quarta-feira, novembro 09, 2011

VALÉRIA MANIERO - Sobrevivência


Sobrevivência 
VALÉRIA MANIERO
 O Globo - 09/11/2011

Eleita como a próxima vítima na crise da zona do euro, a Itália permaneceu ontem como centro das atenções, mas o dia acabou com a reação positiva dos mercados às notícias da saída de Silvio Berlusconi do cargo. O premier perdeu a maioria na Câmara e prometeu renunciar após a aprovação das reformas impostas pela União Europeia. As bolsas subiram e o país recuperou o fôlego, mas a saída de Berlusconi não resolve o problema da Itália.

A renúncia deve acalmar os mercados e reduzir as pressões sobre o país. A expectativa de um novo comandante com mais apoio política e liderança ajuda no enfrentamento dos sérios problemas econômicos. Assim como na Grécia, dá sustentação e legitimidade para o governo aplicar o remédio amargo do ajuste. Mas a grave crise na zona do euro não se resolve com o ataque isolado aos problemas da Itália ou da Grécia. Exige uma solução holística e solidária.

O economista Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio da Consultoria Tendências, destaca que o euro não é apenas uma moeda única. É um projeto político de unificação que começou logo após a Segunda Guerra, e essa conquista tem de ser preservada. Ele está convicto de que é melhor para o bloco enfrentar o custo de preservação do euro do que correr o risco da desintegração.

Mas destaca que os países mais ricos, em especial a Alemanha, precisam assumir uma postura mais solidária olhando para o conjunto e não para o próprio umbigo, pensando mais no bloco ao defender posições e posturas para a solução da crise e menos nos seus eleitores.

Mailson lembra que a Alemanha é o país que mais se beneficiou com o euro, ampliando suas exportações e suas riquezas graças às vantagens da integração e da moeda única. Ele não vê sentido na resistência de Angela Merkel à atuação do Banco Central Europeu no socorro aos países em dificuldade. Acredita que a saída da crise depende de uma ação forte do BCE e não do FMI ou dos países emergentes, que teriam papel de coadjuvantes:

- O momento é muito delicado. O que está em jogo é de tal relevância que é muito difícil imaginar que os europeus vão se imolar por falta de ação. O que vai prevalecer é o instinto de sobrevivência.

Lado mais fraco I
O aperto nas despesas do Orçamento neste primeiro ano do governo Dilma, para reforçar o superávit primário, está afetando fortemente os investimentos. Até outubro foram executados R$30,8 bilhões, R$4 bilhões a menos em comparação ao mesmo período de 2010. E o mais provável é que essa tendência seja mantida e até acentuada em 2012, quando o cobertor das receitas ficará mais curto e as despesas correntes, mais gordas, com o aumento real de 7,5 % do salário mínimo.

Lado mais fraco II
O economista Raul Velloso observa que o investimento, embora crescente nos últimos anos, tem sido a variável de ajuste nas contas do governo, quando surge a necessidade de aumentar o superávit, porque as despesas correntes crescem na mesma proporção da arrecadação. Entre 2003 e 2010, o investimento cresceu um ponto percentual do PIB, chegando a 1,3% do produto, enquanto as despesas correntes subiram 1,8 ponto, alcançando 16,6% do PIB.

- Não vejo no cenário de 2012 espaço para aumento dos investimentos. Enquanto houver uma política deliberada de crescimento dos gastos correntes e a necessidade de superávits primários razoavelmente elevados, o investimento continuará sendo a variável de ajuste.

Dar e receber
No livro que lançará em breve sobre royalties e pacto federativo, o senador Lindberg Farias incluiu uma conta interessante. Em 2010, a arrecadação federal no Estado do Rio chegou a R$125,5 bilhões, computados os tributos e as receitas do petróleo, mas só 10% retornaram ao estado por meio das transferências obrigatórias da União. Muito abaixo dos 21%, em média, que esta destina aos demais estados brasileiros, se computados apenas os tributos.

Recessão à vista
A zona do euro está flertando com a recessão, segundo o Bank of America Merrill Lynch. A instituição revisou para baixo, de 0,8% para -0,6%, a previsão para o crescimento da região em 2012. Para 2011, a aposta é um crescimento baixinho, de 1,5%. Já a inflação deve cair de 2,7% em 2011 para 1,7% no ano que vem. Três fatores influenciaram a mudança nas estimativas: políticas fiscais mais apertadas, condições de crédito mais rigorosas e incertezas crescentes.

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