sábado, abril 02, 2011

Cinco motivos para sentir vergonha RUTH DE AQUINO

Cinco motivos para sentir vergonha
RUTH DE AQUINO


REVISTA ÉPOCA
Época
RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA
raquino@edglobo.com.br
Há um novo nome na lista dos fugitivos mais procurados do Estado de São Paulo: o pedreiro Ananias dos Santos, de 27 anos, principal suspeito de um dos crimes mais tenebrosos de que o país ouviu falar. As vítimas são as irmãs Josely e Juliana, de 16 e 15 anos. No caminho entre o ônibus escolar e a casa, encontraram um monstro. Se tiver sido mesmo Ananias, era um monstro conhecido delas e da polícia. Tinha saído da prisão numa folga de Páscoa, em 2009, e não voltara. Todos sabiam onde morava. Já era foragido antes. Mas ainda não tinha ficado famoso.
A delegada Sandra Vergal diz com simplicidade que, “pelos antecedentes dele, Ananias não podia ser contrariado em nada”. Por que nenhuma autoridade policial até agora fez um mea culpa? O preso sai pela porta da frente, não volta para a cela e, por suposta rejeição de uma das meninas, persegue e mata as irmãs a tiros? Dói demais ver as fotos das adolescentes. Além de muito bonitas, eram conhecidas como educadas, estudiosas e apegadas à família. Ananias era fugitivo com endereço certo. Quem afinal matou as meninas da aprazível Cunha, uma localidade pacata e verde, que fez passeata de 3 mil por justiça? Somos ou não também culpados pela negligência de nosso sistema penitenciário?
A semana passada foi pródiga em constrangimentos. Em dezembro, listei nesta coluna dez razões para se indignar. Nos últimos dias, além do crime bárbaro de Cunha, deparei com mais quatro razões para me decepcionar com o ser humano público e privado.
  • O vice-presidente José Alencar, herói no combate ao câncer, afetuoso no trato com as pessoas, dizia “não temer a morte, mas a desonra”. E, mesmo assim, foi incapaz de sequer conhecer sua suposta filha com uma enfermeira. Recusou-se a fazer exame de paternidade e chamou publicamente a mãe de Rosemary de Morais de prostituta: “Todo mundo que foi à zona um dia pode ser pai. São milhões de casos”. No caso de Alencar, a atitude não combina com a biografia. Onde estava sua coragem? Encarou o câncer e 17 cirurgias, mas Rosemary não. Ela ganhou na Justiça o sobrenome Alencar.
Além do crime bárbaro de Cunha, a semana ofereceu quatro outros motivos para nosso constrangimento
  • A atriz Cibele Dorsa usou sua depressão e seu suicídio para protagonizar um circo deprimente. O Twitter, a carta para a revista Caras, o vídeo montado para homenagear o noivo que também se matara dois meses antes. Nesse inacreditável mundo novo, a regra é se expor e ser seguido por milhares, mesmo no Além. Uma moça bonita, mãe de um casal de filhos, desperdiça a vida e dirige um roteiro multimídia para conseguir finalmente a fama após a morte. O suicídio perde o que lhe restava de privacidade, discrição, gravidade e pudor.
     
  • O deputado Jair Bolsonaro também aproveitou a mídia para ser mais Bolsonaro do que nunca. Ofendeu negros quando só queria, segundo ele, ofender gays. Já falou barbaridades piores. Desta vez, conseguiu a repercussão desejada porque difamou pela televisão uma celebridade, Preta Gil. Reafirmou a uma rádio que Preta “é promíscua” e que o pai da cantora, Gilberto Gil, “é outro que vive dando bitoquinha em homens”. Como Bolsonaro defende sua liberdade de expressão, eu também poderia escrever que ele não passa de um ignorante. Mas, como isso não é novidade, só pergunto como o deputado foi parar na Comissão de Direitos Humanos da Câmara.
  • O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em visita a Buenos Aires, foi condecorado pela Faculdade de Jornalismo de La Plata por sua “defesa da comunicação popular”. Chávez tirou do ar uma TV e várias emissoras de rádio. Aprovou leis que tornaram crime as críticas pesadas ao governo. Perseguiu oposicionistas. E ganhou um prêmio que é homenagem a um jornalista importante da Argentina, assassinado pelos militares, Rodolfo Walsh. O vexame internacional foi ainda maior pela coincidência: a anfitriã, a presidente Cristina Kirchner, é acusada de estar por trás dos sindicalistas que proibiram a circulação do jornal Clarín.
Como jornalista e ser humano, senti vergonha e impotência diante desses episódios e seus personagens. Nessas horas, a palavra não é suficiente.

Dinheiro compra saúde? CRISTIANE SEGATTO

Dinheiro compra saúde?

CRISTIANE SEGATTO


REVISTA ÉPOCA



Por que a fortuna de José Alencar não o salvou


  Reprodução
CRISTIANE SEGATTO 
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 15 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo. Para falar com ela, o e-mail de contato écristianes@edglobo.com.br
Uma onda de tristeza tomou o país na última terça-feira. Há muito tempo o povo brasileiro sabia que o ex-vice-presidente José Alencar poderia morrer a qualquer momento. Ainda assim, a partida do guerreiro foi sentida como se fosse um acontecimento inesperado. Sabíamos que ele estava indo, que precisava ir porque já tinha sofrido demais. Mas emudecemos quando a morte, de fato, chegou. 

Não é difícil entender por que Alencar era tão querido. Ele era a personificação do sonho brasileiro. O garoto pobre que trabalhou e venceu. O vendedor bom de conversa que transformou uma lojinha de Caratinga, em Minas Gerais, na maior indústria têxtil de artigos para cama, mesa e banho do mundo. Um batalhador que nunca perdeu a grandeza da humildade. 

A nota dissonante em sua biografia foi a recusa em se submeter ao exame de DNA no processo de reconhecimento de paternidade movido pela professora aposentada Rosemary de Morais, de 55 anos, moradora de Caratinga. Ela foi reconhecida por um juiz mineiro como filha do ex-vice-presidente. A família recorreu. Alencar sempre negou ser o pai, mas se recusou a fazer o teste. Ninguém entendeu. Foi um gesto incompatível com a imagem de honradez que ele construiu. O ser humano e suas incongruências... 

Alencar era, acima de tudo, um doente obediente que lutou pela vida, guiado pela fé inabalável em Deus. Submeteu-se a dezenas de intervenções médicas na tentativa de viver um pouco mais. Sempre que saía do hospital, sorrindo e acenando como se estivesse sempre pronto para a próxima, muitos brasileiros aproveitavam para desabafar: “ele só está vivo até hoje porque é rico e influente. Se tivesse que se tratar no SUS estaria morto há muito tempo”. 

A reclamação é legítima. É a expressão de quem sabe que o artigo da Constituição segundo o qual “saúde é direito de todos e dever do Estado” é, em grande parte dos casos, uma abstração. Milhares de brasileiros morrem de câncer todos os anos porque não podem sequer sonhar com um décimo da atenção e dos cuidados que Alencar recebeu. 

Isso é verdade. Mas é só meia verdade. O caso de Alencar é emblemático porque nos obriga a ver que o câncer é uma doença muito especial. O sucesso do tratamento depende de inúmeros fatores. Muitas vezes, esses fatores têm pouca relação com a condição social e com o volume da conta bancária. Parece bizarro dizer isso, mas vou explicar melhor. 

Os médicos não tratam o câncer baseados numa simples receita de bolo. Existem consensos médicos. São documentos criados para orientar a melhor forma de combater cada tipo de tumor. São listas com procedimentos gerais do tipo: adotar ou não uma cirurgia, que tipo de cirurgia, usar quais drogas em quais circunstâncias, recomendar ou não a radioterapia. 

