quarta-feira, abril 13, 2011

VÍTOR FERREIRA ALVES DE BRITO - Ineficiência dos Correios


Ineficiência dos Correios
VÍTOR FERREIRA ALVES DE BRITO 
O GLOBO - 13/04/11

Recentemente o "Jornal Nacional" divulgou reportagem sobre a ineficiência da Empresa de Correios e Telégrafos e as contingências por ela causadas, tais como atraso na entrega de faturas, ausência em lugares distantes, filas em locais de distribuição de correspondência, a ponto de o Ministério Público Federal abrir inquérito para apurar a razão do péssimo serviço prestado.
Não obstante, o Supremo Tribunal Federal, em 2008, ao decidir que a Lei do Serviço Postal (nº 6.538/78) foi recepcionada pela Constituição Federal, entendeu que a ECT ainda possui a exclusividade na prestação do serviço postal. Serviço postal este que, segundo o Supremo, constitui-se na intermediação de carta ou cartão postal, isto é, no recebimento, no transporte e na entrega da correspondência. Trata-se de uma decisão com efeitos vinculantes, cabendo aos jurisdicionados respeitá-la.
No entanto, causa espanto o ímpeto da ECT, que se arvora sobre outros serviços, que não se enquadram no conceito de serviço postal. Sob o pretexto da exclusividade reconhecida pelo Supremo, a ECT pretende impor às concessionárias de serviços públicos, tais como distribuidoras de energia elétrica, de água e de gáscanalizado, que a contratem, custe o que custar, ainda que se onere o serviço de distribuição, cujo custo deve ser repassado para o consumidor.
A ECT vem promovendo ações judiciais para impedir que essas concessionárias entreguem, através de seus próprios funcionários, as contas de consumo aos usuários dos serviços públicos. A ECT sustenta que essa entrega consistiria em serviço postal. Esquece-se, entretanto, que o serviço postal é aquele de intermediação da correspondência, entre o seu emissor e o receptor. No caso, a distribuidora de energiaelétrica, água ou gás é a emissora da conta, que é entregue pelo seu funcionário, por mão própria. Obviamente, ela não pode ser obrigada a contratar quem quer que seja, para entregar o seu documento.
Não há violação ao privilégio postal quando uma farmácia entrega remédios e a respectiva fatura no domicílio de um determinado consumidor; quando um restaurante leva a comida até a casa de um freguês, acompanhada da nota de despesas; do escritório de advocacia que entrega documentos do interesse de seus clientes através de contínuos próprios; ou, ainda, quando o florista, com seus entregadores, leva flores a uma pessoa, acompanhada de uma correspondência pessoal.
Ademais, enquanto a ECT possui o privilégio da exclusividade na prestação do serviço postal, por se tratar de um serviço público, como decidiu o STF, de outro lado, temos distribuidoras de energia elétrica, de água egás, cuja essencialidade não merece maiores delongas. Não se pode esquecer que é o mesmo funcionário quem lê o relógio de luz, faz a manutenção de rede e a religação do fornecimento de energia, e entrega a conta de consumo, de modo a baratear a tarifa de fornecimento do insumo. Foge à razoabilidade impor a majoração da tarifa, apenas para ter que contratar a ECT.
Não faria sentido o Supremo Tribunal mitigar o princípio da eficiência e da modicidade tarifária e coibir a liberdade das distribuidoras de energia, água e gás de entregarem as suas contas por seus próprios funcionários, em face do monopólio postal. Logo, deve-se respeitar a decisão do STF, sem extrapolar o limite de sua interpretação em consonância com os princípios constitucionais.
Cabe ao Poder Judiciário tolher as investidas da ECT, que inclusive já vem acionando os cartórios de títulos e documentos, para impedir que seus oficiais entreguem as notificações extrajudicias. Estamos a um passo de os Correios pretenderem impedir que os oficiais de justiça entreguem o mandado de citação aos demandados. Mas a jurisprudência de nossos tribunais tem dado o retorno que dela se espera e, em sua grande maioria, vem rechaçando a desarrazoada pretensão da ECT.
VÍTOR FERREIRA ALVES DE BRITO é advogado. 

ANCELMO GÓIS - Brasileirinhos


Brasileirinhos
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 13/04/11

Veja como a Escola Municipal Tasso da Silveira, cenário do massacre de Realengo, é referência na comunidade. O menino Carlos Matheus, que teve alta segunda, é filho de dois ex-alunos do colégio. Seu pai e sua mãe se conheceram na escola, namoraram e casaram. 

Piada de mau gosto... 
Aliás, desde o massacre na escola, surgiram no Orkut mais de 20 comunidades que reverenciam o assassino e pedem cadeia para o sargento Alves. Todas foram apagadas. Mas ontem duas outras surgiram. Umas 30 pessoas denunciaram o caso à Ouvidoria do MP. 

Petróleo à vista
Depois de quatro anos de jejum, a Agência Nacional de Petróleo deve realizar, em agosto, a 11a- rodada de licitações. Na lista, áreas do Rio Grande do Norte, do Amapá, da Foz do Amazonas, do Pará e do Maranhão. A retomada será decidida dia 28 agora na reunião do Conselho Nacional de Política Energética.

No mais

Yuri Gagarin, primeiro homem a ir ao espaço, há 50 anos, lembra o nosso Guido Mantega. Aliás, o ministro da Fazenda também anda, vez por outra, em órbita. Com todo o respeito.

Luta por uma moeda 
A coleguinha Míriam Leitão entregou à Record o texto final de “A saga brasileira, a longa luta de um povo por uma moeda”. O livro, que mistura análise com histórias de brasileiros que viveram essa época, chega às livrarias dia 17 de maio. 

A arte do Brasil
Gilberto Gil, mesmo fora do governo há quase três anos, é abordado no exterior por gente que lhe pede para entregar seus projetos culturais ao MinC. São artistas brasileiros que vivem lá fora, sedentos por cultura. Segunda, em Viena, sua mulher, Flora, comprou uma mala só para guardar estes projetos. 

Lá e cá
 
Domingo à tarde, em Paris, no restaurante Pub Saint Germain, no Marais, uma brasileira viu um rato e chamou o garçom, aflita. Resposta do moço da bandeja: “C’est Paris, madame!” (“Isto é Paris, senhora!”). Ah, bom! 

