segunda-feira, dezembro 05, 2011

As duas Dilmas - RICARDO NOBLAT



O GLOBO - 05/12/11

A saída de Carlos Lupi do governo reforça a impressão de que temos duas Dilmas em cena. Dilma Furacão é intolerante com subordinados lerdos, pouco criativos e que têm medo dela. Dilma Eu Te Amo é tolerante com subordinados autores de malfeitos que envolvem o dinheiro público. Uma é rapidíssima no gatilho. A outra, devagar quase parando.

Dilma Eu Te Amo estava convencida de que conseguiria empurrar com a barriga a demissão de Lupi. Só queria executá-la quando promovesse em janeiro próximo a primeira reforma do seu ministério. Cada nova denúncia contra Lupi ela imaginava que seria a última. Vá lá: a penúltima. Avaliava os estragos e tocava adiante.

De público
, jamais respondeu à pergunta que não queria calar: por que tendo trocado cinco ministros em menos de 10 meses preferia arcar com o desgaste de conservar Lupi ao seu lado? Mediante o anonimato, portavozes informais de Dilma ensaiaram respostas por ela. As razões para sustentar Lupi seriam duas, pelo menos.

A primeira: 
ele ficaria até janeiro para que a imprensa não sentisse o gosto de ter derrubado mais um ministro. De fato, os caídos devem sua desgraça à imprensa. Foi ela que descobriu seus malfeitos. O governo sempre soube o que se passava em cada um dos ministérios, mas hesitava em agir. Sabe como é: a corrupção, infelizmente...

Alguns dos
 caídos foram embora por conta própria e à revelia da vontade de Dilma. Um deles: Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes. O PR de Alfredo faturou uma nota preta cobrando comissão por negócios fechados no âmbito do ministério. A ter que demitir Alfredo, Dilma ofereceu-se para ser a sua babá. Alfredo não aguentou o tranco.

A segunda
 razão: caso Lupi fosse despachado já, o PDT não abriria mão de indicar um nome para sua vaga. Assim como o PC do B indicou um nome para a vaga de Orlando Silva, ex-ministro do Esporte, e o PMDB um nome para a vaga de Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura. Dilma quer liberdade para em janeiro embaralhar as cartas.

Ministros
 perderão o emprego com uma tapinha nas costas. Partidos perderão os atuais ministérios e não ganharão outros. Há quem acredite até na hipótese de Dilma diminuir o tamanho do governo extinguindo ministérios. Anotem aí: os partidos, seus aliados, não deixarão. Nem a pau.

Parecia haver
 certa resignação com a transferência para janeiro da saída de Lupi. Até que... Até que a Comissão de Ética da Presidência da República concluiu que ele não deu respostas satisfatórias às acusações. E aconselhou que fosse demitido. O tempo fechou. Dilma só faltou escalar parede tamanha foi sua revolta com o ato da comissão.

Esbravejou
 por não ter sido avisada de que a comissão se reuniria para tratar do Caso Lupi. Esbravejou por ter a comissão lhe sugerido que demitisse Lupi. Esbravejou por só ter sido informada a respeito da decisão da comissão depois de a imprensa tê-la noticiado. Sentiu-se atingida em sua autoridade. E empurrada contra a parede.

Se não
 lhe faltasse juízo, engoliria a raiva e faria o que a comissão sugeriu. O contrário seria impensável. Foi a primeira vez em 12 anos de funcionamento que a Comissão de Ética apontou a porta da rua para um ministro. Que tal seria Dilma passar à História como a presidente em cujo mandato a comissão se autodissolveu?

Para mandar
 e ser obedecido você não precisa gritar com subordinados, dar murros na mesa ou fazer ameaças. Nem desprezar o bom-senso, deixando no seu posto quem dele já deveria ter sido afastado em nome da decência. Se Dilma tinha poder para segurar Lupi também tinha para substituí-lo sem dar explicações a partidos. “Eu não sou propriamente uma adolescente, eu diria também uma romântica”. (Dilma, sobre o ‘Eu te amo’ dito por Lupi)

Foi o que
 acabou por ocorrer ontem à tarde e com enorme atraso. Quanto ao ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, que faturou R$ 2 milhões como consultor de empresas em Minas... Bem, fica para outra ocasião. O espaço acab

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