Esses consensos são orientações gerais. Na avaliação de cada caso, em particular, a coisa é muita mais complicada. Há um momento em que surgem bifurcações no caminho. O médico, a família e o paciente precisam decidir se vão por aqui ou por ali. Toda e qualquer decisão tem graves consequências porque vai determinar o sucesso ou o insucesso do tratamento. 

No momento da decisão, meu amigo, nossa vida está nas mãos do médico. Por mais que ele nos informe sobre as alternativas disponíveis quem decide é ele. José Alencar entregou sua vida nas mãos dos médicos mais estrelados do Brasil e do mundo. Sua fortuna foi capaz de prolongar sua vida ou seu sofrimento (depende do ponto de vista) em quatro anos. Mas não o curou.
O câncer que matou o ex-vice-presidente foi um sarcoma descoberto em 2006. Nas três batalhas anteriores (câncer de rim e de estômago em 1997 e câncer de próstata em 2002), ele venceu a doença. Por isso, não acho correto dizer que ele batalhava havia 13 anos contra o câncer. A luta mesmo, a luta de verdade, começou em 2006. Os tumores anteriores foram vencidos sem dificuldade e não tiveram relação com o drama que ele viveu nos últimos quatros anos. 

O sarcoma (tumor que ocorre em tecidos moles como músculo, gordura, nervos) surgiu no retroperitônio, camada que fica entre o músculo das costas e o intestino. A primeira cirurgia, realizada em julho de 2006, foi marcada por uma divergência entre os cirurgiões Raul Cutait, do Hospital Sírio-Libanês, e Miguel Srougi, professor de Urologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 

Ambos já haviam operado Alencar anteriormente e têm muita experiência em suas respectivas áreas. Raul, em cirurgia do aparelho digestivo. Miguel, em urologia. “Sarcoma não é especialidade de nenhum dos dois, por isso optei que ambos ficassem encarregados da cirurgia”, me disse Alencar numa entrevista realizada no hospital em junho de 2008. Na ocasião, Raul e Miguel discordaram sobre o caminho a seguir. 

O motivo da discórdia foi o tipo de incisão cirúrgica que seria feita. Miguel decidiu não participar da operação. Ele estava no Sírio-Libanês operando outro paciente durante a cirurgia de Alencar. Quando fiz uma reportagem sobre o caso, em 2008, Cutait me disse que, a pedido do vice-presidente, chamou Miguel. “Chamei o doutor Miguel para dar algum palpite. Ele não fez nenhuma observação negativa a respeito do que havia sido feito.” 

Miguel nunca aceitou falar sobre o caso. Em novembro de 2006, ele publicou uma carta no jornal Folha de S. Paulorelatando o seguinte: “Durante o ato cirúrgico, realizado por outro profissional, fui convocado às pressas para resolver um impasse inesperado e nele permaneci por cinco minutos”. Miguel nunca explicou bem qual foi o impasse. Apenas afirmou “ter julgado que o tratamento proposto era incorreto.” 

Alguns dias depois, a análise do tumor extraído de Alencar revelou que não fora possível retirá-lo completamente e ainda havia células malignas às margens dele. Quando entrevistei Cutait em 2008, ele me disse que não havia restado um pedaço de tumor no corpo de Alencar, mas sim pontos microscópicos. “Nesse tipo de tumor nunca conseguimos fazer a ressecção sem deixar nenhum pontinho microscópico no lugar”, afirmou Cutait. 

Poucos meses depois da cirurgia feita por Cutait, o câncer voltou. Em outubro de 2006, Alencar foi operado em Nova York pelo médico Murray Brennan, do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center. Brennan é considerado o maior especialista do mundo em cirurgias de sarcoma. Onze meses depois, o câncer reapareceu. Depois disso, Alencar enfrentou sucessivas cirurgias, dezenas de internações e participou de testes de drogas experimentais. Lutou durante quatro anos, com todas as suas armas e todo o seu dinheiro. O sarcoma o levou. 

Numa das vezes em que entrevistei o vice-presidente, perguntei se ele soube da divergência entre os médicos durante a cirurgia de retirada do primeiro sarcoma, em julho de 2006. Ele respondeu: “Pode ser que tenha havido alguma coisa, mas eu estava anestesiado. Se você passar por uma anestesia geral, vai me dar razão. Não fica sabendo de nada. Eles evitaram falar disso comigo, porque eu era o paciente”. 

Perguntei, então, se ele aprovava o procedimento que havia sido adotado naquela cirurgia. Ele disse: “Sim. Eu não podia de forma alguma fazer qualquer tipo de avaliação. Quem sou eu? Sou leigo. Como um médico propositadamente vai deixar um pedaço do tumor? Não acredito. Sinceramente, prefiro não acreditar que tenha havido isso”.
  arquivo pessoal
ANDRÉ INFANTIO maestro enfrenta há 24 anos um câncer semelhante ao que matou José Alencar
Nesta semana, em que pensei tanto em Alencar, tive o prazer de conversar com outro lutador. É o maestro André Infanti, um paulistano de 73 anos que mora em Santos. Nos anos 60, ele tinha um conservatório de música no Ipiranga. Deu aula para muitos músicos que se tornaram profissionais. Entre eles, o cantor Roberto Carlos, no tempo do RC Trio. Como Alencar, Infanti teve um sarcoma do retroperitônio. Em que ano? 1988. 

Com todos os recursos que sua fortuna lhe proporcionou, Alencar viveu quatro anos desde a descoberta do sarcoma. Infanti viveu 24 anos. Sempre se tratou pelo SUS. Quando começou a sentir dores abdominais, os médicos que o atenderam em Santos acharam que ele tivesse gastrite. Quando Infanti foi finalmente levado para a sala de cirurgia, os médicos viram o sarcoma e decidiram não extraí-lo. Suturaram o abdome e decretaram que Infanti teria apenas um mês de vida. 

Infanti foi parar no Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Foi operado pelo cirurgião Fernando Gentil, que morreu pouco tempo depois. O sarcoma voltou inúmeras vezes e, desde então, Infanti foi operado pelo cirurgião Ademar Lopes, que era assistente de Gentil. 

Lopes decidiu tratar Infanti apenas com cirurgia. Até hoje, foram 27. Nada de quimioterapia ou qualquer outro recurso. “O sarcoma parece uma trepadeira. Vai tomando conta de tudo”, diz Infanti. “Na primeira cirurgia, foi possível retirar o tumor inteiro”, diz Ademar Lopes. “Mesmo quando o tumor é retirado completamente, ele volta em cerca de 60% dos casos. Quando o câncer está alojado muito perto da coluna, o cirurgião não pode extrair mais tecido para deixar uma boa margem de segurança. Por isso, o tumor volta.” 

Infanti acompanhou a dor de Alencar de um ponto de vista peculiar. “Temos a mesma doença, via o sofrimento dele e pensava que sou um privilegiado. Digo para todo mundo que sempre fui muito bem atendido. O SUS existe”, diz. 

Em uma de suas internações, Infanti estava triste, sem vontade de sair da cama. A equipe queria que ele se levantasse. Alguém teve a ideia de chamar até o quarto os músicos que, por acaso, haviam feito uma apresentação no hospital. Os músicos fizeram fila indiana no corredor e chamaram Infanti na porta do quarto. “Era uma orquestra linda que me chamava para regê-la”, diz.“Regi a abertura de Aida, de Giuseppe Verdi. Aquilo me levantou.” 

Com essa coluna estou querendo dizer que ser rico é ruim? Que bom mesmo é se tratar pelo SUS? Não. Estou apenas chamando a atenção para o fato de que coisas que repetimos como se fossem verdades absolutas podem ser mais complexas do que parecem. O sucesso do tratamento do câncer envolve múltiplas questões (características genéticas de cada paciente, capacidade individual de suportar determinadas medidas agressivas, acesso a drogas importantes, planejamento da cirurgia e da radioterapia etc). O sucesso depende, sempre, de difíceis decisões. Boas e más decisões são tomadas o tempo todo em qualquer lugar.