Nada foi decidido 
A Petrobras confirma que comunicou às distribuidoras o aumento de 10% no preço do gás, “decorrente da aplicação das fórmulas contratuais vigentes.” Mas a estatal diz que o comunicado foi enviado “indevidamente” e que “os estudos
ainda não foram concluídos.” 

Bola da fortuna
Veja a força da marca Ronaldinho Gaúcho, segundo relatório da Olympikus recebido ontem pelo Flamengo. Só em março, acredite, foram vendidas 64.203 camisas do craque, que renderam ao clube R$ 417 mil em royalites. 

OSB fora da gestão
A prefeitura do Rio não vai mais entregar a administração da Cidade da Música, que deve ser inaugurada em setembro, à Orquestra Sinfônica Brasileira. A decisão foi tomada antes dessa crise dos músicos. Mas a OSB continua sendo parte importante do projeto.

Mamãe, sou forte

O mulherio não parou de suspirar a manhã inteira, ontem, na academia Estação do Corpo, na Lagoa, no Rio. Quem apareceu para malhar foi o ator americano Dwayne Johnson, que está na cidade para filmar cenas do filme “Velozes e furiosos 5”. 

Harpa na favela

A inglesa Clair Jones, harpista da rainha da Inglaterra que vai tocar no casamento do príncipe William com Kate Middleton, desembarca no Rio dia 24 de maio. Tocará o mesmo repertório do casamento no Pavão Pavãozinho, no RioHarp Festival, do Música no Museu, dia 25. 

Coleção pornô

A grife A Mulher do Padre lançou uma coleção polêmica. São camisetas com estampas inspiradas em cenas pornô. Há muito seio de fora e até... você sabe.

TUTTY VASQUES - Bom aluno



Bom aluno
TUTTY VASQUES

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/04/11

Tiririca está aprendendo rápido o que faz um deputado: um dia contrata amigos para seu gabinete, no outro queima dinheiro público em viagens de turismo, de vez em quando vota errado, paga uns micos no Pânico na TV, outros no CQC e, entre uma coisa e outra, arruma um monte de desculpas para dar à imprensa.

Cercar-se de gente incompetente é básico! Sem um assessor distraído por perto, o deputado não teria a quem responsabilizar pelo "mal-entendido burocrático" que o levou a fazer uso de verba indenizatória do Congresso para pagar a estada de sua família no Porto d"Aldeia Resort de Fortaleza.

O erro do abestado que pediu restituição "sem querer querendo", como diria aquele outro gaiato mexicano, foi resolvido com a devolução da mixaria de R$ 981 ao erário.

Cá pra nós, o palhaço mais votado do Brasil saiu-se dessa melhor que o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, tentando explicar o que fazem com ele em viagem oficial à Espanha o filho de 13 anos e Romário, justo na semana do clássico Barcelona x Real Madrid. Imaginar qualquer coisa de errado nisso é, segundo o parlamentar, pura "malícia", coisa que, convenhamos, o Tiririca não tem.

Ela merece
O bota-fora de Marina Silva do PV não tem data para acabar. Azar dos vizinhos do deputado Alfredo Sirkis, que têm reclamado muito do barulho madrugada adentro.

Empurrãozinho
Galvão Bueno é, em parte, responsável pela volta de Paulo Roberto Falcão à função de técnico de futebol. Pesou na decisão do ex-comentarista da TV Globo o fato de nunca mais precisar dividir cabine de estádio com o locutor número 1 da emissora. O convite ter partido do Internacional de Porto Alegre, claro, também ajudou!

Ideia fixa

Num encontro a portas fechadas na segunda-feira com Bono, em São Paulo, o ministro Guido Mantega teria pedido ajuda ao roqueiro para segurar o câmbio. Pode?

Mal comparando

Silvio Berlusconi esclarece: deu R$ 138 mil à tal prostituta menor marroquina para ela comprar um aparelho de depilação a laser. Se fosse o Lula, diriam que é o Bolsa-Raspadinha, né?

Kit novo

Sem prescrever dieta ou se preocupar com a cervejinha de Adriano, o Corinthians deve tentar com o Imperador o método "emagreça
dormindo".

Pela boca

Aquela omelete na Ana Maria Braga ficou mesmo uma porcaria mas, em compensação, o torresminho que Dilma Rousseff preparou à moda mineira numa reunião com empresários em Pequim, huuummmm!!! Abriu todas as portas do mercado chinês ao suíno brasileiro. A presidente prometeu transferir junto a tecnologia de preparo da receita.

Era Gagarin

Entreouvido numa esquina qualquer do fim do mundo: "E pensar que há 50 anos a Terra era azul, hein!"

ILIMAR FRANCO - Esforço final


Esforço final
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 13/04/11

Para evitar a divisão dos aliados na votação do Código Florestal, o presidente em exercício, Michel Temer, faz reunião hoje com líderes da Câmara para tentar acordos pontuais. Amanhã, será a vez de o governo tentar unificar sua posição. Os ministros Wagner Rossi (Agricultura), Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) vão se reunir com Antonio Palocci (Casa Civil). O governo quer reduzir ao máximo as questões que serão decididas no voto.

A coligação nas eleições proporcionais
Mesmo que a reforma política não saia do papel, os maiores partidos vão fazer um esforço para aprovar pelo menos o fim das coligações nas eleições proporcionais. Seus dirigentes acreditam que essa mudança vai fortalecer os grandes e enxugar o quadro partidário. O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) fez uma simulação, aplicada às eleições de 2010, mostrando que seis dos 22 partidos que têm representação na Câmara não elegeriam deputados. A bancada do PT, que é de 88, seria de 110 deputados. A do
PMDB pularia de 78 para 109, e a do PSDB, de 53 para 63. Os demais ficariam menores.

"É um equívoco. A oposição não tem que abrir mão de ninguém” — Roberto Freire, deputado federal (PPS-SP), sobre tese de FH de que a oposição deveria desistir de conquistar as camadas mais pobres

REAÇÕES. O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), não gostou da receita do ex-presidente FH para a oposição. “É ruim fazer política excluindo uma camada da população. Nunca vi ninguém em política abrir mão de falar para toda a sociedade”, disse. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) afirmou: “Sou mais otimista em relação à aproximação com as classes C e D”. Mas adverte que o artigo é complexo e, por isso, é um risco pinçar uma ou outra expressão, ou uma ou outra afirmação do texto.

Contramão
A tese do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de que a oposição deveria desistir de conquistar as camadas mais pobres do eleitorado, vai na contramão do plano do PSDB de se reestruturar na Região Nordeste do país.

