sábado, setembro 10, 2011



Como será o Brasil de Gabriel?
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA


No futuro, o neto de Dilma descobrirá se a avó soube enfrentar com energia a corrupção e a impunidade





RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
O neto de Dilma, com nome de anjo, Gabriel, fez 1 aninho. Tem festa neste sábado no Palácio da Alvorada, a residência oficial dos presidentes, batizada assim por Juscelino Kubitschek: “Que é Brasília, senão a alvorada de um novo dia para o Brasil?”. A década era de 1950 e Dilma tinha 10 anos quando foi inaugurado o prédio monumental de mármore, vidro e colunas de Niemeyer. Filha de búlgaro exilado, a menina não sonhava um dia estar ali. Como avó e presidente, diante de dilemas políticos, econômicos e morais.
Dilma tinha 22 anos quando foi detida e torturada por resistir à ditadura em grupo armado. Tem hoje 22 anos o estudante Tiago Lira, que virou símbolo do movimento anticorrupção em Brasília. Ele guardou recortes de jornais com várias fotos suas no protesto que reuniu 25 mil na Capital no feriado da Independência. Estuda ciências políticas na UnB, mora com a tia numa cidade-satélite de Brasília. E era virgem em protestos.
Tiago está eufórico porque o movimento pacífico e espontâneo, “sem rosto e sem líder”, não levantou bandeira de nenhum partido. “Essa gurizada das redes sociais vai tomar conta das ruas do país”, afirmou o senador gaúcho Pedro Simon. Eles levantaram a bandeira do Brasil e impediram a participação de políticos na Marcha. O hino era um refrão do samba de Bezerra da Silva: Se gritar “pega ladrão”, não fica um, meu irmão.
Não havia líderes sindicais no protesto. O sindicalismo subiu à elite nos oito anos de Lula e se lambuzou com o melado das regalias. Não lutará contra a impunidade. Imagina. Logo eles, que ovacionaram José Dirceu na abertura do congresso do PT: “Dirceu, guerreiro, do povo brasileiro”.
Uma faixa na Marcha de Brasília cobrava punição aos envolvidos no mensalão do PT. Dirceu foi chamado pelo procurador-geral da República de “chefe de quadrilha”. Mas o mensalão nunca existiu, não sabiam que foi invenção da imprensa? O publicitário Marcos Valério e o ex-deputado Roberto Jefferson, operador e acusador do esquema de propina, sempre pouparam Lula. Na semana passada, estranharam a ausência do ex-presidente no processo. Não é fácil ser ex.
No futuro, o neto de Dilma descobrirá se a avó soube enfrentar com energia a corrupção e a impunidade 
Os manifestantes estavam vestidos de preto, em luto contra as maracutaias que sugam o dinheiro da saúde e educação. Empunhavam vassouras parecidas com aquela que a presidente escondeu em algum armário do palácio, quando a faxina ética mexeu em sujismundos inconvenientes. Dilma foi “protegida” da Marcha. Ficou na outra metade da Esplanada dos Ministérios, para o desfile oficial do 7 de setembro. Placas de concreto isolaram a Marcha, para não ser vista nem ouvida. O vice Michel Temer estava nas praias de Natal com Marcela e o filho Michelzinho. Tirou cinco dias de folga dessa zorra toda.
Até que ponto Dilma pretende deixar sua marca na história? Ela lê jornais. E viu o que diziam as faixas de jovens tão idealistas quanto um dia ela foi. “Voto secreto, não. Quero ver a cara do ladrão.” Esta era contra a decisão da Câmara de livrar a cara da deputada Jaqueline Roriz. Outra faixa dizia: “País rico é país sem corrupção”. Dilma é boa de conta e sabe quanto seu plano contra a miséria ganharia se o roubo oficial fosse controlado. Sugiro outra bandeira: “Para onde vão os impostos extorsivos? Como foi gasto o IOF, aumentado quando a CPMF foi extinta?”. Transparência, prestação de contas. É disso que precisamos. É o que merecemos.
A presidente teve um papel duplo fundamental nessa campanha ainda modesta contra a corrupção. Primeiro, foi dura com alguns ministros e os rifou. Depois, recolheu a vassoura. Deixou os jovens livres para assumir de forma apartidária o movimento de moralização contra os “malfeitos”. O mais inteligente seria chamar ao Planalto esses idealistas. Saber o que querem hoje, num país que é uma democracia mas subestima seus eleitores.
Quem sabe no futuro, ao estudar história contemporânea, Gabriel descubra que a avó foi a primeira presidente do Brasil a enfrentar com pulso forte tanto a miséria quanto a cara feia da corrupção e da impunidade política. Parabéns para você, bebê.

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