O MUNDO SEM HUMANOS 4

Ele sempre foi um realista sobre o qual o idealismo foi atirado ROGER COHEN

Ele sempre foi um realista sobre o qual o idealismo foi atirado
ROGER COHEN 
 The International Herald Tribune

O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/04/11

Perto de Cartago, na Tunísia, existe um cemitério americano onde repousam 2.841 militares mortos, vítimas da campanha norte-africana na 2.ª Guerra. Entre eles está um jovem de Stillwater, Minnesota, chamado Robert Lund. Ele tinha 25 anos quando foi morto em 29 de março de 1943. Há muito tempo, eu me sentei numa varanda da linda cidadezinha de Stillwater e procurei visualizar o vendaval que conseguira tirar um jovem do meio de um plácido continente para morrer em uma terra distante.
Os EUA são um país inquieto. Eles se construíram recebendo os povos do mundo e por isso não podem virar as costas para o mundo. Décadas depois que ele foi morto, a morte de Lund ainda assombrava a família de minha primeira mulher. Com a volta dos retumbantes cabeçalhos da "Guerra do Deserto" contra Hitler - Tobruk, Benghazi, Trípoli - e o retorno de forças americanas à Líbia, estive pensando em Lund e no poder americano.
As limitações desse poder desafiaram o presidente Barack Obama. Ele sempre foi um realista sobre o qual o idealismo era atirado. Ele adere, por experiência, ao meio termo. Ao assumir o governo num país exaurido pela guerra, ele encontrou vários argumentos para fortalecer sua inclinação para encerrar conflitos.
O excepcionalismo americano - a noção dos EUA como um farol moral transformador para o mundo - o deixou pouco à vontade. O atlantismo, fruto da guerra que tirou a vida de Lund, causou pouco efeito emocional num homem que ainda não tinha 30 anos quando a Guerra Fria terminou. Os empregos desaparecendo no front doméstico eram seu domínio.
Mas esse presidente cauteloso, que vem sutilmente tentando reduzir o alarde do poder americano - com razão -, envolveu o país em um novo conflito na Líbia, no qual seu próprio secretário de Defesa sustenta que os EUA não têm nenhum "interesse vital". Ele se somou a uma longa linhagem de líderes americanos na descoberta do imperativo moral inseparável da ideia americana.
Havia muitas boas razões para ficar fora da Líbia. Uma força motriz da primavera árabe é o fato de ela ser nativa. Obama não precisa de nenhuma instrução sobre colonialismo. Mas será que ele, o primeiro presidente afro-americano do país, poderia ficar passivo enquanto as forças de Muamar Kadafi realizavam um massacre em Benghazi? Talvez não tivesse havido um massacre, apenas mais um modesto banho de sangue. Kadafi não é Hitler, nem sequer Saddam Hussein. Mas sua natureza é homicida e por isso eu digo que Obama fez bem em traçar uma linha divisória na areia líbia.
Eu era contrário a uma zona de exclusão aérea líbia, depois de ter visto sua inutilidade na Bósnia. Acho que Obama encontrou, com bombas, seu padrão inicial; e o fez com um forte mandato da ONU refletindo sua diplomacia de reparo dos últimos anos.
Mas e agora? A velocidade na deposição de Kadafi, o objetivo do qual os líderes ocidentais não podem recuar, é fundamental. Todos sabemos o que ocorrerá se essa guerra Mad Max supurar: a coalizão se fragmenta, jihadistas se infiltram num Estado falido com fronteiras porosas, a missão começa a se arrastar.
Kadafi pode seguir três caminhos: uma derrota militar, o menos provável dado o caótico engarrafamento de rebeldes nas estradas costeiras; uma saída negociada, aposta arriscada apesar dos esforços da Turquia; ou uma deserção de seu círculo interno, a avenida mais promissora.
O chanceler Moussa Koussa fugiu para Londres. Ele é o maior prêmio até agora de um intenso esforço britânico e americano para atrair assessores de primeiro time. O tom da entourage de Kadafi continua mudando: primeiro o pânico, depois tiradas explosivas, agora queixoso. Isso é animador. Esse regime exala insegurança. As conversações com a Líbia nos últimos anos implicam que autoridades ocidentais de peso têm relações com as pessoas centrais que precisam, como Koussa, mudar de lado. Abdullah Al-Sanousi é um alvo importante.
Obama, após adotar em último recurso a ideia radical de que "os EUA são diferentes", após criticar países que "capazes de fechar os olhos para atrocidades em outros países" (as potências ascendentes - Brasil, Rússia, Índia, China - que se abstiveram na votação sobre a Líbia), agora precisa apresentar sua interpretação burilada do excepcionalismo americano.
Nas circunstâncias, seu vice-conselheiro de Segurança Nacional, Denis McDonough, é também de Stillwater. É uma coincidência, mas há um vínculo: os EUA são mais fortes quando alinham seus valores e interesses e não são eles mesmos quando viram as costas para o significado do sacrifício de Lund. Os americanos compreendem isso. É por isso que o imperativo moral não é inseparável apenas da ideia americana, é inseparável da reeleição. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

Supertime de vôlei ANCELMO GÓIS

Supertime de vôlei
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 02/04/11

Vem aí o RJX, supertime carioca de vôlei masculino patrocinado por Eike Sempre Ele Batista. Orçado em R$ 13 milhões anuais, o time espera contar com três ou quatro atletas de nível de seleção. O RJX estreia em outubro na temporada 2011/12 da Superliga, sob o comando do técnico Marcos Miranda.

O foco é o Rio...
Eike Batista diz que seu objetivo é não deixar o Rio perder sua força no vôlei: 
— Afinal, foi na cidade que o vôlei deslanchou, quando Braguinha (Antônio Carlos de Almeida Braga) criou, em 1981, o time Atlântica/Boavista. Por causa do foco no Rio, o RJX vai treinar 720 meninos de cinco favelas pacificadas. 

Selo de qualidade...
 
Embora Bernardinho vá continuar na Unilever, com quem tem contrato, e não participe diretamente do RJX, foi dele todo o planejamento do novo time: — É o nosso selo de qualidade — diz Eike.

Dilma é pop
Depois de Shakira, agora é Bono Vox que quer uma audiência com Dilma. 

Dionísio eterno
Os economistas Edmar Bacha e Monica de Bolle concluíram um livro em homenagem a Dionísio Dias Carneiro, o grande colega deles, falecido em 2010. “Novos dilemas da política econômica — Ensaios em homenagem a Dionísio Dias Carneiro” (GEN/LTC Editora) reúne ensaios de economistões como Affonso Celso Pastore, Armínio Fraga e Pedro Malan. 

Zezé Macedo
“A Vingança do espelho”, a história da saudosa Zezé Macedo, comediante que participou de 108 filmes nacionais, estreia no teatro, em julho. Escrita por Flávio Marinho, terá direção de Amir Haddad. Márcia Cabrita fará o papel-título. 

Três seios
O vídeo de uma entrevista em que Ângela Bismark anuncia de própria voz, sem montagens, que vai implantar um... terceiro seio (!) passou boa parte do dia, ontem, entre os mais tuitados da rede. Era mentirinha de 1ode abril, criada pelo site sensacionalista. com.br, que faz “notícias de humor” parecerem verdade. 

Os ‘Joões’ 
A família de Garrincha liberou imagens do eterno camisa 7 da seleção e do Botafogo para o filme “Simplesmente passarinho”, documentário sobre Mané, segundo seus principais marcadores — os “Joões”, como ele os chamava. O longa é dirigido por André Felipe de Lima. 

Galinho em alta 
Zico, o eterno ídolo rubro-negro, segue com prestígio na Europa. Foi cogitado para ser técnico do Sporting, de Lisboa.

Joio e trigo
Quatro policiais do 2o- BPM, em Botafogo, no Rio, foram transferidos em janeiro por “fracassarem” em suas missões. Um dos “fracassos” se refere ao policiamento de um trecho do Flamengo onde houve, em 30 dias, 11 roubos impunes. É o novo método do batalhão, que avalia o trabalho de cada PM. 