Polêmico
Esta foi a segunda vez, no passado recente, que ideias defendidas pelo ex-presidente Fernando Henrique desagradaram à oposição, preocupada com resultados eleitorais. A primeira foi a defesa da legalização da maconha.

Anabolizando o PSD

Além dos tucanos, petistas e integrantes do governo também estão tratando de inflar o PSD de Gilberto Kassab. Consta que o governador Marcelo Déda (PT-SE) teria sugerido ao deputado Laércio Oliveira (PR) que fosse para o PSD. Que foi gente do governo petista que convenceu o governador Omar Aziz (PMN) a entrar no PSD. Os partidos médios que apoiam o governo Dilma Rousseff, como o PP, o PR e o PTB, estão apreensivos. 

Dividendos
O Brasil receberá uma missão comercial chinesa, em maio, como desdobramento da visita da presidente Dilma, acompanhada de empresários, àquele país. O Brasil quer que eles comprem produtos de maior valor agregado.

Sedução

O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) deu de presente ao ministro do Comércio chinês, Chen Deming, anteontem, uma camisa da seleção brasileira autografada por Robinho. Pimentel está na comitiva da presidente Dilma.

 O EX-DEPUTADO Rocha Loures (PMDB-PR) entrou na lista dos que podem ser nomeados para a presidência da Embratur. Seu destino era a vice-presidência. 
 O GOVERNADOR Wilson Martins (PSB-PI) quer emplacar o irmão, Rubens Martins, numa das diretorias da Codevasf.

● O SECRETÁRIO de Saúde do município de São Paulo, Januario Montone, reage às críticas do DEM sobre a mortalidade materna: “O último índice nacional é de 2007. Foram 77 óbitos de mulheres/100 mil nascidos vivos. O da cidade de São Paulo foi de 59,5 óbitos/100
mil e no ano passado foi de 42,4 óbitos/100 mil”.

ROBERTO DaMATTA - A dor da chegada


A dor da chegada
ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 13/04/11

Chego de Lisboa no dia da tragédia de Realengo. Percebi a dor contida nos regressos. Entre os indígenas com quem convivi, chora-se sinceramente nas chegadas, não nas despedidas. Nós, seguidores da fórmula francesa com pretensão universal, supomos que partir é morrer um pouco; eles, seguidores de uma outra cartilha, dizem que as cheganças doem mais do que as partidas. A atitude traduz a complexidade dos gestos marcantes que trazem dentro de si a primeira ou a última vez. Experimentamos isso nas grandes viagens. Mais das vezes, entretanto, escondemos a densidade dos relacionamentos que são todos perigosos, sagrados, efêmeros, raivosos, amorosos, ressentidos (ele podia ter me elogiado...; ela podia ter me dado mais um beijo; eu deveria ter pedido desculpas...) em despedidas e saudações casuais que disfarçam a nossa incrível capacidade para amar, que nada mais é do que o fruto de nossa dependência dos outros e da sociedade na qual nascemos e que nos faz o que somos. Um amigo íntimo saiu de casa pela manhã e sequer falou com o filho mais velho para, à noite, depois da missa de sétimo dia do seu mais importante professor e mentor, velar o seu corpo no cemitério próximo de sua morada. Patética e pacientemente ele ajudou sua mulher a enfeitar o cadáver daquele homem alto, e a seus olhos indestrutível, com flores. As flores do bem e do mal que sinalizavam o rompimento para sempre do círculo da família que ele havia construído com tanto desvelo.

Quem pode imaginar que um "até logo" pode ser um "a-deus"? Um até Deus que, como supremo englobador de tudo, um dia vai nos reunir num grato e necessário esquecimento. E então viramos mais uma estrela a brilhar para o pastor que na sua busca de rumo vai nos ressuscitar com o seu olhar.

Eu esperava que minha chegada fosse marcada pela dor de sempre - essa dor disfarçada nas preocupações banais que vão das rotinas caseiras às contas pagas ou esquecidas. Essa dor que para nós, crentes na autonomia individual e na liberdade de escolher, disfarça o fato de que somos um pedaço dentro de um mosaico. É só quando nos separamos que nos damos conta de como somos igualmente feitos de um todo que não inventamos, que existia antes do nosso nascimento e que vai continuar sem a nossa presença. Nas partidas somos um azulejo que sai da moldura; nas chegadas, voltamos a nos encaixar e é esse reencontro da parte com o todo (que viveu sem nós) que emociona e ajuda a compreender o choro como convenção de regresso, tal como somos obrigados a lamentar, tendo as lágrimas como prova de sentimento e sinceridade, os adeuses.

A dor das chegadas fica por conta daquilo que não sabíamos e que, em certos lugares, como o Brasil, é tomado como uma ofensa por termos viajado e, individualizados, dispensarmos a presença dos próximos, "perdendo" o que se passou na nossa ausência. Ora, essa perda das coisas que não testemunhamos - prova cabal de finitude - é um dos motivos do eterno sofrimento humano. Sejamos, porém, mais precisos: choramos também e ainda com mais força porque estávamos presentes e nada pudemos fazer; tanto quanto choramos porque não estávamos presentes quando teríamos a obrigação de estar.

É o que acontece quando somos premiados com essas loterias de infortúnio que fabricam perdas intraduzíveis e, no entanto, produzem ganhos extraordinários. O que tirar dessa tragédia de Realengo que nega veementemente a nossa crença na razão, na utilidade, no determinismo e no progresso, senão uma sabedoria da aceitação de que somos parte de um todo que, no entanto e de quando em vez, também se movimenta contra nós? Uma totalidade que é nossa e se deixava entender com relativa precisão, mas que tem segredos maiores do que as que separam o céu da Terra, como dizia o bardo inglês. Há, como inventou Machado de Assis, um Igreja de Deus e uma outra do Diabo, ambas sistematicamente negadas pela ingratidão humana escondida em cada um de nós. Não devemos matar, mas matamos por dinheiro e, sobretudo, por valores e pela pátria. Moisés, a quem o nosso Deus único deu as regras de ouro da vida e da morte, pertencia a um povo eleito.

