sexta-feira, novembro 25, 2011

Loucos por bola - NELSON MOTTA


O Estado de S.Paulo - 25/11/11


Enquanto nas grandes ligas europeias os campeões quase sempre são conhecidos com rodadas de antecedência, com os jogos finais perdendo em sentido e emoção, no Brasileirão 2011, depois de uma sequencia eletrizante de surpresas e reviravoltas, Vasco, Corinthians e Fluminense chegam às duas ultimas rodadas disputando o título e o país do futebol respira ansiedade e paixão. Com a seleção brasileira perdendo a mística e a nobreza, transformada em mercadoria esportiva agenciada pela CBF, a paixão pelos clubes é cada vez maior, mais forte e sincera. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na fartura e na pobreza, na lealdade e na fidelidade, a aliança do torcedor com seu clube do coração é eterna.

Mesmo no confronto, o futebol aproxima as pessoas, o amor pelo mesmo clube ameniza antagonismos e faz pontes de tolerância entre adversários políticos, sociais e religiosos, entre opressores e oprimidos. Além de assunto de conversa com amigos e desconhecidos em qualquer lugar, nas vitórias o futebol autoriza congraçamentos e gozações sem limites de classes sociais, gêneros ou gerações. Como uma droga poderosa, ingerida audiovisualmente, atua sobre o cérebro, a memória afetiva e as emoções, transformando pacatos pais de família em facínoras sanguinários diante da televisão, dando coragem a covardes e humilhando orgulhosos, nivelando pobres e ricos, raças e religiões, analfabetos e cultos, nas batalhas de seus 11 guerreiros no gramado.

Mas o que mais encanta e apaixona no futebol é a sua natureza imprevisível, que desafia estatísticas, raciocínios e o senso comum, quando o pequeno sempre pode surpreender o gigante, quando um time pode virar um jogo e fazer três gols a cinco minutos do final. Ou tomar três gols e perder a partida. É uma metáfora de guerra, uma luta tática por espaço no campo de batalha para invadir, com a bola, a cidadela adversária. Não há justiça no futebol, não há lógica nem moral, não há nenhuma certeza além de que o adversário é forte e merece respeito mas nossa equipe está preparada e esperamos sair com um bom resultado. E dá-lhe Fluzão!

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