Aliás...
A adoção deste modelo teria sido responsável pelo aumento das prisões de bandidos na área do 2o- BPM, que passaram de 19, em janeiro, para 33 em fevereiro. 

Flamengo é azul

Hoje, em alusão ao Dia Mundial do Autismo, o Flamengo entrará em campo, no Engenhão, contra o Duque de Caxias, de mãos dadas com 22 crianças autistas. Eu apoio. 

Boletim médico

O acadêmico Hélio Jaguaribe, 88 anos, está internado no Hospital Samaritano, no Rio. Sofreu uma queda e fraturou uma vértebra.

Na frente de SP 
O Rio deve fechar 2011 como o maior exportador brasileiro para os EUA. Vai sair de US$ 3,8 bi para US$ 6 bi. 

Favela sarada
Quarta, Dia Mundial da Atividade Física, será inaugurada no Complexo do Alemão a Academia da Praça, que levará à favela aulas gratuitas de musculação, ginástica, ioga, tai-chi-chuan e capoeira. É o mesmo projeto que, no verão, fica nas praias da Zona Sul.

ZONA FRANCA
 João Marcelo Garcez lança “Do suave milagre à odisseia do tri — a espetacular saga de um time de guerreiros”, hoje, nas Laranjeiras.
 Segunda, Chico Alencar e Luiz Pinguelli Rosa participam de debate sobre energia nuclear no Sinpro.
 Instituto Cravo Albin abre hoje mostra de 40 fotos de Ricardo Poock sobre intérpretes de Nelson Cavaquinho.
 O escritório Schimidt, Valois, Miranda, Ferreira & Agel participa de encontro de Direito internacional minerário.
 Projeto Douradinho, de incentivo à leitura, está no interior paulista. 
 Morar Mais por Menos oferece coquetel dia 13 de abril em Milão.
● O Congresso Sustentável, à frente Marina Grossi, este ano, será no Píer Mauá, dia 27 de setembro.

O MUNDO SEM HUMANOS 3

Agora vai ILIMAR FRANCO

Agora vai
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 02/04/11

A presidente Dilma Rousseff quer nomear o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) para a Secretaria de Micro e Pequenas Empreas. Foi por isso que a secretaria, vinculada à Presidência, foi criada por projeto de lei, e não por Medida Provisória. A expectativa é que sua aprovação pelo Congresso ocorra em três meses. Tempo suficiente para que o presidente do PT, José Eduardo Dutra, que está de licença médica e é suplente de Valadares, assuma o mandato no Senado.

O PT e o Código Florestal 
Entre as emendas que o PT vai propor ao relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que altera o
Código Florestal, está a manutenção da área mínima de preservação permanente (APP) nas margens de rios em 30 metros. O elator reduziu para 15 metros. No caso de topos de morro, o PT propõe que sejam APPs os com altura mínima de 100 metros e inclinação média maior que 25°. Os petistas conservam ainda a exigência de reserva legal para todas as propriedades; permitem o cômputo das APPs no cálculo da Reserva Legal; e suspendem a anistia dada por Aldo para quem desmatou irregularmente até julho de 2008. 

"Lamentavelmente, o problema ambiental existe, não é invenção de ONG” — Aldo Rebelo, deputado (PCdoB-SP), relator das mudanças no Código Florestal

NAMORICO. No dia em que as atenções estavam todas voltadas para o velório do ex-vice-presidente José Alencar, quarta-feira, o
senador tucano Cássio Cunha Lima (PB) foi ao Palácio do Planalto. Eleito pela oposição, reuniu-se com o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais). Cássio, que vai assumir o mandato devido à decisão do STF de não aplicar a Lei da Ficha Limpa nas
eleições de 2010, disse: “Sou de oposição, mas prezo o diálogo”. 

O primeiro boné
Seguindo tradição do expresidente Lula, Dilma Rousseff tirou foto ontem com o boné da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), mas o Planalto não quis divulgar a imagem. O encontro foi fechado.

Direitos da mulher
Ao receber a pauta da Marcha das Margaridas e ouvir a preocupação com a violência contra a mulher no meio rural, a presidente Dilma disse que a Contag também deveria reivindicar a implantação de creches e escolas infantis no campo.

Chalita e o PMDB

A despeito de o PSB e o PSD terem adiado o plano de fusão para depois das eleições municipais, o deputado Gabriel Chalita (PSB-SP) continua negociando sua ida para o PMDB, com o plano de ser candidato à prefeitura de São Paulo. Antes das conversas com Kassab, o PSB também havia prometido a ele a candidatura à prefeitura. “Eles (do PSB) também tinham prometido que eu seria candidato ao Senado”, diz Chalita, cético.

Ele voltou
Afastado do PSDB desde o fim do governo Fernando Henrique, o cientista político Antonio Lavareda voltou a trabalhar para os tucanos. Hoje, no encontro de governadores, ele apresenta uma pesquisa sobre a situação do Brasil real.

Reestruturação
 
O PSDB vai reestruturar o partido em 15 estados — os sete que não elegeram nenhum deputado federal e os oito que elegeram apenas um. Os tucanos querem atrair novas lideranças para que deixem de ser nanicosnesses locais.


 CANDIDATO derrotado ao Senado pelo PT do Piauí, Antonio José Medeiros foi nomeado assessor especial do ministro Fernando Haddad (Educação). 
 A SECRETARIA de Direitos Humanos da Presidência realiza, terça-feira, a conferência internacional Comissão da Verdade — Uma Perspectiva Comparada Brasil/Alemanha/África do Sul.
● ALERTA do senador Francisco Dornelles (PP-RJ): “O esforço fiscal do governo nos dois primeiros meses do ano deu um superávit de R$ 16 bilhões, que foi anulado por uma despesa de R$ 27 bilhões em juros. O BC deveter parcimônia no aumento da taxa Selic.

Visita de Obama ajudou a embalar popularidade JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

Visita de Obama ajudou a embalar popularidade
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O Estado de S.Paulo - 02/03/11

A visita de Barack Obama ao Brasil impulsionou a popularidade de Dilma Rousseff e a ajudou a ter um começo de governo mais bem avaliado do que seus antecessores - inclusive o de Lula.

As entrevistas do Ibope coincidiram com a passagem do presidente dos EUA, seus discursos elogiosos ao País e a sua anfitriã. Isso fez a avaliação do governo Dilma melhorar 9 pontos porcentuais ante a pesquisa Datafolha feita pouco antes da chegada de Obama. O "ótimo/bom" pulou de 47% para 56% em cinco dias.

A influência positiva da visita fica clara em outra pergunta da pesquisa CNI/Ibope. A visita de Obama foi o segundo assunto mais lembrado pelos brasileiros entre as notícias sobre o governo Dilma. Só perdeu para o reajuste do salário mínimo.

Na comparação com os primeiros meses de Lula e FHC (nos dois mandatos de cada um), Dilma se sai melhor. Tem saldo positivo de 51 pontos. É mais do que os melhores resultados dos antecessores: 44 pontos de Lula em março de 2003, e 29 de FHC em março de 1995.

Isso significa que Dilma é mais popular do que Lula? Longe disso. O ex-presidente terminou o mandato com 80% de "ótimo/bom" e saldo de 78 pontos. A presidente está a 27 pontos de quebrar esse recorde. Não é nada fácil.

E pode ficar mais difícil no futuro, se as políticas de controle da inflação seguirem com pouco resultado. Dilma herdou o governo surfando a onda de 8% crescimento da economia. O otimismo ofuscou a alta dos preços.

A combinação está se invertendo. A economia tende a desacelerar nos próximos meses. Ao mesmo tempo, as projeções inflacionárias continuam apontando para cima.

Logo, a popularidade de Dilma vai depender de ela conseguir ter sucesso no combate à inflação no curto prazo. Por ora, a alta de sua aprovação indica que o consumo continua aquecido. Se a inflação for de demanda, a boa notícia de hoje pode ser a má notícia de amanhã.