Toda eleição esconde um fato doloroso: cumprimos as regras e, no entanto, sofremos mais daqueles que praticam o mal e vivem felizes em nossa volta. Por que aconteceu comigo e não com os outros? Eis a questão revelada nas chegadas e partidas. Apesar de toda ciência, não sabemos tudo. Eis o fato com o qual temos de conviver. E por isso choramos, rezamos e nos amamos ainda mais. Com a força e a inocência dos anjos, com a maldade inútil dos ressentidos e dos loucos que matam desumanamente em nome da pureza e, assim fazendo, reacendem a nossa humanidade. A dor das chegadas e partidas é o limite. Somos, acima de tudo, humanos e, quando não há o que fazer, surge o humano do humano: a pureza das almas. O absurdo de uma tragédia sem razão faz brilhar este mundo feito de lágrimas e de fel.

MARILYN MONROE

JOSÉ NÊUMANNE - A ''lavagem de provas ilícitas''



A ''lavagem de provas ilícitas''
JOSÉ NÊUMANNE

O Estado de S.Paulo - 13/04/11

Duas decisões da Justiça poderão deter a marcha da autonomia policial, que ameaça nosso Estado Democrático de Direito. As provas de irregularidades cometidas pela Polícia Federal (PF) na investigação da Operação Satiagraha foram remetidas ao Supremo Tribunal Federal (STF) antes que elas fossem destruídas, como demandou o Ministério Público Federal (MPF). E o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou provas também obtidas ilicitamente pela PF na Operação Castelo de Areia.

Em abril de 2005, este jornal previu esse risco no editorial Reality show da PF. Ao comentar a Operação Chacal, o texto citou entrevista do deputado federal Paulo Delgado (PT-MG), que constatou: "A PF interroga, indicia e atormenta (...) com um viés penal, favorecendo um dos lados". E denunciou os espetáculos de prisões espalhafatosas nos quais policiais agiam como astros em cena. O delegado Protógenes Queiroz elegeu-se deputado federal - à custa de sobejos de votos do palhaço Tiririca - mercê do destaque obtido no comando da Satiagraha, que sucedeu à Chacal. Nestes seis anos, a lógica da polícia de espetáculo tem obedecido a normas da discriminação ideológica ou partidária e do interesse negocial. A PF nunca produziu um relatório que permitisse ao MPF processar Waldomiro Diniz, flagrado, filmado e gravado achacando um empresário da jogatina, apesar de o réu ter confessado o crime. E o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca cumpriu suas promessas públicas de encarregar a autoridade policial a ele subordinada de investigar a execução de seus correligionários Toninho do PT e Celso Daniel, o coordenador de seu programa de governo na campanha vitoriosa de 2002.

Mas investigou com diligência alegados indícios apontados em "provas" forjadas por sócios estrangeiros da Brasil Telecom e por um vídeo produzido ilegalmente por uma equipe da Globo num restaurante, embora os policiais tenham falsamente assumido a autoria da gravação. Levou os donos da Casa & Vídeo, rede de lojas populares do Rio, a venderem a empresa por um quarto do preço avaliado pelo comprador antes de suas contas terem sido bloqueadas, seus diretores presos e 2 mil funcionários demitidos, sob a acusação, insinuada pela revista Exame, de "descaminho" (venda de bens contrabandeados), da qual seria inocentado pelo STJ. Ainda com base em delação de concorrente, a autoridade policial devassou a contabilidade da cervejaria Schincariol e interceptou telefonemas de seus dirigentes buscando flagrar sonegação de impostos. A extinção parcial do processo pelo STJ, em 2006, foi saudada pelo autor do habeas corpus, Fernando Fernandes, como a primeira vitória da cidadania sobre tentativas feitas por agentes da lei de praticarem "lavagem de provas ilícitas".

O precedente dos processos contra a Casa & Video e a Schincariol, repetido nas acusações contra a empreiteira Camargo Corrêa na Operação Castelo de Areia, chama a atenção para a violação da lei por agentes do Estado encarregados de fazê-la ser cumprida e de reprimir quem a viole. O recurso à denúncia anônima ou ao "vazamento" de informações sigilosas para algum jornalista amigo publicar o boato e este servir de pretexto para o inquérito policial (o comissário José Dirceu era mestre em usar nisso os préstimos dos procuradores Luiz Francisco de Souza, vulgo Torquemada, e Guilherme Schelb) é danoso ao Estado de Direito. A substituição da justiça pelo justiçamento (linchamento de acusados selecionados à revelia do processo jurídico formal) pode vir a ser tão lesiva aos direitos da cidadania quanto a impunidade.

Impedir que se usem provas ilícitas para processar seja quem for é um passo importante, mas não é suficiente. Será necessário ir a fundo na investigação dos interesses políticos e privados que "produzem" os espetáculos de justiçamento estrelados pela autoridade policial, mormente nos últimos oito anos. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, prestará inestimável serviço à democracia se esclarecer questões levantadas no noticiário sobre os inquéritos da PF, que nunca tiveram resposta. Há esclarecimentos que não podem ser incineradas junto com as provas de irregularidades cometidas por policiais, como a participação ilegal de 76 subempreitados da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) na Satiagraha e a coincidência de imóveis declarados pelo encarregado dessa operação, Protógenes Queiroz, terem sido doados por José Zelman, policial aposentado sem patrimônio compatível com o valor deles. Será este senhor uma espécie de doador-geral da República? Seria o caso de Protógenes apresentar um projeto instituindo o "Zelman para todos", que distribuiria apartamentos no Guarujá como programa social do governo? A quem interessava "grampear" os telefones do então presidente do STF Gilmar Mendes, do filho do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, na passagem dela pelo primeiro escalão do governo anterior? Por que a PF não apura isso, embora a revista Veja tenha publicado o teor dos diálogos?

Respostas a tais dúvidas poderão evitar que novas vítimas de operações espalhafatosas e agressivas sofram altos custos morais e graves prejuízos financeiros. E isso é o de menos, pois o cidadão comum, à mercê do Sistema Guardião, que neste instante pode estar "grampeando" tanto meu telefone quanto o do leitor, é a maior vítima deste estado de coisas. Convirá investigar, esclarecer, processar e punir na forma da lei responsáveis, financiadores e financiados desses espetáculos de justiçamento e degradação. Patrono da causa vencedora no STJ e conhecedor dos exageros da polícia, que ele até há pouco chamava de "republicana", o criminalista Márcio Thomaz Bastos passou para o lado da lei e dele se espera que venha a contribuir para que seus ex-subordinados se restrinjam à própria função institucional. Polícia Federal S. A. nunca mais!

