colmeias lá exploradas. Utilizado o mel em cerimônias sagradas e na medicina, as abelhas despertaram também a curiosidade de Aristóteles, sabido estudioso da entomologia, a ciência dos insetos.

No Brasil, a história da apicultura começou, pra valer, em 1840. Foi quando aqui chegaram, trazidas pelo padre Antônio Carneiro, da região lusitana do Porto, as primeiras rainhas de abelhas europeias. Logo depois, os imigrantes alemães e italianos introduziram novas espécies melíferas, próprias de suas regiões de origem.

Junto vieram os inchaços. Acontece que nem toda abelha tem ferrão. As espécies do gênero Apis, exóticas, carregam dardos venenosos, ao contrário das abelhas nativas, pertencentes ao gênero Melipos, que são mansas, como a pequenina jataí. Por isso na meliponicultura nem se utilizam roupas protetoras, imprescindíveis na apicultura.

Um acidente mudou a apicultura nacional há cerca de 50 anos. Introduzidas por cientistas liderados por Warwick Kerr, as abelhas africanas, mais produtivas, porém muito bravas, escapuliram dos laboratórios, enxameando-se livremente nas matas. Agressivas, causaram pavor na população. Foram denominadas, na época, de "abelhas assassinas". Assunto de bombeiros.

Durante décadas, porém, a contínua mestiçagem entre as abelhas europeias, amarelas, e as negras africanas foi "amansando" o enxame nacional. Hoje o Brasil produz 50 mil toneladas por ano de mel, ocupando o 11.º lugar no ranking mundial. É pouco. O País poderia, segundo os estudiosos, quadruplicar a sua produção.

Insetos sociais, as abelhas vivem em colônias, organizadas em castas, cada qual com funções delimitadas. Normalmente existem na colmeia milhares de operárias, algumas centenas de zangões e apenas uma rainha. Esta vinga da operária, alimentada com geleia real. Logo após o seu nascimento, entre cinco e sete dias, ela realiza o voo nupcial e, a dez metros de altura, se vê cercada por uma nuvem de zangões, atraídos de longe pelo odor de seu feromônio sexual.

A morte é o presente do felizardo zangão que a copula, dilacerado em seu abdômen pelo ferrão preso ao corpo da rainha. Em contrapartida, seu sêmen permanecerá ativo durante toda a vida útil da fêmea, cerca de três anos. Fora isso, os zangões não servem para mais nada. São as operárias que cuidam de todo o trabalho de manutenção e proteção da colmeia. Curioso é o mundo das abelhas.

Pouca gente, óbvio, conhece as artimanhas da sociedade apícola. Mas sabe que o delicioso alimento dos enxames se fabrica a partir do néctar das flores. Desconhece, ainda assim, que, após ser recolhido, o néctar é "mastigado" pelas abelhas, momento em que nele se juntam as secreções glandulares dos insetos. Depois segue "cuspido" e concentrado nos alvéolos do favo. Cada flor, um aroma, uma cor. Segredo delicioso.

Mais que na qualidade, na veracidade do mel reside um grande desafio da apicultura atual. Análises de laboratório mostram que chega a 80% a falsificação vista no mercado. Vende-se como mel legítimo uma gororoba que mistura xarope de açúcar com amido (para dar viscosidade), artificializado com odor e cor. Até desinfetante com cheiro de eucalipto já se encontrou no produto dos picaretas.

Distinguir, visualmente, mel puro da meleca falsificada não é tarefa fácil. Alguns pensam que mel endurecido é ruim. Ledo engano. Mel puro sempre tende a se cristalizar, mas uniformemente. Se formar pelotas, aí, sim, é malandragem. Os técnicos ensinam a pingar umas gotas de iodo no produto. Se ele enegrecer, significa que apresenta amido, portanto, é falso.

Só existe uma saída para enfrentar essa malandragem: identificar a origem do produto. Nesse sentido, um selo de qualidade seria bem-vindo. Enquanto isso, a fiscalização sanitária poderia funcionar melhor. E o consumidor, esperto, fugir da pechincha. Mel bom custa caro. Palavra das abelhas.

Uma ameaça ecológica apavora os apicultores. Em várias partes do mundo, enxames de abelhas perecem sem que se conheça, ao certo, a causa da mortandade. Desde 2006, o mistério da "desordem de colapso de colônia" afeta a população das abelhas. Inseticidas, perdas de hábitat, mudanças no clima, nutrição e até sinais emitidos por celulares se colocam entre os suspeitos da morte dos enxames. Os bichinhos somem sem deixarem seus restos mortais. Simplesmente desaparecem.

Ainda não relatado cientificamente por aqui, o terrível fenômeno poderá afetar não apenas a produção mundial de mel, mas também comprometer a produtividade das lavouras. Acontece que, em sua labuta diária de coletar néctar das flores, as abelhas ajudam na fertilização vegetal, melhorando a frutificação. Pólen de uma flor encontra os óvulos de outra, distante, graças ao trabalho das abelhas. Gratuito.

