segunda-feira, outubro 17, 2011

PAULO GUEDES - Tudo depende das expectativas



Tudo depende das expectativas
PAULO GUEDES
O Globo - 17/10/2011

Até meados dos anos 70, havia enorme fé nos poderes discricionários das autoridades econômicas. A ortodoxia keynesiana era hegemônica nas universidades, nas plataformas políticas e nos circuitos financeiros. Pode o Banco Central efetivamente acelerar o crescimento econômico pela drástica redução das taxas de juros? Pode o Ministério da Fazenda estimular a produção e o emprego por meio da ininterrupta expansão dos gastos públicos? Sim, eram as respostas naquela época. Enquanto conseguissem driblar a inflação, as autoridades poderiam manipular quase indefinidamente a economia.

Foi quando a "revolução das expectativas racionais" varreu os meios acadêmicos. A supremacia intelectual dos rebeldes foi esmagadora. Equipamentos analíticos extraordinariamente mais potentes. Perfeição estética. Uma vitória completa, sem prisioneiros. A Universidade de Chicago foi o quartel-general dos "novos clássicos", que aniquilaram rapidamente os keynesianos. Fui surpreendido pela irreversibilidade do movimento. Keynes, Samuelson, Solow, Tobin, Arrow eram minhas principais referências. E eu estava lá, em meio às barricadas.

Milton Friedman (Prêmio Nobel de 1976), até então isolado em suas críticas às pretensões de controle macroeconômico por ações discricionárias das autoridades, recebeu o reforço de Robert Lucas (Prêmio Nobel de 1995), e Thomas Sargent (Prêmio Nobel de 2011) para derrubar o antigo paradigma. A eles se juntou um jovem teórico do desequilíbrio, o ex-keyesiano recém-convertido Robert Barro. Em minha geração, nenhum macroeconomista poderia ter tido maior sorte do que eu, tendo aulas com todos eles. Sargent foi a ponte entre as formulações teóricas de Lucas e as pesquisas empíricas sobre causa e efeito por métodos estatísticos desenvolvidos por Clive Granger (Prêmio Nobel de 2003) e Christopher Sims (Prêmio Nobel de 2011).

As mensagens práticas dos "novos clássicos" eram surpreendentemente despretensiosas. Os políticos e seus assessores econômicos não têm os poderes que alardeiam. Não podem sistematicamente manipular as economias. Os consumidores, as empresas, os trabalhadores e os investidores são átomos que raciocinam. Adaptam seu comportamento às ações discricionárias das autoridades, frustrando suas intenções de manipulação. Tombini e Mantega que se cuidem, pois tudo agora depende das expectativas quanto às regras do jogo: o regime fiscal e as metas de inflação são mais importantes do que esforços voluntaristas.

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