terça-feira, novembro 29, 2011

Pelotão de fuzilamento na Europa - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 29/11/11

As praças financeiras se reanimaram um tanto ontem ("Bolsas sobem" etc.). Os donos do dinheiro grosso do mundo acreditam, outra vez, que pode surgir uma decisão política que, no fim de um caminho acidentado, permitiria a cobertura de rombos de bancos e governos.

Isto é, de um decisão que induziria o Banco Central Europeu a, na prática, bancar a dívida dos governos semiquebrados e a expandir ainda mais seu programa, já em curso, de socorrer bancos.

Tal solução política é transformar os países mais pobres e financeiramente frágeis da zona do euro em protetorados fiscais e orçamentários da União Europeia -da Alemanha e da França, em suma. Trocando em miúdos, significa que os governos teriam de submeter suas contas e Orçamentos a alguma instituição da União Europeia. A pressão maior recairia sobre Grécia, Portugal, Itália e Espanha.

O rumor era que Alemanha, França e parceiros menores poderiam chegar a um acordo antecipado de intervenção da União Europeia em governos deficitários demais, de modo a obrigá-los a reduzir suas dívidas. A novidade aqui é a palavra "antecipado".

A princípio, tal mudança dependeria de uma difícil e demorada reforma legal da União Europeia, que não teria efeito prático, se viável, antes do final de 2012.

Os eurocratas do Executivo da União Europeia, a Comissão Europeia, Alemanha e França, porém, cozinham novo acerto, sobre o qual não havia detalhes ontem.

O boato era que os países financeiramente mais sólidos da eurozona poderiam firmar acordos entre eles mesmos, obrigando os países mais frágeis a aderir ao pacto do arrocho. Caso contrário, seriam relegados ao inferno da indiferença dos mercados e da eurozona: quebrariam de vez.

Quebradeira em qualquer lugar da Europa não é uma solução, mas a ameaça de represálias sobe de tom desde que, na prática, Alemanha e cia. derrubaram os governos da Itália e da Grécia, trocando-os por interventores capazes de implementar o arrocho, imaginam.

Quais, porém, as diferenças da atitude de agora e das outras pressões de Comissão Europeia, Alemanha e Banco Central Europeu, que vêm desde o início da crise, em 2009-2010, e não funcionaram?

Segundo a diplomacia francesa, um "pacto fiscal" entre países sólidos não deixaria alternativa aos mais fracos. Os programas de corte de gastos e limitação de dívidas ganhariam "credibilidade" (isto é, o arrocho estaria sob fiscalização de um pelotão de fuzilamento político-financeiro). Nesse caso, ficariam amolecidas as restrições alemãs e do Banco Central Europeu a:

1) Que o fundo europeu de socorro a países semiquebrados garantisse mais dívida desses países: que a União Europeia (os países ricos e mais sólidos) se tornasse "fiadora" dos países em dificuldades. Assim, talvez, os credores talvez voltassem a emprestar a taxas menos extorsivas pelo menos para Itália e Espanha, ora quase no bico do corvo;

2) Que o Banco Central Europeu expandisse seu programa de compra de dívidas (empréstimo) a países em dificuldades, "imprimindo" dinheiro, e emprestasse ainda mais dinheiro aos bancos asfixiados do continente, mas em troca de garantias ainda menos valiosas.

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