sexta-feira, fevereiro 25, 2011

TUTTY VASQUES

Má notícia é uma cachaça
TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 25/02/11

Sem ler jornais desde junho de 2010, quando embarcaram na simulação de uma viagem a Marte, alguns tripulantes da missão russa já dão sinais de crise de abstinência de más notícias. Dia desses, um dos astronautas a bordo chegou ao cúmulo de fingir tropeçar numa pedra e se machucar, só para saciar esse maldito vício do ser humano por fatos desagradáveis. 
Mas "a má notícia", já dizia Nelson Rodrigues, "é uma cachaça como outra qualquer!" Lidas com moderação, não fazem mal algum. Não pode é misturar! Por exemplo: quem esta semana já tomou conhecimento do novo capítulo da crônica policial dedicada ao empresário Nenê Constantino, fundador da Gol, deve a todo custo evitar qualquer contato com as últimas notícias sobre a ex-vereadora Verônica Costa, a Mãe Loura do Funk, sob o risco de overdose do mal. Nem em novela a vida é tão perversa.
Nessas horas, o mundo da lua e adjacências é, crises de abstinência à parte, o lugar mais seguro para se viver longe do noticiário. Quando a simulação da viagem a Marte terminar, no dia 5 de novembro, Muamar Kadafi já terá deixado as primeiras páginas dos jornais. E vida que segue!

MulherzinhaGisele Bündchen fazendo papel de dona de casa no comercial da Sky, francamente, é mais um duro golpe no Dia Internacional da Mulher que se avizinha. Como se já não bastasse, neste ano, dividir o 8 de março com a terça-feira gorda.

Direitos autoraisAs aventuras do oficial de Justiça que procura João Gilberto para notificá-lo de uma ação de despejo no Leblon podem virar filme: Missão Impossível.

Torcida organizadaCoro de parlamentares da base aliada na saída do Senado, após nova vitória do governo no Congresso: "Um, dois, três, oposição é freguês!"

Técnico prestigiadoA notícia de que a presidente Dilma não fará cortes na Copa de 2014 deve ter deixado o técnico Mano Menezes aliviado. Afinal, nem o Lula vetou jogador do time do Dunga!

Leitor confusoEntreouvido numa banca de jornal da Av. Paulista: "Afinal de contas, 545 é o valor do novo salário mínimo no Brasil ou o número de mortos na Líbia?"

Nem precisava
Com Itamar liderando a oposição, Collor presidindo a Comissão de Relações Exteriores do Senado e Francisco Dornelles no comando da reforma política no Congresso, francamente, pra que diabos o governo precisa do Sarney?

MulherãoDeu no The Sun que a cantora americana Rihanna está dando em cima ostensivamente do galã irlandês Colin Farrell. Tomara que não o machuque, né?

Proteção à testemunhaSe alguém tem alguma coisa a dizer contra Nenê Constantino, melhor ler o noticiário antes de abrir a boca para as formigas.

E-mail tranquilizadorEstá tudo bem com o melhor amigo de Paulo Coelho em Trípoli

EDUARDO GRAEFF

A “primavera árabe” por quem viu de perto
EDUARDO GRAEFF
eagora.org.br  25/02/11

Peter Beaumont, correspondente do The Guardian no Oriente Médio, cobriu os acontecimentos na Tunísia e no Egito. Com base no que viu em campo, ele contesta tanto o ôba-ôba das “revoluções do Twitter” quanto a visão oposta dos que, sem ter estado lá, minimizam o papel da internet.

Na Tunísia o Twitter não teve muita importância, mas o Facebook sim. Com uma base de cerca de 2 milhões de usuários, ele foi decisivo para espalhar a revolta. Khaled Koubaa, presidente da Sociedade da Internet no país, contou a Beaumont:


“Três meses antes de Mohammed Bouazizi atear fogo em si mesmo em Sidi Bouzid tivemos um caso parecido em Monastir. Mas ninguém ficou sabendo porque não foi filmado. O que fez a diferença desta vez é que as imagens de Bouazizi foram postas no Facebook e todo mundo as viu.”

Com a mídia censurada, o Facebook funcionou como fonte independente de informação, especialmente de imagens mostrando as atrocidades do regime.

No Egito tanto o Facebook quanto o Twitter foram importantes para a organização das manifestações. Um guia de 12 páginas sobre como contestar Hosni Mubarak foi distribuído por email. Quando o regime puxou o fio da internet e das redes de celular era tarde: os manifestantes usaram cartazes nas demonstrações para informar os pontos de concentração no dia seguinte.

Já no Bahrain e na Líbia a internet está sendo mais importante para passar informações para o exterior do que para organizar as ações contra o regime.

Em todos os países, os videos de amadores divulgados pela internet serviram de material para as televisões, principalmente a rede Al Jazeera, que por sua vez, quando conseguiu driblar os bloqueios, retransmitiu-os para os países de origem.

Depois dos jornalistas, suponho, os comunicólogos, cientistas políticos e outros especialistas vão entrar em campo para consolidar as informações sobre a “primavera árabe” e tirar suas lições.

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

Meus operários em construção
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 25/02/11

Vizinho à minha casa na João Moura estou vendo erguer, dia a dia, hora a hora, um edifício e tudo me parece uma orquestra ou relógio de precisão. As lajes chegaram à altura de meu apartamento e durante o dia, em momentos variados, vou à janela e contemplo o formigueiro que circula em uma coreografia bem ensaiada. Este, sim, é um reality show, show da vida.

De manhã chego à janela e aceno para o homem que, em seu macacão verde, parece comandar as primeiras operações. Ele se acostumou ao cumprimento, olha para o meu prédio, me responde. Talvez pense: "Esse não sai de casa. Está ora numa janela, ora na outra, enquanto estamos ao sol, na garoa, ao vento, na chuva muitas vezes. Quem será? Um aposentado? Do quê? Ou um inválido? Quantos anos tem? Vida boa leva". De onde está não me vê ao computador, nunca.

As fundações, a princípio, me assustaram, iam cavando juntinho ao meu prédio e eu, catastrofista, pensava que poderíamos afundar. Se tivesse acontecido naquela época a tragédia serrana do Rio de Janeiro, teríamos evacuado o prédio correndo. Um dia, bateram num veio subterrâneo e a água subiu, por meses jorrou para a rua um corregozinho límpido, quem sabe podia ser potável. Dizia seu Chico, vizinho falecido há pouco, que nesta quadra havia várias fontes que alimentavam as chácaras existentes, numa época em que a Rebouças nada mais era do que uma rua estreita e mal afamada. Ele, com seus 80 e tantos, morou sempre aqui e em seu terreno, que quase chega à Rua Cristiano Viana, existem jabuticabeiras, bananeiras, mangueiras, laranjeiras, flores, pássaros. No prédio em frente, onde mora o Arnaldo Jabor, existiu uma vila de casas e uma fonte de água onde todos vinham se abastecer. Vila e fonte desapareceram.