Pesquisadores relatam acréscimos de até 94% na produtividade de pomares de macieiras e pessegueiros quando neles se alojam colônias de abelhas. Em cafezais e laranjais, os ganhos ficam na ordem de 35%. Se desaparecerem as abelhas, perde-se o mel e, junto, ganha-se uma crise de produção rural, especialmente na fruticultura.

A cada primavera aumenta a incerteza sobre o amanhã. Dos problemas ecológicos mundiais às bandidagens corriqueiras, resta acreditar na indignação humana. A favor das abelhas, contra a degradação de sua própria natureza.

GOSTOSA


MÔNICA BERGAMO - ROBERTO NO CINEMA



ROBERTO NO CINEMA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 20/09/11

A estrondosa viagem de Roberto Carlos a Jerusalém pode virar filme de cinema. As imagens do Rei e de seu show na Terra Santa foram feitas para um DVD. Mas devem ser adaptadas para a tela grande. O longa, em 3D, entraria em circuito perto do Natal.

GRANDE PÚBLICO
"Pensávamos em fazer um filme para sessão exclusiva a uma plateia de convidados. Mas estamos sendo pressionados para exibir o filme no cinema, com bilheteria aberta ao público", diz Dody Sirena, empresário do Rei.

PONTO FINAL
Maria Bethânia desistiu de criar um blog de poesias. O projeto foi autorizado a captar R$ 1,3 milhão via Lei Rouanet, o que gerou polêmica na rede. A assessoria da cantora informa que ela se dedicará a outros projetos.
Bethânia está em estúdio, gravando seu novo disco. No repertório, uma canção inédita de Djavan.

MENU PAULISTANO
Gabriel Chalita (PMDB-SP) jantou recentemente com Paulo Maluf (PP-SP) no apartamento do ex-prefeito, em Brasília. Conversaram sobre a possibilidade de aliança em SP -Chalita é candidato à sucessão de Gilberto Kassab pelo PMDB. Maluf foi recebido também pelo vice-presidente Michel Temer.

MENU ALAGOANO
Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, também abriu pontes com o PMDB. Além de eventual aliança em SP, discute-se a possibilidade de o PMDB apoiar a candidatura do pedetista Ronaldo Lessa (PDT-AL) a prefeito de Maceió.

NO ARDOR DA PARTIDA
A declaração do técnico Luiz Felipe Scolari após o jogo do Palmeiras, anteontem, entendida como uma insinuação de que ele poderia deixar a equipe até o final do ano, não abalou o presidente do clube, Arnaldo Tirone. "Nem me preocupei com isso. Eu não acredito [que ele saia]. Quando ele fica nervoso, ele fala mesmo", diz o cartola. Felipão tem contrato até o final de 2012.

PROCURA-SE
O cineasta Beto Brant finalizou seu sétimo longa, "Eu Receberia as Piores Notícias de seus Lindos Lábios", baseado no romance de Marçal Aquino. Mas ainda precisa de R$ 200 mil para lançar o filme, protagonizado por Camila Pitanga. Colocou o projeto no Sibite, site de financiamento, para arrecadar a verba.

PAUSA
O diretor Elias Andreato, que montou "Cruel" com Reynaldo Gianecchini, avisa que o espetáculo não voltará em cartaz com outro ator. "A peça deu muito certo. Se ele quiser voltar a fazer quando melhorar, será maravilhoso. Até lá, não vamos encenar", afirma. Andreato conta que tem trocado e-mails com Gianecchini e que ele está "muito positivo".

PASSANDO O PIRES
Quem participar do jantar de arrecadação da Fundação Bienal, hoje, em SP, poderá ver em primeira mão as obras de Damien Hirst que integram a mostra "Em Nome dos Artistas - Arte Contemporânea na Coleção Astrup Fearnley". Ela só será aberta no dia 30.

Os 400 convites, vendidos a R$ 5.000 cada um, estão quase esgotados.

CONSELHO
Olinta Cardoso ingressou no conselho deliberativo do Instituto Ethos, colegiado que já era integrado por Guilherme Leal (Natura), Antônio Matias (Fundação Itaú Social) e Sergio Mindlin, entre outros. Ex-diretora da Vale, ela hoje é sócia da Matizes Comunicação.

A ESTRELA DO 'ASTRO'
Alinne Moraes foi escolhida pela "IstoÉ Gente" como a mulher mais sexy do ano. À revista, que será lançada hoje, com festa no Terraço Daslu, ela diz que sexo "é como beber água, comer. É uma coisa natural do ser humano". O homem mais sexy é Rodrigo Lombardi, seu colega de "O Astro".

CURTO-CIRCUITO

A Associação Nosso Sonho realiza hoje e amanhã, das 10h às 19h, o evento Fashion Mix, com bazar, desfile e oficinas, na rua Turiassu, 59.

Sandra de Sá se apresenta hoje no Rey Castro. 18 anos.

Gisela Savioli e Renato Caleffi lançam hoje o livro "Escolhas e Impactos", na Livraria da Vila dos Jardins.

A Talento Joias lança a coleção Ocean hoje, às 14h, com coquetel em sua loja dos Jardins.

A exposição "A Natureza das Pessoas" abre no dia 27 no shopping D&D.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY