quinta-feira, agosto 11, 2011

JANIO DE FREITAS - Acima da onda


Acima da onda 
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 11/08/11

Grupos políticos atingidos pela faxina temem retaliar Dilma e ficar com a mácula de ligação com as fraudes


OS GRUPOS POLÍTICOS atingidos pela limpeza no governo, ou temerosos de sê-lo se o expurgo continua, têm duas limitações para passar das atuais insinuações à retaliação de fato contra Dilma Rousseff. Trate-se do vozerio proveniente do pelotão encabeçado pelo deputado Henrique Eduardo Alves, trate-se dos perplexos do PT, ou dos laterais PTB e PR -todos com representantes nos decaídos de bolsos cheios.
A fragilidade dos grupos e partidos atingidos, na eventualidade de um embate, é maior que a da Presidência. O confronto não poderia dar-se sem que a opinião pública dele tivesse conhecimento, ainda que fragmentado e caótico, como é próprio dos relatos nos meios de comunicação. E, diante de uma sociedade ansiosa por atos moralizadores da política e da administração, qualquer represália ao saneamento ético seria expor-se a uma execração que o governo nem precisaria incentivar.
As reações aos primeiros atos de limpeza são, por si mesmos, demonstrações dessa posição frágil dos grupos e partidos atingidos, ou passíveis de sê-lo. O que os move não é a cabeça de fulano ou o nome de sicrano, é a mácula que os atinge em seu eleitorado, como coadjuvantes ou patrocinadores do que cada eleitor vê como roubo, e roubo partilhado. A fragilizar ainda mais os atingidos, há a proximidade de eleições e a consequente necessidade dos congressistas de mobilizarem as suas bases.
Por outra via, mas com o mesmo efeito, está o risco de perda da presença no governo, em caso de hostilidade parlamentar efetiva. A dimensão desse risco está bem à vista com o sucedido ao DEM desde a perda da proeminente presença governamental e parlamentar que teve, como PFL, até a posse de Lula. De igual perda advém boa parte da perturbação mental do PSDB, o catatônico. Diante disso, o PMDB sabe o que seria de si sem a presença de que tem usufruído em todos os governos, a qualquer preço, desde a volta ao regime civil. O governo talvez não saiba disso, mas o PMDB sabe que pode fazer de tudo, menos o que ameace sua presença na máquina de governo.
A necessidade é mútua, sim, de utilização de cargos, verbas e poderes governamentais pelos políticos e seus partidos, e de apoio parlamentar pelos governos. Nisso está o jogo político. Mais dotado, nele, de meios e de poder, ao governo Dilma Rousseff basta não se perder em um tropeço excessivo, para que o confronto das conveniências o favoreça.

PARTICULAR
Diferentes na intenção e no teor, as versões da primeira entrevista dada por Celso Amorim atenuam, querendo ou não, o seu discurso de posse. Mas anulam o sinal, dado então, da disposição prioritária de ser, mais do que um ministro com os ônus que a tarefa exija, uma figura de agrado dos militares.
O discurso não foi de posse na direção executiva do setor militar do Estado, foi de relações pessoais. Ou seja, não foi feito para falar ao país.

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