DORA KRAMER - Convite à reflexão


Convite à reflexão
DORA KRAMER 

O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/04/11

Há três maneiras de ler a "pensata" do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o papel da oposição hoje no Brasil: com simplismo reducionista, desdém indigente ou com esforço de compreensão das críticas, autocríticas e sugestões.
Na primeira hipótese chega-se fácil à conclusão que circulou ontem no mundo político, segundo a qual o alerta de FH de que o PSDB deve parar de disputar os pobres com o PT e se voltar para a classe média pode soar como repúdio ao "povão".
Se é para dar às palavras dele esse tipo de interpretação, melhor não perder tempo com a leitura do longo e muito detalhado artigo a ser publicado pela revista Interesse Nacional.
Não vai adiantar. Nesse caso, melhor continuar acreditando que oposição se faz sem consistência de raciocínio, mediante o mero alinhavar de frases feitas e pensamentos corriqueiros em discursos bissextos.
Na segunda hipótese, carimba-se a manifestação como uma vã tentativa de Fernando Henrique de se sobrepor ao seu sucessor por pura vaidade e desejo de se manter à tona no noticiário.
Na terceira aproveita-se a oportunidade para refletir honesta e rigorosamente sobre a perda de relevância do Congresso, o distanciamento dos partidos da sociedade, a crescente subtração moral na conduta dos políticos, a submissão geral a um projeto partidário, a carência de autoridade política nos governadores, o enfraquecimento das instituições, dos valores e dos princípios.
Diante disso, pergunta FH, o que fazer?
Primeiro de tudo, não dispensar o auxílio da autocrítica, que no artigo o ex-presidente detalha ponto a ponto na incapacidade de o PSDB defender a agenda da modernização executada a partir do governo Itamar Franco. "Aceitaram as mudanças com dor na consciência e sentindo bater no coração mensagens atrasadas do esquerdismo petista."
Em segundo lugar, dizer adeus à ilusão de que seja possível disputar com o PT os públicos que o governo capturou por meio dos instrumentos de poder: assistencialismo e variadas maneiras de distribuição de recursos públicos a setores específicos.
"Existe toda gama de novas classes possuidoras, de profissionais ligados à tecnologia da informação e ao entretenimento, aos novos serviços, às quais se soma o que vem sendo chamado imprecisamente de classe C."
FH propõe que a oposição busque se aproximar dos estudantes e lance mão de outros instrumentos de comunicação fora do Congresso, que, por sua desmoralização, não repercute positivamente na sociedade.
Em terceiro lugar, segundo o ex-presidente, é preciso ter o que dizer num diálogo menos institucional e mais ligado a temas do cotidiano. "Não basta ter um público, criar uma audiência e adotar um estilo. É preciso mensagem."
E qual seria ela? "O maior erro do PSDB foi o de ter posto à margem a pauta da modernização, do "aggiornamento" do País e da clara defesa de uma sociedade democrática comprometida com valores universais."
Oposição, na visão de FH, não se faz sem definir claramente um "lado". Ou seja, dizer o que pensa sobre as mais variadas questões: religião, drogas, quanto mais polêmicas mais definidoras do perfil da força política.
"Há matéria em abundância para ir fundo nas críticas sem temer a acusação de que se está defendendo a elite." Para concluir, o ex-presidente reitera a necessidade de a oposição ouvir a sociedade, "sem imaginar que com o jogo congressual isolado obterão resultados positivos".
É um roteiro. Que pode ser visto como um convite à reflexão sem que necessariamente se concorde em tudo com ele.
De ocasião. Duas palavras para definir a proposta do presidente do Senado, José Sarney, de fazer uma nova consulta popular sobre a proibição de venda de armas: acintosamente oportunista.
O Senado não cuida de si, não cumpre as promessas de corrigir as deformações administrativas, não zela pela autonomia do Poder Legislativo, nem sequer controla o ponto dos funcionários, mas é ágil quando se trata de surfar na onda da comoção popular.

MÔNICA BERGAMO - O DONO DA VOZ


O DONO DA VOZ
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/04/11

Bono está rouco. O cantor do U2, que apresenta hoje seu terceiro e último show no Brasil, começou a reunião com o ex-presidente Lula, anteontem, em São Paulo, pedindo desculpas pelo problema de voz.

TUDO IGUAL

Quem ouviu Bono, em encontros de trabalho ou na noite paulistana, garante que a rouquidão é imperceptível para leigos.

SECOS E MOLHADOS
Bono não parece preocupado -pelo contrário: se jogou em baladas e jantares em seus dois dias de folga em SP. Na madrugada de segunda, depois do show, ficou até as 5h da manhã no bar Número, nos Jardins. No cardápio, vodca, uísque e vinho, coxinha e tostex. Na segunda, jantou bacalhau no português A Bela Sintra e bebeu vinho francês. Na sobremesa, trocou os doces por frutas.

SOB PRESSÃO

Na reunião com Lula, Bono pediu que ele ajudasse a convencer o governo brasileiro a pressionar a China para que a potência asiática aprove uma lei de transparência para investimentos na África. Ele quer que empresas daquele país revelem se precisaram pagar propina para realizar algum negócio nos países africanos.

LEMBRANÇA

O líder do U2 deu à ex-primeira-dama, Marisa Letícia, uma peça da joalheira italiana Carolina Bucci, além de um iPod.

TIME COMPLETO
Ronaldo Fenômeno e Marcus Buaiz fecharam acordo com Falcão, o craque do Santos e da seleção brasileira de futsal. A 9ine, empresa que os dois mantêm em sociedade com a WPP, vai agenciar o marketing do jogador, complementando o trabalho de seus empresários.

REFLEXÕES
Os 300 alunos de 13 e 14 anos do colégio Porto Seguro, em SP, farão debates em sala de aula sobre o massacre da escola do Rio. A professora Tânia Centurion diz que as crianças ficaram "horrorizadas" e se informaram em detalhes sobre o episódio. Lerão "Capitães da Areia" e discutirão a violência "invisível" contra crianças que convivem com a pobreza.

NÁUFRAGO
O cineasta Bruno Barreto diz que convidou a atriz britânica Kate Winslet para o longa que rodará no segundo semestre, "A Arte de Perder". Nada feito. "Ela leu o roteiro e adorou. Mas só estaria disponível em julho de 2012."

BURAQUEIRA
Moradores e comerciantes da Vila Madalena farão um debate nos próximos dias sobre soluções para os estragos causados pelas chuvas de verão. Uma cratera de 6 m de profundidade na rua Medeiros de Albuquerque (onde um carro caiu, em janeiro) reabriu a discussão sobre um piscinão. O encontro será no galpão do grupo de palhaços Jogando no Quintal.

