terça-feira, dezembro 27, 2011

Vai que é tua, Dilma! - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 27/12/11

A manutenção dos ministros de Lula nos mesmos cargos que ocuparam no governo anterior se mostrou um desastre. Em janeiro de 2012, resolvida a troca de comando na Educação, restarão apenas quatro nessa situação



Passamos todo o ano de 2011 ouvindo que Dilma Rousseff foi obrigada a engolir os ministros herdados de Lula. Mas, se analisarmos a Esplanada que ela recebeu e aquela que irá brindar a chegada de 2012 com direito a ir ao trabalho de carro preto e placa verde e amarela, veremos que a herança está quase no fim. Em janeiro, o ministro da Educação, Fernando Haddad, deixa o cargo para se dedicar à campanha municipal em São Paulo. A novidade é que, assim, restarão, no governo, apenas quatro ministros ocupando o mesmo cargo que exerceram no governo Lula. Ou seja: teremos a estreia, de fato, do governo Dilma Rousseff.

A presidente recebeu de Lula 14 ministros, dos quais 10 permaneceram nos mesmos cargos: Nelson Jobim, da Defesa; Wagner Rossi, da Agricultura; Alfredo Nascimento, dos Transportes; Orlando Silva, do Esporte; Carlos Lupi, do Trabalho; Guido Mantega, da Fazenda; Edison Lobão, Minas e Energia; Luiz Adams, Advocacia-Geral da União (AGU); Jorge Hage, Controladoria-Geral da União (CGU); e Haddad.

Metade desse grupo não terminou este ano no governo, uma prova de que quem está há mais tempo num determinado cargo, invariavelmente, está mais exposto a desgastes. O único que caiu e não era remanescente da equipe de Lula foi Pedro Novais, defenestrado do Turismo — o caso de Antonio Palocci, o primeiro a deixar o governo, não pode ser enquadrado nesse grupo, porque ele foi coordenador da campanha de Dilma e já havia sido ministro de Lula. Trataremos dele mais abaixo.

Daqueles que Dilma manter no mesmo cargo restarão na pós-reforma ministerial Lobão, Adams, Hage e Mantega. Mas isso não quer dizer que eles estejam totalmente longe de intrigas. Mantega, por exemplo, volta e meia balança com especulações sobre uma possível ascensão do secretário executivo do ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, ou mesmo o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Ambos são muito afinados com o Palácio do Planalto e sempre consultados pela presidente da República.

A mesma redução não ocorrerá com aquela turma de Lula que Dilma deslocou para outros postos — ou reabilitou. Esses personagens passaram por um processo inverso àquele que se abateu sobre os que ficaram no mesmo cargo. A maioria se fortaleceu. Apenas um caiu. E foi justamente o reabilitado, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Ele foi colocado no papel de comandante da campanha de Dilma em 2010 a pedido de Lula. Sua ida para a Casa Civil foi decidida a três, como forma de reabilitá-lo a voos mais altos no futuro. Não durou seis meses.

Vejamos os outros: Gilberto Carvalho era o chefe do gabinete presidencial no governo anterior. Hoje, no papel de ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, é um dos principais conselheiros de Dilma. Alexandre Padilha saiu de Relações Institucionais e foi para a Saúde. Não consta no governo que a presidente esteja insatisfeita com o trabalho dele. Há ainda Paulo Bernardo, que saiu do Planejamento e assumiu Comunicações. Ao trio, acrescente-se o atual ministro da Defesa, Celso Amorim, indicação do ex-presidente para a vaga aberta com a saída de Jobim. Mudar foi positivo para todos eles.

Por falar em mudança...
O breve histórico acima mostra que a troca de pastas é algo salutar. Cria motivações a quem se mostra acomodado demais e ajuda a quebrar velhos sistemas e desarticular práticas questionáveis, para não dizer "malfeitos". Foi o que Dilma não fez quando assumiu o governo. O fato de Dilma ter mantido ministros nos mesmos cargos que ocuparam no governo Lula se mostrou um desastre. Se metade deles não sobreviveu — e o único que saiu porque falou demais foi Jobim — é sinal de que essa prática de um governo para outro não costuma ser tão salutar quanto parece. Se associada ao sistema de "igrejinha", aquele em cada partido manda num setor do governo, pode ser ainda pior.

Não é à toa que Dilma deseja aproveitar a reforma para dar uma lufada de novidade em seu governo. Afinal, os programas, como dissemos ontem aqui, já estão lançados. Falta a execução. E isso ela conseguirá com bons gestores. Ou a turma que está na Esplanada se apruma e adota o que Dilma chamou em seu último discurso do ano de "otimismo da vontade" ou vai rodar. Ela agora tem mais segurança na gestão política do que tinha em janeiro, quando recebeu os ministros de Lula. E, com isso, mais firmeza para compor o governo sem o constrangimento de ter que adotar um ministro que não seja lá o seu preferido para um determinado cargo. Ela nunca foi tão dona da bola como será a partir de janeiro, quando voltar do recesso. Quem viver, verá.

Por falar em recesso...
... o meu chegou. Hora de renovar as baterias. Que 2012 chegue carregado de luz, saúde, esperança e amor para todos. Feliz ano-novo!

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