terça-feira, setembro 06, 2011

É PETISTA?

É PETISTA? É BANDIDO

JARBAS PASSARINHO - A política e o desconceito de seus executantes

A política e o desconceito de seus executantes
JARBAS PASSARINHO
CORREIO BRAZILIENSE - 06/09/11

No julgamento do político, em vezes várias, ocorre com deplorável generalização a injustiça de atribuir à classe a que pertence o autor o erro ou mero equívoco. Ainda menino, ouvi um deputado honesto condenar, indignado, a generalização. Lido em Webster, ele dizia que era preciso separar a conduta dos homens em sua condição individual, os que viviam da política e os que viviam para a política, como ensinava o grande filósofo alemão.
E acrescentava: há profissões nas quais essa generalização é clamorosa. Se um padre claudica, de imediato se estende a crítica à sua confissão religiosa; se é um soldado ou um oficial, culpam-se os militares; se é um vereador ou deputado que transgride a ética, logo se inculpam os parlamentares, ou seja todos os políticos. Ele tinha razão de indignar-se, porque era íntegro e vivia para a política e não dela.
Conformava-se, porém, com o mau conceito generalizado, tal a dificuldade de defender a classe em que militava há tantos anos, pois mesmo os que o conheciam rendiam-se à condenação, excetuando inteligentemente os poucos que se comportavam como ele, mas insistindo que eram a exceção que prova a existência da regra.
As pesquisas adoram a generalização. Nelas, os políticos aparecem entre os que o povo menos aprova. Não foge à regra a ilustre filósofa Maria Sylvia Franco, professora do Departamento de Filosofia da USP e da Unicamp, em entrevista à revista Veja. Para ela, todos os políticos são venais: "Não há nada mais flexível do que a espinha de um político brasileiro".
Cita exemplos da atualidade, quer no governo, quer na oposição. Os leitores, diante dos fatos, logo lhe darão razão, esquecidos de que os homens (e as mulheres) vivem numa condição humana em que os políticos não se dedicam a um ideal absoluto, como Platão ensinou, mas com a fascinante ironia de Disraeli, que disse ser "a política a arte de governar a humanidade, enganando-a".
Os ministros demitidos do governo Dilma cometeram fraudes, desde a falta de decoro à praga endêmica da corrupção. Idoso apresenta notas fiscais falsas de gastos em motel para justificar as despesas pessoais, em inútil tentativa de simular virilidade. As mesmas fraudes servem ao ressarcimento de despesas com o pagamento de táxi e gasolina para o carro próprio, graças concedidas generosamente antes do aumento recente dos vencimentos realmente pífios, reajustados ao nível de ministro do Supremo Tribunal Federal. Absolutamente indesculpáveis são o recebimento de propinas, sobretudo de empresas contratadas para obras públicas. Quando não para si mesmos, velhacamente destinadas a filhos. Usaram o mandato deliberadamente a depravar as definições de política. A de São Tomás: "A finalidade da política é o bem comum". Fizeram-na para aumentar o bem próprio. Igualmente a clássica da Aristóteles: "A atividade política é a ação do Estado, pela qual cada um, segundo sua condição, pode viver em bem-estar". Nesse caso, a condição é a de parlamentares federais proibidos pela Constituição, desde a posse, de exercer qualquer influência em empresas concessionárias de serviço público. Foram casos individuais que não devem ser atribuídos a todos os políticos, como expressou a citada professora da USP, referindo-se às espinhas dorsais de todos os políticos.
Estranha é a solidariedade aos punidos, inclusive de grupos recebidos como vítimas pelo ex-presidente da República, o que não nos deve surpreender, já que o forte dele nunca foi punir apaniguados, como os mensaleiros prestes a receber o benefício da prescrição do crime. Os defensores dos justamente punidos preferem usar de uma velha mas eficiente manobra: desqualificar quem os puniu.
Não tendo argumento para fazê-lo contra a presidente da República, dizem-na propensa a usar a faxina de punições como princípio de governo. Essa manobra insólita acaba de receber o apoio estranhíssimo de seu próprio partido, que nunca a viu com bons olhos. Num texto de 24 páginas (publicados por O Estado de S. Paulo) destinado a seu 4º Congresso Nacional, o PT argumenta que Dilma se deixa levar pela "conspiração mediática" da oposição para quebrar a unidade da base parlamentar do governo. Em crítica pessoal à presidente, afirma que o combate à corrupção está na reforma política, não na faxina. Clara a sua inspiração do texto dedicado a "quem empreendeu combate implacável à corrupção". Para vencer a batalha da opinião pública, de que culpa a mídia, a quem pune "será preciso desmontar as armadilhas da espiral do cinismo que aceita a corrupção como inevitável".
Tudo conspira, pois, em nossos dias, para mascarar a natureza verdadeira da política. A cada caso escabroso, o máximo com que a sociedade se defende é " graças a Deus " a vigilância da imprensa investigativa. Os políticos são os últimos a figurar na lista. Da generalização, citei a grosseria da professora da USP, Maria Sylvia Franco, que afirmou serem venais "todos os políticos". Max Weber responderia: "Motivos pessoais explicam. Não cesso de advertir que a política nada tem a fazer nas salas de aula. Repito que as virtudes da política são incompatíveis com aquelas dos sábios".

JARBAS PASSARINHO
Coronel reformado, foi governador, senador e ministro de Estado

CONCEIÇÃO FREITAS - A panela de presente

A panela de presente
CONCEIÇÃO FREITAS 
CORREIO BRAZILIENSE - 06/09/11

Querido amigo se casou e me mandou o convite. Lindo cartão coberto por envelope com estampa dos azulejos de Athos na Igrejinha. Saí da minha clausura e compareci à cerimônia. Linda a noiva, com os cabelos soltos à princesa Kate, elegante o noivo, encantadora a capela com os afrescos de Galeno, calma e serena a noite. Só no dia seguinte, me dei conta de que não havia acessado o site da agência de viagem para deixar o meu presente. É tendência moderna que até então eu desconhecia: em vez de perder tempo comprando baixelas cafonas ou liquidificadores repetidos, o convidado presenteia os noivos com a viagem de lua de mel. Prático como os tempos pós-modernos.
Mas eu me esqueci"
Na verdade, foi um ato falho. Eu não queria dar um presente tão indiferente. E acabei adiando o acesso ao site. Quando o fiz, na segunda-feira seguinte ao casamento, o nome dos noivos já não estava mais disponível para acessos e depósitos. Achei ruim, mas achei bom. Estava formalmente livre para comprar o presente que eu quisesse.
Aí surgiu um novo problema. Que presente? A era do consumo exacerbado deixa à disposição tudo o que você imaginar " a supra-mega-hiperdiversidade de produtos me sufocava como uma onda que te arrasta para a areia sem te permitir aproveitar o balanço do mar. Como sou amiga do noivo e tenho contato cordial com a doce noiva, fiquei em situação mais complicada ainda. O noivo gosta de livros, mas eu não ia comprar as obras completas de Dostoievski " é um presente de casamento, não de formatura em literatura russa.
Numa noite em que lançava os olhos cansados pelas prateleiras de uma loja de presentes, fui surpreendida por uma panela. A bem da verdade, me apaixonei por ela. Não era uma panela-panela. Era uma frigideira com forte parentesco com uma bacia. Dito assim, parece um tacho, mas não é. O design é de arquiteto " meia esfera em volume harmonioso, que se abre elegantemente desde o fundo até a boca, como se Niemeyer dos bons tempos tivesse criado a forma perfeita de uma panela moderna. Lembra a forma côncava do Congresso Nacional. Ao utensílio é anexado um cabo de não menos altivez. Ressalte-se que, dadas as suas funções, a panela declinou da tampa, completa-se em si mesma, com sua insolente beleza negra.
Para esta chucra cronista, se tratava, como disse até agora, de uma panela. Fui informada, porém, que é uma wok " está para os asiáticos como a frigideira está para os brasileiros.
Apaixonada, entreguei o presente aos recém-casados, tão logo voltaram da lua de mel, que incluiu um roteiro gastronômico em Paris. Neste fim de semana, meu amigo ofereceu um jantar. A atração não foi o cardápio nem os filmes da viagem" foi a panela. Ops, a wok.

ANCELMO GÓIS - Lula na Sorbonne


Lula na Sorbonne
ANCELMO GÓIS 
O Globo - 06/09/2011

Ele chegou lá. Dia 27 agora, Lula recebe o título de doutor honoris causa na Sorbonne. Desembarca no mesmo solo sagrado do saber que pisou Jean-Paul Sartre, Claude Lévi- Strauss e FH.

Lula em Portugal
Lula
 faz hoje palestra em Portugal, a convite da Camargo Correa, que tem negócios na terrinha.
Na terra do Aécio

Deve ser em Minas Gerais a festa da Fifa, dia 16, que marcará exatamente mil dias para o início da Copa de 14. Dilma e Pelé vão.

Pato e Barbara
Ontem, antes do jogo da seleção, Alexandre Pato, o atacante do Milan, recebeu a visita da namorada, Barbara Berlusconi, no hotel Syon Park, onde os brasileiros ficaram hospedados. A filha do primeiro-ministro da Itália foi festejar o aniversário do craque, que completou 22 anos sexta-feira. Não é fofo?

Rosa & Rosa
Cresce o nome de Rosa Maria Weber Candiota da Rosa, ministra do TST, para o STF.

Rumo ao frio
Georges Lamazière, que foi porta-voz do governo FH, deverá ser o nosso próximo embaixador em Moscou.

No ar
Ivete Sangalo está trocando o seu jatinho.

Viagem solitária
A história da primeira mulher a virar homem no Brasil é o tema do livro “Viagem solitária”, que será lançado em outubro pela Leya. João W. Nery, seu novo nome, vai narrar a experiência da cirurgia pioneira, feita em 1977.

Dia D de Drummond
A ideia surgiu no Instituto Moreira Sales, que recebeu parte do acervo de Carlos Drummond de Andrade. A partir de agora, o dia 31 de outubro, data do seu nascimento, passa a ser o Dia D, para celebrar o poeta.

Segue...
Fundação Rui Barbosa, PUC-Rio, Livraria Cultura em São Paulo e a Travessa no Rio já aderiram à iniciativa. Espera- se que haja dezenas de eventos neste dia no país. Algo parecido ocorre em 16 de junho com o Bloomsday, de James Joyce.

Samba na corte
Primeira escola de samba de Brasília, a Aruc foi convidada pela Presidência da República para encerrar a parte civil do desfile de 7 de Setembro, amanhã. Vai ser a primeira vez que uma agremiação carnavalesca participará do evento. Eu apoio.