Mudei de casa por uns meses, enquanto reformava meu apartamento, e não vi nem ouvi a colocação das fundações com os bate-estacas. Quando voltei (reformas, fontes de neuras, estresses, separações, internamentos), o prédio estava na primeira laje. Então comecei a seguir a subida, ordenada, sincronizada. Primeiro, surge um paliteiro de madeiras claras, quase brancas. À medida que vão sendo utilizadas e reutilizadas, as madeiras vão escurecendo, algumas tornam-se cinzentas, são repostas. São as formas para as pilastras, preenchidas por concreto. Apoiado sobre elas vem um piso de madeira e sobre ele se estende um emaranhado de ferros, teia de aranha resistente que dará sustentação à laje de concreto.

De um momento para o outro, conduítes negros se espalham como cobras por todos os lados ou tentáculos de um polvo. Servirão à hidráulica e à iluminação. Num determinado dia, chega o caminhão de concreto, tubulações são estendidas até o elevador. Começam a subir os carrinhos, o concreto é um mingau espesso, que alimenta um edifício insaciável. O doido aqui pensa: e se calculam errado? Então, é hora dos temíveis vibradores de cimento com ruídos agudos e corroendo o ouvido. Os operários parecem não sentir. De que matéria física são feitos? Lembro-me que morava na Roosevelt no final dos anos 60, quando a horrenda praça foi construída (estão reformando agora). Não havia lei do silêncio, os vibradores rompiam a noite, nos deixavam malucos, usávamos tampões de ouvido, não adiantava, assim como não adiantavam reclamações, protestos, eram tempos de ditadura, direitos individuais não existiam.

Aqui, o tempo inteiro ouvimos tábuas sendo jogadas, batidas, empurradas, serradas e esqueço a irritação porque me vem a memória de infância, eu morava em Araraquara ao lado da serraria Negrini, eram os mesmos barulhos, só que lá existia o cheiro da serragem de cedro que perfumava o ar. Depois da concretagem, estendem uma rede colorida ao redor de todo o andar, como pescadores cercando peixes numa praia.

O mais admirável em uma construção é observar a movimentação dos operários. Todos usam um macacão verde, suspensórios amarelos e há cintos com bolsas, as ferramentas estão ao alcance da mão, lembrando os coldres dos filmes de faroeste. Quem saca o martelo mais rápido? Imagino o calor que sofrem neste verão em que a temperatura chega aos 36 graus. Ao sol, movimentando-se rápidos, qual é o grau de exaustão, de desidratação? Como suportam? Assombra-me a fortaleza desses operários, agitados o tempo inteiro. Não há como parar, descansar um minuto, um ato depende do outro, você executa o seu, para o outro poder continuar o dele. Como músicos em uma orquestra. Ou um bom jogo de futebol. Todos precisam estar atentos, afinados.

Esses homens não têm pauta, mas parecem seguir um maestro e entrar no ritmo exato. Há capacetes de diferentes cores e o branco deu-me a sensação de ser o do mestre de obras, andando de um lado para o outro sem parar, afastando-se e contemplando a distância, orientando aqui, amarrando ali, chamando a atenção lá. Jamais o mestre, um senhor magro, moreno, projetos abertos, atento, inquieto, trena e nível nas mãos, olhou para minha janela; talvez seja discreto demais. Até hoje não sei qual é a função específica de cada capacete. Há os verdes, os vermelhos, os cinzas (poucos) e outro dia havia dois marrons. Claro, devia parar e perguntar, sou curioso. Por outro lado, sou conduzido pela imaginação e fantasia, tento adivinhar. Sei que engenheiros também usam o branco.

Operários em construção, penso, parafraseando Chico Buarque. São como um poema, cada verso em seu lugar, cada palavra precisa ser exata, o erro de uma quebra o ritmo, o compasso da obra que sobe. Será que eles têm noção de que são música, poesia, de que constroem e ali vai morar gente, e dentro dos tijolos que colocam, fechando paredes, vai haver amores e desamores, emoção, alegria, felicidade dores, sofrimentos, amarguras, choques, prazeres? Ali serão produzidas lembranças, pessoas, haverá criação, arte, música, tragédias. Quando olho para o meu próprio prédio, lembro-me que aqui morou Helena Silveira, que escreveu romances, contos e foi a primeira crítica de tevê do País. Sem esses homens de capacetes coloridos, sofrendo ao calor, ao sol, molhando-se na chuva, deixando-me em suspense quando chegam à beirada dos andares (fico sem fôlego, desvio o olhar), batidos por um vento que pode elevá-los ao ar, como pássaros sem asas, sem eles não haveria esta cidade.

LUIZ GARCIA

Quem derruba?
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 25/02/11

Na manchete do jornal de quarta-feira, Muamar Kadafi diz que só morto deixará o poder na Líbia. É uma afirmação peremptória. Mas, considerando-se o destino de muitos dos ditadores que já a fizeram, as maiores chances de ser sincera - caso as potências ocidentais dêem as costas à atual rebelião - seria na hipótese de morte por velhice.

Sempre levando em conta o retrospecto, que inclui ditadores de quase todo o planeta, Kadafi possivelmente já teria preparado o que os especialistas chamam de planos contingenciais. Ou seja, já está com suíte reservada num belo hotel do outro lado do Mediterrâneo. É refúgio tradicional de ex-ditadores latino-americanos, africanos e asiáticos. E o clima costuma ser saudável.

Naturalmente, ninguém sabe ao certo o que se passa na cabeça do ditador líbio. Vai-se ver, ele não tem o instinto de sobrevivência da maioria dos colegas de profissão e está mesmo disposto de ir desta para pior. Não sei quem acreditaria nisso, mas nada é garantido. Pode-se, ao menos, esperar que Alá não tome a decisão politicamente incorreta de lhe dar abrigo em seu paraíso, com acesso eterno à beleza das huris (virgens que, pelo que se acredita no mundo muçulmano, sempre acordam virgens, não importa o que tenha acontecido na véspera).

Não é absurdo imaginar-se que Kadafi - que até ontem perdia velozmente terreno para os rebeldes - ainda espere uma mãozinha das potências ocidentais. Afinal de contas, o americano George Bush e o britânico Tony Blair garantiram sua sobrevivência em 2003, em troca de ajuda no combate a diversas organizações terroristas, principalmente o Exército Republicano Irlandês. Obviamente, esse auxílio só foi possível porque o ditador líbio fora, até então, aliado e financiador de todas elas.

Por outro lado, até agora não há sinais visíveis de ajuda concreta das potências ocidentais e de Israel à rebelião na Líbia. Isso, claro, não significa indiferença. Muito provavelmente, é sinal de que esse apoio enfraqueceria os rebeldes aos olhos das lideranças árabes. Sem contar o fato de que parece, no momento, inteiramente desnecessário.

Se a queda de Kadafi é mesmo fava contada, resta apenas um ponto importante a ser esclarecido: quem é mesmo que está derrubando o velho ditador? Será que em Washington e algumas capitais europeias ninguém sabe a resposta a essa pergunta altamente relevante?

GOSTOSA

MÍRIAM LEITÃO

O risco e a chance
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 25/02/11

A Odebrecht tinha um total de 3.563 pessoas trabalhando em obras na Líbia. Ontem, os 107 brasileiros já estavam no final do dia em Malta, jantando com o embaixador. Os 148 da Queiroz Galvão estavam para ser retirados por um navio que tentava atracar ontem à noite. As duas empreiteiras e a Andrade Gutierrez tinham muitas obras em andamento no país.

Havia em todas as obras de empresas brasileiras pessoas de diversas nacionalidades, que estão saindo por aviões fretados pelas empresas ou por navios. A logística mobilizada pelas três empreiteiras é só um exemplo de como são grandes os interesses econômicos brasileiros na região conflagrada.

No Brasil, a torcida no governo e na sociedade é para que se instalem em todos esses países governos democráticos. Só as democracias são realmente estáveis e permitem relações permanentes. O Brasil tem muito a ganhar com a democratização dos regimes africanos e do Oriente Médio.

O novo governo do Egito já fez contato com o governo brasileiro informando que tem interesses em várias parcerias no novo contexto. Está interessado desde conhecer a tecnologia eleitoral brasileira, de como o país saiu de um estado autoritário para eleições regulares e não contestadas, até ajuda na formulação de políticas públicas de uma rede de proteção social e de segurança alimentar.

Na Líbia, o Brasil não tinha grandes investimentos diretos, mas muitos contratos de prestação de serviços, como os das construtoras Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Odebrecht.

E são grandes empreendimentos. A Odebrecht estava construindo um novo aeroporto internacional em Trípoli e o terceiro anel rodoviário da capital. Um investimento de US$1,6 bilhão para o qual havia contratado pessoas de 34 nacionalidades. Do Vietnã e da Tailândia, havia mais de 1.200 pessoas de cada uma das nacionalidades nos canteiros de obra da empresa. Ela decidiu fechar os escritórios, deixar os equipamentos e proteger os funcionários, começando pela retirada dos brasileiros. Na leva, retirou junto sete funcionários da Petrobras. A Andrade Gutierrez retirou também tanto brasileiros quanto os de outras nacionalidades e delegou os cuidados dos escritórios a funcionários líbios.

A Queiroz Galvão ficou numa situação mais complicada porque executava seis contratos de infraestrutura urbana em cidades ao redor de Benghazi, a mil quilômetros da capital. Como todos viram, foi exatamente em Benghazi que os rebelados iniciaram a ação contra o governo e tomaram toda a região. Como o avião fretado pela empreiteira brasileira foi para Trípoli, ele não tinha permissão para cruzar exatamente esse espaço aéreo que divide as duas partes do mesmo país.

A Andrade Gutierrez executava quatro grandes projetos na área de infraestrutura urbana. Fazia redes de esgoto, galerias pluviais e de água potável, obras de pavimentação, calçadas e urbanização. Tudo isso em vários bairros de Sarraj, Souk Al-Jummah, Gargarej e Fellah, em Trípoli, cidade na qual o ditador se entrincheirou.

As empreiteiras terão um enorme prejuízo. Não apenas pelo capital que investiram, equipamentos que deixam para trás, como notas fiscais que já emitiram para receber do governo. Uma delas só nos últimos dias tinha emitido nota de US$40 milhões. Terão que pagar os direitos trabalhistas dos trabalhadores dos outros países e levá-los para lugar seguro.

A Petrobras estava apenas pondo seu pé no local. Perfurou o primeiro poço off shore, mas não teve sucesso. Mantinha um pequeno escritório, mas com planos de crescer em 2011 na exploração de petróleo e gás. Mas até empresas de alimentos tinham planos de ir para lá. Um empresário líbio estava em contato com a rede Bob"s e Giraffas para instalar lojas no país.

Nos últimos 10 anos, o comércio do Brasil com os países africanos e árabes aumentou muito. Com a Líbia, tinha multiplicado por mais de dez vezes, mas a base era pequena. Com o Egito, o Brasil tinha comércio forte de alimentos e espera retomar a normalidade o mais rapidamente possível. A importação de petróleo hoje é menor, pelo aumento da produção local. O Brasil importa um pouco mais de petróleo apenas da Nigéria.

O governo acompanha com atenção cada evento, não apenas pelos interesses econômicos envolvidos, comerciais e de fornecimento de serviços, mas porque acha que é a hora de estabelecer relações permanentes com novos regimes que vão se formar em vários desses países.

Na África negra, o Brasil tem sido chamado para participar cada vez mais em negócios que vão desde a exploração de recursos naturais até a participação em obras ou em organização do estado. Só que vários desses países que têm governos autoritários podem enfrentar levantes ou contestações. Os menos repressivos tendem a negociar concessões e até a aceitar alternância de poder. Há este ano diversas eleições na África. Em muitos desses países são eleições manipuladas, como as que mantêm há duas décadas Robert Mugabe, no poder no Zimbábue. Esse não é um evento que ficará circunscrito aos países árabes. Pode se ampliar por toda a África onde há governos longos que se mantêm pela força ou pela manipulação eleitoral.

A transição exigirá muito da diplomacia brasileira porque a intensificação das relações se deu com os velhos regimes, mas ao mesmo tempo há bases para o diálogo com as oposições que eventualmente chegarem ao poder. Para o Brasil, pode ser um bom momento para ampliar suas relações com diversos desses países que querem uma presença maior dos emergentes do que das velhas potências.

ADRIANO PIRES E ABEL HOLTZ

Integração energética no Mercosul
ADRIANO PIRES  E  ABEL HOLTZ

O Estado de S. Paulo - 25/02/2011


Consolida-se em várias partes do mundo uma nova tendência de integração não só comercial, mas, sobretudo, energética, como forma de otimizar empreendimentos de geração existentes e, com sorte, minimizar a necessidade de expansão de novas usinas que agridam o meio ambiente, para atender à crescente demanda dos países que venham a participar dessa integração.

Esse movimento já existe entre Canadá e EUA, Alemanha e Áustria, Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca e desenvolve-se na União Europeia, na África Austral e no Mercosul.

As experiências em funcionamento no Mercosul são as Hidrelétricas de Itaipu (Brasil e Paraguai ), Yacireta (Argentina e Paraguai) e Salto Grande (Argentina e Uruguai); e os gasodutos da Argentina com Brasil, Chile e Uruguai; e da Bolívia com Argentina, Brasil e Chile.

Alguns entraves foram verificados e contratempos foram contornados politicamente ao longo do tempo - outros não, por exemplo: a Argentina suspendeu o fornecimento de gás natural para o País (UTE de Uruguaiana)e para o Chile; a Bolívia nacionalizou as instalações da Petrobrás em seu território e diminui o envio de gás natural para o Brasil e a Argentina; e o Paraguai reivindica modificações no preço da energia elétrica.

O crescimento da demanda por energia elétrica poderia levar à estruturação de um "polo energético" envolvendo Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai.

As matrizes energéticas de Brasil e Uruguai são predominantemente hidráulicas e complementares à da Argentina, majoritariamente térmica (cerca de 56%).O Paraguai, pequeno consumidor, é um grande exportador de energia. E o mesmo ocorre com a Bolívia, cuja maior contribuição é no suprimento de gás natural, mas tem potencial hidrelétrico inventariado de mais de 30 GW.

Portanto, existem condições para uma excelente complementaridade e sinergia para haver uma forte motivação em torno da implementação de um "polo energético", vencidas as adaptações às diferenças de ciclagem existentes, sem impedimentos técnicos e com custos absorvíveis.

Entre os projetos conhecidos, cabe destacar que são facilmente integrados às redes de transmissão existentes. No caso do aproveitamento de Corpus Cristi (3.000 MW) no Rio Paraná, por exemplo, situado na tríplice fronteira entre Paraguai, Brasil e Argentina, o empreendimento está situado nas proximidades de bacias altamente desenvolvidas e, com isso, gera benefícios ao sistema de preservação brasileiro e complementaridade térmica para a Argentina.

Um outro exemplo seria Garabi (2.700 MW), no Rio Uruguai (Alto Uruguai), que, além de resolver os problemas de suprimento da Argentina, poderia operar de forma harmônica com os demais empreendimentos à montante do rio e propiciar uma grande otimização energética.

A operação do SIN do Brasil é uma sofisticada técnica que foi criada e desenvolvida para atuar num sistema de geração basicamente hidráulico. Essa operação terá de ser adaptada à nova realidade da geração brasileira, utilizando diversificadas fontes primárias de energia e em diferentes regiões. E, também, deverá ser adaptada no caso da integração de diferentes países e diferentes estruturas de despacho, incluindo as eventuais trocas sazonais de energia elétrica de um país para o outro.

Também devemos considerar a redução da capacidade total de armazenamento dos reservatórios das novas usinas em território brasileiro, sobretudo com as limitações ambientais já conhecidas, lembrando que a carga e a demanda crescente abrirão espaço para uma maior geração térmica complementar à base hídrica, principalmente com a oferta de gás crescente. Aí entra a capacidade de geração térmica argentina e boliviana, além da complementaridade hídrica na afluência de bacias nas diferentes regiões do Mercosul e, eventualmente, hidrelétricas planejadas no Peru.

RESPECTIVAMENTE, DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE) E ENGENHEIRO, CONSULTOR NA ÁREA DE ENERGIA E NEGÓCIOS E DIRETOR DA ABEL HOLTZ & ASSOCIADOS

LOURA

BARBARA GANCIA

 Meu malvado favorito
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/02/11

Amiga minha foi entrevistar o Gaddafi e voltou dizendo que o ditador é muito do cheiroso e delicado


ALGUÉM JÁ CHEGOU a um consenso sobre o nome dele?
É Muammar Gaddafi, Moamar Khaddafi, Mu" ammar al-Qadhaffi ou será que, se a gente disser simplesmente "bucéfalo de Trípoli", as pessoas terão uma vaga ideia sobre quem se está falando?
O coronel Gaddafi é mesmo o filho de um bode desgrenhado. Parece aquele cunhado cujas mutretas todos conhecem e que, ainda assim, é convidado a batizar o novo bebê que chega à família.
Vamos tentar refrescar a memória: Muammar Lockerbie (uma das 72 grafias diferentes para o nome do ditador líbio) andou sendo nomeado presidente da comissão de direitos humanos da ONU (e a gente arrancando os cabelos porque elegeu o Tiririca. Agora conta aquela do Boutros Boutros).
O coronel também foi aplaudido recentemente quando se posicionou contra Osama Bin Laden na chamada guerra contra o terror. Isso depois de passar décadas patrocinando tudo que é sorte de termocéfalo e mercenário que se dispusesse a destruir o Ocidente.
Um dos maiores financiadores do Setembro Negro, Gaddafi deu guarida a Carlos, o Chacal, aos terroristas bascos, treinou os lunáticos do Baader-Meinhof e acolheu como filhos os membros das Brigadas Vermelhas, turma de cordeirinhos cujo único pecadilho na vida foi tentar semear o caos na Itália -e que nós, agora, somos forçados a engolir na pessoa do senhor Cesare Battisti, fugitivo da Justiça que continua aqui em vez de ir ver o sole mio nascer quadrado.
Mas veja: nota de dólar, esteja ela travestida de Aracy de Almeida, de uniforme de gala ou terninho safári do Jânio Quadros, continua sendo nota de dólar.
Nos anos 80, o conglomerado Fiat não viu nada de mais em aceitar que Gaddafi abocanhasse 15% de suas ações. Na esteira, um filho do ditador comprou, em 2002, 7,5% da Juventus de Turim (chora, Barbarica!) por US$ 20 milhões.
Na época, sua prole já andava pelo mundo quebrando narizes de modelos e a mobília dos quartos da prestigiosa cadeia Leading Hotels of the World.
Lembro-me de ter sido convidada com a maior naturalidade para um vernissage, em São Paulo, de obras do filho de Gaddafi. Quis saber se era isso mesmo: "Como assim, exposição do filho do Gaddafi? Vai ser em Presidente Bernardes?".
De que adianta discutir? O camarada vale US$ 60 bilhões. Se bobeasse, além da Juve, ainda comprava minha Vila Belmiro.
Mas sou forçada a admitir que sentirei falta do Cauby Peixoto a camelo, ou melhor, de um mundo que comporte um personagem do seu escopo. Variedade é o tempero da vida e, afinal de contas, Dick Cheney e Donald Rumsfeld continuam circulando livremente, e a Suíça, com suas vergonhosas contas secretas, segue impávida.
Amiga minha foi entrevistar Gaddafi e voltou dizendo que o ditador é muito do cheiroso e delicado. Não sei qual o perfume usado Dick Cheney, mas sou capaz de apostar um picolé de limão que a maioria volta de entrevistá-lo morrendo de sono.

PAULO LUDMER

Varrição em energia 
PAULO LUDMER

FOLHA DE SÃO PAULO - 25/02/11

A varrição se ajeita porque há um dócil pagador das contas: o consumidor; se este fechar a torneira, porém, não demora e esse cenário vem abaixo 

