sexta-feira, abril 22, 2011

EDITORIAL - O GLOBO - BC atenua nos juros e alimenta dúvidas


BC atenua nos juros e alimenta dúvidas
EDITORIAL
O GLOBO - 22/04/11
As evidências do mais grave surto de inflação desde aquele criado pelo risco PT em 2002/2003 se acumulam. O último IPCA quinzenal fechou em 6,44% rumo ao teto da meta de 6,5%; em três meses o índice ultrapassou 3%, quando o centro da meta anual é de 4,5%; e o número de itens em alta na composição dos índices se amplia, sinal de que a pressão inflacionária contamina toda a economia.

Mas, mesmo assim, o BC, na reunião desta semana do Conselho de Política Monetária (Copom), por cinco votos a dois, optou por um aumento da taxa básica de juros (Selic) de apenas 0,25 ponto percentual, para 12%, depois de duas remarcações sucessivas de 0,5 ponto. Aumentam, portanto, as dúvidas quanto à profissão de fé do presidente do BC, Alexandre Tombini, no combate duro à inflação, feita no fim do ano passado ao ser escolhido para o cargo. Pior, firma-se o entendimento de que o BC no governo Dilma Rousseff funciona como linha auxiliar do "desenvolvimentismo" encastelado no Ministério da Fazenda, pregador da perigosa tese de que um "pouco mais" de inflação é justificável, se permitir um crescimento econômico mais acelerado. A tese é ilusória porque a própria inflação abortará mais tarde a decolagem da economia.

O BC tem sido, ainda, desastroso na comunicação com o mercado. Na sexta-feira passada, Tombini, em Washington, para onde fora participar de reuniões no FMI, alertou que o país "está no meio de um ciclo de aperto monetário", e chamou a atenção para os cuidados necessários diante do excesso de liquidez, capaz de pôr em risco a estabilidade financeira do país.

Parecia uma reciclagem do sentido do texto do relatório trimestral de inflação, em que o BC expôs a defesa de um enfrentamento light do descontrole de preços, música melodiosa aos ouvidos "desenvolvimentistas". Em troca, continuariam a ser manejados os instrumentos "macroprudenciais" de aperto no crédito. Que devem mesmo ser acionados, mas numa conjugação com políticas monetária (juros) e fiscal (gastos) mais ativas. A atenuação na alta dos juros, decretada quarta-feira, indica que as entrevistas dadas em Washington pelo presidente do BC não significavam a antecipação de qualquer maior vigor na luta contra a inflação. Eram apenas ruídos na comunicação do BC.

O texto do comunicado sobre a decisão do Copom tenta justificar a moderação - pelo menos com a correta discordância de dois diretores do BC - com a execução de um plano de ataque ao descontrole de preços de mais longo prazo, uma reafirmação da arriscada ideia de trazer a inflação ao centro da meta (4,5%) apenas no fim do ano que vem.

Será possível? Há sérias dúvidas. Uma delas é que se despreza o efeito pernicioso dos mecanismos de indexação que persistem na economia brasileira, e estimulados, por exemplo, quando se estabelece uma regra fixa para o reajuste do salário mínimo. Este, por sinal, sério problema em contagem regressiva para o ano que vem, quando o SM deverá ter um reajuste na faixa dos 14%, mais um aperto no acelerador da inflação.

Há, ainda, a questão do preço de combustíveis, com a gasolina sendo subsidiada - hoje, pela Petrobras; amanhã, talvez pelo Tesouro, via redução da Cide. Tudo somado, resulta que a sociedade corre o risco de ter de conviver com uma inflação engessada num patamar mais elevado que os 4,5% da meta, por sua vez já acima da inflação no mundo.

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