Galinha pintadinha
Verdadeira febre entre os pequenos, com mais de 260 milhões de acessos no Youtube, “Galinha pintadinha” vai virar musical. Estreia 14 de janeiro, no Shopping da Gávea, no Rio. A produção, que segue para outros estados, é da GEO Eventos e Som Livre.

América Fabril
A juíza da 1a- Vara Cível da Capital, Adriana Therezinha Carvalho Souto Castanho de Carvalho, concedeu ontem usucapião a 12 famílias que moram no Horto. São descendentes de ex-trabalhadores da América Fabril, que existia no local. O processo começou em 1990 e hoje tem 5.192 folhas.

Linha de passe
A 6a- Câmara Cível do TJ-RJ deu ganho de causa à ESPN Brasil, na ação movida pelo árbitro Jorge Rabello, por ter sentido sua honra atingida no programa “Linha de passe”. Jornalistas falaram na falsificação de documentos na Comissão de Arbitragem do Rio e o juiz sentiu-se acusado.

A cor da Bienal
Domingo, na Bienal do Livro, Nei Lopes criticou a falta de espaço para escritores negros: - Parece que eu e o Joel Rufino somos os únicos aqui. Não reconhecem o escritor negro. Tem muito branco escrevendo bobagem, mas com espaço. É. Pode ser.

Mundo moderno
Um camelô no trem da Central do Brasil usa um laptop para exibir filmes piratas que vende. O novo “Planeta dos macacos”, por exemplo, custa R$ 2.

ILIMAR FRANCO - Governo cobra ação de governadores


Governo cobra ação de governadores 
ILIMAR FRANCO
O Globo - 06/09/2011

A exemplo do governador Sérgio Cabral (RJ), que ontem defendeu a volta da CPMF, outros governadores podem fazer declarações semelhantes. O Planalto está cobrando que eles arregacem as mangas na votação da Emenda 29, que regulamenta os gastos com a Saúde. O governo federal não quer arcar só com o ônus de qualquer aumento de imposto. Os governadores mais pressionados são de estados que não cumprem 12% dos gastos com saúde. Segundo o Ministério da Saúde, é o caso do Rio, que gasta 10,75%; dos tucanos Antonio Anastasia (MG), 8,85%, e Beto Richa (PR), 9,84%; e do petista Tarso Genro (RS), 4,37%.

O líder
Recentemente reconduzido pela presidente Dilma à Procuradoria Geral da União, Roberto Gurgel comandou a rebelião no STF contra o acerto feito, sobre salários do Judiciário, entre o presidente do STF, Cezar Peluso, e o governo.

Em prestações
O relator do Plano Plurianual 2012-15, senador Walter Pinheiro (PT-BA), diz que há margem para o reajuste dos servidores do Judiciário. A intensão do petista é parcelar o aumento salarial durante os próximos quatro anos.

Noutra órbita
A subcomissão Rio + 20 do Senado fez ontem debate sobre o "decrescimento" da economia. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) resume: "O decrescimento do PIB é uma forma de ampliar o bem-estar e o equilíbrio ecológico."

Combinado
Ao final do debate sobre o "decrescimento", o professor João Luiz Homem de Carvalho (UnB) disse para o senador Cristovam Buarque: "Foi muita ousadia sua." Risos. O senador concorda: "Politicamente, isso é um desastre eleitoral."

Abrindo a porta
Aprovada com o objetivo de tornar compulsória a renovação partidária, no Congresso do PT, o limite dos mandatos para deputados federais e estaduais (três) e senadores (dois) pode também abrir uma janela para os petistas mudarem de partido. Dirigentes petistas diziam ontem que, ao limitar os mandatos de seus parlamentares, o PT estava dando uma autorização prévia, e justificada, para futuras mudanças de partido.

Padrinho
A líder do PSB na Câmara, Ana Arraes (PE), candidata a ministra do TCU, tem um apoio de peso: o ex-presidente Lula. Os governadores petistas do Nordeste já entraram em campo para ajudar a mãe do governador Eduardo Campos (PE). A candidata socialista ainda espera se beneficiar da postura da presidente Dilma, de buscar ampliar a presença da mulher em posições de poder no governo e nos tribunais.

Será que Sua Excelência (presidente Dilma), quando era candidata, mentiu para o povo quando disse que ia lutar pela regulamentação da Emenda 29 e que isso seria feito sem aumento de tributos?" - Aloysio Nunes Ferreira, senador (PSDB-SP)

CANDIDATO de uma rede de movimentos de controle dos gastos públicos para a vaga de ministro do TCU, o auditor Rosendo Severo será também apoiado pelo PV. Já estavam com ele o PSOL e o PPS.

OS PETISTAS do Paraná estão torcendo pela filiação do tucano Gustavo Fruet ao PDT. Nesse caso, podem apoiar sua candidatura à prefeitura de Curitiba.

PARADA antecipada de 7 de Setembro em Santarém (PA), ontem, transformou-se numa manifestação pela criação do estado de Tapajós. O plebiscito será realizado dia 11 de dezembro em todo o Pará.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Exagerados?
SONIA RACY
O ESTADÃO - 06/09/11

A Defensoria está às voltas com fianças abusivas praticadas especialmente depois das mudanças no Código Penal.

Recentemente, um jovem sem passagem pela polícia foi flagrado com moto roubada. O delegado de plantão no 72º DP definiu um salário mínimo para sua soltura. Depois de pedido de liberdade provisória solicitado pelos defensores Gislaine Calixto, Geraldo Sanches e Fernanda Hueso, o juiz reviu a fiança. E estabeleceu R$ 6 mil.

Tipo exportação

Em estratégia de marketing inusitada, Paulo Kakinoff lançou, anteontem, em restaurante de Tel-Aviv, o Audi A-6. Além de empresários israelenses e brasileiros, a festa contou com a presença do ex-premiê Ehud Olmert.

Na próxima segunda-feira, o presidente da Audi do Brasil apresentará este modelo de comunicação na matriz da montadora, na Alemanha.

Por aqui, o automóvel custará cerca de R$ 290 mil.

Na mosca

Conforme antecipado nesta coluna em 30 de agosto, Neymar fechou com o Barcelona para 2013.

Na mosca 2

Mano Menezes é um dos mais entusiasmados com a contratação de Neymar pelos catalães.

Imagina que a experiência internacional poderá transformar o craque no líder que a seleção ainda não tem.

Pianíssimo

Arnaldo Cohen não levou boas lembranças de São Paulo. Domingo, em Congonhas, no portão 34 da Gol (exclusivo a passageiros Smiles), o pianista fazia check-in para embarcar rumo a Belo Horizonte, quando percebeu que sua bolsa de mão havia sido furtada. Conteúdo? HD com vídeos e áudios de seus concertos, óculos, partituras... Parece que nenhuma câmera da Infraero flagrou o ladrão.

Low profile

A discreta saída de Marcos Paulo, anteontem, do Hospital São José, em São Paulo, revelou novo padrão da Globo para situações semelhantes. A emissora não quer mais que os tratamentos de saúde de seus astros se transformem em reality show.

Tornando-se jovem

Shimon Peres, aos 88 anos, não está preocupado em resolver o passado. E, sim, em decifrar o futuro. Para o presidente israelense, de Adam Smith a Karl Marx, economistas tentam organizar o passado. Mas são incapazes de focar o futuro. Antes, a economia era baseada nas terras. Depois, se apoiou na ciência. Agora, ela não tem mais referência na ciência, mas... em países.

Foi este o início de sua resposta, ontem, sobre as expectativas em relação à crise e às incertezas no mundo. "Lidamos com o desconhecido", ressaltou Peres, pouco depois de entrar na sala do hotel Intercontinental, em Tel-Aviv, e se sentar ao lado da embaixadora brasileira Maria Elisa Berenguer. Explicou: "Os EUA entraram em crise porque conseguiram mais dinheiro do que ideias".

Ao Brasil, recomendou olhar para a frente, investir em educação e se tornar mais globalizado. Lembrou que educação não é despesa, mas investimento. E citou a China como bom exemplo. Sobre Lula, ressaltou que "foi revolucionário ao assumir o poder, eleito pelo povo". Mas que isso não se sustenta por si só.

Convidado para conversar por quase uma hora com grupo formado por João Doria Jr. e Paulo Kakinoff, o presidente deu aula de sabedoria aos participantes do 2º Audi Business Trip, composto de 20 empresários brasileiros. E se o Prêmio Nobel da Paz de 1994 não tocou no assunto guerra ou na votação, dia 20 na ONU, sobre o reconhecimento do Estado palestino, foi claro ao apontar não existir outra saída para o homem a não ser dentro de si mesmo. O que depende de fora já estaria dado.

O homem descobriu sua própria imagem ao inventar o espelho. Hoje, começamos a enxergar nosso ser interior, nossa imagem enquanto ser capaz de solucionar questões políticas fundamentais por meio da consciência individual. O coletivo estaria dentro de nós e temos de usar "novos espelhos" para enxergá-lo.

Misturando nanotecnologia e biociência, Peres indicou que não pensa mais no Estado como resultado da associação de indivíduos. E, sim, como condição de existência de cada ser humano. O vínculo entre Estado e indivíduo, para o intelectual, tem hoje caráter de interioridade. Algo como o ser público que existe dentro do privado.

Mesmo porque, segundo o presidente - que fez questão de esclarecer não ser economista -, até a cibernética, atualmente, tem o poder de paralisar uma nação. "Não há proteção contra isso." Só este fato muda totalmente a maneira de se lidar com a realidade. "Melhorar o ser humano em si é a única alternativa."

Na frente

A Beauty Fair, para profissionais e empresários da indústria da beleza, abre sábado. No Expo Center Norte.

Com o número de idosos crescendo, Maria do Rosário decidiu. Sua secretaria dos Direitos Humanos monta conferência em novembro para discutir políticas voltadas à terceira idade.

Angela Maria e Agnaldo Timóteo estreiam amanhã temporada de shows. No

Bar Brahma do Centro.

Li Camargo e Mariana Penteado lançam o site de e-commerce The Boutique. Hoje, no Baretto.

Prevenido, Maurício de Sousa leva sempre um bloquinho da Turma da Mônica a tiracolo. Dia desses, abordado por fãs em um restaurante japonês, sacou os personagens do bolso e distribuiu vários autógrafos.