GOSTOSA

Os demônios FERNANDA TORRES

Os demônios
FERNANDA TORRES
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/04/11 

Não se deve crucificar artistas nem empresários; ninguém deseja a pecha de onerar o povo para existir


NO CLÁSSICO romance de Fiodor Dostoiévski "Os Demônios", revolucionários radicais atuam clandestinamente, incitando a população a vaiar o poeta Stiepan Trofímovitch durante o sarau de uma pequena cidade do interior da Rússia. O objetivo do grupo é exterminar uma arte considerada burguesa.
Trofímovitch responde com veemência à agressão:
"Eu proclamo (...), proclamo que Shakespeare e Rafael estão acima da libertação dos camponeses, acima da nacionalidade, acima do socialismo, acima da nova geração, acima da química, acima de quase toda a humanidade, porque são o fruto, o verdadeiro fruto de toda a humanidade e, talvez, o fruto supremo, o único que pode existir! É a forma da beleza já atingida, e sem atingi-la eu talvez já não concordasse em viver..."
O caso de amor e ódio da arte com a sociedade provoca reações passionais. No Brasil, já fui testemunha de pelo menos um momento de ojeriza explícita que culminou com o fechamento sumário da Embrafilme.
Os mesmos ataques de agora, calcados na dependência do dinheiro público e na formação de panelas culturais, culminaram com a decisão do ex-presidente Fernando Collor de decretar o fim da estatal sem temer represálias.
O cinema demorou mais de dez anos para se reestruturar.
Antes da criação da Lei Sarney, em 1986, os subsídios culturais aconteciam por meio de patrocínio, dinheiro dito bom, de propaganda das empresas. Mas chegou-se à conclusão de que esse sistema era elitista e favorecia os artistas mais conhecidos.
O modelo foi enterrado e as leis de incentivo surgiram para democratizar a relação do empresariado com a cultura.
Durante os oito anos de FHC, a política do Planalto ampliou os subsídios e deixou que o mercado se autorregulasse. Quando Lula assumiu, o MinC decidiu exercer um controle mais incisivo.
As dúvidas em relação à necessidade dos artistas consagrados utilizarem tais benefícios vem ganhando força desde então.
O ex-ministro da Cultura Juca Ferreira já chamava a atenção para os dividendos que a associação de um artista de renome com marcas e produtos trazia para as empresas e defendia, em tais casos, a entrada de dinheiro bom na negociação.
Carmen Mello, produtora associada a mim e a minha mãe, tenta desde 2008 convencer as firmas envolvidas a empregarem, como antigamente, sua verba de propaganda nos espetáculos que produz. Mas, sem as leis de isenção, não há interesse.
Não se deve crucificar artistas e empresários. Ninguém deseja para si a pecha de onerar o povo para poder existir. Há mais de 20 anos, todo o mercado foi direcionado para agir segundo as normas vigentes. A volta do patrocínio precisaria ser motivada.
Maria Bethânia estreou seu espetáculo de poesia sem apoio de nenhum benefício fiscal. A bilheteria do teatro do Fashion Mall, no Rio de Janeiro, cobriu os custos e o público fiel foi suficiente para lotar a curta temporada sem maiores gastos com publicidade.
Bethânia produziu uma obra de delicadeza tão notável que incitou Hermano Vianna a levá-la para a internet, de graça e por toda a vida. Todas as empresas contatadas desejaram se aliar ao projeto, mas insistiram nas leis de incentivo.
Bethânia cobrou pela elaboração, feitura e doação "ad eternum" de seus direitos de imagem para veiculação gratuita, R$ 1.643 por vídeo. O Minc, que aprovou outros sites por valores até superiores, entendeu que era justo.
A manchete na primeira página afirmando que Bethânia receberia R$ 1,3 milhão para fazer um blog, apesar de verdadeira, sugere falcatrua e má-fé.
O site "O Brasil Precisa de Poesia" se transformou no bode expiatório da encruzilhada da política cultural brasileira. Aberrações graves poderiam ter servido de exemplo, mas queimar uma feiticeira da dimensão de Bethânia tem um valor insubstituível do ponto de vista do escândalo.
O Brasil subsidia infindáveis setores de sua produção, o papel que imprime este jornal inclusive. Do total desse investimento, um por cento é destinado à cultura.
A economia criativa, propulsora de grandes negócios no mundo civilizado, está engessada no nosso país. A arte foi estatizada e se transformou, à vista do público, em um pária dependente do tesouro.
Talentos como o de Bethânia teriam um valor inestimável e seriam remunerados à altura se encontrássemos uma maneira de fazer a poesia e a educação participarem da economia da sétima potência mundial.
Algum carro, xampu ou refrigerante se interessaria em associar sua imagem a Guimarães Rosa e a Fernando Pessoa?

Surpresa positiva não altera perspectiva de um ano morno FERNANDO SAMPAIO

Surpresa positiva não altera perspectiva de um ano morno

FERNANDO SAMPAIO

O Estado de S.Paulo - 02/04/11

O volume de produção da indústria brasileira foi, em fevereiro, um pouco maior do que se esperava. Essa discrepância justifica uma revisão nas projeções para a evolução da produção industrial até o fim do ano? A resposta, à luz do conjunto das informações disponíveis, é não. Continuo a avaliar que a produção industrial deverá ter crescimento de 3%, em 2011, muito abaixo dos 10,4% de 2010.

A projeção da LCA para fevereiro, que coincidia com a projeção mediana dos analistas, era de que a produção industrial superaria a de janeiro em 1,0%. O IBGE apurou alta de 1,9% - a maior expansão mensal desde março de 2010. Esse número deveria ser interpretado como evidência de que a atividade industrial iniciou uma forte reaceleração?

Em rigor, houve sim uma reaceleração nos primeiros dois meses do ano, para a qual deve ter contribuído a aceleração da economia global, que estimulou a exportação de manufaturados. No bimestre janeiro-fevereiro, a taxa mensal média de crescimento da produção da indústria do País (sempre sobre o mês imediatamente anterior, feito o ajustamento sazonal dos dados) foi de 1%, ao passo que no trimestre final de 2010 essa taxa havia sido levemente negativa (-0,2%).

O ajustamento sazonal dos dados, aliás, foi particularmente difícil em fevereiro, porque de modo atípico o feriado de carnaval foi comemorado apenas em março. Esse "efeito calendário" dificultará, portanto, também a interpretação dos dados de atividade econômica relativos ao terceiro mês do ano. A estimativa da LCA é de que o IBGE vai apurar queda da produção industrial de fevereiro para março da ordem de 1%. Se isso vier a se confirmar, o 1º trimestre do ano fechará com taxa mensal média de crescimento de 0,4% - o que ainda configuraria uma aceleração da indústria comparativamente ao 4º trimestre de 2010, porém bem mais suave do que indicam os dados de janeiro-fevereiro.

Olhando à frente, as exportações deverão seguir como fator de aceleração da produção industrial. Mas a dinâmica dos estoques deverá atuar no sentido contrário: a proporção de empresas que relatam ter mais produtos em estoque do que desejariam já supera a das empresas que gostariam de estar com estoques mais altos. E a política econômica tem sido mobilizada com o intuito de moderar a demanda interna. O impacto das iniciativas já adotadas (aumentos de Selic, cortes no Orçamento, medidas de contenção do crédito, entre outras) ainda não se fez sentir de todo. E medidas adicionais (a começar por mais um aumento da Selic no dia 20 de abril) são bastante prováveis.