Varrer custos para debaixo do tapete do outro é mania nacional oculta nos embates políticos.
A varrição se ajeita porque há um dócil pagador das contas: o consumidor. Se este fechar a torneira, porém, não demora e o cenário vem abaixo, como na derrama da Inconfidência Mineira.
Em energia -onde forças políticas se testam-, o processo se desnuda: vide a luta dos governos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo contra a Federação, para não dividir os royalties do petróleo do pré-sal, cuja extração é incerta pelos desafios tecnológicos, ambientais e também financeiros.
Ora, o criador de lixos (custos) é o conluio do Congresso com o Executivo. Em energia elétrica, ambos criaram a incidência de uma dúzia de encargos, por enquanto, de R$ 15 bilhões anuais. Essa quantia basta para financiar a expansão do parque gerador brasileiro com sanidade e vigor. Mas advém de uma coletoria que nivela energia a tabaco, álcool e perfumaria.
No entanto, os encargos continuam criados sobre gêneses jurídicas discutíveis, finalidades superpostas, sem cooptação da sociedade, sem prazos e metas para acabar e sem retornos transparentes.
A disputa pelo tapete do outro também é intestina no governo. Por exemplo: a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) arrecada para seus deveres uma porcentagem sobre o faturamento dos kWh absorvidos no país, mas o Tesouro Nacional se apropria de quase metade para o superavit fiscal. O consumidor recebe a fatura total.
A CDE (Conta de Desenvolvimento Energético) segue em boa parte para o Luz para Todos. Mas, por lei, parte desse encargo deveria abastecer os parques de energia eólica, o que não ocorre.
A quase sexagenária Reserva Global de Reversão (RGR), gerida pela Eletrobras, deveria indenizar ativos válidos dos proprietários de concessões. Não há eventos há muito tempo, mas o dinheiro fluiu do bolso do consumidor.
Coletaram-se encargos projetados, ano a ano, conforme o tamanho do mercado de cada distribuidora de energia. O mercado, porém, superou os cálculos e as distribuidoras arrecadaram e embolsaram cerca de R$ 8 bilhões além do previsto, sob regras que vedam seu resgate.
Em Estados nos quais se rouba até 20% dos KWh, apesar dos esforços da Aneel de proteger as distribuidoras, fatias importantes são pagas por todos os demais usuários honestos. Segue obscuro o destino do dinheiro da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), que se cobra de consumidores de combustíveis como a gasolina. Seria destinado às obras de transportes, mas as estradas brasileiras vivem em orfandade real.
Enfim, o dreno de tributos e encargos varre custos para todos nós, agenciando contenciosos entre empresários, governos, Estados e regiões, enquanto a patuleia segue pagante. Inconfidência? Basta abandonar o uso de vassouras entre vizinhos, incinerando lixo no colo do governo gerador. 
PAULO LUDMER, jornalista e engenheiro, é professor de pós-graduação na FEI e no Mackenzie.

GOSTOSA

ANCELMO GÓIS

Longa agonia
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 25/02/11

Terça próxima, dia 1, o STJ vai julgar um recurso especial impetrado pela família brasileira do menino Sean Goldman, que vive nos EUA com o pai. Será analisado um pedido da família para a menina Chiara, irmã de Sean por parte de mãe, ser admitida como terceira interessada na questão. Segundo o advogado Sérgio Tostes, o Estatuto da Criança e do Adolescente enfatiza que irmãos devem ser criados juntos.

Aliás...
Esta semana, a Justiça americana, como se sabe, negou aos avós daqui permissão para visitarem o neto, em Nova Jersey.

Síndrome de Down
A experiência de pai de filha com Síndrome de Down, que levou o deputado Romário a organizar um ato na Câmara, dia 21 de março, data mundial de debate
do tema, também movimenta o senador Lindberg Farias. Lindberg, outro pai de filha com Down, aprovou no Senado uma comissão especial para tratar da situação de portadores de necessidades especiais. 

‘Rio’, o livro
“Rio”, o longa de animação que tem a cidade como cenário, e motivou o enredo do
Salgueiro, vai virar livro. Sai em abril pela Editora Agir. 

Te cuida, Clinton Hillary Clinton, no fim da entrevista coletiva que concedeu ontem, após se encontrar com Antônio Patriota, elogiou, numa rodinha, a boa aparência do chanceler brasileiro. Isto quer dizer... nada.

West End é aqui
“Blood brothers”, o musical inglês de Willy Russell, sucesso há mais de 20 anos no West End, a região central de Londres que concentra atrações na cidade, será montado no Brasil. A versão tupiniquim, ainda este ano, será de Flávio Marinho.

Partido roubado
José Vicente Brizola diz que vai entrar com ação contra Carlos Lupi, presidente do PDT. — O PDT foi roubado. Queremos o partido fundado por meu pai (Leonel Brizola) de volta. É. Pode ser.

Cannes negro

Zózimo Bulbul, nosso cineasta, voa hoje para Burkina Faso, na África. Será o primeiro brasileiro a integrar o júri do Festival Pan-Africano de Ouagadougou, considerado o “Cannes negro”. Desde 1965, o festival reúne a nata do cinema africano. 

Éder Jofre, o filme
O Ministério dos Esportes vai apoiar o filme “10 segundos”, sobre o ex-boxeador Éder Jofre. O longa, produzido por Flávio Tambellini e pelo ator Thomas Stavros, que viverá Éder, será um dos maiores orçamentos do cinema brasileiro. As filmagens
começam em outubro. O projeto foi apresentado ontem ao ministro Orlando Silva, em Brasília.

Carnaval de rua
Veja como o Rio virou a capital nacional dos blocos de rua. De sexta a domingo, acredite, a uma semana do carnaval, 75 blocos vão desfilar na cidade. 

A bailarina
O clipe da canção “Te amo”, de Vanessa da Mata, a ser gravado semana que vem, no Rio, com direção de Wagner Moura, terá a participação da bailarina Marilena Ansaldi, 76 anos. Vem a ser a primeira brasileira a integrar o Bolshoi.

Ô, Leandra...

Leandra Leal, a querida e talentosa atriz, não desfilará mais na Vila Isabel. Ela se desentendeu com a direção da escola por causa
da fantasia. É pena. 

Perto dali

Embora more no Leblon, no Rio, João Gilberto não vive no apartamento da Rua General Urquiza, cuja dona tenta na Justiça reaver por falta de pagamento. No local, reside Maria do Céu, ex-namorada do artista. 

Já em casa
Marcos Vilaça, que sofreu ano passado um acidente no qual deslocou a bacia, fez uma cirurgia reparadora. 

Cena carioca
Ontem, na Saara, no Rio, uns jovens alemães compravam fantasias de carnaval na tradicional Casa Turuna, apinhada de turistas, quando, num esforço de comunicação, o balconista, sem entender os gringos, arriscou seu “inglês”: — Oubriigadôu!!! Há testemunhas.

ZONA FRANCA
 Dia 1o-, no Colégio Sagrado Coração de Maria, haverá o curso Teologia e Espiritualidade. A direção é de frei Neylor.
 O Clube do Samba promove a noite Batalha de Confete, amanhã, a partir das 22h, no Bola Preta.
 O Centro de Ecologia Aplicada de Teresópolis promove amanhã e domingo o I Fórum Nacional de Prevenção e Gerenciamento em Eventos Extremos. 
 Vem Cá Me Dá sai sábado, no Parque das Rosas, às 14h, com bateria da Mangueira e Quinho, do Salgueiro. 
 Le Lis Blanc lança nova edição de revista com coquetel, hoje, no Leblon.
● Marcelo Fonseca vai ao Chicago Dental Society’s Midwinter Meeting.
 O empresário Hélio Viana doou meia tonelada de alimentos (200kg de café) para Areal, na Região Serrana.

NELSON MOTTA

Os eleitos dos eleitos
NELSON MOTTA

O Globo - 25/02/2011

Uma comissão de ilustres senadores, escolhidos a dedo por Sarney, vai propor uma reforma do nosso sistema politico e eleitoral. Em busca de subsídios e novidades, não fui pesquisar nas grandes democracias tradicionais, mas em países com novos sistemas. Às vezes onde menos se espera é que não se encontra nada mesmo, ensinava o Barão de Itararé. Mas pelo menos a gente se diverte.