Sem arrependimentos

Paulo Maluf comemorou 80 anos de vitórias e reveses - além de dezenas de processos na Justiça - em grande estilo, sábado, na Sala São Paulo. Alugada por R$ 50 mil. Entre rodadas de champanhe francês e travessas de salmão com coalhada seca e ovas, uma longa fila de políticos dos mais variados partidos se formou para cumprimentar a estrela da noite. Ao lado da mulher, Sylvia, Maluf abraçou um a um ante expressões de "oh, meu querido", naquela pronúncia que lhe é peculiar.
Quando Michel Temer e, depois, Gilberto Kassab e Geraldo Alckmin chegaram, uma explosão de flashes. Aí se pendurou em um, fez pose, enganchou o braço no outro. Tudo temperado por conversas em baixo volume.

O deputado, de gravata vermelha ("porque dá sorte"), tem assunto com tucanos e petistas. Afinal, integra o governo paulista desde que indicou o presidente da CDHU. Ao mesmo tempo, seu partido, o PP, compõe a base do governo de Dilma. Também foram à festa os secretários de Estado Sidney Beraldo, Julio Semeghini e Andrea Matarazzo (PSDB), o deputado Campos Machado (PTB), assim como os deputados Aldo Rebelo (PC do B) e Damião Feliciano (PDT). Estes dois últimos estão na corrida para a vaga de ministro do Tribunal de Contas da União e aproveitaram para pedir apoio.
Questionado, o comunista Rebelo afirmou ter aceitado o convite por "um gesto de delicadeza".
Antes de o ex-governador se acomodar em seu camarote no mezanino, com Alckmin e dona Lu a tiracolo, a coluna perguntou a Maluf se ele se arrependia de algo na carreira. A frase veio imediata, como sempre: "De nada, só do que não fiz". Lá do alto era possível ver diversas cadeiras vazias, evidência de que muitos convidados pularam o momento mais elevado da noite, a performance de Arnaldo Cohen com a Orquestra Sinfônica de São Paulo - que interpretaram Chopin, Bizet, Villa-Lobos e Rachmaninov. PAULA BONELLI

MARCIA PELTIER - Petistas mil


Petistas mil
MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 06/09/11 

Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo embalou sonhos ambiciosos dos petistas durante o seu 4º Congresso, este fim de semana em Brasília. A constatação de que 32% do eleitorado nacional têm simpatia pelo PT levou os dirigentes a investir no aumento dos filiados, atualmente na casa dos 1, 4 milhão. A meta é chegar a 2012 com, pelo menos, 2 milhões de inscritos. Levantamento do TSE que deu ao PMDB a dianteira, com 2, 3 milhões de partidários, acendeu a luz vermelha.

Tradição e fé 

Na última sexta-feira, os três sacerdotes católicos mais disputados do Rio de Janeiro se reuniram para celebrar a união do jovem casal Claudia Villela e Pedro Grossi Neto no Outeiro da Glória. Além dos padres Jorjão, José Maria e Omar, quem desembarcou por aqui foi o padre Bruno Lins. Ele veio direto do Vaticano para abençoar os amigos de infância. No altar ficaram as 10 daminhas, os 16 casais de padrinhos e os pais dos noivos — Luiza e Sérgio Villela e Lúcia e Pedro Grossi. As músicas foram executadas pela orquestra Violinos Mágicos, de Murilo Loures. Na hora do sim houve uma chuva de pétalas de rosas brancas e rosas chá.

Toque moderno 
A recepção para 450 amigos foi nos salões do Gávea Golf Club, que recebeu decoração de Antônio Neves da Rocha. Uma sensação de casa de campo inglesa foi transmitida pelos estampados em tons rosa, azul e verde e os inúmeros arranjos de flores. O jantar levou a assinatura de Demar e o bolo cheio de laços brancos, a de Regina Rodrigues. Depois da valsa, a noiva — com vestido de renda desenhado por Regina Martins — fez questão de dançar hits atuais na pista de dança comandada pelo DJ Khal. O irmão da noiva, Pedro Villela, serviu aos convidados três caixas de Santa Dose, que mistura cachaça, mel e limão. Entre os convidados estava o prefeito Eduardo Paes, o ministro Luiz Fux, empresários e nomes de peso da sociedade brasileira. Os recém-casados passam a lua de mel na África.

Nota afinada

A Sala Cecília Meireles ganhou um novo piano de cauda doado por sua associação de amigos. No próximo dia 17, o diretor do espaço, João Guilherme Ripper, embarca para a fábrica da Steinway, na Alemanha. Ele vai contar com a consultoria de peso do pianista Jean-Louis Steuerman para escolher o instrumento. O piano será usado na reabertura da Sala no ano que vem.

Vitória legal 

A luta judicial do fotógrafo Marco Rodrigues pelo apartamento em que viveu por 17 anos com o pintor Jorge Guinle Filho teve, ontem, um final feliz. A disputa, que começou entre Marco e a mãe de Jorge, Dolores Sherwood, quando da morte do artista em 1987, mudou de atores nos últimos anos. O antagonista de Marco era, agora, o empresário Estevão Hermann, dono da Refricentro e inventariante do espólio. Ele havia comprado por R$ 35 mil a parte de Jorge Guinle, pai, no apartamento. O fotógrafo chegou a oferecer o dobro, mas Estevão não aceitou. Marco avalia que o imóvel, situado na cobertura de um prédio na rua Aperana, no Leblon, deva estar custando mais de R$ 3 milhões.

Doce lar 

Bem-quisto pelos antigos vizinhos, Marco já foi avisado pelo condomínio que está sendo organizada uma festa para ele no playground do prédio. Num futuro breve, ele pretende se reinstalar no endereço com a namorada, Alice Silveira. A longo prazo, ele imagina até construir um segundo andar no apartamento, permitido pela escritura.

À casa torna 

Talento em ascensão, o tenor Thiago Arancam, que vai interpretar Cavaradossi na montagem da Tosca que o Theatro Municipal estreia domingo, cantará pela primeira vez no Brasil. Paulista de 28 anos, ele estudou no Scala de Milão e conquistou três prêmios em 2008 na Operalia, competição mundial para cantores líricos criada por Plácido Domingo. Casado com a italiana Michela, Thiago gosta de esquiar, brincar com a cocker spaniel Briccy e, prova de que está bem aclimatado na Itália, comer muito queijo parmigiano reggiano.

Sacolas em punho 

Com preços até 30% mais baratos que Orlando, Miami e Nova York, Geórgia quer atrair mais brasileiros ao estado, com foco no turismo de compras. Em 2010, foram 56 mil embarques. A venda de pacotes àquele destino teve aumento de 90% graças à parceria do governo de lá com a operadora carioca Marsans Brasil. Diretor de negócios turísticos do estado americano, Joseph Walker está no Brasil para encontros com representantes do setor. A meta é fazer com que, até 2017, o fluxo de brazucas cresça 10% ao ano. 

No programa de hoje, Marcia Peltier conversa com o médico Fábio Cuiabano, conhecido como o "dermatologista das estrelas". Durante a entrevista, o doutor Cuiabano vai falar em primeira mão sobre a nova técnica da volumização, apresentada recentemente no Congresso de Dermatologia nos EUA. Também conta sobre a origem do botox, um produto que surgiu quase que por acaso, e a importância do uso do filtro solar. "Aquelas câmaras de bronzeamento artificial são um crime. Isso pode causar câncer de pele", revela. O programa começa às 23h, na rede CNT.

A jogadora de vôlei Virna Dias comanda jogo amistoso com ex-jogadores, celebridades e personalidades, hoje, na praia de Copacabana, para lançar oficialmente seu projeto social. A iniciativa tem o patrocínio de marca Cenoura & Bronze.

O compositor, poeta, filósofo e escritor Antonio Cícero participa, hoje, da conferência Perspectivas da crítica literária, na Academia Brasileira de Letras. Ele vai falar sobre A poesia e a crítica. A entrada é gratuita.

A cantora Teresa Cristina vai representar o Brasil amanhã, no Arts Alive, o mais importante festival de artes e cultura de Joanesburgo, na África do Sul. Acompanhada do grupo Semente, ela faz outra apresentação na sexta na embaixada brasileira, em Angola.

Fabiano Niederauer, da 3R Studio, participa pela primeira vez da Bienal do Livro. O estande conta com revistas da editora e livros como A Vida é uma festa, de Ricardo Stambowsky.

Clarice Caliman e Larissa Dadalto, da Yogofresh, estão lançando o frozen de açaí de baixa caloria, com degustação nas lojas.

Martinho da Vila autografa, hoje, o livro Fantasias, Crenças e Crendices no estande da Saraiva, na Bienal, das 16h às 18h.

Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário, comemora o prêmio Melhor em atendimento ao cliente, no setor de cosmésticos, ganho pela empresa no IX Fórum Brasileiro de Relacionamento com o Cliente.

Com Marcia Bahia (interina), Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

ALON FEUERWERKER - A banda toca assim


A banda toca assim
ALON FEUERWERKER
Correio Braziliense - 06/09/2011


A opção de jogar o alvo para 2012 já fora largamente absorvida pelo mercado e pelos observadores. Antes mesmo do último Copom, o centro da meta neste 2011 já virara fumaça e todo mundo estava conformado. Por que então agora o espanto?


A política é o espetáculo do exagero. Por didatismo. É mais fácil fixar convicções alheias sobre as nossas próprias qualidades e sobre os defeitos dos adversários se a realidade é apresentada em alto contraste.

Política não é terreno propício a tons em cinza, a olhares dotados de compreensão, a tentativas de tomar o que há de certo no errado. Eis por que continua a haver emprego para os analistas políticos.

Pois para entender a política nunca basta ouvir o discurso militante.

Bastou o Comitê de Política Monetária reduzir em meio ponto percentual a taxa básica de juros para um diagnóstico tomar o palco. O Banco Central abandonou o regime de metas de inflação. Será?

O BC não abandonou o sistema de metas. Pelo menos não por enquanto. O que ele já havia abandonado, e continua a ignorar, é o regime gregoriano de metas estritas, o objetivo de alcançar o centro da banda de inflação entre 1° de janeiro e 31 de dezembro.

Por uma razão política. Se decidisse pelo gregorianismo, o BC teria empurrado a economia brasileira para uma baita desaceleração, maior ainda que a presente. A presidente da República não topou o sacrifício, e então o BC ofereceu outro caminho: deixar para alcançar o centro da meta em 2012.

Tudo isso já era bem sabido antes da semana passada. A opção já fora largamente absorvida pelo mercado e pelos observadores. Antes mesmo do último Copom, o centro da meta neste 2011 já virara fumaça e todo mundo estava conformado. Por que então agora o espanto?

Ainda mais quando o que existe é uma banda de inflação, e não propriamente uma meta. Pois a meta tem um "para mais" e um "para menos".

Desde então, é assim que a banda toca.

O "para menos" é só de inglês ver, mas o "para mais" tem sido bastante útil.

