quinta-feira, dezembro 22, 2011

O teste - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 22/12/11

Renan deflagra pré-campanha para presidente do Senado. PT não quer deixar o PMDB mandar em todo o Congresso no biênio 2013-2014. Esse jogo vai dominar os bastidores das eleições de 2012 e das relações entre governo e Congresso


O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) estava calmamente almoçando ontem com uma assessora no restaurante do Senado. De repente, o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), o avista à distância. Levanta e faz questão de ir até a mesa, apenas cumprimentá-lo. O gesto poderia parecer normal se fossem grandes amigos que se reencontram. Mas, em política, os amigos são poucos e os adversários diversos. E o tempo passa mais rápido do que no relógio do cidadão comum.

Na política, já é 2012. Um ano em que estará em xeque a relação PT-PMDB. E a maior prova desse jogo será a Presidência do Senado. Renan participou pela primeira vez do almoço de confraternização que todos os anos o presidente do partido, Valdir Raupp, promove com os jornalistas credenciados da Casa. E até discursou. Disse que esse ano não foi fácil do ponto de vista político e prometeu um 2012 com mais notícias.

Essa promessa Renan começou a cumprir ontem mesmo, ao comparecer ao almoço. Ele não costuma frequentar o restaurante dos senadores. A outra notícia foi se levantar da mesa para cumprimentar Demóstenes. O senador goiano tem uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece os poderes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Fez de tudo ontem para que a proposta fosse a votos na Comissão de Constituição e Justiça pela manhã. Não conseguiu. Eunício Oliveira não aceitou colocar a proposta em votação. Demóstenes saiu irritado com Eunício, outro pré-candidato a presidente do Senado.

Por falar em Eunício...
O presidente da CCJ já havia deflagrado a pré-campanha, chamando os senadores para uma confraternização em sua casa na semana passada. Ele mandou para os colegas de presente de Natal uma garrafa de Veuve-Cliquot, a viúva mais famosa da França.

Enquanto os peemedebistas fazem seu jogo, o PT observa preocupado. Como disse aqui outro dia, o partido já foi alertado pelo seu maior conselheiro, o ex-presidente Lula, sobre os perigos de deixar o PMDB tomar conta das duas Casas nos dois últimos anos do governo Dilma, logo depois das eleições municipais. Nesse período, a relação entre PT e PMDB não costuma ficar muito boa. Até acertar o passo de novo — e se acertar — demora.

Os petistas, por enquanto, cuidam apenas de conversar sobre o novo líder do partido. E ainda não vêem brechas para tirar o PMDB do comando da Câmara. Entre os deputados existe um acordo fechado para apoiar o nome que os peemedebistas indicarem para substituição do atual presidente, Marco Maia (PT-RS). No Senado, a questão é regimental. O maior partido indica o comandante. O PMDB é maioria, portanto, caberá a ele escolher o presidente da Casa. E, na reunião de ontem ficou claro que o partido não abrirá mão do cargo.

Embora tenha se desentendido com Demóstenes ontem, Eunício ajudou muito o governo nas votações recentes. Na Desvinculação de Receitas da União (DRU), por exemplo, criou um pedido de vista vapt-vupt, como esses serviços de entrega rápidas das lanchonetes. Eunício deu apenas duas horas para que a oposição analisasse o texto. O estudo da DRU por Demóstenes teve que sair tão rápido quanto um Big Mac.

Ontem, Renan e Eunício se sentaram lado a lado no almoço de Raupp. Quando Renan voltou da mesa de Demóstenes, não resisti: "Candidato a presidente do Senado sai até da mesa para cumprimentar seus colegas da oposição. Tem que agregar, né, senador?". Renan apenas sorriu e disse que ainda é cedo para tratar desse assunto. Mas não nega o gesto proposital.

Num dado momento do almoço, Renan perguntou a Raupp se ele costuma almoçar ali com frequência, se os colegas vão muito ali. O presidente do PMDB disse que sempre tem senador no pedaço. Renan fez aquela expressão de quem registrou esse dado que, para muitos, pode parecer irrelevante. Mas não para um candidato a presidente do Senado. Podem cobrar: Renan estará mais por ali a partir de fevereiro, quando o Congresso reabre as portas da esperança.

No caso de Renan, a esperança é conquistar simpatias e apoiadores ao longo de todo o ano. Para os jornalistas, mais notícias. Para Demóstenes, ver sua PEC aprovada. Afinal, ali, no escurinho do Congresso, muito já tratam do CNJ como o yorkshire do ministro Marco Aurélio Mello. Em tempo: qualquer semelhança com o caso da mulher que matou o cachorrinho a pauladas é mera coincidência. Mas essa é outra história.

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