segunda-feira, agosto 15, 2011

DENISE ROTHENBURG - Lula, o alvo


Lula, o alvo 
DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 15/08/11
Se a revolta que a população sente com a corrupção atingir a imagem do ex-presidente, ele se enfraquecerá, Dilma ficará isolada e virá algo novo na política nacional. É isso que hoje mais incomoda o PT em meio a toda essa crise

Em meio à enxurrada de escândalos que faz com que alguns mudem o nome da Esplanada dos Ministérios para Espanada nos Ministérios, os políticos começam a expor suas impressões sobre o momento. A conclusão de vários grupos, especialmente do governo e de seus aliados, é uma só: o alvo de toda essa confusão política gerada pelas denúncias de corrupção - ou pelo menos parte delas - é enfraquecer a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

E quem diz isso não põe Lula no papel de coitadinho perseguido, não. Não é isso. Simplesmente esses casos - Turismo, Agricultura, Transporte e quem mais chegar - podem levar muitos a concluir que o governo Lula era conivente com a corrupção. Isso porque todos os casos divulgados até agora ocorreram no governo dele. Assim, constatam os políticos, o objetivo seria mesmo jogar ao sol tudo o que ficou na sombra durante a campanha eleitoral e a ascensão dos brasileiros a um novo patamar de renda. Ou seja, tentar mostrar que o mesmo presidente que deu essa alavancada no país em prol dos mais pobres deixou alguns se fartarem sob sua barba.

Se o eleitorado tiver essa percepção lá na frente - digo, mais perto das eleições - e o cidadão comum repassar para a imagem de Lula a mesma revolta que sente ao ver o dinheiro de seus impostos servindo para dar luxo e riqueza a uns poucos, estará dada a senha para uma mexida geral na política. Por enquanto, a imagem que se tem é de escândalos de corrupção em série e de partidos zonzos - conforme dissemos aqui na semana passada. E, em meio a tudo isso, uma presidente bem-intencionada que está convivendo com problemas políticos gerados pelo desconforto dos partidos ao verem seus integrantes denunciados.

Ocorre que a mesma Dilma que faz a faxina não tem esse borogodó todo na política. E está numa encruzilhada. Se fizer tudo o que os partidos desejam, soará como alguém que não teve pulso para continuar a tal "faxina". Se não fizer, os partidos dirão que ela não entende de política, não tem jogo de cintura. Para completar, há os atrasos na execução dos PACs 1e 2 e a crise econômica internacional. Se não superar isso, passará cada vez mais a imagem de que não é lá aquela gerentona especialíssima que todos esperam.

É nessas horas difíceis que Dilma recorre a Lula. Especialmente quando se sente meio isolada no quesito política, como agora. Lula, por sua vez, ajuda a resolver, fala com um e outro, e é ouvido por todos os aliados. E Lula hoje só é ouvido porque tem tino político, uma alta popularidade e ainda é a opção do PT para o futuro. Pois bem, voltamos ao princípio deste artigo: se Lula for enfraquecido, quem Dilma vai ouvir? Com quem o PT vai contar?

O PT sabe que não tem um substituto à altura para Lula. Embora tenha em Dilma uma boa candidata para 2014, e todos digam que ela é o nome, esse pacto com o PMDB e demais aliados não está selado. E nem Dilma trata dessa perspectiva de futuro no atual momento. Aliás, o PT está ciente de que a presidente não é lá de ficar dando muita corda para a política. Como ela mesma disse na entrevista à revista Carta Capital que chegou às bancas no fim de semana, "tenho de gastar meu tempo tratando de assuntos que resolvam os problemas do país". Ocorre que, enquanto Dilma cuida dos problemas do país e a crise tira o verniz do que foi o governo Lula e da gerente Dilma, o PMDB anda conversando muito com o PSDB e o DEM em salas reservadas nos restaurantes de Brasília. Não é à toa que os petistas se reuniram no Palácio do Planalto semana passada. Já sentiram que os movimentos para tirá-los do papel de anfitriões do poder estão começando e eles não vão ficar apenas assistindo ao tufão se aproximar. A política promete realmente grandes emoções daqui para frente.

E por falar em oposição

PSDB e DEM em momento algum negaram apoio à faxina da corrupção. Querem mais é ver o circo pegar fogo para ver se o PT se incendeia nele. Acham que a hora de desgastar Lula e seu partido é este semestre, crucial para a montagem dos palanques das eleições municipais do ano que vem. Em São Paulo, por exemplo, o PT já está em chamas. Marta Suplicy, ex-ministra do Turismo, anda cabisbaixa depois da prisão do ex-presidente da Embratur Mário Moisés, seu aliado. E Fernando Haddad, ministro da Educação, desfila lépido e fagueiro como pré-candidato a prefeito da capital paulista. Já tem gente apostando um doce que Marta, se sentir o fogo arder sob seus pés, não se movimentará para ajudar a eleger Haddad. Entre os tucanos, as apostas são mais elevadas. Afinal, eles também não podem falar muito de unidade em São Paulo. Lá, tucanos e petistas têm algo em comum: o PSDB só se une para criticar o PT e vice-versa. Fora isso, quem sair primeiro da roda fica de orelha quente.

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