Na prática o regime de metas de inflação vem sendo flexibilizado não no conceito, mas na meta propriamente dita. Mira-se não o centro, mas o topo. Que com o tempo vira centro.

Essa foi a primeira heterodoxia. A segunda? Precisamente a flexibilização do gregorianismo. E há uma boa razão para fazê-lo. Se o objetivo dos juros é atacar a inflação futura, o peso da passada pode ser relativizado.

Ou seja, importa mais como roda a inflação instantânea e menos como ela se comportou, num exemplo, seis meses atrás.

O Palácio do Planalto e o Banco Central estão usando toda a margem de flexibilidade do sistema institucional de metas para tentar impedir que a economia brasileira acelere a desaceleração.

Estão usando a pista toda, mas não estão, ainda, subindo na zebra.

Qual é o risco? Transformados os 6,5% em centro da meta, na prática, daqui a pouco alguém vai querer olhar um pouco mais para cima.

Dilma Rousseff colheu bons resultado da decisão, lá atrás, de não seguir o gregorianismo. A recuperação mundial é bem mais lenta do que supunham os otimistas e as pressões inflacionárias externas parecem atenuadas.

Houve um momento em que o governo piscou, mas agora vem a marcha-a-ré, a volta ao plano original.

Como na profissão de goleiro, também na política é preciso ter sorte. E o governo está com sorte, pois o cenário externo ajuda a combater a inflação, abrindo espaço para reduzir o aperto monetário.
Claro que haverá sempre a possibilidade de tocar a zebra, de derrapar, de sair da pista, de ficar preso na brita ou bater no guard rail. Mas esse é um risco de quem está na corrida.
E quem está na corrida sabe que se a ousadia virar trapalhada o bicho vai pegar.

Não vai rolar
Toda vez que o PT não gosta de alguma produção jornalística retoma o discurso sobre o "controle social da mídia". Para em seguida recuar, diante das reações.

E também diante da constatação de que a introdução de certos controles exigiria uma ruptura institucional, exigiria remover certas garantias constitucionais à liberdade de expressão.
O PT deveria cair na real. Isso simplesmente não vai rolar.

MERVAL PEREIRA - Mais uma tentativa


Mais uma tentativa 
MERVAL PEREIRA
O GLOBOB - 06/09/11

Mais uma vez o Partido dos Trabalhadores tenta retomar a discussão sobre o que chamam de "controle social da mídia" ou sua "democratização", que na verdade significa a tentativa de controlar os meios de comunicação que se pautam por uma postura independente em relação ao governo.
Desta vez, saída do quarto congresso do partido, a tentativa é mais descarada ainda, já que renasceu devido a um trabalho político do ex-ministro José Dirceu, que se considerou atingido por uma reportagem de capa da revista "Veja".
A motivação já explica, por si só, a verdadeira intenção de setores majoritários do partido, que vai de encontro a uma decisão já anunciada pela presidente Dilma, que mandou arquivar o projeto que o ex-ministro Franklin Martins havia deixado para ser enviado ao Congresso.
O texto do PT fala em "abrir o debate no Congresso Nacional sobre o marco regulador da comunicação social", mas mistura alhos com bugalhos ao dizer que esse marco regulador trataria de supostas práticas ilegais do que chamam de "jornalismo marrom" - mais propriamente o jornalismo que independe dos favores do governo -, que "deve ser responsabilizado toda vez que falsear os fatos ou distorcer as informações para caluniar, injuriar ou difamar".
Coube ao presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, responder a essa tentativa de misturar questões técnicas do setor de comunicações com o controle de conteúdo jornalístico.
Segundo ele, "o ordenamento jurídico brasileiro já prevê sanções contra quem incorrer em infrações ou crimes de imprensa". O que não se pode fazer, advertiu Ophir, "é estabelecer políticas sobre como deve ser pautada a imprensa. Isso é censura. Isso, efetivamente, é negar esse valor fundamental da democracia que é a liberdade plena de imprensa".
A nota do PT fala da "inexistência de uma Lei de Imprensa", revelando saudades da legislação editada na ditadura militar que em boa hora foi revogada pelo Supremo Tribunal Federal, e do "desrespeito aos direitos humanos presente na mídia".
São assuntos desconexos que a nota do partido coloca no mesmo contexto para confundir. A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, por exemplo, saiu do Congresso do PT dizendo que era impossível não prosseguir nesse debate, fingindo que não existe uma orientação da presidente Dilma para que o assunto não seja prioritário para o governo.
Ideli diz também que, com o fim da Lei de Imprensa, o direito de resposta ficou desprotegido. Não é verdade, a Constituição manteve vivo o "direito de resposta", que é um direito de retratação ou esclarecimento de fatos. A Constituição de 1988 prevê no artigo 5º que "é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem".
Além do mais, o ministro das Comunicações deixou claro que os jornais e revistas não serão atingidos caso o tema seja debatido pelos parlamentares. "O projeto não trata de mídia impressa, nem jornal, nem revista, nem outdoor. Tudo isso aí está fora" - garantiu Paulo Bernardo.
Também o conteúdo jornalístico da internet não estaria incluído no marco regulatório da mídia, mas apenas seus aspectos técnicos e os crimes praticados através dela, como a pedofilia.
Mas, com relação aos direitos humanos, por exemplo, temos uma legislação bastante detalhada já em vigor. Cabe ao Ministério Público defender os direitos e interesses coletivos, especialmente das comunidades indígenas, da família e do idoso.
Seu principal instrumento é a ação civil pública para garantir a proteção dos interesses individuais indisponíveis, difusos e coletivos.
Portanto, qualquer abuso cometido por algum programa de televisão é imediatamente objeto de ação civil (ou, se for o caso, criminal) por parte do Ministério Público.
Na França ou em Portugal, por exemplo, se um programa incita o ódio, o racismo ou algum crime do gênero, quem age é o CSA ou a AACS, e, só depois, o caso vai para a Justiça.
Assim como na proteção aos direitos humanos, há vários órgãos governamentais que tratam de temas específicos em relação aos meios de comunicação, como a proteção às crianças e aos adolescentes, por exemplo.
A Secretaria Nacional de Justiça, órgão do Ministério da Justiça, trata da questão do menor. É esse órgão, composto por nove pessoas, que decide a qual faixa etária se destina um programa.
Com duas agravantes: trata-se de uma espécie de censura prévia, uma vez que a classificação é feita antes de o programa ir ao ar; e, contrariando a Constituição, que diz que o Poder Público fará apenas uma classificação indicativa, na prática, a decisão tem se tornado compulsória, porque o Ministério Público é acionado e acaba conseguindo liminares na Justiça impondo a classificação.
O CSA francês, por exemplo, depois de uma intensa discussão com diversos setores da sociedade, tornou públicos critérios que achou justos, e as próprias emissoras ficaram encarregadas de classificar os seus programas.
É, portanto, apenas aparente a inexistência no Brasil do que se costumou chamar de "controle social" sobre a TV. Ele existe, mas está espalhado por diversos órgãos e não centralizado numa única instituição.
Mas, assim como não existe em qualquer parte do mundo civilizado, também aqui não há censura ao conteúdo dos meios de comunicação. O presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, colocou o dedo na ferida quando disse que essa postura do Partido dos Trabalhadores "assusta".
E explicou por quê: "Nós estamos vendo países aqui na América do Sul e em alguns lugares do mundo em que há restrições à liberdade de imprensa. A Ordem não quer que esses maus exemplos de países totalitaristas, ditatoriais, venham para o Brasil."
Pois o que leva o PT a mais essa tentativa de controlar os meios de comunicação é justamente a comunhão de intenções com o que já acontece em outros países da América do Sul, como a Argentina e a Venezuela.
A Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, a chamada "Lei da Mídia", aprovada na Argentina em 2009, considerada inconstitucional pela Justiça, é vista como uma "referência imprescindível" pelos petistas para os demais países.
Ela faz parte de uma ampla campanha do governo de Cristina Kirchner para cercear a atuação dos jornais e televisões de maneira geral, mas muito especificamente do grupo Clarín, o mais importante do país.

VLADIMIR SAFATLE - Zero e um

Zero e um
VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SP - 06/09/11 

Há tempos, as pesquisas em inteligência artificial procuram criar um computador que tenha a complexidade de um cérebro humano.
Bem, certos setores do debate nacional de ideias conseguiram o inverso: criar cérebros que parecem mimetizar as restrições de um computador. Pois eles são como hardwares que suportam apenas um pensamento binário, onde tudo é organizado a partir de "zero" e "um".
De fato, o Brasil tem de conviver atualmente com debates onde o mundo parece se dividir em dois. Não há nuances, inversões ou possibilidades de autocrítica.
Jean-Paul Sartre costumava dizer que o verdadeiro pensamento pensa contra si mesmo.
Este é, por sinal, um bom ponto de partida para se orientar em discussões: nunca levar a sério alguém incapaz de pensar contra si mesmo, incapaz de problematizar suas próprias certezas devido à redução dos argumentos opostos a reles caricatura.
Afinal, se estamos no reino do pensamento binário, então só posso estar absolutamente certo e o outro, ridiculamente errado. Daí porque a única coisa a fazer é apresentar o outro sob os traços do sarcasmo e da redução irônica. Mostrar que, por trás de seus pretensos argumentos, há apenas desvio moral e sede de poder.
Isso quando a desqualificação não passa pela simples tentativa de infantilizá-lo. Alguns chamam isso de "debate". Eu não chegaria a tanto.
Infelizmente, tal pensamento binário tem cadeira cativa nas discussões políticas.
Se você critica as brutais desigualdades das sociedades capitalistas, insiste no esvaziamento da vida democrática sob os mantos da democracia parlamentar, então está sorrateiramente à procura de reconstruir a União Soviética ou de exportar o modelo da Coreia do Norte para o mundo.
Se você critica os descaminhos da Revolução Cubana ou a incapacidade da esquerda em aumentar a densidade da participação popular nas decisões governamentais, criando, em seu lugar, uma nova burocracia de extração sindical, então você ingenuamente alimenta o flanco da direita.
Esse binarismo só pode se sustentar por meio da crença de que nenhum acontecimento ocorrerá. Tudo o que virá no futuro é a simples repetição do passado. Não há contingência que possa me ensinar algo. Só há acontecimento quando este reforça minhas certezas.
O resto é "fogo-fátuo" e conspiração. É possível encontrar modelos desse raciocínio à esquerda e à direita. No entanto não precisamos de nenhum deles.
Precisamos de um pensamento com a coragem de admitir acontecimentos que nos desorientam. Pois -e este é um dos elementos mais impressionantes da vida- quando fechamos os olhos para tais acontecimentos, eles, de fato, desaparecem.

