domingo, outubro 30, 2011

ELIO GASPARI - A última invenção de Steve Jobs


A última invenção de Steve Jobs
ELIO GASPARI
O GLOBO - 30/10/11

"Steve Jobs", de Walter Isaacson, é como o iPad: o sujeito não sabe direito o que fará com ele, mas quer ter um. Como o iPad, essa biografia servirá para muitas coisas. Para quem gosta de novela, tem a história de uma criança entregue para adoção que nunca quis conhecer o pai biológico e surpreendeu-se ao lembrar que, um dia, comera no restaurante de um gerente gordo e careca. (Era ele.) Esse garoto enjeitado recusou-se a reconhecer uma filha, ignorou-a por dez anos, mas deu o nome de Lisa a um de seus computadores. Para quem gosta de histórias de inventores, mostra o surgimento do computador pessoal, do iPod, do iPhone e do iPad. (Ele não inventou nenhum dos quatro.) Para quem prefere aventuras empresariais, o jovem que fundou a Apple foi defenestrado, deu a volta por cima e transformou-a na empresa mais valiosa do mundo. Para hipocondríacos, um maníaco em dietas e jejuns, com um câncer de pâncreas e um transplante de fígado, controlando o próprio ocaso.

Tudo isso num personagem genial, abstêmio, intratável, pouco higiênico e frugal. (Ele ficaria feliz ao saber que Michelangelo tinha essas características. Por intratável, um jovem pintor quebrou-lhe o nariz.)

A biografia de Isaacson requer um acessório. Convém que se faça uma cópia das páginas iniciais, onde estão listados 57 personagens. Ajuda a leitura. Dentre os gênios da informática da segunda metade do século passado, Jobs foi o mais audacioso, implacável e egocêntrico. Mentiroso, controlador, argentário, despojado e, acima de tudo, narcisista.

Quem criou o computador pessoal foi seu sócio, Stephen Wozniak, que sonhava com um mundo no qual eles fossem grátis. Quando Jobs fez a primeira distribuição de ações da Apple, deixou um dos parceiros de fora. Wozniak foi a ele e propôs: "O que você der, eu também dou". "OK", respondeu Jobs, "eu dou zero".

"Steve Jobs" foi sua última produção, burilada até os últimos dias, quando estava desnutrido e emaciado. Isaacson escreveu o que quis e conseguiu equilibrar o retrato de duas pessoas: uma que todo mundo gostaria de conhecer e outra com quem foi perigoso lidar.

Dicas de um intuitivo obstinado

Algumas lições do jeito Jobs de ser:

 "É melhor ser pirata do que entrar para a Marinha."

 "Tem gente que diz, deem aos consumidores o que eles querem. (...) Acho que Henry Ford disse certa vez: ''Se eu perguntasse aos consumidores o que eles queriam, teriam dito: Um cavalo mais rápido''."

 "Às vezes, a maior inovação é a empresa, a maneira como você a organiza."

 "Se você não se canibaliza, os outros vão te canibalizar." (Quando lhe diziam que o lançamento do iPhone reduziria as vendas de iPods e que o iPad comeria o mercado dos seus laptops.)

 "Quem sabe do que está falando não usa PowerPoint."

 "Existe uma tentação em nossa era digital de pensar que ideias podem ser desenvolvidas por e-mail e no iChat. Loucura. A criatividade vem de encontros espontâneos, de conversas aleatórias."

 "Você está rumando para ter um único mandato na Presidência". (Ao começar uma conversa com Barack Obama.)

 "Vocês estão com a cabeça enfiada no rabo." (Numa reunião com empresários da indústria da música.)

 Serviço: "Steve Jobs", traduzido, está nas livrarias, custando entre R$ 37,50 e R$ 49,90. A editora Companhia das Letras lançou simultaneamente o e-book, que custa entre R$ 28,90 e R$ 32,50. A edição eletrônica do original está na Amazon por US$ 16,99, ou R$ 29,00.

Ele entende

No ano passado, quando seu Banco Panamericano quebrou, Silvio Santos saiu-se com uma boa: "Eu não sou obrigado a entender de perfumaria, de banco."

De juros, pelo menos, entende. Joe Wallach, ex-diretor da TV Globo, revelou no seu livro "Meu capítulo na Globo" que, em 1966, quando a emissora estava com a corda no pescoço, Silvio Santos emprestou-lhe um dinheiro, a juros de 8% ao mês. (A inflação do ano foi de 39%.)

AirLula

Lula descobriu um sistema discreto e seguro para conversar com amigos.

Convida o freguês para acompanhá-lo no jatinho que o leva à Europa, à França e à Bahia.

Cocar

Na terça-feira, visitando a Amazônia, a doutora Dilma botou um cocar de penas azuis na cabeça. Isso não traz sorte.

No dia seguinte, gripou e teve que cancelar sua viagem a Porto Alegre e São Paulo.

Eremildo, o idiota

Eremildo é um idiota e quer trabalhar na equipe do Inep, que faz os regulamentos punitivos do Enem. O cretino ainda não entendeu por que impediram a garotada de usar relógios durante os exames. Um educateca disse que não compete aos candidatos controlar o tempo. Para aporrinhar os garotos, podem tudo.

Ao saber que os 639 alunos do colégio Christus, de Fortaleza, serão obrigados a refazer a prova, pois, duas semanas antes, receberam uma simulação na qual havia 14 questões idênticas às que viriam no Enem, Eremildo se pergunta: Quem tem que passar pelo transtorno? Os garotos ou os educatecas que, pela terceira vez, não conseguiram aplicar a prova sem criar encrencas?

Eremildo tem duas curiosidades:

1) Por que só os alunos do Christus? Se as questões vazaram, não se pode dizer que foram só eles que as receberam.

2) Se um aluno do Christus disser que abre mão dos pontos que porventura recebeu com essas questões, como fica a coisa?

O doutor Fernando Haddad, candidato a prefeito de São Paulo, haverá de reclamar se a garotada implicar com ele. Uma jovem de 16 anos foi eliminada em Mato Grosso porque estava com relógio, mas até hoje ninguém foi eliminado do INEP.

Lixões

Até 2014, o Brasil deverá abolir os lixões e os chamados aterros controlados (aqueles que têm urubu na cena, como no filme "Lixo Extraordinário", de Vik Muniz).

Como os prefeitos fazem de conta que esse prazo não existe, vale a pena listar os estados que lideram a ruína, com mais de metade do lixo despejada em más condições.

Estão acima de 90%, no Modelo Urubu: Alagoas (97%), Rondônia (93%), Amapá (91%) e Roraima (90%).

Acima de 70%: Mato Grosso (75%), Mato Grosso do Sul (74%), Rio Grande do Norte e Pará (73%), Bahia (72%), Goiás (71%) e Paraíba (70%).

Acima de 60%: Maranhão (69%), Tocantins (68%), Brasília (67%) e Amapá (61%). Acima de 50%: Pernambuco (57%), Ceará (56%), Sergipe (55%) e Piauí (51%). Repetindo: Brasília despeja 67%.

Abaixo de 50% ficam: São Paulo (24%), Santa Catarina (28%), Paraná e Rio Grande do Sul (31%), Rio de Janeiro (33%), Espírito Santo e Minas Gerais (37%), Amazonas (46%), mais o Acre (47%).

Se o lixo entrar na agenda eleitoral do ano que vem, ajuda-se a fazer uma verdadeira faxina.

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