sexta-feira, dezembro 23, 2011

CASAS DE APOSTAS - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 23/12/11

O governo brasileiro quer mudar a legislação para permitir a criação de casas de apostas bancadas, nas quais as pessoas poderiam arriscar palpites em partidas de futebol. Eu iria ainda mais longe e liberaria de uma vez todas as modalidades de jogo no país.
Se há um lobby que eu nunca entendi, é o dos que pretendem manter a jogatina na ilegalidade. Existe, é claro, o drama dos apostadores patológicos. Trata-se, porém, de fatia diminuta da população. Segundo metanálise de Jamie Wiebe e Rachel Volberg, de 2007, que avaliou mais de cem estudos, a prevalência mundial de pessoas que têm problemas sérios com jogo é de 1%. Também é verdade que cassinos se prestam à lavagem de dinheiro, mas o mesmo pode ser dito de igrejas.
O mundo é um lugar inóspito. Todo indivíduo tem um ou mais pontos fracos e se sujeita diariamente a dezenas de tentações que podem atirá-lo em seu inferno particular.
Assim como o alcoólatra e o diabético, que excedem os 10% da população adulta, não podem pretender eliminar todos os bares e docerias do planeta, a existência de uma fração demográfica com propensão para transtornos de impulso não recomenda a proibição de um ramo inteiro de atividade, que gera empregos, renda e atrai turistas.
No fundo, a questão diz respeito aos limites da interferência do Estado sobre a vida do cidadão. Creio que o poder público só deve se valer de seu direito de proibir em situações extremas, ou seja, quando há riscos reais e desproporcionais para terceiros. Estamos falando de casos como dirigir embriagado.
Se o mal resultante da ação fica circunscrito à própria pessoa (torrar todo o patrimônio num cassino) ou está dentro dos limites discricionários facultados a cada indivíduo (ficar doente por fumar), não compete ao Estado senão orientar, oferecendo a melhor informação disponível e, se for o caso, tratamento.

4 comentários:

ricardo disse...

O jogo no Brasil e reserva de mercado dos bicheiros, vc acha que alguém vai querer concorrência , em uma possível legalizacao o mercado ficaria aberto a possiveis investimentos externo, no mundo quem comanda o jogo Sao bancos e fundos de investimentos. O mercado clandestino e muito forte. Tem muito poder ao seu lado, como políticos, policia, judiciário, etc. A ultima operação da policia do Rio mostrou o faturamento real de somente 4 bicheiros, um valor de R$115 milhões. Com este faturamento quem vai querer legalizar jogos?

ricardo disse...

R$115 milhões mensais de somente 4 bicheiros. Imagina o faturamento de todo o mercado? O ultimo seminário que a caixa fez e baseado nos números da Argentina o faturamento deste setor é de R$24 bi anual.

Anônimo disse...

Políticos e policiais corruptos, bem como uma boa parte da mídia sensacionalista, são contrários a legalização, justamente pelo fato de serem eles os que mais lucram com a ilegalidade.Vocês acham que estes agentes sociais, vão querer descriminalizar e legalizar algo que não lhes trarão lucro?

Sergio disse...

O jogo existe no mundo inteiro, vc acha que a maioria dos paises legalizaram a lavagem de dinheiro!
Essa historia que o jogo é paraiso para a lavagem é folclore ,quem vai lavar em uma atividade que possui a mais alta tributacao do mundo!