GUSTAVO PATU - O 64º tributo


O 64º tributo
GUSTAVO PATU
FOLHA DE SP - 06/09/11

BRASÍLIA - O fim da CPMF não resultou de um consenso partidário, nem sequer da ação de uma maioria coesa. Foi pouco mais do que um acidente, provocado por uma minoria congressual.
Governo e aliados conduziram com imperícia as negociações; na oposição, os que procuravam uma bandeira venceram os que governavam Estados e buscavam um acordo. Ainda assim, o tributo foi aprovado por quase dois terços da Câmara e mais da metade do Senado, onde faltaram apenas quatro votos para o mínimo obrigatório.
Desde a morte mal morrida, permanece no Executivo e no Legislativo a saudade explícita ou velada do imposto do cheque vinculado às políticas de saúde. A classe dirigente nacional, sem exceções suficientes, associa a administração pública à distribuição de feudos tributários conforme o poder e o apelo de corporações e grupos de pressão.
Assim como os cargos na Esplanada, o Orçamento é loteado. Se há postos para o PT, o PMDB e o PSB, há verbas carimbadas para seguridade, educação, estradas e telecomunicações. São 38 (em breve, 39) ministros. São 63 impostos, contribuições e taxas federais.
Quem não tem seu tributo entra na fila. Quem tem, procura ampliar ou, pelo menos, preservar sua cota. As entidades empresariais contrárias à contribuição da saúde, por exemplo, não abrem mão das taxações destinadas às confederações da indústria e do comércio.
Uma burocracia estatal com estabilidade no emprego recebe montantes garantidos e crescentes a cada ano, sem avaliação de desempenho funcional nem cobrança sistemática por resultados. Metas, quando existem, são fixadas em volume de recursos -como destinar a tal setor tantos por cento do PIB dentro de tantos anos. O gasto, nesse modelo, é um fim em si mesmo.
Mesmo que não venha a ser ressuscitada agora, a CPMF não será esquecida. Quando e se for recriada, não será suficiente.

CLÓVIS ROSSI - Do lado errado da história


Do lado errado da história 
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 06/09/11

Os Estados Unidos têm uma longa história de cooperar com tiranos como o ditador líbio, Muammar Gaddafi
Você tem todo o direito -até o dever- de indignar-se com a revelação de que os serviços secretos dos Estados Unidos e do Reino Unido cooperaram com o ditador Muammar Gaddafi.
Só não tem o direito de se surpreender. Os Estados Unidos, fora de suas fronteiras, ficaram incontáveis vezes do lado errado da história, para usar expressão do presidente Barack Obama. O lado certo seria o da democracia e do reinado das liberdades públicas de que, internamente, tanto se orgulham os EUA.
Na América Latina, então, o desempenho de Washington é realmente terrível. Quase dá para tomar como emblemática da ação norte-americana no subcontinente a frase atribuída ao então presidente Franklin Delano Roosevelt sobre o ditador nicaraguense Anastacio Somoza: "Ele pode ser um f. da p., mas é nosso f. da p.".
Durante a Guerra Fria, os Estados Unidos cansaram-se de desestabilizar governos absolutamente legítimos, mas inconvenientes do ponto de vista ideológico, para instalar criminosos da estirpe dos Somoza. A lista é tão grande e tão conhecida que me dispenso de reproduzi-la aqui.
Basta mencionar o Chile de Allende, talvez o caso mais bem documentado nos anais do próprio Senado norte-americano de envolvimento da CIA em uma conspiração.
Acabou levando ao poder o general Augusto Pinochet, cuja única diferença com Gaddafi é que não falava árabe nem se alojava numa tenda de luxo em viagens ao exterior.
No mais, mereceria de qualquer presidente norte-americano do período a mesma descrição que Roosevelt aplicou a Somoza. A Guerra Fria, primeiro, e a "guerra contra o terrorismo", depois, serviram como explicação para alianças com o lado errado da história. Pegue-se o Afeganistão: os Estados Unidos ajudaram, até com armas, os talebans quando lutavam contra a ocupação soviética. Os talebans ganharam, e Washington se viu compelida a aliar-se ao ditador paquistanês Pervez Musharraf para combater o grupo fundamentalista, que dava abrigo a Osama bin Laden e a Al Qaeda.
O caso agora revelado mostra como é torpe uma política baseada em achar que o inimigo do meu inimigo é meu amigo. Pelas informações disponíveis, os serviços secretos ocidentais forneceram a Gaddafi informações de inteligência que suposta ou realmente levaram à captura de Abdul Hakim Belhadj, suspeito de terrorismo.
Gaddafi, em defesa de seu reinado, perseguia os inimigos de seus ex-inimigos (EUA e o Ocidente em geral), o que convinha a ambos os lados, princípios inteiramente à parte. Pois bem: agora Belhadj é um dos principais comandantes dos rebeldes que estão derrubando Gaddafi, com apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido.
Só faltaria, para fechar a cruel ironia, que Belhadj funcione, na Líbia, como os talebans no Afeganistão. Talvez seja supina ingenuidade pretender que a política externa de um país seja coerente com os princípios que defende -e pratica- internamente. Mas tem se revelado alto demais o custo -financeiro, moral e de imagem- de aliar-se com regularidade a quem viola sistematicamente tais princípios.

MIRIAM LEITÃO - Em setembro


Em setembro
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 06/09/11

No governo se temia o mês de setembro, mais do que agosto, que tem fama de período difícil. Por um motivo: os diretores das grandes instituições financeiras internacionais, administradores dos fundos de investimentos e hedge funds retornam das férias e reformulam suas carteiras diante dos novos eventos. A frase que ouvi em Brasília: "Em setembro, as bruxas voltam."

Ontem, nessa retomada do mercado financeiro internacional depois das férias de agosto, o que houve foi queda geral das bolsas e mais uma rodada de boatos, desta vez sobre a Itália estar para ser rebaixada, enquanto o país começava a debater o pacote de austeridade. Há fatos que deixam o mundo com a respiração presa, como os que vão acontecer na Alemanha. Amanhã, dia 7, a Corte alemã votará a legalidade do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) e, no fim do mês, o Parlamento alemão votará a ampliação do poder desse Fundo. Qualquer um dos dois fatos, mas principalmente o de amanhã, pode detonar uma crise de confiança em relação ao euro.

É exatamente esse cenário de incerteza que o Banco Central mostrou que temia ao tomar a decisão de baixar os juros. A convicção demonstrada é a de que esses tremores no mundo derrubariam a atividade e, portanto, a inflação no Brasil. A atividade está de fato cada vez mais fraca, mas não a inflação, como se pode ver no gráfico abaixo, que mostra a evolução das previsões das 100 instituições financeiras e consultorias pesquisadas semanalmente pelo Banco Central sobre o ano de 2011.

Na primeira pesquisa divulgada pelo Banco Central no mês de setembro o que se vê é a mesma divergência desagradável: a inflação está com tendência de alta neste ano e no próximo; e o crescimento, com tendência de queda. É só uma pesquisa feita pelo BC e as expectativas podem mudar, mas por enquanto o resultado é exatamente aquela mistura que ninguém quer, de menor crescimento e mais alta de preços.

O que está subindo neste momento é a expectativa de inflação ao fim do ano, porque a inflação, em si, vai cair no acumulado de 12 meses dos 7% atuais para um nível menor. Por enquanto, o mercado ainda prevê que fique dentro do espaço de flutuação do sistema de metas: 6,38% no final do ano. Isso, porque o último trimestre de 2011 tem chance de ser melhor do que o final de 2010. Mas um relatório da MB Associados mostra que a lista de alta de alguns produtos assusta: açúcar está com 35% de alta nos últimos 12 meses; álcool anidro, 43,6%; hidratado, 49%; café arábica, 60%; milho, 39%. Alguns desses produtos estão com problemas temporários, outros enfrentaram quebras de safra, como o álcool e o milho. As lavouras americanas de milho e soja estão com problemas ou por excesso de chuvas ou pela seca. Isso eleva também o preço da ração, que afeta o custo de produção da carne, segundo Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria.

Outra lista de preços feita pelo economista Sérgio Vale, no Comentário de Conjuntura da MB, é a que mostra como o problema dos serviços está grave. Aluguel, cinema, estacionamento, médico estão com altas acima de 10% nos últimos 12 meses. Serviço bancário, 12%; hotel, 13,2%; mudança, 16% de alta, no mesmo período.

Apesar dessa alta de preços, a previsão de crescimento está em queda a cada nova pesquisa do Banco Central. Hoje, a expectativa é de menos de 4% para 2011 e 2012. Mesmo assim, a projeção é de juros em queda, porque a convicção geral é de que o BC vai continuar o movimento que começou na semana passada.

Uma análise feita pelo economista João Pedro Resende, do Itaú BBA, mostrou que dos países da região com o regime de metas de inflação - Chile, México, Colômbia e Peru - o Brasil está com a maior taxa. Peru está acima do teto da meta, mas é porque lá é de 2% e eles estão com 3,4%. O México está com inflação de 3,55%, a Colômbia está com 3,4%. O Chile tem meta de 3% e está com 2,9%. Por outro lado, todos eles têm taxas de juros bem mais baixas do que o Brasil: México e Colômbia, 4,5%; Chile, 5,25%; e Peru, 4,25%. O Brasil com seus 12% realmente parece um ponto fora da curva. Tudo o que resta é torcer para que o mês não seja tão conturbado quanto começou.