É ECONOMISTA, SÓCIO-DIRETOR DA LCA CONSULTORES

O MUNDO SEM HUMANOS 2

Os governos não podem tudo KÁTIA ABREU

Os governos não podem tudo
KÁTIA ABREU 
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/04/11

Com metade do dinheiro do trem-bala, poderíamos ampliar portos do Nordeste e do Norte, com sobras


O SUCESSO do agronegócio brasileiro não foi o resultado da ação do setor público, mas da livre iniciativa, do espírito empreendedor de nossos agricultores, que se moveram para os ermos do Centro-Oeste, correndo riscos desproporcionais e hipotecando na empreitada o seu próprio destino.
Há 40 anos, essa região era ainda um quase vazio econômico, desprovida de infraestrutura, sem rodovias ou acesso a portos, sem falar na ausência de facilidades urbanas, que fez da vida desses modernos pioneiros e de suas famílias uma saga de grandes privações e padecimentos pessoais.
A história deu certo e a produção se elevou tanto que a escala econômica dos problemas atingiu um nível-limite. O governo não pode mais fingir que o Centro-Oeste não existe. Quando se inicia nova colheita recorde de grãos e de fibras, repete-se o velho drama dos caminhões se arrastando por estradas absurdas para, ao final, acabarem retidos em filas intermináveis nos acessos aos portos do Sul e do Sudeste, congestionados e precários, mas os únicos a que os produtores podem recorrer.
A geografia da produção mudou, mas as estruturas logísticas continuam a corresponder ao Brasil de ontem. Se tomarmos como divisor geográfico o paralelo 15 sul, verificamos que ao norte dessa linha estão localizados 52% da produção nacional de soja e milho. No entanto, apenas 16% do total da produção é escoado pelos portos da região, enquanto os demais 84% são forçados a recorrer aos portos do Sul e do Sudeste.
Além dos inconvenientes desses sistemas logísticos, os custos adicionais de transporte capturam parte da renda dos produtores, o que ajuda a explicar o paradoxo de uma agricultura competitiva nos seus processos de produção, ao lado de agricultores empobrecidos.
Estudo recente mostra que o transporte de uma tonelada de soja da fazenda ao porto custa, em média, US$ 20 a um agricultor argentino, US$ 18 a um norte-americano e US$ 78 a um brasileiro. Nossos agricultores são melhores, mas mais pobres que seus concorrentes, já que não podem repassar seus custos particulares para preços que são fixados nas Bolsas internacionais.
Um desenho logístico racional faria a inversão dessas rotas. A produção dos territórios acima do paralelo 15 sul pode e deve ser escoada pelos portos do Norte e do Nordeste, num sistema que chamamos Arco Norte, que consiste em rodovias, hidrovias, ferrovias e portos que demandam investimentos absolutamente compatíveis com os recursos do governo brasileiro. Muitas dessas estruturas já existem, precisando apenas de obras de ampliação e melhoramento. Outras podem ser concedidas à iniciativa privada.
Os governos não podem tudo. Principalmente, não podem tudo ao mesmo tempo. Por isso, são medidos na história pela qualidade das escolhas que fazem.
Neste momento em que, como bem expressou um editorial da Folha, a infraestrutura do país segue rumo ao colapso, o governo deve à sociedade uma explicação cabal e convincente sobre a razão de promover com dinheiro e facilidades públicas um trem de alta velocidade entre o Rio e São Paulo, ao custo de mais de R$ 33 bilhões. Será que a economia não tem outros problemas e outras prioridades?
Com metade desse dinheiro, poderíamos ampliar e modernizar os portos de Porto Velho, Santarém, Belém e Itaqui, no Norte, e de Pecém, Suape e Salvador, no Nordeste. Sobraria ainda dinheiro para adequar as rodovias que alimentarão essas rotas, como a Cuiabá-Santarém, e concluir as hidrovias do Madeira e do Tocantins.
Para tudo isso serão necessários cerca de R$ 14 bilhões, menos da metade do trem-bala e com um efeito extraordinário sobre a produção, a renda dos agricultores e a diversificação territorial da economia, sem falar no alívio que representará para as estruturas logísticas do Sul e do Sudeste.
Numa sociedade democrática, os governantes não podem ter caprichos. Os recursos do Estado pertencem à sociedade e a ela devem reverter.

Emprego, produtividade e crescimento PAULO PAIVA


Emprego, produtividade e crescimento

PAULO PAIVA

O Estado de S.Paulo - 02/04/11

O bom desempenho recente da economia brasileira resultou, no ano passado, no menor nível de desemprego desde que o IBGE mantém estimativas regulares desse indicador. Em dezembro de 2010 o desemprego para as regiões metropolitanas atingiu 5,3%, 64% menor do que o verificado cinco anos antes. A taxa de desemprego informa a proporção das pessoas economicamente ativas (PEA) que, na semana de referência, estavam à procura de emprego.

Uma observação mais detalhada na estrutura sociodemográfica dessas taxas aponta para grandes variações. Por exemplo, o desemprego feminino é bem superior ao masculino. Em dezembro do ano passado, enquanto 4,1% dos homens estavam desempregados, o desemprego entre as mulheres chegou a 6,7%. Entre 2005 e 2010 essa diferença aumentou, possivelmente indicando que a empregabilidade dos homens é maior do que a das mulheres no período de expansão da economia.

Considerando a distribuição etária, as diferenças nas taxas de desemprego são também expressivas. O desemprego das pessoas entre 25 e 44 anos era de apenas 4,4%, enquanto os jovens apresentavam taxas muito mais elevadas - 21,1%, para os de 15 a 17 anos; e 11,5%, para os de 18 a 24 anos de idade.

O desemprego segundo escolaridade tem igualmente suas diferenças. Trabalhadores sem instrução e com até 8 anos de educação tinham a menor taxa de desemprego (4,4%), abaixo inclusive do nível agregado para o conjunto da PEA. Ela chegou a 7,4% para trabalhadores com 8 a 10 anos de estudo e a 5% para os com 11 ou mais anos de escolaridade.

Essas informações sugerem que, apesar de baixo desemprego, o mercado de trabalho no Brasil não opera em condições ótimas de eficiência. Por um lado, alto nível de desemprego de jovens significa que, por causa da pobreza, muitas pessoas que deveriam estar na escola estão à procura de emprego. Por outro lado, diferenças no desemprego por gênero e por grau de escolaridade, com taxas menores para trabalhadores com baixa escolaridade, podem indicar falta de mobilidade no emprego.

Crescimento econômico, com estímulo à educação e inclusão social, poderá contribuir para a redução do desemprego dos jovens. Contudo, para as outras distorções torna-se necessário rever o marco regulatório do mercado de trabalho. A legislação trabalhista é um fator inibidor da mobilidade da mão de obra. O argumento de que a rotatividade resulta em desemprego mais alto para os trabalhadores menos qualificados não tem suporte nas evidências.

Seria, então, o momento para uma revisão da legislação trabalhista, buscando dar maior flexibilidade ao mercado de trabalho e, em consequência, contribuir para o aumento da produtividade.

Do debate recente sobre o salário mínimo emergiu uma excelente oportunidade para essa tarefa, perdida pela oposição que preferiu, mais uma vez, jogar para a plateia. O governo apresentou uma alternativa sobre a determinação do salário mínimo abrindo uma porta para que questões de relações trabalhistas pudessem ser objeto de negociações coletivas, e não de legislação. O mesmo princípio poderia ser estendido incluindo temas elencados no artigo 7.º da Constituição federal e o poder normativo da Justiça do Trabalho. Uma agenda positiva sobre relações trabalhistas e emprego deveria ainda incluir a redução dos encargos sobre a folha salarial, a eliminação do imposto sindical compulsório e maior amplitude para acordos sobre bancos de horas, já normatizados pela Lei n.º 9.691/98.

Na mesma linha, poder-se-ia abandonar medidas e propostas que caminham na contramão das tendências modernas, como a inapropriada adoção do novo sistema de ponto eletrônico, a adoção da Convenção 158 da OIT, sobre demissão imotivada, e a PEC n.º 231/95, que trata da redução da jornada de trabalho e do aumento da multa rescisória. Enfim, há uma oportunidade ímpar para a modernização das relações trabalhistas no Brasil visando a estimular o emprego e a produtividade. A hora é esta.

PROFESSOR DA FUNDAÇÃO DOM CABRAL, FOI MINISTRO DO TRABALHO E DO PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO DO GOVERNO FHC

Calote é a saída para Portugal CLÓVIS ROSSI

Calote é a saída para Portugal
CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/03/11

Ele não é uma questão ideológica, como não foi na Argentina, mas sim uma necessidade político-social


NÃO É a eleição antecipada, agora marcada para 5 de junho, que vai resolver a crise portuguesa. Vai apenas adiar a verdadeira -e dolorosa- solução, que é o calote ao menos parcial na sua dívida.
Não é uma questão ideológica, como não foi na Argentina, dez anos atrás. É uma questão de falta de qualquer outra alternativa.
Por partes:
1: Por que a eleição não resolve? Porque o lógico é que ganhe um dos dois partidos habitualmente majoritários de Portugal, o Socialista ou o Social Democrata, que, apesar do nome, é de direita. Ambos se comprometeram com os pacotes de austeridade já aprovados.
Foram três, mas eles não bastaram para que o mercado, esse ente sem rosto mas todo-poderoso, ficasse satisfeito.
Tanto não ficou que, ontem, exigiu juros de 5,793%, na média, para aceitar papéis portugueses no valor de 1,654 bilhão, quase o dobro dos 3,1% cobrados em julho passado, antes, portanto, dos pacotes de austeridade.
O quarto pacote foi justamente o que derrubou o governo do socialista José Sócrates, porque, desta vez, o oposicionista PSD não aceitou votar com o governo.
Deve ter pesado nessa decisão a marcha de umas 300 mil pessoas pelo centro de Lisboa, no dia 12, convocada pelo movimento "geração à rasca" (em apuros).
O protesto era -e continua vivo nas redes sociais- pela precariedade laboral que afeta um em cada cinco portugueses e pelo desemprego, que machuca 11,2% da força de trabalho do país.
2: Ora, se já há uma geração à rasca, qualquer pacote de austeridade só pode acrescentar apuros. O quarto -e rejeitado- propunha, por exemplo, o congelamento das aposentadorias que estivessem acima de certo valor.
Logo, o lógico é supor que a eleição terminará com um índice formidável de abstenção (na eleição presidencial de janeiro, já foi de impressionantes 54%) ou com algum tipo de voto de protesto.
De uma forma ou de outra, o novo governo português carecerá de força política para impor outro pacote de austeridade.
3: Sem ele, a opinião virtualmente consensual na Europa é a de que Portugal terá que recorrer à ajuda conjunta da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional, que, por sua vez, imporão ajustes ainda mais draconianos.
O problema é que a ajuda não tira da "rasca" os países que a ela recorrem. É só ler o que escreve para o "Financial Times" Desmond Lachman, pesquisador do American Enterprise Institute, sobre Grécia e Irlanda, os dois países já socorridos:
"Desde que embarcou no seu programa de austeridade fiscal, aproximadamente dois anos atrás, a economia irlandesa se contraiu mais de 11%. Entre os últimos trimestres de 2009 e 2010, a economia da Grécia declinou 6,5% e, ao fim do ano [passado], as vendas no varejo estavam 20% abaixo das de um ano antes."
Tentar extrair mais sangue ainda também dos portugueses é uma inviabilidade política. Os bancos credores, com os juros que estão cobrando, já se forraram o suficiente para aguentar um calote ou, na linguagem contemporânea menos agressiva, um "hair cut".
Melhor cortar o cabelo de quem tem de sobra do que a carne de uma sociedade já exaurida.

O MUNDO SEM HUMANOS 1

Triângulo da alegria RUY CASTRO

Triângulo da alegria
RUY CASTRO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/04/11

RIO DE JANEIRO - Na condição de passageiro profissional -nunca dirigi um carro-, sempre vi com simpatia a categoria dos taxistas. O fato de não saber onde fica a rebimboca da parafuseta não me impede de apreciar o drama desses homens que passam 12 horas por dia amarrados a uma poltrona, enfrentando engarrafamento, calor, barulho, fumaça, ônibus, caminhões, grosserias, o irritante bibi das motos e, mesmo assim, principalmente em São Paulo, não gostam de ligar o ar condicionado.
Pela vida, sentado no banco de trás ou do carona, a quantidade de motoristas que conheci deve ter superado em número os elencos de Balzac e Zola em seus romances e, em figuras da psicologia, todos os desvios e transtornos do catálogo.
Já viajei com motoristas neuróticos, estressados, depressivos, hipocondríacos, bipolares, dementes, delirantes, amnésicos, fóbicos, obsessivos, compulsivos, sonados, insones, bulímicos, anoréxicos, hiperativos e sujeitos a tiques.
Você dirá que, em 30 minutos de corrida, é impossível diagnosticar o problema do taxista. Também acho. Na verdade, o que me interessa neles não é a doença, mas o que fazem com ela. Cada qual tem seu estilo de vencer a exasperação.
Meu favorito é um motorista do ponto de táxis do hotel em que me hospedo há mais de dez anos em São Paulo. Chama-se Fernando, tem uns 60 anos, cabelos brancos e parece mal-humorado. Mas não é.
Quando o trânsito para naqueles infernais nós, ele tira do porta-luvas um triângulo. Um triângulo metálico, prateado, e um bastão idem -instrumento vital na cozinha rítmica dos baiões, xaxados, cocos e outros ritmos do Nordeste de onde, um dia, ele saiu.
Fernando põe para tocar um CD de Luiz Gonzaga. Segura o triângulo com a mão esquerda, o bastão com a direita e, por alguns minutos, com a maior competência e alegria, torna melhor a vida dele e a minha.

O mesmo espaço MERVAL PEREIRA

O mesmo espaço
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 02/04/11

O clima de harmonia aparente em que terminou o casamento do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com o Democratas está lentamente sendo poluído pelas declarações públicas de ambos os lados, em uma luta feroz para suplantar o outro na disputa pelo mesmo nicho eleitoral, um conservadorismo que ainda não ousa dizer seu nome.

A direção do Democratas não tem no horizonte próximo uma ação mais forte de retaliação, como por exemplo pedir à Justiça Eleitoral que considere a criação do novo partido uma fraude para burlar a legislação eleitoral, como chegou a ser aventado.

Mesmo porque a ideia de o futuro PSD se fundir imediatamente com o PSB perdeu a força, pelo risco que correria ou até mesmo pela própria formação partidária, que vem reunindo políticos que nada têm a ver com a história de um partido socialista.

Mas o presidente do Democratas, senador Agripino Maia, aumenta o tom quando fala sobre o futuro novo partido, que, segundo ele, "está sendo repositório de insatisfeitos ou de oportunistas pelo Brasil inteiro, e existem muitos".

Na opinião de Agripino Maia, o novo partido de Kassab "está claramente sendo montado em sintonia com a Dilma, para tentar sufocar o DEM".

Pelo menos o governador do Amazonas, Omar Aziz, e o senador Sérgio Petecão, do Acre, ambos do Partido de Mobilização Nacional, estariam entre os que receberam orientação direto da presidente Dilma para ir para o partido do Kassab, diz o presidente do DEM.

Segundo Maia, Kassab tem procurado criar uma ilusão de que está estruturando um partido-monstro que vai acabar com o Democratas, mas isso não reflete a verdade.

Os governador Colombo, de Santa Catarina, e Rosalba Ciarlini, do Rio Grande do Norte, continuarão governadores do DEM, garante.

A senadora Kátia Abreu, de Tocantins, uma provável dissidência importante do DEM, está conversando com o ex-senador Marco Maciel, atualmente presidente do Conselho do partido.

Agripino Maia, por sinal, coloca sempre à frente, quando discute o futuro, os nomes de Maciel e do ex-senador Jorge Bornhausen como os grandes fiadores do partido.

Na avaliação de Agripino Maia, o prefeito Gilberto Kassab estaria atrás de um cacife político reforçado para disputar um cargo majoritário, que seria o de senador, nunca o de governador, pois ele não teria chances com o PSDB e o PT paulistas, ainda mais com o governador Geraldo Alckmin disputando a reeleição.

Com os gestos dele, diz Maia, está dificultando cada vez mais possível aliança com o DEM, "mas política se faz sem fígado, com sabedoria. Neste momento interesses convergentes são os do DEM com o PSDB e com o PP".

Maia está dividindo sua atuação em duas frentes: ao mesmo tempo em que tenta manter o maior número de políticos no DEM, vai aplainando novos caminhos para o partido.

Ele garante que pode perder não mais do que meia dúzia de deputados: dois na Bahia, dois em São Paulo, um no Rio de Janeiro. Em São Paulo, segundo Maia, a base do Democratas vai ficar toda: dos 14 parlamentares, 11 ficarão, quatro federais e sete estaduais. Apenas dois deputados federais e um estadual seguiriam com Kassab.

No Rio de Janeiro, o deputado Arolde de Oliveira está se compondo com o ex-prefeito Cesar Maia, que deve ser o presidente municipal. O ex-candidato a vice-presidente Indio da Costa, que não tem mandato, e a deputada federal Solange Amaral devem ir para o PSD.

Agripino Maia afirma que a suposta bancada de 43 deputados federais do novo partido, apregoada por seus idealizadores, pode ser formada por trânsfugas de PTB, PMN, PP, PMDB, PSDB, a maioria de partidos da própria base aliada do governo, que estariam sendo estimulados à mudança com o objetivo de criar um clima que induza à percepção de que o Democratas está acabando.

Além do mais, diz Agripino Maia, "estão querendo retirar o viés governista do novo partido alardeando que estão tirando a maioria do DEM, mas isso não é verdade".

O presidente do Democratas tem feito o seguinte raciocínio nas conversas que vem mantendo com os membros do DEM que porventura pensem em sair do partido para seguir o prefeito paulistano: Dentro de um ano e meio Kassab não terá mais mandato, a marca da prefeitura de São Paulo vai sumir. Qual é a capacidade de comando que Kassab tem sem a máquina da prefeitura?

Que tempo de rádio e televisão terá o novo partido? E como será a primeira experiência eleitoral do novo partido com o fim das alianças proporcionais? Qual é a afinidade que essas pessoas que estão se juntando no PSD têm umas com as outras?

Agripino Maia teve uma reunião recentemente com o DEM em Santa Catarina e pretende fazer outras pelo país para construir uma agenda positiva para o partido, massificar suas ideias centrais.

"Nós perdemos a guerra da comunicação", admite, dizendo que as pessoas se esquecem de que o DEM foi o único partido que expulsou um governador, José Roberto Arruda, do Distrito Federal, e ficam com a ideia do mensalão do DEM.

Ele também pretende resgatar a memória do partido, lamentando que "nunca mais se falou sobre a origem do Democratas, que foi o Partido da Frente Liberal, um partido nascido da dissidência do PDS que viabilizou a transição democrática com a eleição de Tancredo Neves".

Ele acha que há muita coisa para recuperar, inclusive recente, e lembra que há quatro anos, quando houve o grande "apagão aéreo" no país, o partido trouxe técnicos do exterior e propôs a adoção das parcerias público-privadas que agora o governo está anunciando para os aeroportos.

"Nós temos o exemplo da derrubada da CPMF para basear nossa campanha contra a carga tributária", lembra.

Essa cruzada que pretende fazer pelos estados pode ser uma boa oportunidade de sintonizar o partido com o eleitor.

Essa será a sua aposta.

GOSTOSA

CORA RÓNAI

Resultados óbvios de pesquisa inútil
CORA RÓNAI

O GLOBO - 02/04/11
OCES, Consumer Electronics Show - também chamado no Brasil de "a" CES, por causa da tradução implícita de "show" por feira - é o maior espetáculo da Terra para quem curte eletroeletrônicos, gadgets, computadores e tendências com tomada ou bateria de modo geral. Realiza-se na primeira semana de janeiro em Las Vegas e, em termos de timing, é quase tão inconveniente quanto a posse de políticos marcada para o primeiro dia do ano. Tal qual a posse dos políticos, pode-se dar a esse luxo porque, para o povo da área, é imperdível; de modo que, entra ano sai ano, milhares de geeks deixam o conforto do lar para enfrentar os aeroportos em seu pior momento e tomar o rumo do Velho Oeste. Sou uma das pessoas que vêm fazendo isso há anos; 2011 não foi exceção.

Este ano, os grandes assuntos da feira, que determina o que será consumido num futuro imediato ou muito próximo, foram os onipresentes tablets e os aparelhos 3D, de câmeras fotográficas e smartphones a telas gigantescas. Os tablets, ninguém duvida, vieram para ficar. Mas em relação ao 3D há divergências. Não é à toa que a tecnologia, que já vem desde os anos 50, volta e meia dá sinais de vida - para logo submergir novamente.

Agora, uma pesquisa realizada pelo Vision Critical ao longo do último mês e divulgada ontem revela que a maioria dos americanos, ingleses e canadenses não têm intenção de comprar um aparelho de TV 3D tão cedo. Americanos e ingleses descrentes estão em 81% e 84%, respectivamente; os canadenses, mais taxativos, entram na casa dos 95%, chegando aos 98% em alguns estados.

Alguma surpresa? Pessoalmente, acho que esta pesquisa, como tantas que se fazem por aí, apenas chove no molhado. Assistir TV em 3D é uma experiência esdrúxula e desconfortável, sobretudo para quem já usa óculos; e, sobretudo, inútil, porque a maioria do conteúdo apresentado não precisa da terceira dimensão. Somos perfeitamente capazes de imaginar os planos e perspectivas de uma cena sem auxílio artificial. Mesmo no cinema, passada a novidade de "Avatar", o 3D é uma gracinha perfeitamente dispensável. Amigos que assistiram à pré-estreia de "Rio" estão loucos para ver o filme de novo - em 2D!

A única área em que vejo o 3D tendo algum sucesso é nos games, onde a sensação de imersão no universo do jogo pode ser de fato ampliada nas três dimensões. Smartphones e pequenos gadgets que, naturalmente, precisam ser vistos de frente, e normalmente o são por uma só pessoa, também podem dar certo.

A TV doméstica em 3D, porém, tem um longo caminho a percorrer para conquistar o público, se é que conseguirá fazê-lo. O mundo inteiro acaba de passar por uma mudança radical de tecnologia - todos nos lembramos de quando compramos o nosso primeiro plasma ou LCD (e muitos ainda sequer o fizeram); as telas planas conservam, portanto, a mística de maravilha tecnológica com que, no outro dia mesmo, chegaram ao mercado. Vai ser difícil convencer o consumidor, que acabou de trocar de TV, que o seu lindo aparelho de 46 polegadas já está obsoleto...

Descoberta muito interessante do leitor Carlos Lauria. Vejam só:

"Recebi na minha conta do Gmail duas mensagens vindas de uma pessoa que não conheço. Fui checar os destinatários das mensagens e vi que havia um endereço lauri.a.carlos. Estranhei o fato de vir para mim, pois o meu endereço é lauria.carlos. Ativei os detalhes da mensagem e, ao lado do endereço que a pessoa colocou, havia uma nota do Gmail: "Sim, esse é você. Clique e saiba mais". Resumindo: graças ao erro daquela pessoa, descobri que você pode colocar e retirar pontos à vontade de um endereço do Gmail que ele não está nem aí. Ele sempre desconsidera os pontos. Então eu posso escrever meu endereço como lauria.carlos ou lauriacarlos ou lauri.a.carlos (como fez a outra pessoa) e a mensagem sempre chegará para mim. Posso colocar até l.a.u.r.i.a.c.a.r.l.o.s que vai chegar."