BURAQUEIRA 2
A Associação dos Amigos do Jardim das Bandeiras, região vizinha à Vila Madalena afetada pelos estragos, encomendou um estudo técnico para embasar sua oposição ao piscinão, orçado em R$ 16 milhões. Para Lucila Lacreta, representante do grupo, a reforma das galerias pluviais daria conta do recado e custaria R$ 5 milhões.

TURBULÊNCIA

Há alguns dias, 202 passageiros levaram um susto na rota Guarulhos - Atlanta (EUA). Um italiano a bordo de um Boeing da Delta começou a ter convulsões. Foi socorrido pela médica Luciana Maluf Azevedo, que alertou a tripulação de que o caso era grave. O piloto fez pouso de emergência em Caracas, na Venezuela.

DEBATES E CIFRAS
O ministro Guido Mantega, Ricardo Flores, presidente da Previ, e Vitor Hallack, da Camargo Corrêa, participaram de debate da Seminários Brasileiros, promovido por Hélio Campos Mello e João Carlos Camargo. Joesley Batista, da JBS S.A.,e Chieko Aoki foram ao evento no hotel Tivoli Mofarrej.

JANTAR DE HOMENAGEM
O casal de empresários Alessandra e Marcos Andrade fez anteontem em sua casa, em Perdizes jantar em homenagem ao publicitário francês Marc Gobé, que veio ao país para falar sobre a Lei Cidade Limpa. Roberta Spera estava entre os convidados.

CURTO-CIRCUITO


Ricardo Ohtake e Carlos Dias lançam o livro "Jardim da Luz: um Museu a Céu Aberto" na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, às 18h30.

A Liberta, ONG contra o tráfico de pessoas, tem jantar inaugural às 20h30 de amanhã, na Vila Nova Conceição.

A Pucci do shopping Cidade Jardim faz mostra de vestidos usados por atrizes internacionais. A partir das 17h de hoje.

A galeria Millan abre a exposição "Porque Sim.", de artistas nacionais, às 20h.

Michel Teló apresenta show sertanejo no Wood's Bar, a partir das 23h. 18 anos.

Começa hoje a venda Colheita Especial, nos Jardins.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


No ar
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 13/04/11

Aviso aos que reclamam que o Brasil foi excluído das atuais investigações do acidente Air France 447. O processo tem participação brasileira: a de um investigador do Cenipa. Que, na qualidade de "representante acreditado", tem autoridade para interferir na investigação.

Ontem, ele estava no Recife com a equipe da França avaliando todo o trabalho.

Detalhe importante: sua função não é a de identificar culpa e sim razões pelo acidente.

China
Dilma impressionou na chegada à China. Em menos de meia hora, segundo um dos empresários da comitiva, estava recuperada da longa viagem e impecavelmente arrumada, sem um fio fora do lugar.

Bastante assediada, mostrou conhecimento e interesse nos assuntos econômicos. "Diferença marcante em relação a seu antecessor", revela a mesma fonte.

China 2O clima geral no meio empresarial por lá é de euforia contida.

Pelo fato de Dilma parecer acreditar, como Margareth Thatcher, que "a missão do político não é agradar todo mundo".

China 3
Mensagem da presidente captada pelos participantes da missão empresarial: não há mais espaço para querer "brincar" mais ou menos de China.

A relação Brasil-China é umbilical. E o desafio, como administrá-la.

China 4
Na reunião do conselho empresarial Brasil-China, liderado pelo embaixador Sergio Amaral, a conversa girou em torno da criação de... escolas chinesas no Brasil.

Incluindo intercâmbio de estudantes e professores.

China 5
Esperava-se que Dilma fosse anunciar, nesta visita, a criação de um consulado geral no Cantão. Mas ainda não será desta vez...

Central do Brasil

Quem se apaixonar ou quiser resgatar antigo amor durante a Virada Cultural poderá escrever cartas com ajuda de jovens escritores. Entre eles, Analu Andrigueti, Deborah Goldemberg e outro sob codinome de ArrudA. Comandam um correio elegante literário, domingo, no Sesc Ipiranga.

Vem você tambémDe concreto, da conversa que Lula teve com Bono sobre combate à pobreza na África, segunda-feira, veio convite: o ex-presidente chamou o cantor para passar o carnaval no Rio e pescar no Pantanal em 2012. O pop star aceitou.

Os fãs estão na torcida.

Tricolor
Está para sair do forno documentário sobre Telê Santana.

Dirigido e roteirizado por Rubens Rewald e Tales Ab´Sáber.

Diva do bem
A Christie"s decidiu. Obras de arte, joias e objetos pessoais de Liz Taylor irão a leilão. A renda será revertida para instituições de combate à aids criadas por ela.

Sopram os ventos que foi a própria diva que pediu esta ação em seu testamento.

In loco
Roberto Minczuk cancelou concertos que regeria frente a Sinfônica de Utah esta semana.

Preferiu permanecer no Rio para resolver o impasse da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Sobrevivente
Chico Anysio comemorou 80 anos em casa, ontem, só entre os oito filhos, amigos íntimos e médicos que cuidaram dele nos 110 dias em que ficou internado.

Malga di Paula, sua mulher, garante que ele está ótimo: "O único problema são as pernas, que precisarão de muita fisioterapia". Mas, segundo ela, "a voz, apesar da traqueostomia, não teve nenhuma sequela".

Na frente

Mario Garnero recebe convidados para almoço, hoje, com Ivanka Trump. No prédio da Brasilinvest.

Didi Wagner está em Nova York com Jairo Goldflus. Produz fotos para seu guia batizado de Minha Nova York. A ser lançado dia 31 de maio, com direito a versão iPad.

Jota Quest relançará sua primeira gravação. Marcando os 15 anos de estrada da banda. Jogo, nome da canção, foi composta quando os músicos tocavam ainda em bares de Belo Horizonte.

Ricardo Ohtake e Carlos Dias autografam seu livro na Cultura da Av. Paulista. Hoje.

Na Livraria da Vila, também hoje, será lançado Aprendiz de Equilibrista, de Cecília Russo Troiano. Sobre a conciliação da vida materna e profissional.

Glorinha Baumgart, Graziella Leonetti, Chella Safra, entre outras, participam hoje de evento beneficente em prol da AACD na Helvétia House.

