sábado, abril 02, 2011

Surpresa positiva não altera perspectiva de um ano morno FERNANDO SAMPAIO

Surpresa positiva não altera perspectiva de um ano morno

FERNANDO SAMPAIO

O Estado de S.Paulo - 02/04/11

O volume de produção da indústria brasileira foi, em fevereiro, um pouco maior do que se esperava. Essa discrepância justifica uma revisão nas projeções para a evolução da produção industrial até o fim do ano? A resposta, à luz do conjunto das informações disponíveis, é não. Continuo a avaliar que a produção industrial deverá ter crescimento de 3%, em 2011, muito abaixo dos 10,4% de 2010.

A projeção da LCA para fevereiro, que coincidia com a projeção mediana dos analistas, era de que a produção industrial superaria a de janeiro em 1,0%. O IBGE apurou alta de 1,9% - a maior expansão mensal desde março de 2010. Esse número deveria ser interpretado como evidência de que a atividade industrial iniciou uma forte reaceleração?

Em rigor, houve sim uma reaceleração nos primeiros dois meses do ano, para a qual deve ter contribuído a aceleração da economia global, que estimulou a exportação de manufaturados. No bimestre janeiro-fevereiro, a taxa mensal média de crescimento da produção da indústria do País (sempre sobre o mês imediatamente anterior, feito o ajustamento sazonal dos dados) foi de 1%, ao passo que no trimestre final de 2010 essa taxa havia sido levemente negativa (-0,2%).

O ajustamento sazonal dos dados, aliás, foi particularmente difícil em fevereiro, porque de modo atípico o feriado de carnaval foi comemorado apenas em março. Esse "efeito calendário" dificultará, portanto, também a interpretação dos dados de atividade econômica relativos ao terceiro mês do ano. A estimativa da LCA é de que o IBGE vai apurar queda da produção industrial de fevereiro para março da ordem de 1%. Se isso vier a se confirmar, o 1º trimestre do ano fechará com taxa mensal média de crescimento de 0,4% - o que ainda configuraria uma aceleração da indústria comparativamente ao 4º trimestre de 2010, porém bem mais suave do que indicam os dados de janeiro-fevereiro.

Olhando à frente, as exportações deverão seguir como fator de aceleração da produção industrial. Mas a dinâmica dos estoques deverá atuar no sentido contrário: a proporção de empresas que relatam ter mais produtos em estoque do que desejariam já supera a das empresas que gostariam de estar com estoques mais altos. E a política econômica tem sido mobilizada com o intuito de moderar a demanda interna. O impacto das iniciativas já adotadas (aumentos de Selic, cortes no Orçamento, medidas de contenção do crédito, entre outras) ainda não se fez sentir de todo. E medidas adicionais (a começar por mais um aumento da Selic no dia 20 de abril) são bastante prováveis.

É ECONOMISTA, SÓCIO-DIRETOR DA LCA CONSULTORES

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