Pode parecer tão exótico como estudar a sexualidade dos peixes, ou cornologia em cabeça de cavalo, mas fui pesquisar o sistema eleitoral cubano, para saber como o povo escolhe os seus representantes numa república popular revolucionária.

É um modelo bem original: qualquer cidadão pode se lançar candidato em seu distrito - só precisa ser filiado ao Partido Comunista e apoiado pelo Comitê de Defesa da Revolução do bairro. Ou por algum figurão do Partido.

Em nome da igualdade de oportunidades, é proibida qualquer forma de propaganda, basta o currículo do candidato com uma foto 3x4 nos jornais e nas zonas eleitorais. Assim evita-se a corrupção e a promiscuidade de candidatos com financiadores de campanhas. Mesmo porque em Cuba não há empreiteiras, nem bancos, nem campanhas eleitorais. Nem comícios, passeatas ou carreatas, que são inviáveis pela escassez de veículos e combustível, mas também proibidas. Assim como reuniões com eleitores em qualquer lugar. A internet, que na ilha ainda é à lenha, só pode ser acessada por funcionários do governo. São as eleições mais baratas do planeta.

Assim são eleitos livremente os 601 deputados da Assembleia Nacional, órgão máximo do poder popular, onde estão representados os governistas, os supergovernistas e os ultragovernistas. As propostas da direção do Partido são aprovadas por aclamação. Pátria o muerte!

Não poderia mesmo dar certo, né?

Enquanto isso, no Brasil, os velhos caciques partidários querem, além da boca livre eleitoral bancada pelo contribuinte, que seja adotado o voto em lista. Porque assim são eles que vão escolher, com os métodos e as práticas de sempre, os que vão nas janelinhas do bonde do partido, os eleitos dos eleitos. Melhor, só em Cuba.

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FERNANDES

Uma guerra bem particular
MARIA CRISTINA FERNANDES
VALOR ECONÔMICO - 25/02/11

A cada egípcio assassinado, tombam 600 alagoanos. O dado, divulgado ontem pelo Mapa da Violência, leva em conta dados de 2008 tanto do Estado mais violento do Brasil quanto de um dos países onde mais se mata no Oriente Médio.

Os quase 400 mortos oficialmente reconhecidos nos conflitos que tiveram origem na praça Tahrir podem alterar a 96ª posição que o Egito ocupa entre os 100 países mais violentos do mundo. Quanto a Alagoas, não há notícias do arrefecimento do tráfico de drogas, apontado como a âncora da violência que, no último ano de registro (2008), vitimou 1.887 pessoas num dos menores Estados do país.

O documento, produzido em parceria entre o Ministério da Justiça e o instituto Sangari (www.sangari.com/mapadaviolencia), informa que a taxa de homicídios deixou de crescer significativamente, mas estacionou em patamar ainda alto demais para padrões mundiais (26,4 mortes/100 mil habitantes). O Brasil ficou em 6º lugar, ultrapassado por países como El Salvador (1º) e Guatemala (4º), onde o crime estaria sendo dominado pelo que o relatório chama de "gangues juvenis".

Na década, morreram de morte matada meio milhão de brasileiros, cifra que rivaliza com a dos grandes conflitos mundiais do período, como as guerras do Iraque e do Afeganistão, mas não move um ponto sequer das bolsas de valores.

Alagoas lidera, mas o prontuário que registra o maior crescimento (367%) no número de homicídios na década é o do Maranhão. Em 1998, o Estado era o mais pacato do país, hoje, junto com a fronteira agrícola, já avançou para a 21ª posição.

Na década, três Estados ingressaram no clube dos 10 mais violentos do país: Bahia, Paraná e Pará. É neste último que fica o canto mais violento do território nacional, Itupiranga, município da região de Marabá com 42 mil habitantes onde, ao lado dos tradicionais crimes de pistolagem, assaltos a banco por quadrilhas armadas de fuzis e metralhadoras viraram rotina.

A violência se espraia no território nacional, mas é cada vez mais concentrada entre brasileiros negros de 15 a 24 anos. Apenas um terço dos óbitos jovens da década registram morte natural. Somem-se aos homicídios os acidentes de trânsito que, pelo crescimento exponencial da frota nacional de selvageria motorizada, já ultrapassam os índices pré- Código Brasileiro de Trânsito.

Além de jovem, o brasileiro assassinado é cada vez mais negro. No Brasil dos brancos a violência caiu 22%. No dos negros cresceu quase na mesma proporção. A cor da pele duplica as chances de um basileiro ser morto. Apesar de a violência crescer a taxas significativas em todo o país, a estabilidade na taxa nacional de homicídios - o crescimento na década foi de 1,9% - deve-se aos dois Estados mais populosos. Em São Paulo a taxa de homicídios caiu 56% na década e no Rio a redução foi metade da paulista.

A redução da violência em ambos os Estados esteve fortemente ancorada nos indicadores de suas capitais. São Paulo hoje é a capital mais segura para se viver no Brasil. Dez anos atrás era a sexta mais perigosa. O Rio, que locupleta a catarse nacional em torno do tema, era, no início da década, a quinta capital brasileira mais perigosa. Hoje apenas sete são mais seguras - Palmas, Florianópolis, Boa Vista, Campo Grande, Teresina e Rio Branco, além de São Paulo.

Coordenador do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cuja última edição é de novembro do ano passado, Renato Sérgio de Lima, relaciona a redução dos homicídios das capitais brasileiras, que o Mapa da Violência registra em 17%, ao crescimento nos gastos municipais com segurança pública. Lima explica que os prefeitos passaram a se envolver mais diretamente - chegando até a pagar aluguel de delegacia e quentinha para policial - porque a deterioração das áreas afetadas acaba exigindo um dispêndio ainda maior do poder municipal.

Segundo o anuário, o poder público mais do que duplicou seus gastos nesta rubrica a partir de 2003, sendo o maior aumento das despesas federais (202%), seguido pelas municipais (168%) e dos Estados (96%), titulares, pela Constituição, desta atribuição. A União passou a gastar mais para coordenar as ações nacionais de segurança pública. No detalhamento dos cortes do Orçamento, que só esperava a aprovação do salário mínimo para acontecer, essas despesas estarão na mira. É a melhor maneira de se dar a guerra por perdida.

ELIANE CANTANHÊDE

Barbas de molho
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/02/11

Enquanto ditadores árabes caem do camelo, um a um, e Muammar Gaddafi, Muamar Khadafi, Muammmar al-Gathafi, Momar Kadaffi ou o que você quiser já até ensaia o papel de "mártir", a rede Telesur relata que há um clima de "festa" e de "normalidade" em Trípoli, capital da Líbia, como nos contou Flávia Marreiro, correspondente da Folha em Caracas.

É de matar de rir, ou de chorar. A Telesur é uma invenção de Hugo Chávez com Cuba, Bolívia, Equador e Argentina (o que fazem os argentinos aí?!) e deve estar treinando para quando a onda de revoltas populares se descolar do Oriente Médio para as Américas.

