sexta-feira, setembro 09, 2011

VINICIUS TORRES FREIRE - Obama, o fraco

Obama, o fraco
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 09/09/11 

Tardio, talvez insuficiente, plano Obama parece ter sido feito por um governo que teme republicanos

MAIS DO que de costume, a economia e a política econômica do país dependem dos sacolejos do trem mundial. Como se sabe, o Banco Central acredita que vamos pegar gripe, dado o risco de pneumonia nos EUA e de tuberculose europeia.
A ação nos EUA agora depende de Barack Obama. Bom de discurso, é um democrata conservador, assustadiço e sem imaginação.
Ontem, o presidente do Banco Central dos EUA, o Fed, meio que jogou a toalha ou pediu que Obama tomasse alguma providência. Ben Bernanke falava horas antes de Obama contar de seus planos de estímulo à economia. Por ora, o Fed tem pouco mais mesmo o que fazer.
Bernanke foi algo mais incisivo quanto à necessidade de o governo dar um choque no corpo desanimado da economia. O estímulo fiscal (gastos ou corte de imposto) federal está no fim; sem receita, Estados e municípios demitem e cortam gasto. Com a palavra, Ben Bernanke:
"...Sem significativas mudanças de política, que lidem com o crescente peso fiscal associado ao envelhecimento da população e o contínuo aumento dos custos com a saúde, as finanças do governo federal vão fugir do controle nas próximas décadas, com ameaça de grave dano financeiro e econômico".
Embora seja bom começar a lidar com isso, quem cuida das contas do governo não deve "desprezar a fragilidade da recuperação econômica. Felizmente, os dois objetivos não são incompatíveis [isto é, o início de um projeto fiscal responsável, de longo prazo e recorrer à política fiscal para reanimar o PIB, agora]".
Paul Krugman, o economista Nobel e jornalista do "New York Times", diz a mesma coisa faz anos; o repetiu no "NYT" de domingo:
"Não quero desprezar preocupações com o Orçamento dos EUA no longo prazo. Se você olha as projeções fiscais para, digamos, 20 anos, elas são de fato muito preocupantes, principalmente por causa dos crescentes custos da saúde. Mas a experiência dos últimos dois anos confirmou de modo acachapante o que alguns de nós tentamos dizer desde o começo [da crise]: os deficit de agora não são ameaça, são deficit que deveríamos ter, pois o gasto extra ajuda a dar apoio a uma economia deprimida".
Ao contrário do Brasil, de consumo excessivo, desemprego baixo e juro alto, falta demanda nos EUA, sobra dinheiro parado e há desemprego em massa. O pontapé inicial do gasto poderia vir de dívida extra.
O governo dos EUA pode tomar empréstimos de dez anos a juro zero. Para prazo menor, a taxa é negativa. Isto posto, o que faz Obama, depois de já ter entregue a alma e as calças ao baixo clero chantagista da direita dos republicanos?
Aparece com um plano de cortar uns impostos (estímulo mais fraco que o aumento direto de gasto) -reduz imposto sobre folha de salários e a contribuição social dos trabalhadores. Um plano de baixar imposto para quem contratar mais, atitude em baixa porque a economia não anda, pois falta criar empregos, coisa na qual Obama não quer se meter diretamente. Além disso, há um plano menor de investimento em infraestrutura (estradas, escolas).
O plano seria pago com imposto sobre ricos e o fim de brechas tributárias usadas por empresas. Melhor que nada? Mas pouco. A recessão espreita na esquina, se já não dobrou o cabo da falta de esperança.

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