A Fundação Lemann e a Secretaria Estadual de Educação laçam hoje cursos de pós-graduação para diretores de escolas públicas. Na Universidade Anhembi.

Correção: o lançamento das Coleções Lalá Rudge será amanhã em seu apartamento. Em prol do Conjunto Assistencial Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

MARCOS SAWAYA JANK - Punir ou incentivar o etanol?



Punir ou incentivar o etanol?
MARCOS SAWAYA JANK

O Estado de S.Paulo - 13/04/11

A crise financeira global de 2008 passou de raspão pela economia brasileira e pode até ter sido apenas uma "marolinha" para certos setores. Já os que vinham se expandindo com pesados investimentos foram drasticamente afetados pelo forte enxugamento de liquidez daquele ano. Ali nasceu o problema que vive hoje o etanol brasileiro.

Entre 2000 e 2008 a produção de cana cresceu 10,3% ao ano, dobrando em apenas oito anos o que o Brasil levou quase 500 anos para produzir. De 2008 em diante um terço do setor enfrentou imensas dificuldades financeiras, que resultaram num intenso processo de consolidação financeira e societária. Com os investimentos concentrando-se na compra de empresas em dificuldades, e não na construção de novas usinas, o crescimento do setor caiu para 3% ao ano. Hoje temos um menor número de empresas, com melhor estrutura de capital e governança, porém a produção de cana-de-açúcar praticamente se estagnou.

Portanto, o grande desafio do momento é crescer de forma regular e sustentável, fugindo da volatilidade e do eterno stop and go que marcam a história do setor. Neste ponto surge a grande questão: quais as políticas mais adequadas para garantir o crescimento harmônico de uma indústria sui generis, que gera uma fabulosa gama de produtos renováveis: alimentos, biocombustíveis, bioeletricidade e bioplásticos?

Esta é a dimensão do desafio que temos pela frente: entender que uma maior regulação parece ser necessária na componente energética da indústria, mas que o intervencionismo excessivo pode levar a um engessamento, inibindo investimentos essenciais para o crescimento.

O primeiro grande equívoco neste momento é acreditar que o problema reside no preço do açúcar. É verdade que nos dois últimos anos foi mais lucrativo usar o caldo da cana para produzir açúcar. Porém a "flexibilidade" das usinas para optar pelo açúcar se restringe a apenas 6% da produção de cana. Na última safra foram quase 5 milhões de toneladas de açúcar adicionais, que dariam para fazer 3 bilhões de litros de etanol, mas com importante perda de lucratividade para as empresas.

Além disso, só a quebra de safra pela estiagem em 2010 causou a perda do equivalente a 5 bilhões de litros de etanol. E a desaceleração do crescimento do setor depois da crise de 2008 foi equivalente a uma redução de produção de cana que poderia gerar outros 11 bilhões de litros de etanol este ano, quase metade do consumo do País do ano inteiro. O verdadeiro problema, portanto, não está na substituição do etanol pelo açúcar, mas sim na falta de investimentos em produção de cana-de-açúcar para produzir ambos.

O diagnóstico equivocado, que atribui os atuais problemas ao aumento da produção de açúcar, levou a ameaças de políticas públicas de caráter punitivo, que gerariam insegurança, afastariam investimentos e frustrariam o crescimento da indústria. Medidas como a taxação das exportações de açúcar, a restrição das exportações de etanol ou a redução da mistura de etanol na gasolina aquém do limite legal de 20%, cogitadas nos últimos dias, produziriam o contrário do que o momento exige.

Analisemos, aqui, apenas as consequências da taxação das exportações de açúcar. O Brasil responde por cerca de 20% da produção e mais de 50% das exportações mundiais de açúcar. O produto ocupa o quinto lugar na pauta brasileira e no ano passado respondeu por exportações de US$ 13 bilhões. Pela relevância do Brasil no mercado internacional, taxar as exportações de açúcar causaria um aumento imediato do preço do produto, gerando pressão inflacionária e insegurança alimentar no Brasil e no mundo. Certamente perderíamos market share e credibilidade em nossas posições históricas nas negociações para derrubar distorções no comércio agrícola mundial. Além disso, a medida poria em risco o resultado obtido no contencioso do açúcar contra a União Europeia, a qual contaria com novos elementos para retomar suas vendas de açúcar subsidiado. Nossa reputação internacional como supridor de alimentos estaria desmoralizada, uma vez que estaríamos reconhecendo nossa dificuldade em atender simultaneamente aos mercados de alimentos e energia.

Acontece que hoje o setor tem dificuldade de investir em plantas dedicadas a etanol pela grande incerteza quanto à evolução do preço da gasolina, administrado pela Petrobrás e mantido no mesmo patamar desde 2005. Com o aumento dos custos da produção de cana, as margens reduziram-se e o investidor teme a falta de regras claras que permitam a convivência e a competição entre dois mercados com estruturas distintas - o de etanol, pulverizado e competitivo, e o da gasolina, um quase monopólio. Taxar as exportações de açúcar ou restringir as de etanol são medidas que aumentariam o nível de incerteza e afugentariam novos investimentos.

Acreditamos haver alternativas mais saudáveis para regular o setor, resgatando a competitividade do etanol hidratado e, com isso, permitindo a entrada de novos investimentos. Se não houver mudança no preço da gasolina, uma solução seria a harmonização dos impostos federais e estaduais com alíquota reduzida para o etanol, o incentivo à bioeletricidade, a melhoria da infraestrutura, a pactuação de compromissos com a oferta de biocombustível e garantia de abastecimento, o aumento da produtividade, a redução dos custos e maior eficiência dos motores flex. Nesse contexto, é plenamente factível imaginar a construção de dezenas de novas unidades dedicadas à produção de etanol e bioeletricidade e voltadas para suprir a crescente demanda por energia limpa e renovável, atendendo aos mercados interno e externo. Essa é a agenda positiva que estamos buscando com toda a nossa vontade e o nosso entusiasmo.