Jornalistas de verdade estão impedidos de entrar na Líbia, mas os da Telesur entram, acham bacana ficar cinco horas detidos e dizem que tudo está na santa paz, enquanto organizações independentes relatam mais de 600 mortos e 30 mil pessoas de todas as nacionalidades pulando fora como dá.

Mal comparando, a Telesur lembra o PCdoB nos anos 1990. Esgotado o estoque de países a apoiar após o colapso do comunismo, o partido agarrava-se à Albânia, descrito como um paraíso na terra... até a diáspora de albaneses esquálidos, cheios de piolho e sarna, fugindo desesperados para a Itália.

A diferença é que, naquela época, os albaneses não tinham internet, como têm agora os cidadãos de Tunísia, Egito, Líbia, Bahrein, Marrocos e Arábia Saudita -onde o rei Abdullah tenta se antecipar ao desastre anunciando um saco de bondades para a população.

Fidel e Chávez, como Gaddafi (ou Kadaffi, al-Gathafi...), também chegaram ao poder cheios de boas intenções e destronando regimes podres e injustos, mas sucumbiram ao mesmo mal: a sensação de que são donos da verdade e dos destinos de seus povos, endeusando-se e eternizando-se em tronos.

Em vez de mandarem a Telesur reinventar a realidade na Líbia, deviam é botar as barbas de molho.

MUITO FÁCIL

EDNA SIMÃO E ADRIANA FERNANDES

Dilma começa a pagar as contas herdadas de Lula
EDNA SIMÃO E ADRIANA FERNANDES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 25/02/11
Gastos do governo crescem 24% no 1º mês; para fazer o superávit o aumento da receita ajudou mais do que o controle de gastos

A equipe econômica de Dilma Rousseff prometeu arrocho fiscal em 2011 para ajudar na política de combate à inflação, mas no primeiro mês do ano já registrou uma alta de 24% das despesas do governo. Para fazer o superávit primário do governo central de R$ 14,09 bilhões (economia para pagamento de juros) obtido em janeiro - o segundo maior da história para o mês - o Planalto contou mais com o aumento das receitas do que um efetivo controle dos gastos.

O governo central, que reúne as contas do Tesouro Nacional, INSS e Banco Central, não conseguiu fazer um controle maior das despesas em janeiro porque teve que pagar gastos assumidos em 2010, no governo Lula. O pagamento dessas despesas foi postergado em dezembro para garantir o cumprimento da meta de superávit primário das contas do setor público no ano passado. Esse tipo de manobra nos últimos dias do ano é comum no governo, mas em 2010 o instrumento foi utilizado em maior escala. A política fiscal deste ano ainda sente os efeitos do período de crescimento explosivo das despesas verificado no final do governo Lula. Outra consequência será o cancelamento recorde de despesas empenhadas de anos anteriores, principalmente de projetos que não deram certos ou de emendas de parlamentares que não foram reeleitos.

Restos a pagar. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, antecipou ontem que o governo só pretende pagar R$ 41,1 bilhões dos "restos a pagar" -compromissos de gastos assumidos em anos anteriores e transferidos para o Orçamento deste ano.

No mínimo, o cancelamento das despesas será de R$ 16 bilhões. Esse cálculo considera apenas os "restos a pagar" de investimentos que somaram R$ 57,1 bilhões no ano passado. Como o "restos a pagar" engloba todas as despesas, os cancelamentos facilmente ultrapassarão os R$ 16 bilhões. O valor total dos restos a pagar só será divulgado na próxima quarta-feira com o decreto que trará o detalhamento do corte de R$ 50 bilhões das despesas do Orçamento.

"É normal em janeiro o pagamento de muitos empenhos já feitos", disse Augustin. Para ele, o aumento das despesas em janeiro não pode ser observado como tendência para o ano. As despesas com custeio vão cair, disse ele, mas os gastos com investimentos devem crescer. Os números divulgados mostram um crescimento em janeiro das despesas de custeio de 35,3% e de investimentos, de 85,3%, em relação ao mesmo mês de 2010. Os gastos com investimentos prioritários, incluídos no PAC, tiveram alta de 176%. Mas esse ritmo de crescimento vai desacelerar um pouco.

Mesmo com o corte, o secretário avaliou que o cenário de forte expansão das receitas garante "condições fiscais bem mais tranquilas" do que em 2010 para o cumprimento da metas de superávit. No ano passado, as receitas ainda estavam impactadas pelos efeitos da crise financeira. Agora, o cenário é outro e governo conta com uma perspe

CLAUDIA SAFATLE

É preciso prender o gênio da inflação na garrafa
CLAUDIA SAFATLE
Valor Econômico - 25/02/2011

Há um oceano de dúvidas que alimentam a deterioração das expectativas inflacionárias e, no momento, apenas uma convicção: a variação do IPCA este ano será de 6% ou até um pouco mais. É preciso, agora, apressar o passo para não perder a possibilidade de a inflação convergir para a meta de 4,5% ainda em 2012.

A demora do governo em dar credibilidade ao corte de R$ 50 bilhões no gasto público é apenas um dos fatores que inquietam os agentes econômicos. Há vários outros: a percepção de parte do mercado de que o Banco Central está "emparedado", os aumentos de salários em curso (como o reajuste de 16% no piso salarial dos docentes da rede pública), a inflação de serviços do IPCA, que registra elevação de 8,4% nos últimos 12 meses, o aquecimento do mercado de trabalho e a correção de dois dígitos do salário mínimo em 2012.

A esse elenco de razões que fomentam o pessimismo dos mercados somam-se, agora, as incertezas externas, acirradas pelo desmoronamento das ditaduras no Oriente Médio. com seus possíveis desdobramentos sobre os preços do petróleo e, consequentemente, sobre a recuperação das economias desenvolvidas.

Após duas semanas do anúncio do corte nas despesas do Orçamento da União deste ano, para assegurar a meta de 2,9% do PIB de superávit primário, faltam as decisões sobre onde o governo vai cortar R$ 50 bilhões. Sem essas informações, os mercados continuam divididos entre os que acham que o valor do ajuste fiscal é insuficiente para atingir as metas, e os que consideram impossível arrancar esse montante só das despesas de custeio. O detalhamento dos cortes deve ser apresentado até quarta-feira.

No governo, mesmo ministros próximos da presidente Dilma Rousseff, que contam cegamente com o cumprimento das metas fiscais, já acham que o Comitê de Política Econômica (Copom) deve imprimir velocidade no aumento dos juros. Na reunião da próxima semana, o comitê pode elevar os juros em 0,75 pontos-base. O gradualismo inspirado na política de Alan Greenspan, no Fed, nem sempre é a melhor opção de gestão de política monetária, sobretudo quando o quadro é tão preocupante.