JOÃO PEREIRA COUTINHO - Homens de classe

Homens de classe
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 06/09/11 

O católico Waugh nunca entendeu como um ateu, como Orwell, defendeu posições morais absolutas



Esquerda, direita: há coisas mais importantes na vida. Vamos lendo, vamos vivendo. E então percebemos que a distinção fundamental não é entre esquerda e direita. Até porque existem várias esquerdas e várias direitas.
A diferença resume-se em duas palavras: liberdade individual. Ou estamos dispostos a ceder essa liberdade a um poder político único e centralizado; ou, simplesmente, não estamos.
Deve ser por isso que George Orwell tem lugar eterno na minha estante. Evelyn Waugh também. E, ao lado deles, prometo colocar um livro notável sobre ambos: "O Mesmo Homem" (Difel), de David Lebedoff. Chegou com três anos de atraso ao Brasil. Chegou a tempo. Lebedoff foi sagaz. Partiu de uma coincidência biográfica -o esquerdista Orwell e o conservador Waugh nasceram em 1 903- para mostrar como ambos foram, na verdade, "o mesmo homem". Confrontaram-se com os mesmos problemas da modernidade. Responderam a eles alicerçados na mesma posição moral.
Mas, antes dos problemas modernos, convém visitar um problema especificamente britânico. Anos atrás, em Oxford, um velho professor dizia-me que não havia nada mais cruel do que ter nascido na classe média antes da Segunda Guerra Mundial. Era o caso dele. Numa sociedade rigidamente estratificada, como a inglesa, habitar o meio da tabela era levar por tabela. Era viver na angústia de poder cair no fundo da ladeira. Era viver na angústia de desejar subir até ao topo.
Orwell e Waugh, produtos do meio, experimentaram pressões dos extremos. Responderam a eles como Disraeli e Marx, numa interpretação de Isaiah Berlin, responderam ao seu judaísmo um século antes: procurando suplantar o "defeito" de origem pela identificação com os de cima (aristocracia) e os de baixo (proletariado).
Para Orwell, os anos de terror na "escola pública" ("pública", na Inglaterra, significa "privada") imprimiram-lhe um sentido inapagável de marginalização e injustiça que definiu um percurso: o percurso descendente de quem prefere descer a escala social para lhe roubar todos os seus terrores. O estoicismo de Orwell; a sua pobreza autoimposta; o seu recuo estratégico para as favelas de Paris ou Londres são marcas de uma opção. A opção pela queda.
Evelyn Waugh optou pela ascensão: se existia o mesmo "pecado de classe", era necessário redimi-lo casando bem e vivendo melhor. Waugh agiu em conformidade e, ainda antes dos 40, era a encarnação perfeita, alguns dirão caricatural, do "squire" inglês. David Lebedoff narra com mestria a história desses percursos. Mas o melhor do livro está nas aproximações entre eles: na forma como Orwell, a partir de baixo, e Waugh, a partir de cima, foram respondendo aos desafios sombrios do tempo.
E respondendo de igual forma: não apenas elegendo a literatura, e a clareza inegociável da língua inglesa, como instrumento de reflexão e transformação social. Mas vislumbrando na modernidade a presença insidiosa do relativismo moral -uma sombra de irracionalismo que, ao viciar o pensamento (e até a linguagem), permitia o abandono de um sentido primordial de decência comum e abria as portas para os totalitarismos do século 20.
George Orwell acabaria por morrer em 1950. Tinha 46 anos. E, meses antes do fim, receberia no hospital a visita de Evelyn Waugh. Sabemos pouco sobre o conteúdo dessa visita -e Lebedoff não acrescenta muito. Daria o meu dedo mindinho para recuar no tempo e ser uma mosca no quarto daquele hospital de Londres.
Mas sabemos que ela foi antecedida por cartas de admiração mútua. Verdade: o católico Waugh nunca entendeu como era possível a um ateu, como Orwell, defender posições morais absolutas.
Mas o mistério talvez se possa resolver com uma suprema ironia: o fato de Orwell e Waugh terem abandonado a "classe média" não significa que a "classe média" os tenha abandonado a eles.
No gosto de ambos pela moderação e pela prudência; e na defesa "burguesa" da liberdade individual face aos autoritarismos dos extremos, Orwell e Waugh não foram apenas "o mesmo homem"; foram também esse homem que, depois de todas as viagens, nunca realmente saiu do mesmo lugar.

ARNALDO JABOR - Tenho saudade de mim


Tenho saudade de mim
ARNALDO JABOR
O Estado de S.Paulo - 06/09/11

Estava a ler o texto de Adauto Novaes (nosso filósofo sem torre de marfim) sobre a preguiça - tema de seu seminário/livro atual. Na realidade, são estudos sobre a lentidão, neste mundo cada vez mais veloz. E, aí, tive saudades da calma, do princípio, meio e fim, tive saudade das "geladeiras brancas e dos telefones pretos", das manhãs, tardes e noites, separadas pela luz que se coloria do rosa ao negro e se apagava aos poucos, tive saudade das mortiças casas de família, até da infelicidade de antigamente - de novela de rádio -, de lágrimas furtivas, dos casais com olhos sem luz, depois de casamentos esperançosos com buquês arrojados para um futuro que ia morrendo aos poucos.

Estou com saudades de tudo. De mim, inclusive. "Saudades" ou "saudade"? Tenho saudade (s) de meu velho professor de português, magrinho, irritadiço e doce, Luis Vianna Filho, que me bradava: "O senhor não tem acento circunflexo!", apontando meu nome que meu avô árabe registrara "Jabôr". E continuava: "Jabor é o certo. A única palavra dissílaba da língua terminada em "or" que tem circunflexo é "redôr", para diferenciar de "redor, em volta de", pois redôr é o pobre-diabo que fica puxando o sal nas salinas, com um rodo".

Lembrei-me dos miseráveis "redôres" de Cabo Frio, lembrei de minha juventude quando achei, por acaso, uma velha fotografia de jornal, em preto e branco, da passeata dos Cem Mil em 1968 na Cinelândia. No meio da multidão da foto, vi emocionado um pequeno rosto granulado - eu mesmo, ali, sentado no chão, ouvindo os discursos de Vladimir Palmeira e (talvez) de Dirceu -, bonito, cabelo longo, hippie guerreiro.

Tive uma nostalgia do passado até com a recente "reprise" de José Dirceu na mídia como poderoso chefão dos soviéticos que, aliás, aproveitaram os últimos escândalos para reciclar o lixo bolchevista de "controlar a Imprensa". (Eles não desistem). Fiquei nostálgico porque Dirceu era também uma sobrevivência do passado em minha vida. E tive uma bruta saudade da utopia. Sempre critiquei o Dirceu porque ele, do passado em preto e branco, tinha querido invadir o presente com uma subversão regressista, que poderia nos jogar de volta a um tempo morto. Muito mais do que os milhões desviados do "mensalão", critiquei-o ideologicamente, porque ele liderava uma tendência, viva ainda hoje, de se "tomar o Estado", "desapropriando" o dinheiro público pelo "bem do povo". Dirceu caiu por uma tentativa que mais uma vez falhou, em nossa esquerda de trapalhões, como foi em 63 ou em 68, no Congresso de Ibiúna.

Mas, mesmo assim, fiquei com saudade de mim mesmo. Tenho saudade de mim ali, com o rosto cheio de esperança na passeata, achando que mudava a história e que o mundo era fácil de mexer.

Como eu gostaria de explicar aos jovens de hoje o que era a infalível "certeza" daquela época remota, o que era a delícia de viver sentindo-se no "bom caminho", na "linha justa", salvando o futuro. Hoje, ninguém sabe o que era o sentimento de harmonia, de totalidade, em um mundo fragmentado e frio. Hoje, os meninos vivem em galáxias de informações, quando não há mais lugar para "A Verdade". Os jovens que nascem no grande deserto virtual não sabem que vivíamos num rio que corria para o futuro, em direção a uma felicidade completa, com lógica, com Sentido. Tenho saudade do futuro que hoje se espraia como uma grande enchente suja, sem foz, um deserto sem ponto final. Hoje sabemos que não há mais futuro nem chegada - só caminho.

Tenho saudade do amor da juventude, da minha namorada comunista - nós dois no sofá-cama do "aparelho" clandestino do PCB em Copacabana, o sofá-cama rasgado, com a mola aparecendo, onde nos amávamos antes da reunião da "base" com medo que chegasse o supervisor, um "camarada" com um doce nariz de couve-flor rosado e tristes sapatos pretos com meias brancas, que nos falava, melancólico, do imperialismo norte-americano. Tenho saudades dela, linda, corajosa, no apartamentinho com o cartaz dos girassóis do Van Gogh e uns livros da Academia Soviética, numa prateleira sobre dois tijolos.

Para nós, comunas, até a morte era pequena, como nos ensinava o camarada de nariz rosado: "O marxismo supera a morte, pois uma vez dissolvido no social, o indivíduo perde a ilusão de existir como pessoa. Ele só existe como espécie. E não morre!" E eu, marxista feliz, sonhava com a vida eterna...

Tenho saudade das madrugadas cheias de esperança, as madrugadas políticas, a boemia de esquerda, soldados de uma guerra imaginária. Meu Deus, como eu era importante, como me senti útil quando ajudei um pouco a luta armada, quando levei no meu fusca um casal de feridos sangrando no banco de trás, até um "aparelho", quando o líder da célula pegou o volante e eu fui ao lado, de olhos fechados para não saber onde estávamos - se bem que espreitei pela fresta das pálpebras e vi o casal mancando em direção a um prédio. Tenho saudades dessa trágica solidariedade, mas tremi nesse dia, pois comecei a entender que não havia apenas um deserto à nossa frente, mas uma avalanche de obstáculos imensos e que íamos acordar de um sonho para um pesadelo. Entendi que éramos fracos demais para moldar a realidade e que a vontade não bastava, pois as coisas comandavam os homens e a vida tem um curso próprio e misterioso. Entendi que ser político e lutar pelo futuro exige vagar e respeito pela insânia do mundo e que a tragédia é parte essencial da vida e que tentar saneá-la pode levar-nos a massacres piores. Entendi que luta política se faz com humildade e que só a democracia é revolucionária no Brasil. Fora isso, é o desastre. Mas, tenho saudade da mistura de poesia com revolução que era nossa vida, tenho saudade desse narcisismo onipotente e inocente, tenho saudade da esperança e da ilusão.

GOSTOSA


GIL CASTELO BRANCO - O custo da corrupção


O custo da corrupção
GIL CASTELO BRANCO
O Globo - 06/09/2011

Dizem que a primeira grande oportunidade para a corrupção prosperar surgiu na criação do mundo. Com o diabo à espreita e a inexistência de tribunais de contas, a "obra" foi realizada em seis dias, sem licitação. Ao que se saiba, não foi instalada qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e nenhuma suspeita foi levantada quanto à idoneidade do Criador...

De lá para cá, os desvios se avolumaram pelos quatro cantos do mundo. O Banco Mundial estima que US$1 trilhão por ano sejam tragados pelos corruptos. O valor corresponde a 1,6% do PIB mundial em 2010 (US$63 trilhões), superando em 43% o gasto dos Estados Unidos com armamentos (US$698 bilhões). Paradoxalmente, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) considera que US$30 bilhões por ano são suficientes para acabar com a fome de quase um bilhão de pessoas no planeta. Assim, tal como no Brasil, "faxina mundial" em favor da moralidade poderia eliminar a miséria. Pura utopia.

Na realidade, a quantificação dos malfeitos é difícil, pela óbvia ausência de recibos e notas fiscais. No entanto, recentemente, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou estudo sobre o impacto da roubalheira em nosso país, concluindo que os desvios giram entre R$50,8 bilhões e R$84,5 bilhões por ano, algo em torno de 1,4% a 2,3% do PIB brasileiro em 2010.