PRESIDENTE DA UNIÃO DA INDÚSTRIA DA CANA-DE-AÇÚCAR (UNICA)

CANGACEIRO SARNEY: UM ESCROTO

VINICIUS TORRES FREIRE - Dilma na China, Obama no Brasil


Dilma na China, Obama no Brasil 
VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/04/11

VAMOS SUPOR que os chineses não estejam contando mentiras à comitiva de Dilma Rousseff. Vamos considerar que uma ditadura com economia sob controle ou diretriz estatal, a China, tem muito mais condições de oferecer acordos e parcerias comerciais que o governo de uma democracia com economia aberta, os EUA. Vamos relevar, por ora, que industriais e comerciantes da China subfaturam descaradamente o preço de seus produtos a fim de roubar mercado, aqui e alhures.
Isto posto, os salamaleques da diplomacia comercial chinesa são muito mais impressionantes que os da diplomacia americana, que, a bem da verdade, não fez grande esforço para conquistar simpatias por aqui na visita de Barack Obama.
Brasil e Estados Unidos assinaram apenas alguns daqueles acordos mambembes e "protocolos de cooperação" de que ninguém lembra um dia depois de encerradas as visitas de autoridades. Obama fez uns discursos fraquinhos, simpáticos e vazios, de resto meio jecas e com clichês do tempo em que Walt Disney desenhou o Zé Carioca.
Os chineses prometeram ao menor remendar o vexame que deram ao passar uma rasteira na Embraer, que gastou dinheiro para se instalar na China e ficou a ver navios, sendo na prática proibida de vender e de produzir. A Embraer, que se associou, como é obrigatório, a uma companhia chinesa, não podia vender seus melhores aviões por lá.
Os chineses, parece, vão abrir o mercado de carne suína para os produtores brasileiros, embora seja preciso ver quanta produção e produtores vão liberar de fato assim que a visita de Dilma acabar.
Algumas indústrias chinesas anunciaram investimentos no Brasil, mas isso é apenas "oportunidade de mídia". Produtores de equipamentos de telecomunicações como a ZTE e a Huawei aproveitaram a presença de Dilma para fazer uma média, pois o dinheiro novo que apenas anunciaram é investimento "normal" para manter o crescimento do negócio deles compatível com o aumento do mercado brasileiro.
O investimento novo mais relevante seria o da Foxconn, que aumentaria brutalmente a quantidade e a qualidade da sua produção por aqui. Note-se, antes de mais nada, que a origem da empresa é Taiwan, embora o grosso da produção seja feito mesmo na China. Causou mais sensação a possibilidade de a empresa montar o iPad no Brasil.
Mas a Foxconn é uma empresa gigante, fornecedora de insumos para computadores e eletrônicos, abastecendo da Intel à Apple, e muita gente grande mais, fabricando placas-mãe de computadores (o "chassis" responsável pela comunicação dos demais componentes) a placas de vídeo, displays digitais etc.
Se vier, é boa coisa. O seu tamanho, exigências de fornecedores locais, além de um centro de pesquisa prometido para o polo tecnológico de Campinas, fariam diferença para a indústria eletrônica no Brasil.
O Banco Industrial e Comercial da China, em certo aspecto o maior do mundo, pretende abrir uma filialzinha aqui. Pode parecer pouco. Ou que os chineses vêm aqui apenas "levar mais um mercado". Mas a presença de um banco desse tamanho pode facilitar investimentos.
Enfim, ao menos em termos de promessa e salamaleque diplomático para o Brasil, os chineses bateram os americanos de longe.

ANTONIO PRATA - Amor e escovas de dentes


Amor e escovas de dentes 
ANTONIO PRATA

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/04/11

HOJE DE MANHÃ, ainda naquele estado gasoso entre o sono e a vigília -propício tanto a topadas quanto a epifanias-, fiquei a contemplar minha escova de dentes. Não faz muito tempo, era uma reles haste de plástico, com uma crina sintética na ponta; hoje, lembra menos os pentes, cortadores de unhas e fios dentais, seus antigos parentes, do que raquetes de tênis, jet skis e naves interestelares.
Quantos milhões de dólares não terão sido gastos, quantas horas de trabalho dos melhores cérebros da química, da física, da engenharia, da odontologia e de outras ciências não terão sido aplicadas para chegarmos às cerdas de quatro cores, ao cabo ergonômico, de material translúcido e emborrachado, enfim, a essa arma high-tech da assepsia bucal?
Nada contra. O tártaro e a placa bacteriana são inimigos incansáveis e os dentes que aqui estão, em repouso, enquanto rumino esta crônica, são os mesmos que deverão destrinchar bifes e fibras na segunda metade do século 21; se lá chegarmos -tomara!-, eu e meus caninos.
O que estranho é que boa parte das conquistas do iluminismo tenha desembocado na batalha por dentes mais fortes & brancos, enquanto outras áreas fundamentais de nossas vidas permanecem ignoradas pela ciência, regidas pelo arbítrio obscuro de nossas subjetividades.
Que bom seria se, em vez de desenvolver cerdas de todas as cores, resistências e tamanhos, os cientistas tivessem aplicado seus saberes às relações amorosas. Mas não.
Quando a esposa diz "Você já não é mais o mesmo, Aurélio", ou o marido reclama, "Você é que vive pegando no meu pé, Roseli!", os cônjuges não podem contar com uma única tabela, um único gráfico, um programinha de computador para esclarecer seus turvos sentimentos.
Os românticos talvez achem que isso é uma benção. Que o amor, pelo menos, esteja livre dos tentáculos tecnocráticos de nossa era. Eu digo, em minha defesa e na defesa das muitas relações que seriam salvas por um, digamos, Relationship Analytics 1.0, que não há nada de romântico em discutir na cozinha, às duas e meia da manhã, quem é que anda desatento com o casamento. Não seria melhor puxar um rápido histórico no computador?
"Cê tá dizendo que eu sou um encostado, Roseli, mas olha aqui: em sete das nossas últimas dez relações sexuais, fui eu quem tomei a iniciativa."
Ela acusa: "A gente nunca vai ao cinema! Você só quer sair pra beber com o Marcão!", ele responde: "Nunca vejo o Marcão! Toda vez que ele me chama, a gente tá no cinema!". Se, num gráfico, as cervejas com o Marcão aparecessem em azul, as idas ao cinema, em vermelho, o calor da discussão seria aplacado pela frieza dos fatos. Saberia-se quem está certo, quem está errado, e as pequenas fissuras no esmalte da relação poderiam ser combatidas com o flúor do conhecimento, antes de se tornarem cáries ou, pior, atingirem o nervo do casal.
Infelizmente, as coisas não são assim. Ao que parece, a humanidade elegeu outras prioridades: os dentes brancos & fortes, por exemplo. Levamos a vida aos trancos e barrancos, mas, pelo menos, quando a indesejada das gentes chegar, não encontrará em nossas bocas escancaradas uma única carie, tártaro ou placa bacteriana.