Os mercados continuam apostando que o Banco Central está sob amarras políticas e que inventou medidas prudenciais para não ter que elevar os juros na proporção que precisaria. Os analistas mais atentos, porém, enxergam nas medidas prudenciais uma ação absolutamente necessária do BC para conter a expansão do crédito e evitar uma "sub-prime" nacional

Foi exatamente sobre o risco de se reeditar, no Brasil, uma crise nos moldes das "sub-primes" americanas que Paul Marshall e Amit Rajpal, dois gestores de fundos, escreveram esta semana no "Financial Times". Eles chamam a atenção para o crescimento acelerado do crédito no país, a despeito do total de crédito como proporção do PIB ainda ser baixo (46%), e para o nível de endividamento das famílias, que já está em 24% da renda disponível e pode chegar a 30% no ano que vem. Nos EUA, a crise explodiu quando o endividamento correspondia a 14% da renda disponível, dizem.

Por mais que os dois gestores estejam carregando nas tintas, há motivos para o BC olhar muito atentamente as práticas bancárias atuais, principalmente no crédito imobiliário. Novas medidas prudenciais podem surgir daí.

É claro que as ações prudenciais, ao desacelerar o crescimento da oferta de crédito, tem equivalência com aumento da Selic. Mas não é razoável imaginar que estão sendo usadas como meras substitutas da taxa de juros no controle da inflação.

A crise no Oriente Médio, sugerem alguns analistas, pode até ajudar o Brasil a conter a alta generalizada de preços, se ela resultar em forte elevação nos preços internacionais do petróleo. Esse aumento esfriaria os ânimos das economias desenvolvidas, recém-saídas da UTI, e poderia derrubar um pouco os preços das principais commodities. Esses preços caíram 3% em dois dias, mas aumentaram mais de 100% no ano passado (dados anualizados no último trimestre do ano passado).

Há quem acredite que os desdobramentos das turbulências no mundo árabe poderiam funcionar como o "crash" global de 2008, que salvou o governo Lula de uma alta substancial da inflação. É melhor, porém, não contar com isso.

O nível de atividade econômica já começou a esfriar, mas pouco. A utilização da capacidade continua acima da média, asseguram economistas privados, embora o governo sustente que o crescimento, desde o fim de 2010, está aquém do PIB potencial.

O aumento generalizado dos preços é produto da política econômica do ano passado. O governo Lula abriu os cofres e não poupou recursos para eleger sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff. E o Banco Central interrompeu o aumento dos juros antes da hora.

Combinação que foi suficiente para abrir a garrafa e deixar o gênio (a inflação) escapar. Cabe ao governo, sobretudo através dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, na parte fiscal, e do Banco Central, na monetária, colocar o gênio de volta para dentro da garrafa.

Só com resultados concretos é que ele conseguirá vencer a descrença dos mercados e a deterioração das expectativas, que tem sido ininterrupta desde novembro. Há 15 semanas que as pesquisas do BC mostram piora nas previsões de inflação.

GOSTOSA

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

A regra é clara?
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 25/02/11

Do DEM ao PMDB, passando pelo PSDB, todos os interessados em estragar o casamento de Gilberto Kassab com o PSB manifestam nos bastidores a convicção de que não será fácil fazer a Justiça Eleitoral engolir o novo partido que o prefeito paulistano pretende montar com o único e exclusivo objetivo de fugir à ameaça de mandato por abandonar os "demos". O questionamento não viria na criação, mas em seguida, quando da fusão com a sigla de Eduardo Campos. Não faltam descontentes dispostos a provocar o TSE.
Especialistas em direito eleitoral ouvidos por Kassab desdenham desse risco. Alegam que não cabe ao tribunal analisar o propósito da criação do partido.

Carimbo 
Mesmo que Kátia Abreu deixe o DEM rumo ao partido de Kassab, seu destino final tende a ser o PMDB, e não o PSB. A filiação a uma legenda "socialista" dificultaria o plano da senadora por Tocantins de permanecer à frente da CNA.

Em trânsito 
Ainda inseguros quanto à aprovação da "janela da infidelidade", muitos políticos enxergarão no partido de Kassab uma espécie de rodoviária. Dali cada um vai para onde quiser.

Mico 1 
Geraldo Alckmin (PSDB), que agora vê Guilherme Afif declarar a intenção de acompanhar Kassab, havia turbinado atribuições da Secretaria de Desenvolvimento, ocupada pelo vice.

Mico 2 O secretário de Turismo, Márcio França (PSB), que escoltou Eduardo Campos em toda a negociação com Kassab, acaba de absorver em sua pasta o departamento responsável pelo repasse de verbas às estâncias paulistas e a estatal concebida para a Copa de 2014.

Sorry
O deputado Giovanni Queiroz (PA), do rebelde PDT, não será convidado para a conversa de Dilma Rousseff, na próxima semana, com os líderes da base.

Veja bem 
Para convencer Henrique Meirelles a aceitar a algo desidratada Autoridade Pública Olímpica, Antonio Palocci lembrou ao ex-presidente do BC que ele terá poder de veto na execução dos recursos federais para os Jogos de 2016.

Código penal 
O texto que saiu da Casa Civil reduzia a estrutura da APO a 171 cargos. Diante da piada pronta, optou-se por 181.

Contrabando 1 
A emenda do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que prorroga contratos de concessionárias de lojas em aeroportos ajudou a convencer a oposição a votar a MP da Autoridade Pública Olímpica. O líder tucano, Duarte Nogueira (SP), tentou, sem sucesso, modificar a redação. Em vez de "os contratos poderão ser prorrogados", sugeriu a expressão "deverão ser prorrogados".

Contrabando 2 
Na reunião de líderes que precedeu a votação, o representante do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que não havia comprometimento do Planalto com a emenda em questão. Maia deu a entender que fará o possível para convencer Dilma a não vetar.

Figurino 
O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) brincou com Lindberg Farias (PT-RJ), logo após o discurso do petista em defesa do governo durante a votação do salário mínimo: "Quem diria, heim? Você passou de cara-pintada a cara-pálida".

Visita à Folha 
Rubens Belfort Jr., presidente da SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), e Nacime Salomão Mansur, diretor-superintendente, visitaram ontem a Folha. Estavam com Marcelo Bairão, consultor de comunicação social.
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Enquanto patrocina mísero reajuste do salário mínimo nacional, o PT tenta fazer generosidade com o chapéu alheio onde é rejeitado nas urnas há 20 anos."
DO DEPUTADO ESTADUAL MAURO BRAGATO (PSDB), sobre a emenda da bancada petista que propõe o piso regional de R$ 660 no Estado de São Paulo.

Contraponto

Direito autoral

Em discurso para explicar seu voto nos R$ 545, a (ainda) oposicionista Kátia Abreu (DEM-TO) registrou:
-Se o salário mínimo teve ganho, nós o devemos ao Plano Real, a Fernando Henrique Cardoso.
Itamar Franco (PPS-MG) não deixou barato:
-A senadora comete um erro histórico, sobre o qual eu não poderia me calar. Isso é uma inverdade. Eu pediria que ela se corrigisse ou lesse a história.
José Sarney (PMDB-AP) fez coro:
-Toda a Casa sabe que foi o presidente Itamar Franco quem realmente implantou o Plano Real.