terça-feira, agosto 23, 2011

MURILLO ARAGÃO - Lavagem das escadarias do poder


 Lavagem das escadarias do poder
MURILLO ARAGÃO
BRASIL ECONÔMICO - 23/08/11

Certa vez, em entrevista à revista da PwC, eu disse que a política brasileira era uma turbina em reverso impactando a potência da turbina econômica.
Os primeiros oito meses de governo da presidente Dilma Rousseff são um retrato perfeito dessa situação, com a política atrasando o bom ritmo que a economia poderia ter.
Um debate político mais qualificado colocaria em pauta, desde já, questões fundamentais, como reforma tributária, reforma política, reforma previdenciária, desoneração do custo de contratação de mão de obra, desburocratização, entre outros temas.
As agendas políticas são essenciais para a construção de um país melhor. No entanto, essa não é a prioridade do Congresso, que, no silêncio do Executivo sobre alguns desses temas, deveria adiantá-los.
A economia, em que pesem as incertezas do exterior e os desafios do câmbio e da inflação no âmbito interno, vai bem e com boas perspectivas. Vamos continuar a crescer.
Na cena política, o governo decolou com turbulência e segue atravessando céus "procelosos", em meio a raios e ventanias. Desnecessário relembrar a coleção de eventos que afetam seu desempenho. Em especial, a saída de Antonio Palocci da Casa Civil.
Mesmo assim, Dilma mantém sua popularidade em bom estado e, melhor de tudo, conserva poder de iniciativa. A presidente tem, por exemplo, mais popularidade do que Lula no início do seu primeiro mandato. Isso tudo mostra que o brasileiro quer que o país continue avançando na redução da desigualdade, na distribuição de renda e no fim da miséria.
Desde que começou sua gestão, Dilma anunciou vários projetos que já estão em curso: a fase 2 de Minha Casa, Minha Vida; o programa de combate à miséria - que agora terá a parceria de São Paulo; o programa de bolsas universitárias no exterior; e a nova política industrial do governo.
Nesta semana, deve anunciar um programa destinado a expandir a oferta de microcréditos à população de baixa renda. O Planalto tenta, com suas naturais limitações ideológicas e intelectuais, aproveitar o bom momento que vivemos.
Na política, a situação oscila entre a disputa rasteira do fisiologismo e a corrupção escancarada de uns e outros que estão no governo para fazer esquemas. Destaca-se a cara de pau de algumas das "vítimas" do processo de "faxina".
A presidente Dilma não poderia compactuar com tal situação e pode pagar um preço por sua ousadia. Cabe aos brasileiros proteger as boas intenções do governo, dando apoio às medidas de saneamento da administração pública.
O preço disso, como sabemos, poderá ser a sabotagem de alguns membros na base. Votações complicadas e obstrução ao encaminhamento de matérias relevantes são esperadas.
Nessa altura dos acontecimentos e no melhor interesse da democracia, devemos tentar trazer a turbina da política para uma posição de empuxe ou de neutralidade, pelo menos. Muito melhor do que desligá-la.
Não podemos, de forma alguma, abandonar a política nem deixar de saudar as medidas saneadoras da administração. No final das contas, a lavagem das escadarias e dos escaninhos do poder vai valer a pena para todos os brasileiros.

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