Na hipótese otimista, tomando-se o extremo inferior do intervalo, o montante de R$50,8 bilhões é equivalente às ações concluídas entre 2007 e 2010 no setor de logística do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em outras palavras, em cenário fictício de um ano sem corrupção, o país teria recursos para duplicar as obras realizadas nos últimos quatro anos em rodovias, ferrovias, marinha mercante, aeroportos, portos e hidrovias.

Na área social, com R$50,8 bilhões poderiam ser construídas 918 mil casas populares do programa Minha Casa, Minha Vida ou 57.600 escolas para as séries iniciais do ensino fundamental. É evidente, portanto, a imensa participação da desonestidade no chamado Custo Brasil.

Os cálculos realizados pela Fiesp derivam da pesquisa sobre o Índice de Percepção da Corrupção, realizada pela ONG Transparência Internacional. Desde 1995, a entidade atribui notas de 0 a 10 aos países mais ou menos corruptos, respectivamente. Ao longo desses 16 anos, a nota média do Brasil foi 3,65. Em 2009 e 2010, a nota 3,70 aproximou-se do valor médio, demonstrando que nas últimas décadas a situação é estável. Em resumo, há anos estamos sendo reprovados nessa matéria.

No domingo passado, o jornal "Folha de S.Paulo" divulgou interessante estudo do economista da Fundação Getúlio Vargas Marcos Fernandes da Silva, contabilizando os desvios de recursos federais descobertos no período 2002 a 2008. A soma de R$40 bilhões, apurada pelos órgãos de controle, obviamente não inclui o que permaneceu desconhecido, além das falcatruas nos estados e municípios. Assim, é apenas a ponta do iceberg.

O diagnóstico sobre as causas da corrupção brasileira é quase unânime. A colonização de 300 anos é o componente histórico. Outros pontos fundamentais são a imunidade parlamentar, o sigilo bancário excessivo, a falta de transparência das contas públicas, a elevada quantidade de funções comissionadas, os critérios para nomeação de juízes e ministros de tribunais superiores, o foro privilegiado para autoridades, os financiamentos de campanhas eleitorais, as emendas parlamentares e a morosidade da Justiça. Esses aspectos, em conjunto ou individualmente, levam à impunidade.

Apesar do consenso quanto aos focos que realimentam as fraudes, cerca de 70 projetos de lei estão engavetados no Congresso Nacional. Versam sobre a responsabilização criminal das empresas corruptoras, criação de obrigações para as instituições financeiras, sanções aplicáveis aos servidores no caso de enriquecimento ilícito, dentre outros temas relevantes. Enquanto isso foi votada a absolvição da deputada Jaqueline Roriz.

No Brasil, a oportunidade faz o ladrão. Com a proximidade da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, a bola da vez são as obras nos estádios e de mobilidade urbana, além dos cursos de capacitação. Somente para a Copa já estão previstos investimentos de R$23,9 bilhões, valor que vai crescer. A possibilidade de a corrupção aumentar nos próximos anos é enorme. Afinal, em nosso país, realizar obra de grande porte sem risco de desvio de recursos é missão quase impossível. É tarefa para o Criador.

RODRIGO CONSTATINO - Uma nova independência


Uma nova independência
RODRIGO CONSTATINO
O Globo - 06/09/2011

Como um simples tropeiro, sujo e com dor de barriga, foi assim que D. Pedro proclamou a Independência do Brasil, segundo Laurentino Gomes. Se os fatos daquele 7 de setembro de 1822 correspondem a esta versão, ou à imagem épica do brado retumbante às margens do Ipiranga, não vem ao caso aqui; o importante é que o Brasil ainda é uma república inacabada.

Se antes éramos colônia de Portugal, hoje somos súditos de Brasília. O Executivo governa com "medidas provisórias" de dar inveja aos decretos da ditadura. A carga tributária já chega a quase 40% do PIB. Há excesso de leis e regulações. O cidadão é tratado como um incapaz que necessita da tutela do Estado. Até quando vamos tolerar isso?

Amanhã celebraremos 189 anos de Independência. Peço ao leitor que, antes de abrir a merecida cerveja no feriado, dedique alguns minutos à reflexão acerca de nosso país. Vivemos em tempos de acelerada decadência moral e completa desmoralização da política. "Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito", alertava o cardeal de Retz.

O brasileiro trabalha até maio apenas para sustentar uma máquina estatal ineficiente e corrupta. Em contrapartida, não tem segurança, educação, saúde ou infraestrutura decentes. O Estado falha em suas funções precípuas, enquanto estende seus tentáculos a inúmeras áreas que não deveria. Em nome da "justiça social", o Leviatã estatal se transformou numa gigantesca máquina de transferência de riqueza, cobrando enorme pedágio por isso. Não satisfeito, ainda quer ressuscitar a CPMF!

Recentemente, o Congresso desferiu mais um duro golpe nos brasileiros honestos, com a votação secreta que absolveu Jaqueline Roriz. Ela foi pega em vídeo recebendo propina, mas se alegou que o episódio ocorrera antes de sua eleição. Eis o escárnio total com que os deputados tratam seus eleitores: roubar pode, desde que não seja pego até as eleições. Tanto absurdo deveria parar o país, só que muitos estão perdendo a capacidade de indignação. Um rumo deveras perigoso.

Mas o espetáculo precisa continuar. Seguem batendo o bumbo da "faxina" contra a corrupção, ignorando detalhes importantes: as atitudes da presidente Dilma foram sempre reativas; ela veio do mesmo governo Lula que a antecedeu; Erenice Guerra, acusada de corrupção, estava ao lado de Dilma no dia da posse; e a própria presidente já sinalizou que a "faxina" acabou. É esta a "faxineira" que desperta tanta esperança na classe média?

A presidente alterou o discurso sobre austeridade fiscal. Aquilo que antes era considerado "rudimentar" agora é defendido como necessário para reduzir a inflação. Mas, novamente, vemos que o espetáculo é mais importante que o resultado. O governo pretende ampliar em R$10 bilhões o superávit primário, sendo que os gastos públicos chegam a R$1 trilhão. Algo análogo a uma família endividada que gasta R$10.000 anunciar uma redução de R$100 nas despesas, para "arrumar" as finanças.

Como o governo não reduz seus gastos, não desarma a bolha de crédito do BNDES e não aprova uma única reforma estrutural, resta derrubar os juros na marra. Foi justamente o que vimos semana passada, numa decisão inesperada do Copom, mesmo com inflação acima da meta. Trata-se de mais uma independência necessária: a do Banco Central. Quando este deixa de ser o guardião da moeda e passa a ser cúmplice do governo gastador, abrem-se as comportas da inflação galopante.

Não obstante, o brasileiro esclarecido parece acovardado, sem esperanças ou forças para lutar. Mas a apatia não nos levará a lugar algum além de mais abuso de poder. O derrotismo das pessoas de bem é grande aliado dos corruptos. O dirigismo estatal e a impunidade andam de mãos dadas com a corrupção. É preciso ter coragem para se erguer contra isso. É preciso ter visão de longo prazo, lutar contra a miopia daqueles que trocam a liberdade por migalhas, ainda que de ouro. Todos querem "direitos", mas ninguém quer responsabilidades. As mudanças dependem de nós.

Por isso, caro leitor, peço a você que use algum tempo ocioso neste feriado para pensar no que fazer de concreto para melhorar as coisas. Precisamos conquistar uma nova independência, desta vez dos abusos de Brasília. Se cada um colaborar à sua maneira, em vez de apenas se resignar ou esbravejar num bar com os amigos, quem sabe teremos alguma chance?

Aproveito e o convido a conhecer o trabalho do Instituto Millenium (www.imil.org.br), que luta pela democracia, a economia de mercado, o estado de direito e a liberdade, tão em falta neste país.

JOSÉ PAULO KUPFER - Três letras e uma armadilha


Três letras e uma armadilha
JOSÉ PAULO KUPFER
O Estado de S.Paulo - 06/09/11

A reação contrária dos analistas de mercado ao polêmico corte dos juros básicos, na reunião do Copom da semana passada, mesmo muito mais forte do que o usual, não chegou a surpreender. Acostumados a um Banco Central disposto a apertar o gatilho de alta na taxa Selic ao primeiro sinal de escape dos preços a uma trajetória de convergência para o centro da meta de inflação, os analistas já andavam desconfiados com o comportamento do BC da presidente Dilma Rousseff. Com a decisão do fim de agosto, as desconfianças em relação à perda de autonomia e ao abandono do regime de metas elevaram-se ao nível das certezas.

Se bem que a redução de 0,5 ponto porcentual na taxa básica tenha sido apoiada por representantes de setores da chamada economia real - o que surpreende menos ainda -, não é bom que a credibilidade do BC seja posta em xeque por um amplo segmento de formadores de expectativas de preços, como é o caso do setor financeiro.

O pior de tudo é que tanta celeuma acaba confinada a uma estreita faixa de manobra. Por mais que a economia mundial desabe e o novo mix da política macroeconômica brasileira - combinação de expansão monetária e contração fiscal - faça sentido, seu alcance, no quadro atual, tende a ser muito restrito.

Desde que o Plano Real recuperou a capacidade de o BC promover políticas monetárias ativas, o que foi reforçado pelo sistema de metas de inflação, a economia brasileira jamais deixou de figurar entre as campeãs dos juros altos. Toneladas de papel, litros de tinta e milhares de horas de seminários e workshops foram gastos na tentativa de encontrar as causas do "mistério dos juros altos".

Muitas explicações circulam na praça. Além do descontrole e da má qualidade dos gastos públicos, há quem atribua o "mistério" ao caráter dos brasileiros, viventes avessos à poupança e ao longo prazo, por uma deformação produzida por décadas de hiperinflação e/ou por um generoso sistema de proteção social. Outros localizam o centro do problema na rigidez e amplitude do crédito direcionado e, mais recentemente, na ampliação e concentração de linhas subsidiadas operadas por bancos públicos.

O governo, no entanto, prefere outro diagnóstico. Cresce, na Fazenda, a convicção de que uma parcela crítica da histórica resistência dos juros na economia brasileira deriva do peso das Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) na composição da dívida pública. Um programa de redução do peso das LFTs está em gestação em Brasília.

As LFTs, criadas em 1987, na saída do Plano Cruzado 2, pelos futuros pais do Plano Real, são atreladas à taxa Selic e conectam o mercado monetário com o mercado da dívida pública - essa conexão é um caso único no mundo. O título, que nasceu em ambiente de hiperinflação, resiste bravamente à estabilização monetária, já tendo chegado a representar dois terços do total da dívida mobiliária, na passagem do segundo governo FHC para o primeiro mandato de Lula. Ainda hoje responde por um alentado terço da composição da dívida pública.

