domingo, dezembro 25, 2011

Messias no plural - GUSTAVO PATU


FOLHA DE SP - 25/12/11

BRASÍLIA - "Vocês não precisam seguir ninguém. Vocês têm de pensar por conta própria. Vocês todos são indivíduos!", grita o homem, da janela. "Sim, somos todos indivíduos!", diz em uníssono a multidão aglomerada em frente à casa. "Vocês todos são diferentes!", insiste ele. "Sim, somos todos diferentes!", responde a turba, em êxtase.

Trata-se de "A Vida de Brian", clássico filme satírico do grupo inglês Monty Python, em que o personagem-título, nascido no mesmo dia e a poucos metros de Jesus, acaba involuntariamente tomado por líder espiritual e realizador de milagres.

Para efeito cômico, um blog do "New York Times" postou a cena logo abaixo de outro vídeo, recente, em que o consagrado economista Joseph Stiglitz, crítico da ortodoxia neoliberal, fala ao movimento "Ocupe Wall Street". Os manifestantes reproduzem em coro as palavras do orador para que mais pessoas na rua possam escutar o discurso, expediente batizado de microfone humano.

O paralelo entre devoção religiosa e ativismo político é recorrente, ainda mais nos casos extremos ou caricaturais de uma e de outro. O próprio Brian, tão racional e libertário ao repelir seguidores, adere com fervor e sem reflexão a uma tal Frente Popular da Judeia, que prega o ódio ao imperialismo romano e, principalmente, à rival Frente do Povo da Judeia.

Aqui e agora, novas mídias e tecnologias facilitam tanto a afirmação individual e a difusão de ideias como a organização de rebanhos em redes sociais, sites pessoais interconectados, correntes no Twitter. Facções agressivas multiplicam ao infinito versões e argumentos verdadeiros e falsos. Candidatos a mentores fomentam o maniqueísmo para inflamar ânimos e afastar hesitações.

De volta ao filme, no célebre Sermão da Montanha, os presentes mais distantes mal conseguem ouvir o que é dito. Entediada, a nada santa mãe de Brian quer prazer mais imediato: "Vamos a um apedrejamento".

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