terça-feira, setembro 06, 2011

ALON FEUERWERKER - A banda toca assim


A banda toca assim
ALON FEUERWERKER
Correio Braziliense - 06/09/2011


A opção de jogar o alvo para 2012 já fora largamente absorvida pelo mercado e pelos observadores. Antes mesmo do último Copom, o centro da meta neste 2011 já virara fumaça e todo mundo estava conformado. Por que então agora o espanto?


A política é o espetáculo do exagero. Por didatismo. É mais fácil fixar convicções alheias sobre as nossas próprias qualidades e sobre os defeitos dos adversários se a realidade é apresentada em alto contraste.

Política não é terreno propício a tons em cinza, a olhares dotados de compreensão, a tentativas de tomar o que há de certo no errado. Eis por que continua a haver emprego para os analistas políticos.

Pois para entender a política nunca basta ouvir o discurso militante.

Bastou o Comitê de Política Monetária reduzir em meio ponto percentual a taxa básica de juros para um diagnóstico tomar o palco. O Banco Central abandonou o regime de metas de inflação. Será?

O BC não abandonou o sistema de metas. Pelo menos não por enquanto. O que ele já havia abandonado, e continua a ignorar, é o regime gregoriano de metas estritas, o objetivo de alcançar o centro da banda de inflação entre 1° de janeiro e 31 de dezembro.

Por uma razão política. Se decidisse pelo gregorianismo, o BC teria empurrado a economia brasileira para uma baita desaceleração, maior ainda que a presente. A presidente da República não topou o sacrifício, e então o BC ofereceu outro caminho: deixar para alcançar o centro da meta em 2012.

Tudo isso já era bem sabido antes da semana passada. A opção já fora largamente absorvida pelo mercado e pelos observadores. Antes mesmo do último Copom, o centro da meta neste 2011 já virara fumaça e todo mundo estava conformado. Por que então agora o espanto?

Ainda mais quando o que existe é uma banda de inflação, e não propriamente uma meta. Pois a meta tem um "para mais" e um "para menos".

Desde então, é assim que a banda toca.

O "para menos" é só de inglês ver, mas o "para mais" tem sido bastante útil.

Na prática o regime de metas de inflação vem sendo flexibilizado não no conceito, mas na meta propriamente dita. Mira-se não o centro, mas o topo. Que com o tempo vira centro.

Essa foi a primeira heterodoxia. A segunda? Precisamente a flexibilização do gregorianismo. E há uma boa razão para fazê-lo. Se o objetivo dos juros é atacar a inflação futura, o peso da passada pode ser relativizado.

Ou seja, importa mais como roda a inflação instantânea e menos como ela se comportou, num exemplo, seis meses atrás.

O Palácio do Planalto e o Banco Central estão usando toda a margem de flexibilidade do sistema institucional de metas para tentar impedir que a economia brasileira acelere a desaceleração.

Estão usando a pista toda, mas não estão, ainda, subindo na zebra.

Qual é o risco? Transformados os 6,5% em centro da meta, na prática, daqui a pouco alguém vai querer olhar um pouco mais para cima.

Dilma Rousseff colheu bons resultado da decisão, lá atrás, de não seguir o gregorianismo. A recuperação mundial é bem mais lenta do que supunham os otimistas e as pressões inflacionárias externas parecem atenuadas.

Houve um momento em que o governo piscou, mas agora vem a marcha-a-ré, a volta ao plano original.

Como na profissão de goleiro, também na política é preciso ter sorte. E o governo está com sorte, pois o cenário externo ajuda a combater a inflação, abrindo espaço para reduzir o aperto monetário.
Claro que haverá sempre a possibilidade de tocar a zebra, de derrapar, de sair da pista, de ficar preso na brita ou bater no guard rail. Mas esse é um risco de quem está na corrida.
E quem está na corrida sabe que se a ousadia virar trapalhada o bicho vai pegar.

Não vai rolar
Toda vez que o PT não gosta de alguma produção jornalística retoma o discurso sobre o "controle social da mídia". Para em seguida recuar, diante das reações.

E também diante da constatação de que a introdução de certos controles exigiria uma ruptura institucional, exigiria remover certas garantias constitucionais à liberdade de expressão.
O PT deveria cair na real. Isso simplesmente não vai rolar.

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