Agora, o governo sonha em restringir a participação das LFTs na dívida pública a uns 5% do total até 2014 - meta tida como excessivamente ambiciosa, pelas resistências dos detentores dos papéis e os consequentes custos para o Tesouro de uma troca maciça de títulos com rendimento diário e sem risco por papéis pré-fixados, sobretudo em ambiente de inflação relativamente elevada. Não é difícil entender, apesar da complexidade do tema, qual é, na visão do governo, o problema provocado por mais essa das nossas jabuticabas econômicas. Num resumo da história, argumenta-se que a mesma taxa com a qual o BC procura calibrar a inflação, de acordo com a meta, é a que o Tesouro é obrigado a usar para rolar uma parcela significativa da dívida pública.

Se o diagnóstico do governo estiver correto, o protagonismo das LFTs na composição da dívida pública expõe uma armadilha que produz distorções de grande monta na economia e reduz a eficácia da política econômica. Para começo de conversa, a função de rolar a dívida impõe resistência a cortes mais acentuados da taxa básica de juros. Além disso, por estimular a preferência dos aplicadores pelo curto prazo, inviabiliza a formação de linhas de financiamento privado de longo prazo. Não há quem discorde de que é preciso reduzir o peso das LFTs na dívida pública. Como fazê-lo, porém, é motivo de infindáveis polêmicas. Se o governo acha que, para reduzir os juros, é necessário tirar as LFTs de cena, seus críticos alegam que só reduzindo os juros será possível se livrar delas.

CELSO MING - Paradeira na Europa


Paradeira na Europa
CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 06/09/11

Apenas na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) gastou 13,3 bilhões de euros - o dobro do que na semana anterior - na recompra de títulos dos países da área do euro.

Essa é mais uma demonstração de que ficaram ainda mais precárias as condições de sustentação das finanças do bloco. A decepção geral foi, ontem, estampada em todos os índices de desempenho das bolsas europeias (veja o Confira).

Essa operação de recompra dos títulos soberanos da zona do euro guarda certas diferenças com a que já foi levada adiante pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que já recomprou US$ 900 bilhões em títulos do Tesouro americano no mercado secundário.

O BCE está recomprando os títulos europeus para haver um mínimo de demanda para esses ativos, cada vez mais rejeitados, pelo risco crescente de calote que vêm inspirando aos tomadores. O objetivo do Fed é outro: elevar o volume de moeda na economia para que o crédito seja reativado e, com ele, o consumo e a produção.

Em contrapartida, para cada euro injetado na economia pelo BCE na recompra desses títulos, outro é retirado no mercado por meio da venda de mais títulos, para que a operação inteira não produza inflação. Essa tarefa de esterilização monetária não é cumprida pelo Fed.

Ontem, o presidente do Banco Central da Itália, Mario Draghi, que, em novembro, substituirá o francês Jean-Claude Trichet na presidência do BCE, se sentiu na obrigação de advertir que nenhum dirigente europeu deve esperar pela perpetuação dessas recompras que, na prática, poderiam indicar financiamento das despesas correntes dos governos pelo BCE.

No entanto, essas compras vêm aumentando e, aparentemente, tendem a continuar nesse ritmo. Desde maio de 2010, o BCE já recomprou 210 bilhões de euros em títulos soberanos de países da área.

Como cresce a perda de confiança na capacidade dos governos da área do euro, também se deterioram as condições dos bancos, justamente os maiores detentores dessas dívidas.

Em agosto, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já alertara que os bancos europeus precisavam de mais 200 bilhões de euros em aumentos de capital, para enfrentar os rombos que vêm sendo abertos nos seus balanços somente com a exigência de marcação a mercado dessas dívidas. Ontem, a presidente do FMI, Christine Lagarde, recomendou que os países cuja dívidas estão sendo mais castigadas pelos mercados reforcem o capital dos seus bancos.

Marcação a mercado significa que os bancos têm de recalcular seus créditos em balanço de acordo com o valor real dessas dívidas, não mais com o que dizem os contratos. A principal consequência é a de que as perdas têm de ser repostas com reforço de capital, para que o próprio patrimônio dos bancos não vá à bancarrota.

Esse quadro sombrio ficou ainda mais preocupante depois que, em entrevista à revista alemã Der Spiegel, a própria Lagarde advertiu para o aumento de risco de que a economia do euro descambe para uma recessão. É mais fechamento de postos de trabalho, mais despesa com seguro-desemprego, menos arrecadação e mais dificuldades para a saída da crise.

CONFIRA

O medo da recessão, misturado com a ameaça de rebaixamento da dívida da Itália, provocou ontem fuga do risco e derrubou as bolsas.

Solução na classe média
Conclusão do ex-secretário do Trabalho dos Estados Unidos Robert Reich, publicada ontem no New York Times: quando 5% dos mais ricos detêm 37% do poder de consumo do país, argumenta ele, fica claro que a economia americana só conseguirá se recuperar quando as classes médias, hoje altamente endividadas, puderem aumentar mais fortemente seu nível de endividamento.

MÔNICA BERGAMO - PLATAFORMA


PLATAFORMA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 06/09/11

Pré-candidata do PPS à Prefeitura de SP, Soninha Francine posou para a revista "Mymag". Falou do período como subprefeita da Lapa ("Queria mandar tudo à merda e ir morar no centro budista"), dos rumores sobre sua proximidade com o ex-governador José Serra ("Ele ficou muito abalado") e que só não ficou nua em um protesto de cicloativistas porque as filhas disseram: "Mãe, não inventa".

INFLAÇÃO COM GÁS

Os combustíveis puxaram a alta do IPV (Índice de Preços no Varejo) da Fecomércio de SP, que subiu 5,18% nos últimos 12 meses. Gasolina, álcool e lubrificantes saltaram 7% só no primeiro semestre -e mesmo em julho, período de safra de cana-de-açúcar, tiveram reajuste de 0,17%.

PÃO QUENTE
As padarias também puxaram seus preços para cima, especialmente de frios e laticínios (alta de 1,26% em julho, de 4,3% no semestre e de 9,32% no período de um ano). E os reajustes devem continuar, dizem os técnicos: por causa da entressafra, com estiagem e geadas, os preços dos derivados devem convergir para cima.

REGIME
A boa notícia vem das feiras: há cinco meses os preços começaram a cair e tiveram novo recuo, de 2%, em julho. Verduras (-6,83%), legumes (-4,44%) e frutas (-0,16%) puxaram a queda. A retração mostra que, após instabilidades climáticas no início do ano, os produtos mantêm trajetória de realinhamento dos preços, diz a Fecomércio.

ROCK DAS ARANHAS
Anderson Silva, apelidado Spider (aranha), deve dar palhinha como DJ na festa que a agência 9ine dará hoje, no clube Royal, para comemorar sua vitória no UFC Rio.

NÃO CONTE A NINGUÉM
O deputado Paulo Maluf (PP-SP), que sempre disse que doaria à Santa Casa o dinheiro que encontrassem em suas supostas contas no exterior (cuja existência nega), pediu que os convidados de sua festa de 80 anos contribuíssem com a instituição. Ele afirma ter feito sua parte, mas não conta quanto deu: "No meu catecismo estava escrito que o que a mão direita dá a esquerda não toma conhecimento".

VOLTA A 300 KM/H
Macy Gray, que cantou no festival Back2Black, voltará a se apresentar no Brasil em 24 de novembro. Fará show no Via Funchal, no F1 Rocks, que antecede o GP Brasil de F-1. As empresas Enterprise Entertainment, SRCOM e LED assinaram contrato para trazer também a cantora inglesa Jessie J para o palco.

NEGADO
O músico Marcelo Jeneci foi convidado pelo Itamaraty para fazer dois shows nos Estados Unidos, no projeto Novas Vozes do Brasil: no dia 13, em Washington, e no dia 14, em Nova York. Mas o cantor não sabe se poderá embarcar. Seu pedido de renovação de visto no consulado americano foi negado. Ele aguarda para hoje uma revisão do pedido.

MULHERES DE ATENAS
Lucinha Lins, Tânia Alves e Virgínia Rosa se preparam para ficar quatro semanas em cartaz com o musical "Palavra de Mulher", em que interpretam canções de Chico Buarque. O espetáculo de Fernando Cardoso, que teve apresentações esporádicas no ano passado em algumas cidades, estreia no dia 1º de outubro no Teatro Cleyde Yáconis.

TV JUSTIÇA
A Fundação Padre Anchieta renovou por mais três meses o contrato com o Supremo Tribunal Federal para a produção de conteúdo da TVJustiça. A prorrogação foi feita a pedido do STF, que ainda não definiu o ganhador da licitação. A escolha está entre duas produtoras, segundo a assessoria do órgão: a LBV e a Fundação Renato Azeredo. Esta última leva o nome do pai do deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e foi inaugurada por ele quando era governador de Minas.

OUTRAS CADEIRAS
Gustavo Petta (PC do B-SP), secretário de Esportes de Campinas e cunhado do ministro da área, Orlando Silva Jr., planeja se candidatar a vereador na cidade do interior em 2012. Caso seja eleito, cogita tentar a Assembleia Legislativa em 2014.

COFRINHO
Marcelo Carvalho, um dos donos da RedeTV!, afirma que a emissora bateu seu recorde de faturamento no último ano. O incremento foi de 30% referente a agosto de 2010. A RedeTV! não informa os valores.

MEU DIA DE GISELE
As cantoras Thalma de Freitas, Tiê e Juliana Kehl atacam de top models. Elas fizeram a campanha de verão da C&A, com uma coleção inspirada em cores. As três também gravaram um CD para a rede de lojas de departamento.

CONECTADAS NA MODA
Patrícia Barros e Juliana Passos lançaram o blog U Must, sobre arte, moda e gastronomia. A modelo Renata Maciel foi à festa no bar Número.

OS 80 ANOS DE MALUF
Os netos do ex-governador Paulo Maluf , Carolina e Rodrigo, foram à Sala São Paulo no sábado comemorar os 80 anos do avô. A mulher dele, Sylvia, recebeu personalidades como o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP).

CURTO-CIRCUITO

O rapper Criolo lança hoje seu primeiro videoclipe com show no Estúdio Emme, às 21h. Classificação etária: 18 anos.

Alexandre Mirkai fala sobre o futuro da alfaiataria sob medida na Associação dos Alfaiates de São Paulo hoje, às 19h30.

Mariana Penteado e Li Camargo lançam hoje para convidados a loja virtual The Boutique, no Baretto.

O pianista Vitor Araújo se apresenta hoje, às 21h30, na Sala Crisantempo, na Vila Madalena. Livre.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY