terça-feira, março 08, 2011

MAÍLSON DA NÓBREGA

A produtividade é decisiva. Como obtê-la
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ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

O fascínio do ão
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CLAUDIO DE MOURA CASTRO

A freirinha e o rabino
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EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

A MP do sigilo fiscal
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 08/03/11

Editada às pressas durante a campanha eleitoral de 2010, para tentar evitar que a quebra do sigilo fiscal de dirigentes do PSDB e de familiares do candidato José Serra - por parte de funcionários da Receita Federal vinculados ao PT - prejudicasse a campanha de Dilma Rousseff no 2.º turno, a Medida Provisória (MP) 507 foi finalmente aprovada na semana passada pela Câmara. Seu destino agora depende do Senado, que só voltará a se reunir em 15 de março - justamente o dia em que a MP expira, se não for votada por essa Casa Legislativa.

Em sua versão original, a MP 507 definiu novos critérios para quebra de sigilo fiscal, estabeleceu punições para o servidor que violar regras de acesso à base de dados do Fisco e disciplinou o uso de procurações por advogados na representação de seus clientes, em processos administrativos. Mas, durante a votação, o relator Fernando Ferro (PT-PE) modificou o texto original, introduzindo algumas emendas propostas por parlamentares e associações de classe.

Uma das alterações atendeu os auditores fiscais. Em sua versão original, a MP 507 impunha a esses profissionais a obrigatoriedade de apresentar "justificativa expressa" para acessar informações sigilosas. Pelo texto aprovado, os acessos "sem motivo justificado" podem resultar em sanções administrativas, como suspensão de até 180 dias, destituição do cargo, demissão por justa causa e até cassação de aposentadoria.

A MP 507 também prevê a aplicação de punições ao servidor que emprestar senha e imprimir declaração de Imposto de Renda sem razão funcional. Quem for punido, fica impedido de exercer novo cargo por cinco anos em qualquer órgão da administração pública federal. Nas sindicâncias realizadas após o vazamento de dados fiscais de dirigentes do PSDB, a Receita descobriu que senhas de acesso ao acervo de declarações de Imposto de Renda passavam de mão em mão e constatou que um único servidor teria feito mais de 30 mil acessos não motivados, em curto período de tempo.

Cedendo às pressões dos auditores fiscais, o relator substituiu a expressão "sem motivo jurídico justificado" por "sem motivação funcional". Segundo ele, a expressão original era imprecisa. "Ela abria a possibilidade de um servidor da Receita, no exercício da sua atividade de investigação, ser acusado de violar sigilo. Neste caso, a MP, que tinha o papel de evitar a quebra do sigilo, estaria contribuindo para impedir investigações", disse ele.

Outra alteração atendeu os advogados. Em seu artigo 5.º, a MP 507 exigia do contribuinte a apresentação de procuração pública para conferir poderes a terceiros para, em seu nome, praticar atos perante a Receita. Algumas entidades - como o Movimento de Defesa da Advocacia - classificaram a exigência como absurda, por burocratizar o exercício do direito de defesa do contribuinte. E, na semana passada, a Confederação Nacional dos Profissionais Liberais obteve na Justiça uma liminar que autoriza advogados a atuar na Receita sem a necessidade de apresentar procuração pública. Na Câmara, o artigo 5.º foi suprimido.

No texto aprovado, o relator Fernando Ferro acrescentou um artigo, estendendo as sanções administrativas ao superior hierárquico do servidor que determinar ou participar - por ação ou omissão - de quebra ilegal de sigilo fiscal. "Isso cria uma cadeia de responsabilidades. Não está certo punir apenas o funcionário debaixo, é preciso punir também o chefe que mandou quebrar sigilo de forma irregular", disse o relator.

Os tributaristas reconhecem a importância da MP 507, mas alegam que, com o texto aprovado na Câmara, ela é insuficiente para acabar com as quebras irregulares de sigilo fiscal. O próprio relator admitiu que ela deveria ter sido mais debatida e que o acordo para sua aprovação foi feito 15 minutos antes da apresentação de seu parecer. E, em Brasília, comenta-se que o governo não estaria se mobilizando para pressionar o Senado a aprová-la, no dia 15. Ou seja, são grandes os riscos de que os contribuintes continuem vulneráveis aos abusos de funcionários que atuam motivados mais por critérios políticos do que com base no interesse público.

GILLES LAPOUGE

O grande luxo em plena expansão
GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 08/03/11

Compra da Bulgari pela LVMH mostra que o setor de marcas de luxo saiu definitivamente da crise - se é que um dia realmente esteve nela


O setor de marcas de luxo saiu da crise, se é que um dia entrou nela. Bernard Arnault, proprietário da LVMH, que engloba 50 marcas de prestígio (Louis Vuitton, o champanhe Moët Chandon, a marca de relógio Tag Heuer, Chaumet, Christian Dior, de Beers, etc) acrescentou mais uma joia à sua coleção: a Bulgari, célebre joalheria e relojoaria criada em 1884 em Roma por joalheiros gregos exilados na Itália e que hoje está avaliada em US$ 5,2 bilhões.

A Vuitton está habituada a esse tipo de aquisição. Geralmente, não se preocupa muito com tato. Predadora, ataca como uma águia que agarra a sua presa e leva para o ninho o belo despojo.

Foi o que fez há pouco com a casa Hermès, adquirindo 20% do seu capital e provocando gritos de cólera da família. No caso da Bulgari, o procedimento foi diferente. A aproximação foi pacífica. Os dois dirigentes do grupo italiano, Paolo e Nicola Bulgari, ficaram encantados. A perenidade da marca está garantida e a família italiana vai se tornar a segunda acionista da LVMH, com 3% do capital (Bernard Arnault possui 45% do capital e 60% dos direitos de voto).

Esse episódio comprova que, no setor de alto luxo, a recuperação está aí. Na Bolsa de Paris, os campeões são os grupos farmacêuticos (Sanofi-Aventis, etc), seguidos pelas marcas de luxo - a LVMH de Bernard Arnault, a permanente L"Oreal, verdadeiro monstro sagrado na área dos cosméticos.

Podemos falar também da fulgurante prosperidade da relojoaria "de coleção". Se quiser adquirir determinados modelos da marca Rolex, terá de esperar dois anos. É o caso do modelo Daytona, usado pelo ator americano falecido Paul Newman quando participava da corrida de carros, "24 horas de Le Mans". As marcas, como Patek Philippe, Audemars Piguet e Breguet, por exemplo, também estabelecem prazos longos.

Entretanto, no período mais violento da crise, há dois anos, a relojoaria sofreu. Na Suíça, os negócios do setor caíram 25%. Hoje, todos os indicadores são excelentes: as exportações de relógios suíços aumentaram 22% no ano passado (com o faturamento atingindo 12,5 bilhões). E ninguém ficará surpreso ao saber que esse boom é alimentado pela China. Hong Kong é hoje o primeiro mercado dos relógios suíços.

Os relojoeiros desempregados podem se candidatar, pois os fabricantes suíços estão recrutando. Estão até com alguma dificuldade para encontrar pessoal capacitado, pois é uma atividade ultrassofisticada, que exige uma longa aprendizagem.

Eis algumas das especialidades envolvidas: cinzelador, ajustador, gravador. É bom saber que, nessas empresas de alto nível, o relojoeiro fabrica somente 20 relógios por ano. Assim, para acalmar os clientes, algumas fabricantes têm o hábito de lhes enviar, de vez em quando, uma fotografia para mostrar como o trabalho está avançando. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

GOSTOSA

ILIMAR FRANCO

Espuma? 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 08/03/11

O PT e o PMDB, os dois maiores partidos do Congresso, estão defendendo propostas opostas de reforma política, o que reduz a chance de um resultado concreto. Os peemedebistas querem o “distritão”, que acaba com a eleição proporcional para deputado, e o PT, a lista fechada. Apesar da mobilização em torno do tema, deputados, senadores e o Palácio do Planalto estão céticos em relação à aprovação de uma proposta.

Pontos essenciais
Um dos principais entusiastas da reforma política, o ex-deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP) defende que os dois pontos ssenciais são: acabar com a suplência de senador e instituir o voto distrital. Para o tucano, a suplência de senador é pior do que a figura do senador biônico. “Pelo menos o governador enviava a indicação para a Assembleia Legislativa votar, tinha um colégio eleitoral”, afirmou ele. Segundo Madeira, o “distritão” não resolve o problema de representatividade. “Você troca seis por meia dúzia”, afirmou
ele, citando a falta de identificação do candidato com o eleitor e o alto custo da campanha. 

“O importante é votarmos, e não encontrar consensos absolutos” — Aécio Neves, senador (PSDBMG), sobre as propostas de reforma política

O SINCERO. 
Presente na instalação da comissão de reforma política do Senado, o vice-presidente Michel Temer afirmou em seu discurso que, se o Congresso não aprovar uma proposta, não tem problema. “Se nada ocorrer, também não vamos nos acusar, nem permitir que nos acusem”, disse ele. Membro da comissão, o senador Itamar Franco (PPS-MG) não gostou. “Ele jogou um balde de água fria”, disse o ex-presidente da República.

Revanche
O senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) apresentou proposta para acabar com a suplência de senador. Seu primeiro suplente, Waldemir Catanho, fez campanha para os adversários Tasso Jereissati (PSDB) e José Pimentel (PT).

Sem voto
Há dez suplentes de senador no exercício do mandato. Ou seja, 12% dos senadores herdaram o mandato sem receber um único voto. O fim da suplência de senador será um dos primeiros temas da comissão de reforma política da Casa. 

De camarote
O PV acompanha com interesse a movimentação do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), para criar um novo partido, o PDB. Depois do desempenho de Marina Silva na campanha presidencial, a expectativa dos verdes é atrair políticos egressos do novo partido. O PDB é só um artifício para driblar a fidelidade partidária. Ele servirá de trampolim para quem quer mudar de sigla
sem perder o mandato.

Bloco dos bancos
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, passa o carnaval na Basileia (Suíça), em reunião dos 14 principais presidentes
de BCs do mundo. O objetivo é discutir regulação para evitar crises econômicas como a de 2008.

Financiamento
A ministra Ideli Salvatti (Pesca) negocia com o BNDES a liberação de uma linha de crédito para o setor, principalmente para renovar
a frota pesqueira. Também há preocupação em reerguer a produção de trutas na Região Serrana do Rio.

 POROROCA. Além do partido a ser criado por Gilberto Kassab, discute-se a criação do Partido Novo, de empresários; do Partido da Educação; e do Partido Livre, de egressos do PV.
 MULHER. A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) está distribuindo leques, no carnaval, com o slogan: “Lei Maria da Penha: Cumpra-se”, contra a violência contra a mulher. 
 DE FOLGA. O corregedor da Câmara, Eduardo da Fonte (PP-PE), só volta para o Brasil no dia 13. O PSOL reclama que não consegue falar com ele sobre as denúncias contra Jaqueline Roriz (PMN-DF).

CELSO MING

Reservas para investir?
CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 08/03/11

O carregamento das reservas brasileiras, hoje de US$ 309,4 bilhões, custa caro (cerca de R$ 40 bilhões por ano) e quanto mais crescem, mais dólares atraem. Por que, então, não usar parte dessas reservas para investir em infraestrutura? Não teriam retorno bem maior do que o rendimento dos títulos em que estão aplicadas, na medida em que reduziriam os custos de produção do Brasil, perguntam leitores desta Coluna.

Essa proposta não é nova. Nos anos 80, o ex-ministro Delfim Netto chegou a sugerir a utilização de reservas "para construção de estradas".

Naquela época não fazia muito sentido porque o Brasil tinha baixo nível de reservas e era preciso ter dinheiro em caixa para enfrentar fugas de capital, tão frequentes diante de tantas crises.

No entanto, hoje as reservas não cumprem mais a função de blindar o País contra crises, uma vez que há mais do que o suficiente para isso. Por que não aceitar essa sugestão?

É que eventual utilização de reservas para investimentos em infraestrutura teria de ser gasta em dólares e não em reais. Se tivessem de ser gastas em moeda nacional, para pagamento de salários e materiais, exigiriam conversão em reais. E, se um pedaço das reservas fosse reconvertido em reais, estaria acentuando a valorização do real por meio de aumento da oferta de moeda estrangeira no mercado. E essa valorização é o que o governo está pretendendo evitar com o aumento das reservas.

Mas se fossem utilizadas para pagar lá fora equipamentos e serviços destinados a ampliação de infraestrutura sem ter de passar pelo câmbio interno, as reservas em dólares estariam aumentando ou as importações ou as despesas com serviços. Nessas condições, estariam elevando o déficit em Conta Corrente (contas externas), que neste ano deverá saltar para alguma coisa em torno dos 2,9% do PIB (algo entre US$ 65 bilhões ou US$ 70 bilhões), pelas últimas projeções do Banco Central.

Outra opção seria o uso de parte das reservas pelo Tesouro com o objetivo de aumentar o capital de empresas estatais, como Banco do Brasil, Petrobrás e BNDES. Como a maioria dessas empresas tem obrigatoriamente despesas em dólares, esses recursos nem teriam de passar pelo câmbio interno.

Independentemente de qualquer outra consideração, se o Tesouro adiantasse a uma empresa estatal um volume de moeda estrangeira das reservas nacionais que necessariamente devessem ser gastas lá fora, fica claro que deixaria de ser feita a operação de compra de dólares que essas estatais teriam de realizar para se abastecer e da qual agora ficariam dispensadas. Ou seja, mais uma vez, ficaria reduzida a procura por moeda estrangeira, justamente o que o governo quer ampliar.

Se pudesse ser feita, a utilização de reservas para ampliação e modernização da infraestrutura no Brasil talvez resolvesse o problema do alto custo de carregamento e da baixa rentabilidade dos títulos em que estão aplicadas, mas não resolveria outros. Especialmente, não resolveria o problema da enorme oferta de moeda estrangeira no câmbio interno, fator que está provocando a valorização do real diante do dólar.

GOSTOSA

VINICIUS TORRES FREIRE

Depois que o Carnaval passar
VINICIUS TORRES FREIRE 
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/03/11

Continuidade continuísta do governo Dilma até agora não deixa dúvidas apenas sobre a política econômica


A GENTE não esperava de início grande novidade do governo Dilma Rousseff, pois a presidente brotou de uma costela do governo Lula.
Mais que uma obra aberta, seu governo de dois meses é um papel em branco. Mas a falta de um programa estrito ou estreito pode ser um problema, pois espaçoso é o caminho que conduz à perdição.
Dilma pode inventar o seu programa pelo caminho, à maneira de Lula, "ortodoxo" na economia por falta de opção e enquanto Antonio Palocci esteve no comando; com ganas de "desenvolvimentismo" depois disso, "desenvolvimentismo" acidental, que emplacou mesmo com a abertura das porteiras ideológicas, financeiras e do gasto federal, abertas pela crise de 2011.
Pelo benefício da dúvida, suponha-se que o governo seja de continuidade continuísta. Ainda assim, há problemas novos. De mais óbvio, há inflação desconfortável. Dos observadores rotineiros da política econômica, ouve-se um baixo contínuo de irritação em resposta à desorientação sobre juros e gastos.
A política econômica tem ficado "abaixo das expectativas" no dizer do pessoal da consultoria MB Associados, uma das mais certeiras da praça. "Os dois alicerces da política macroeconômica, a monetária e a fiscal, estão sub judice: ainda parecem mais expansionistas do que contracionistas", continua o relatório, datado de sexta-feira passada.
"O comportamento passivo do governo na política econômica terá desdobramentos nas variáveis macroeconômicas para os próximos anos. E aqui a palavra "passivo" é essencial para entender este governo. Isso poderá significar duas coisas: reações atrasadas e/ou erradas", diz o texto da MB, assinado por Sérgio Vale. Tal opinião é meio comum.
Empresários e executivos da grande empresa estão mais quietos e/ou felizes, decerto, afora os avariados pelo câmbio. Mas a maioria dos empresários, até por formação e deformação profissional, é mais orientada pelo presente, e o presente tem sido de lucros gordíssimos.
Mas economia não é tudo.
O que Dilma pretende fazer da segurança? O assunto está meio caído, pois o crime caiu, graças à economia melhor e a um trabalho melhor de secretarias de Segurança, no Rio e em São Paulo, ao menos. Mas as fronteiras ainda são uma peneira para armas e drogas, para nem falar de contrabando.
O que fará da educação? É um assunto estadual e municipal, na maior parte. Além de exames nacionais cheios de problemas, o que mais? Fazer algo dá trabalho, como conversar com os Estados e cidades sobre melhorias nos currículos e padrões de aula, por exemplo. Mas, sem mexer nisso, a coisa não vai.
O que fará das universidades? Não se ouve palavra sobre o assunto, um tema de ponta para a economia e a civilização do país.
O que fará da ciência, além do talho bárbaro na verba do ministério?
O que fará da guerra fiscal, cada vez mais louca, com Estados sabotando abertamente a indústria nacional? Reforma tributária ampla não sai, pois o governo federal precisa ter dinheiro para tanto, e não o terá tão cedo. É preciso conversa trabalhosa com os Estados.
O que fará para diminuir a confusão e a inoperância em concessões, em privatizações e em grandes obras da infraestrutura mambembe (estradas, aeroportos, energia etc.)?

ANCELMO GÓIS

Fator Odebrecht
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 08/03/11

A Odebrecht prometeu aDilma participar da licitação do trem bala Rio-São Paulo dia 11 de abril. A última concorrência, em novembro passado, foi adiada pelo pouco interesse demonstrando por investidores. Ou seja, agora sai. 

Bacana sofre
Está custando R$ 14 mil o aluguel de um Vectra blindado durante o carnaval carioca. 

No ar
Luís Falco, presidente da Oi, e Márcio Fortes de Almeida, exministro das Cidades, estão cotados para ocupar a secretaria que vai cuidar dos aeroportos. 

Passe milionário
Paulo Barros, o carnavalesco, contou a amigos ter proposta de uma escola que promete pagar o triplo de seu salário na Tijuca.

Sobrou para Ronaldo

Sobrou para Ronaldo Fenômeno, domingo de carnaval, no bloco Quanta Ladeira, o da turma de Lenine e Lula Queiroga, em Recife, famoso pelas paródias politicamente incorretas. O ex-craque foi personagem de uma versão da música “Should I stay or should I go”, da banda inglesa The Clash.

Segue...
Diz o refrão da gaiatice com o craque, sobre aquele seu episódio com um travesti, cantado pela multidão no Recife Antigo: — Ronaldo não quer mais jogar/Uma bola se tornou/Os travecos vão chegar/Dão consolo ao jogador/Ele é fenomenal/ Fura gay e fura gol! 

Carnaval da Bruna
“Bruna surfistinha”, o filme de Marcus Baldini, com Deborah Secco, entrou no clube do milhão no domingo de carnaval. Ultrapassou a marca de 1 milhão de expectadores depois de dez dias em cartaz em 342 salas do país.

Caso médico
Geraldinho Azevedo, 66 anos, nosso cantor e compositor, precisou se submeter a um cateterismo, em Recife, onde faria três shows no carnaval. Por precaução, vai ficar no hospital até quinta. Mas já está tudo bem.

Calote no samba
A Grande Rio, além de ser a mais prejudicada no incêndio na Cidade do Samba, levou um beiço de uns R$ 3 milhões da prefeitura de Florianópolis. O prefeito Dário Berger não cumpriu a promessa de captar o dinheiro via Lei Rouanet.

Dor de barriga

Teve folião que passou mal após se deliciar com a badalada feijoada de Ricardo Amaral. 

A terra treme 
O presidente da Portela, Nilo Figueiredo, não deve terminar a semana no cargo. 

Tal pai...
Wilson Alves, o Wilsinho, será eleito presidente da Vila Isabel depois do carnaval. Sucederá o pai, Moisés, que está preso.

‘És grave la crise’
O Rio está cheio de desempregados e pedintes... argentinos. Tem feito ponto na Praça N. S. da Paz, em Ipanema, um hermano que toca harpa. A quem pergunta, diz: “Fico perto da igreja para ver se alguém, com bom coração, me dá um emprego.”

Cena da folia
A cena foi no bloco Imaginô Agora Amassa, no Leblon, no Rio. Uns mijões foram pegos em flagrante por um policial e...
— Por que o senhor está me prendendo?
— O senhor fez xixi na rua!
— Não, moço... Não cheguei a fazer.
— Chegou sim! O senhor consumou!!!
— Ah, na verdade, eu consumi, sim...

BRAZIU: O PUTEIRO

ARNALDO JABOR

O delirante carnaval da democracia
ARNALDO JABOR
O ESTADO DE SÃO PAULO - 08/03/11

Todo ano minha coluna sai na terça-feira de carnaval. Não há outro assunto que possa suplantar a espantosa festa popular. Eu andava irritado com a folia anual. Cheguei a dizer que o chamado "tríduo momesco" - como falavam os cronistas d"antanho - tinha virado uma calamidade pública. Mas, nos últimos dias, vendo as massas pulando nas ruas de Salvador, Recife e Rio, fiquei pensando: como é que pode? O que faz milhares de foliões se jogarem nas ruas como estouros de boiadas, o que será que provoca tanta fome de samba, de riso, de porres, de sexo em flor? Este ano, há blocos que congregam mais de 400 mil participantes, 400 mil dançando na orla do Rio, em um delirante comício de felicidade.

Olhei de perto um infinito rio de gente pulando na beira-mar, até sem ouvir mais a música que guiava os foliões, como uma locomotiva sonora. Houve uma mudança, sem dúvida.

Lembro-me do tempo recente em que todos reclamavam do "fim do carnaval", reduzido às alegorias luxuosas das escolas sob um elegante desprezo das elites. Lembro das primeiras damas da ditadura rebolando no camarote, d. Yolanda Costa e Silva ou d. Dulce Figueiredo, enquanto o carnaval de rua no Rio minguava, com mascarados solitários e escassos bloquinhos na avenida, restando apenas os "clóvis" de Santa Cruz com a tradição do passado. O carnaval oficial tinha virado um produto de mercado, um merchandising de bicheiros, uma festa para "voyeurs", para turistas, inclusive para brasileiros - turistas de si mesmos.

Mesmo depois da ditadura, seria impossível ver esses imensos rios que passam em nossas vidas. Era impossível a alegria popular com 2.000% de inflação ao ano, na década de 80. Creio mesmo que essa enchente de povo se forma a partir da estabilização da economia em 94 e da maré em nossa direção, com o capital internacional dirigido aos países emergentes. Aos poucos, o País retomou sua autoestima e, especialmente no Rio, ela cresce nos últimos tempos, com o melhor controle da criminalidade e com o fim dos governos sórdidos que jogaram a cidade no buraco.

Subitamente, como as multidões árabes que tomaram as praças da África do Norte, nossas massas encheram a cidade. Sem comparações esquemáticas, sente-se o renascimento de um desejo gregário, até de contato físico entre as pessoas, uma explosão de liberdade e de encontro que nos leva a concluir que houve uma democratização da convivência, um irresistível desejo de existir em comunidade.

Há mesmo um secreto desejo de viver e morrer numa fervente multidão- formigueiro, onde todos virem um grande "um". Creio também que isso reflete o movimento atual da vida social que se organiza cada vez mais em redes, sim, pois os métodos de comunicação pela internet como Facebook ou Twitter não apontam mais, como pensávamos, para um futuro, para um ponto de chegada. Não. Agora a vida social tem uma dinâmica interna, intramuros, congregadora e não apontando para um futuro feliz ou infeliz. Não mais utopias e nem mesmo distopias, que são finalismos ao avesso. Não. Agora o movimento é no presente, é centrípeto, cerrando contatos e intimidades. Ouso dizer que os blocos e as multidões do carnaval de hoje têm o desenho de um "Facebook" de carne viva.

Não me esqueço do desfile premonitório que o genial Joãosinho Trinta fez com urubus, ratos e mendigos em 1988, anunciando que o luxo que ele tinha criado com sua frase luminosa ("o povo quer é luxo; quem gosta de miséria é intelectual...") poderia virar um lixo crítico, uma denúncia ao êxtase fácil e alienante. Ali estava um prenúncio do carnaval que agora se derrama, fluvial, pelo País.

Assim como o Círio de Nazaré congrega milhares pela esperança e fé, como um martírio triunfal, assim como o futebol congrega torcidas pela vitória de uma camisa, o carnaval de hoje me parece a consequência da democracia e do crescimento econômico do País. Enquanto as elites deprimem em casa, vão a um camarote de cervejaria ou fogem para a serra ou mar, milhares de bailarinos ululantes tomam a cidade como numa revolução.

Somos um povo esquisito, todo nu, pulando como malucos para espanto risonho do mundo "civilizado".

Muito bem. Pois, acho o carnaval nossa marca e nossa grandeza. Como pode o mundo achar o carnaval uma loucura, este mundo irracional de Kadafis e "tea parties", de bombas "clean" contra bombas sujas? Émelhor entender o Brasil através do carnaval do que ver o carnaval como um desvio da razão. O carnaval nos vê. Sua razão sacana nos ensina mais que estas "moralidades críticas".

O carnaval mostra que o Brasil tem outra forma de "seriedade", mais alta que a gravidade do mundo anglo-saxão. O carnaval mostra a matéria de que somos feitos, por baixo dessa mímica de "Ocidente" que o Brasil tenta há quatro séculos.

Há uma "orientalidade africana" em nossa vida. A África e os índios nos salvaram, assim como salvaram os USA. Que seria da América sem o jazz? Um país branco-azedo, cheio de "wasps" tristes.

Nosso carnaval mostra que o Inconsciente brasileiro está à flor da carne. Quanto mais civilizado o país, mais fundo o recalque. Já imaginaram um carnaval na Suíça? Talvez o carnaval seja uma doença salvadora, uma epidemia de "desbunde" de que o mundo precisa, por só conhecer a guerra, a velocidade e o mercado cruel.

Na razão do carnaval existe algo mais além da imoralidade; há uma santidade nesta explosão de carne que não se explica. Onde existem estas montanhas de corpos se atirando uns aos outros, com sexo e música? A sacanagem das matas profundas é diferente das surubas calvinistas de Nova York, que inventaram o sexo torturado nas boates doentias e acabaram na aids. A "razão perversa" é a razão do carnaval. Não a perversão como "pecado", mas como mímica de uma liberdade, como a busca de uma civilização "não civilizada", de um retorno a uma animalidade perdida e, no entanto, pulsante.

No carnaval há a tesão por uma trepada libertadora, que seja a revelação definitiva.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Xerife sob pressão
RENATA LO PRETE
FFOLHA DE SÃO PAULO - 08/03/11

Insatisfeita com decisões do Supremo que anularam o afastamento de juízes acusados de corrupção, a Ordem dos Advogados do Brasil lançará no dia 21, em Brasília, o Movimento em Defesa do Conselho Nacional de Justiça. Segundo o presidente Ophir Cavalcante, Eliana Calmon, corregedora do CNJ, aceitou convite para participar do evento. Criticada por entidades de magistrados, Calmon foi aconselhada a renunciar no final de 2010 -mas não o fez.
A OAB teme que a partir de junho, com a escolha de novos conselheiros, o órgão de controle externo do Judiciário ganhe um perfil mais afinado com o ministro Cezar Peluso, que preside o conselho e o STF.

Asas cortadas 

No ano passado, os ministros do STF Celso de Mello, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello reconduziram juízes afastados pelo CNJ em três Estados. "Na Ordem e no meio jurídico em geral, há um temor de que isso possa levar ao esvaziamento do órgão de controle", diz o presidente da OAB.

Também quero 

A divulgação do vídeo no qual Jaqueline Roriz (PMN-DF) aparece recebendo dinheiro de Durval Barbosa pode emperrar o mensalão do DEM. Se o procurador-geral Roberto Gurgel pedir a abertura de inquérito contra a deputada federal no Supremo, os investigados no STJ estarão aptos a requerer a "subida" de seus processos para o STF.

Em branco 

Até ontem, nenhum partido havia provocado a Corregedoria da Câmara a propósito das revelações sobre Jaqueline Roriz, integrante da comissão que cuida da reforma política.

Estilo 
Um grão-petista diz que a demora no preenchimento do segundo escalão não deve ser creditada apenas ao jogo de fidelidade entre o Planalto e sua base. Ocorre que Dilma Rousseff está entrando pessoalmente na discussão sobre o currículo dos indicados. "Se continuar assim", diz o aliado, "2011 acaba, e o governo ainda não estará montado".

Repaginado
Dois meses depois de assumir o Palácio dos Bandeirantes, Geraldo Alckmin (PSDB) aposentou o slogan "Cada vez melhor", que acompanhou a logomarca oficial do Estado de São Paulo na administração de José Serra e nos nove meses de Alberto Goldman. Ainda não foi divulgado um novo lema da propaganda.

Versão revista 

O projeto que regulamenta a Região Metropolitana de SP sairá da gaveta da Assembleia Legislativa ainda neste mês, tão logo tomem posse os novos deputados. A pedido de Alckmin, a base aliada fará emendas aglutinativas ao texto original para incorporar os ajustes desejados pelo governo. Tudo para dar celeridade à tramitação. O envio de um novo texto devolveria a discussão à estaca zero.

Com receita 
A Secretaria da Saúde prepara uma PPP (Parceria Público-Privada) para montar, em consórcio com a indústria farmacêutica, uma nova unidade da Furp (Fundação para o Remédio Popular). A carteira de medicamentos incluirá, entre outros itens, antibióticos e antiinflamatórios de última geração.

Top 
Pesquisa recém-concluída em São Paulo apontou cem por cento de satisfação dos usuários em três unidades do Poupatempo: Taubaté, Jundiaí e Bauru.

Via rápida
Movimento político que agrega presidentes de Câmaras de sete municípios da região do ABC pressiona o governo paulista e o consórcio responsável pela obra do trecho sul do Rodoanel a construir acessos para Diadema, São Bernardo do Campo e Mauá.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Para o PT, controlar a máquina é mais importante do que administrar o país. A volúpia do partido por cargos acabará corroendo a base de Dilma Rousseff."
DO DEPUTADO RICARDO TRÍPOLI (PSDB-SP), sobre o fato de que petistas concentraram a maior parte das indicações para o segundo escalão.

contraponto

Livre iniciativa

Prefeito nomeado de São José dos Campos, Sérgio Sobral de Oliveira visitava o distrito de São Francisco Xavier, em fevereiro de 1970, quando observou um rapaz carpindo às margens da rodovia SP-50.
Na volta, notando que a trilha aberta pelo lavrador havia aumentado consideravelmente em curto intervalo de tempo, acionou sua chefe de gabinete:
-Dona Terezinha, esse rapaz vai trabalhar conosco na prefeitura. Ele não precisou de nenhum chefe para fazer o que precisava ser feito. No dia seguinte, o lavrador estava contratado.

GOSTOSA

XICO GRAZIANO

Carnaval rural
XICO GRAZIANO
O Estado de S.Paulo - 08/03/11

Dizem aqui, no Brasil, que o mundo somente volta a funcionar após o carnaval. Parece verdade. Desde meados de dezembro, tudo anda devagar. Mas o dito vale apenas na cidade. Porque lá, no campo, exatamente esse período do ano configura um pega no serviço. Época de correria brava na roça.

O motivo se relaciona com a safra agrícola. Normalmente plantadas entre meados de outubro e início de dezembro, as lavouras se encontram em processo final de desenvolvimento. Primeiro, floresceram seus cachos, agora maturam seus frutos, logo secam as sementes. Nenhum descuido se permite ao agricultor nesta hora para garantir boa colheita de grãos.

Grãos alimentícios se denominam aquelas culturas temporárias, de ciclo curto, semeadas todos os anos. Algumas são também conhecidas por cereais (arroz, milho, trigo e feijão), outras, como oleaginosas (soja e amendoim). Mais difícil de catalogar é o algodão, planta notoriamente fibrosa, mas cujo caroço oferece bom óleo e excelente ração animal. Vacas adoram sua torta no cocho.

Essas culturas anuais se distinguem das lavouras permanentes, como a laranja ou a maçã, cacau e café, cujas mudas crescem e viram pequenas árvores que permanecem produzindo por décadas. Azeitonas também vêm de árvores longevas, centenárias.

Há, ainda, aquelas lavouras de duração intermediária, a exemplo da cana de açúcar, cujo ciclo de produção demora ao redor de sete anos. Nesse caso, os colmos açucarados são seccionados todos os anos da planta mãe, que rebrota novamente e lança novos perfilhos, a serem cortados no ano seguinte. Algo semelhante à cultura da bananeira.

Existem nuances, claro, como em qualquer sistematização. Certas frutas, como o mamão ou o maracujá, apresentam ciclos de produção bem mais curtos que os da fruticultura em geral. As plantas, mais frágeis, sofrem o ataque de terríveis viroses, impedindo sua permanência no mesmo terreno por um longo período. Podem ser apelidadas de rotativas.

As plantações, na agronomia clássica, sempre foram muito dependentes das estações climáticas. Na Europa, por exemplo, aguarda-se o degelo do inverno para semear o trigo e o centeio. No Sudeste brasileiro, a safra de grãos normalmente se inicia quando as chuvas, trazidas pelo calor da primavera, chegam. Mas a evolução da tecnologia anda alterando tal determinismo climático.

Vários fatores contribuem para romper o fatalismo natural que amordaçava a roça, destacando-se a irrigação, o melhoramento genético, a mecanização intensiva e sistemas de plantio. Atuando em conjunto, a tecnologia foi alterando os costumes antigos. Surgiram variedades de ciclo mais curto ou mais longo, outras precoces ou tardias, algumas resistentes ao frio ou ao calor e à seca. Chegou o plantio direto na palha.

A revolução verde ocorrida permite que hoje os agricultores de ponta sequenciem plantios na mesma área. A soja precoce, colhida cedo em fevereiro, permite ainda o plantio do milho chamado "safrinha", que amarelará em maio. Em algumas regiões do Paraná, uma terceira lavoura, chamada de inverno, é semeada - quase sempre o trigo. Já no Cerrado, após o cultivo do grão, entra a semente da braquiária, gramínea que troca a lavoura pela pecuária. É incrível.

Em suma, alternativas foram surgindo, tornando mais autônoma, porém mais complexa, a produção rural. Antes, podia-se dizer que o agricultor vivia mais calmo, embora mais apreensivo. Ele preparava o terreno e aguardava a hora de o trovão anunciar a semeadura. Depois, acendia vela contra a seca, rezava para chover no momento certo da florada e torcia contra as pestes agrícolas. Dizem, aliás, que por motivos religiosos tantas fazendas foram no passado batizadas com o nome da fé: Fazenda Sta. Clementina, Fazenda S. Rafael...!

Com a modernidade produtiva, porém, o credo cedeu lugar ao conhecimento tecnológico. E, na labuta rural, o aumento das áreas plantadas pressionou a ecologia, resultando, como consequência, no aparecimento de pragas e doenças inusitadas, algumas estrangeiras, resistentes aos agrotóxicos, difíceis de controlar. Haja trabalho no campo.

No mercado, então, nem se fale. Antes, bastava colher e enviar para a feira ou o armazém. Agora, na gôndola dos supermercados, a qualidade se impõe na produção, donas de casa refugam defeitos na mercadoria, certificação se requer. Por essas e outras, o agricultor abandonou o amadorismo e engraxou as canelas para enfrentar a correria da plantação e do comércio. Vida nada fácil.

Repare nisso. Ao contrário da cidade, onde fábricas e lojas fecham suas portas no fim de semana e nos feriados, no campo nunca cessa a produção. As plantas não deixam de crescer no domingo de carnaval, nem o gado para de pastar na quarta-feira de cinzas. Nas granjas, frangos e suínos desconhecem desfile de fantasia.

Noutro dia me irritei, novamente, com um jornalista noticiando que iria chover: "tempo ruim", disse o rapaz. Ora, depende para quem, conversei tolamente sozinho, virando-me para o rádio. Nas férias, carnaval rolando, o pessoal da cidade quer curtir a praia, desfilar bonito na passarela, namorar no portão de madrugada. Torce para não chover, quer secura na rua.

Acontece que lá no interior, não sendo brava tempestade, a chuva é uma dádiva. O solo úmido garante fartura para abastecer a turma da cidade. Além do mais, é exatamente naquela horinha boa da chuva que, sem poder trabalhar o trator por causa do barro, o homem do campo dá uma pausa para descansar na varanda. Depois, sol a pique, retoma a vida corrida.

Na brincadeira do samba, espiando a farra na televisão, pense um pouco: será que essa turma da folia conhece a dureza do carnaval rural?

Vai saber.

AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.

RUBENS BARBOSA

Visita de Obama e visão de futuro
RUBENS BARBOSA
 O Estado de S.Paulo - 08/03/11

Ao contrário dos Estados Unidos, no Brasil a mensagem ao Congresso Nacional, embora importante, é um ato de rotina, protocolar. O Executivo dá um tratamento burocrático ao seu conteúdo e o Congresso não se dá ao trabalho de discuti-la por sua pouca relevância.

Nos Estados Unidos, a fala do presidente à nação, chamada de "Estado da União", tão aguardada pela classe política e pela imprensa, tem um caráter mais profundo e solene. A mensagem ao Congresso faz um balanço da situação política, econômica, social e de política externa do país no ano que passou, traça as principais linhas estratégicas e apresenta propostas para o ano entrante.

A importância e os resultados da primeira visita do presidente Barack Obama ao Brasil têm merecido pertinentes análises, pelas novas possibilidades de cooperação e de entendimento em áreas mantidas em segundo plano durante os últimos oito anos. Às vésperas da chegada do mandatário americano, parece-me útil analisar a mensagem de Obama e nela destacar exemplos de políticas voltadas para o futuro e chamar a atenção para a semelhança da agenda norte-americana com a nossa.

Com grande dose de realismo, Obama deixou registrado que o mundo mudou e que, para enfrentar os desafios do crescimento da economia e da geração de emprego, os Estados Unidos precisam contar mais com seus próprios recursos e se reinventar em quatro áreas: inovação para aumentar a competitividade; educação; energia e infraestrutura; e redução dos déficits públicos, inclusive pelo enxugamento da máquina governamental.

A gravidade da crise econômica interna e as rápidas transformações no cenário internacional impuseram uma nova pauta, com forte presença do Estado, com vistas à recuperação, no médio e no longo prazos, da influência dos Estados Unidos. Apropriadamente, Obama lembrou que o futuro não é uma dádiva, mas uma conquista.

O primeiro passo para ganhar o futuro seria o estímulo à inovação a partir de investimentos do setor privado e do governo em áreas estratégicas. O programa de pesquisa e desenvolvimento atualmente em execução não tem paralelo desde o desafio do lançamento do Sputnik, um satélite, na órbita terrestre pela URSS, em 1957. Os recursos financeiros solicitados ao Congresso para investimentos em pesquisa biomédica, tecnologia da informação e, especialmente, em tecnologia de energia limpa deverão tornar realidade a utilização de energia renovável e melhorar a produtividade das usinas nucleares. Com mais pesquisas, incentivos e com a eliminação dos subsídios à indústria petrolífera, o objetivo é reduzir a forte dependência em relação ao petróleo e tornar os Estados Unidos o primeiro país a ter 1 milhão de veículos elétricos.

O segundo item é a melhoria na educação. Nos próximos dez anos, quase metade de todos os empregos nos Estados Unidos exigirá um nível de educação que irá além do diploma em escolas superiores. Incentivos serão aumentados para aprimorar a qualidade do estudo de Matemática e da Ciência e para atrair mais e melhores professores.

A terceira prioridade nesta visão de futuro é a infraestrutura. O programa "Reconstrução para o Século 21", o PAC dos Estados Unidos, será ampliado para incluir a reparação de estradas e pontes, segundo critérios econômicos, e não por manipulação política. Em 25 anos, o objetivo é fazer com que 80% dos americanos tenham acesso a trens de alta velocidade. Na área de comunicações, em cinco anos o setor privado poderá estender a próxima geração de banda larga sem fio para 98% dos americanos.

Para ajudar as empresas, o governo de Washington tem a clara percepção de que será necessário eliminar o "custo USA", barreiras que reduzem a competitividade dos produtos de exportação. Para ampliar as vendas ao exterior e gerar empregos, foi fixada a meta de dobrar as exportações até 2014. Para reduzir as barreiras ao crescimento e ao investimento, o governo de Washington está revendo a regulamentação e simplificando a burocracia interna. Regras que colocam ônus desnecessário no setor privado serão eliminadas e, na área de defesa comercial, salvaguardas serão criadas para proteger o emprego.

Um último e crítico aspecto nesta visão do futuro é a questão da dívida pública. O governo de Washington, nos próximos cinco anos, a partir de 2011, deverá cortar os gastos públicos para reduzir o déficit em mais de US$ 400 bilhões durante a próxima década. Os cortes afetarão muitos setores, como o salário dos servidores públicos federais pelos próximos dois anos e os gastos com defesa, que serão reduzidos em cerca de US$ 40 bilhões.

Como pano de fundo, o governo norte-americano está propondo uma mudança de paradigma industrial. As metas de redução do uso da energia fóssil (80% da eletricidade, em 2035, será gerada por fontes de energia limpa, eólica, solar, nuclear, carvão limpo ou gás natural) e a utilização do carro elétrico terão impacto sobre a demanda de petróleo e de etanol nas próximas décadas. Essas políticas afetarão profundamente a economia dos Estados Unidos e terão repercussões globais, inclusive no Brasil.

A visita do presidente Obama criará condições para o desenvolvimento de uma nova agenda positiva entre os dois países. A visão de futuro do governo dos Estados Unidos nas áreas de energia, em pesquisa, desenvolvimento e educação - prioridades para os dois países - é coincidente com a nossa.

Seria importante, para os próximos quatro anos, que o exemplo de determinação e ousadia do governo Obama sirva de inspiração para que, também no Brasil, políticas e objetivos sejam claramente definidos e executados, tendo como único objetivo o interesse nacional. Caso não nos consigamos reinventar, o custo político será alto e o futuro do País estará comprometido.

PRESIDENTE DO CONSELHO DE COMÉRCIO EXTERIOR DA FIESP

GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

O BANHEIRO DO REI
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/03/11

Em pleno Carnaval da Sapucaí, Roberto Carlos fecha a cara. Contrariado, manda desligar todas as TVs do camarote que montou para a família, amigos e funcionários no sambódromo do Rio. "Ele está horrorizado", explicava Genival Almeida, que trabalha com o rei há décadas.

Roberto ficou incomodado com as caveiras, os fantasmas, as alegorias -e, principalmente, com o tema da escola de samba Unidos da Tijuca, que passava pela avenida depois de 1h da manhã de domingo: "Esta Noite Levarei a Sua Alma". "Ele não pode com isso", dizia Dodi Sirena, empresário do rei.

No restante da madrugada, só alegria. No camarote, Roberto recebeu, além da família e dos melhores amigos, os motoristas, a copeira, a cozinheira e as empregadas que trabalham com ele há décadas -alguns há 46 anos, como Osmar Ferreira. "Fui motorista de caminhão dele. O Segundinho [filho de Roberto] me chama de pai preto. Todos os meninos encostaram nesse braço aqui", dizia Ferreira.

"Eu estou mais nervoso do que um f.d.p!", dizia o rei à coluna. Na madrugada seguinte, ele seria a estrela da Beija-Flor. Tinha receio do horário, já perto do amanhecer? "Não, eu durmo todos os dias às 3h", dizia o rei. Preparo físico ele também tem para a maratona -faz musculação todos os dias. "É que eu só sei cantar!" Desfilaria sozinho: "Você e Jesus, né?", sugere um repórter. "Boa dica! Bota aí, eu e Jesus."

"Vem conhecer o meu banheiro", dizia Roberto para a publicitária Bia Aydar. "Ele está relaxado, ótimo, uma maravilha", comentava Bia.

No camarote do prefeito Eduardo Paes, logo ao lado, petiscos de frango, bolinhos de peito de pato, miniquiches de queijo. Tudo, menos o presidente Lula, que, depois de tão anunciado, não apareceu. "Ah, o Lula parou de beber!", dizia Paes.

"Vem conhecer o meu banheiro"
ROBERTO CARLOS
na Sapucaí, antes do desfile, convidando a publicitária Bia Aydar

CERVEJA

SANDY: "É CLARO
QUE ME ENCHE!"

Só Caetano Veloso e sua namorada, a argentina Natália Mendez, causaram tanto tumulto quanto Sandy na chegada ao espaço da cervejaria Devassa no sambódromo. Ele pediu para ir -"Nós já atingimos esse patamar bem alto, não precisamos correr atrás. As pessoas querem vir ao nosso camarote", dizia a promoter Priscila Borgonovi. O cantor só pediu uma coisa: para não vestir camiseta de cerveja. Ele usou uma blusa de bebidas não alcoólicas. "Eu vim só olhar, não ganhei cachê nenhum. Tô aqui com a minha propaganda de refrigerante [na camiseta] e meu casaquinho jeans [que cobria parcialmente a marca]."

Já Sandy foi mesmo trabalhar. Seu contrato de publicidade da cervejaria previa a presença dela no camarote. A cantora teria embolsado pouco mais de R$ 1 milhão pelo pacote. "Ela vale muito mais", desconversava José Augusto Schincariol. "São muitas especulações", dizia o publicitário Aaron Suiton, da agência Mood, que contratou Sandy.

A cantora conversou com a coluna, com todas as respostas na ponta da língua. Abaixo, um resumo:

Folha - É verdade que você não gosta de cerveja?

Sandy - Eu realmente já disse isso [numa entrevista]. Mas a gente não precisa gostar exatamente do produto para fazer a propaganda. E não é que eu não gosto. É que não é a minha bebida preferida. [Cruza os dedos e beija] Mas juro por Deus que eu experimentei [a Devassa] e gostei. Achei boa, bem suave. Para quem não gosta do amargo da cerveja, é uma ótima opção.

É sempre polêmico um artista associar sua imagem a bebidas alcoólicas.
Essa é uma discussão que não cabe a nós, artistas. Somos contratados para fazer propaganda. Se é bom para nós, a gente vai lá e faz. Todos são autorizados a beber. Essa responsabilidade não cabe aos artistas. Essa discussão é para psicólogos, deputados, especialistas. Não quero me meter. A bebida é liberada. E, mesmo assim, as propagandas dizem "beba moderadamente", "se beber, não dirija".

Uma das polêmicas é que você tem uma imagem de certinha. Isso te enche?

É claro que me enche, né?! É uma imagem falsa, batida, passada e repassada! As pessoas não param para pensar que a Sandy tem família, trabalho, amigos, é um ser humano. Passam essa imagem plana, chapada, uma coisa que só a mídia coloca no ar. A vida é mais complexa que isso. Sou multifacetada.

Glória Pires entrou no espaço da Devassa vestindo a camiseta de outro camarote. Uma blusa da cervejaria logo foi providenciada para que ela segurasse, como um cartaz, para fotos. "Ai, meu Deus", reclamou Antônia, filha da atriz, com ar contrariado. Após as fotos, a família foi para o banheiro se trocar e aí, sim, circular pelo local.

A caminho da saída, Sandy para diante do músico Diogo Nogueira, que se apresentava entre os desfiles. Um grupo puxa gritos: "Devassa! Devassa!". Ela levanta o braço e responde, em tom de voz baixo: "Devassa sou eu!".

BOLEIROS

RONALDO FUMA,
BEBE E BELISCA

"O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, me pediu pra te perguntar quando você vai para o time", diz a coluna para Neymar, no Sambódromo do Rio. "Quando ele for para o Santos", responde o craque.

Sanchez não fez a pergunta, mas aproveita a brincadeira. "Ele não vem, mas quem sabe o Ganso?" Os dois passaram boa parte do desfile das escolas no último andar do prédio da Brahma, numa espécie de camarim "VIP do VIP do VIP", onde, além de Neymar, só Ronaldo e seus amigos entravam.

"Pensei que, [com a aposentadoria], o assédio acalmasse. Um dia vai, né? Essa fase tá difícil", diz a mulher de Ronaldo, Bia Antony.

O craque começa a noite, no andar reservado, tomando Gatorade de tangerina, entre uma e outra tragada no cigarro. Perto das 4h30 da madrugada, a festa esquenta. O casal vai para a pista ver a discotecagem de Will.i.am, do Black Eyed Peas. Ronaldo rebola, dança, belisca o bumbum de amigos. "Tá estressado? Vai pescar!", diz. Toma duas latas de cerveja e três chopes em uma hora. Três seguranças interpelam fotógrafos toda vez que alguém pega uma câmera. E assim vai até as 5h30, quando o ex-jogador entra num carro preto bebendo e fumando. E, com a mulher, toma o rumo de casa.

ASTRO

AS GAROTAS DE JUDE

Com a barra da calça social preta dobrada e sapatos Oxford sem meia, Jude Law fala sobre seu encontro com Ronaldo Fenômeno, no Camarote Brahma. "Fiquei sem palavras", diz o ator inglês. O ex-craque, segundo ele, contou que vai se mudar para Londres "e me pediu algumas dicas de lugares legais para morar".

O ator conta que "prefere" cerveja a uísque. "Quando tomo bastante uísque, me meto em encrenca." "Não vejo nenhum problema em associar meu nome a uma marca de cerveja. Estou feliz em me associar a uma boa bebida e a bons anfitriões. Ok?", afirma Jude Law, já encerrando a conversa.

Depois do desfile da Portela, a que assiste com um chope claro na mão, o ator segue para uma área ainda mais reservada. Duas modelos da agência Mega são convidadas a entrar no local e ficam em um canto. "Me chamaram pra vir pra cá, mas nem falo inglês. Aliás, nem sei quem é ele", diz Rafaela Gewehr, ganhadora do concurso "Menina Fantástica", da Globo. "Nossa, ele é gayzaço. Olha essa calça!", comenta Raphaela Sirena, ex-miss Porto Alegre. "Hey, Jude! I'm an actress. My name is Narjara", grita Narjara Turetta, pedindo um autógrafo.

De repente, 15 meninas entram no cercadinho em que ele está. Thamiris Flazake, miss Rio de Janeiro, e Vanessa Tomé, ambas da agência 40 Graus, o cercam. Ele coloca as mãos nas cinturas delas e cochicha no ouvido. "Estamos falando do Carnaval. Ele tá adorando", diz Thamiris. Jude acha que "tem alguma coisa na água daqui. As brasileiras são as mais lindas mulheres do mundo".

com DIÓGENES CAMPANHA e LÍGIA MESQUITA, do Rio, e THAIS BILENKY, de São Paulo