terça-feira, dezembro 06, 2011

Perfume de poder - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 06/12/2011


A reforma ministerial é a melhor fragrância que Dilma poderia escolher para as festas de fim de ano. Enquanto a presidente exalar a força de detentora dos cargos, associada à avaliação positiva do governo, a base aliada permanecerá dócil


Nesta temporada de confraternizações e festas de fim de ano, a presidente Dilma Rousseff pode dispensar as fragrâncias das grifes francesas, italianas e americanas. Afinal, ela tem em mãos algo que faz a base render-se aos seus pés: a caneta para promover uma reforma ministerial e uma avaliação positiva perante o eleitorado. O exemplo mais visível dessa atração que Dilma exerce sobre os partidos é a decisão de ontem do PDT. Ao anunciar que permanece na base do governo depois da saída do ministro do Trabalho, Carlos Lupi — isolando aqueles que pregavam independência e distância dos cargos —, o comando pedetista dá o recado claro de que espera ser compensado em janeiro, quando a presidente fará a reformulação na Esplanada.

Não por acaso, a comissão responsável pela ponte entre o partido e o governo tem a participação do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), que hoje não reza pela cartilha de Carlos Lupi. É uma tentativa de o PDT tentar demonstrar unidade interna e conseguir algum espaço.

Os demais partidos estão, guardadas as devidas proporções, na mesma batida. O PR, que jurou independência quando Alfredo Nascimento deixou o Ministério dos Transportes, hoje não resiste a um convite para se sentar à mesa com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Depois de um pronunciamento ali, uma fala no salão verde da Câmara acolá, lá está o líder Lincoln Portela (MG), pronto para tomar um café com Ideli e reaproximar-se do Planalto.

O PMDB também. Há duas semanas, conforme registramos aqui, os peemedebistas foram os mais fiéis quando da votação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) na Câmara. No Senado, ocorre aquilo que os palacianos chamam de "peripécias do presidente José Sarney" — uma delas foi colocar a regulamentação da emenda da saúde para votação. Ainda assim, não se pode dizer que o PMDB vá enfrentar o governo, até porque o líder, Renan Calheiros (PMDB-AL), tem dito que a bancada terá um comportamento de aliado nas votações importantes.

Diante dessas juras de amor e fidelidade à presidente Dilma Rousseff, o Planalto, por sua vez, também não pretende declarar guerra aos partidos — até porque, quem observar com cuidado a situação política de cada um, verá que as legendas aliadas ao Planalto já estão para lá de desgastadas. À exceção do PSB, que ainda não enfrentou um vendaval sobre seus ministros, todos passaram por dissabores com a queda em série de autoridades do primeiro escalão, a começar pelo próprio PT, que perdeu Antonio Palocci. Depois vieram PR, PMDB e PCdoB. O PP, apesar da permanência do ministro das Cidades, Mário Negromonte, não pode dizer que viveu um ano tranquilo.

A ideia da presidente é fazer uma reforma pontual e não sair mudando tudo. Ela já deixou de lado, por exemplo, a intenção de fundir pastas. Além de reduzir o número de espaços para abrigar as correntes do PT, ela passaria a impressão de que Lula gastou demais ao criar tantos ministérios, coisa que soaria mal. Para completar, são poucos os ministros candidatos a prefeito no ano que vem e, depois que sete tiveram a validade menor do que a de um creme para rugas, não sobrou muita coisa para mudar.

Reservadíssima quando o assunto é reforma ministerial, Dilma apenas fez chegar ao PDT a informação de que não pretende entregar o Ministério do Trabalho para a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Embora ache que deva ter liberdade para compor sua equipe, Dilma sabe da importância de não fazer com que as alterações pareçam uma provocação aos partidos. E, nesse caso, se a presidente tirasse o Ministério do Trabalho das mãos do PDT — e, por tabela, de pessoas que têm ligações com a Força Sindical — para entregar à CUT, seria o mesmo que dizer "Lupi, eu te odeio".

Enquanto isso, na sala do PMDB...
Se quiser, a presidente Dilma poderá testar o poder de seu perfume na quarta-feira, quando os peemedebistas planejam se reunir numa confraternização pré-natalina e, de quebra, comemorar o aniversário do líder Henrique Eduardo Alves, e o do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, que foi ontem. Aos dois, parabéns.

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