domingo, março 20, 2011

MÔNICA BERGAMO

Bárbara no espelho
MÔNICA BERGAMO

O GLOBO - 20/03/11

Bárbara Paz, de volta à TV e ao teatro, corre de um lado para o outro e diz que tem um sonho: comprar uma rodoviária para a sua família

A imagem da atriz refletida no espelho de seu camarim
Carregando duas bolsas
Prada enormes, pelas ruas dos Jardins, Bárbara Paz diz que não consegue transportar tudo o que precisa. "O Juca de Oliveira diz que eu estou sempre carregada", conta ela, que ouviu do colega a pergunta: "Por que você traz tanta coisa, se vem sempre para o mesmo lugar?". A resposta: "Porque eu nunca sei onde vou parar".

"Preciso ter uma casa dentro da bolsa. Isso tem a ver com o meu passado, porque eu nunca tive um porto", diz ao repórter Diógenes Campanha. Ela ficou órfã de pai aos seis anos, começou a trabalhar aos nove e perdeu a mãe aos 17. Saiu de Campo Bom (RS) para virar atriz e modelo em SP. Ao visitar sua cidade para o Natal, sofreu um acidente de carro e ficou com cicatrizes no rosto, que esconde com maquiagem. "Vamos falar da nova Bárbara?", sugere.

A partir de amanhã, a parada da "nova Bárbara" é o horário das 19h da TV Globo. Ela será Virgínia, uma assistente de arqueóloga na novela "Morde & Assopra". Em 13 de maio, joga a âncora no Rio, onde estreará a peça "Hell", dirigida por seu marido, Hector Babenco.

A personagem da novela, que vende fósseis no mercado negro, é marcada pelo exagero. Virgínia terá uma veia cômica inédita para a atriz. "Já vivi tanta coisa que sou um pouco cansada de tudo. Isso te traz um olhar mais triste, e por isso me caem bem personagens densos."

Ela aprendeu a usar o rosto em seu favor. Recentemente, o ator e amigo Rafael Primot reclamou, depois de se ver no vídeo em uma série da Globo: "Não adianta, eu nunca vou perder essa cara de sonso". A resposta dela: "Então aproveita! Eu não tenho cara de louca?".

Das bolsas de Bárbara saem dois livros, roupa de ginástica, perfume, remédio para alergia, carregador de celular e uma caneta que ganhou do ator Mauro Mendonça, "para não parar de escrever nunca". Óculos escuros Balenciaga no rosto, ela carrega outros dois. "Um é de estilo, um é do problema [1,75 grau de astigmatismo] e o terceiro é de sol com grau." A maquiagem vai numa maletinha. "Vendi muitas dessas quando não tinha contrato."

Antes de vencer o reality show "Casa dos Artistas", do SBT, e se projetar nacionalmente, em 2001, Bárbara comprava as maletinhas e fazia colagens com imagens de cidades, santos ou estrelas de cinema, dependendo do gosto da freguesa. Promovia bazares para colegas como a atriz Giselle Itié. Depois de se destacar em sua estreia na Globo, como a "drunkoréxica" Renata, na novela "Viver a Vida" (2009), assinou com a emissora por três anos. É seu primeiro contrato longo.

Depois de três novelas no SBT, entre 2002 e 2007, ficou "com muita cara" da emissora de Silvio Santos. Decidiu só voltar se fosse na Globo. "Se não ficasse fora por um tempo, eles nunca iriam me olhar de outra forma." Foi "desconvidada" de "O Clone" e ouviu de Manoel Carlos, após a reprovação em um teste anterior a "Viver a Vida", a promessa de que trabalhariam juntos. "Foram nove anos até acontecer. Poderia ter filha dessa idade."

No almoço, Bárbara devora um prato de risoto de aspargos com fondata de queijo taleggio no restaurante Piselli. "Só tem homem aqui, todos usando camisa listrada. Será que é tudo "business" [executivos]?", ela pergunta. "Eu vou contar para todo mundo que você tá comendo de tudo, não tá mais com aquele problema", diz um senhor, referindo-se ao distúrbio alimentar da Renata de "Viver a Vida". "Eu me internei, me curei", ela brinca. Comemora. "Eu me tornei conhecida como Bárbara [no reality show]. Agora tirei a Bárbara e coloquei a Renata. Era disso que eu precisava. Algumas pessoas nem sabem meu nome. Em Portugal, então [onde a novela foi exibida], é só Renatinha."

Mais cedo, naquele dia, a atriz havia sido convidada para participar de um seminário da revista "Marie Claire" sobre "sexualidade e o casamento". Quando o assunto era o homem brasileiro, a apresentadora Mônica Waldvogel disse que "Bárbara não é casada com brasileiro" e poderia contar sobre a diferença de ter um marido argentino -no caso, Babenco. "Você quer que eu fale da minha relação? Não vou." Relembra a cena no restaurante. "Era só o que faltava. Jamais faria isso com o Hector. Respeito muito ele."

A atriz tem 36 anos e o diretor, 65. "A gente foi um belo encontro. De almas, sabe? Amor não tem idade." O casal mora na casa dele, na Vila Nova Conceição. Num intervalo entre os compromissos, ela telefona. Diz que deu tudo certo no seminário. "Você tem que acreditar mais em mim", responde Babenco. "Me passa uma receita para eu ficar confiante?", ela pede. Avisa que não poderá ir à apresentação de balé da neta dele. "Mas leva a câmera. Está na cômoda."

Bárbara diz que faz parte de "uma família de amigos" de Babenco. "São pessoas que eu admirava demais. O Drauzio [Varella], o [Arnaldo] Jabor. No começo era... qual a palavra que eu posso te dizer? Fascinante. Falo que ele é meu Arthur Miller", referindo-se ao dramaturgo que foi casado com Marilyn Monroe. "Tudo em excesso me cansa, mas no amor eu não tenho dose."

Já com sua família, a relação é distante. "Tem pessoas que pararam no tempo, e só eu me salvei para contar a história. Ainda vou escrever um roteiro, um livro sobre isso." Parte desse texto já foi "encenado" no "Domingão do Faustão", em 2010: homenageada no programa, ela assistiu a um vídeo em que suas irmãs -ela é a caçula de quatro filhas- reclamavam que a atriz não mantém contato e que acha que elas só a procuram quando estão precisando de dinheiro.

"Foi um absurdo. Não é verdade. E elas são muito inocentes, não têm noção do que a TV pode alcançar. Não preciso falar de tudo o que eu já fiz pela família: dei casa, dei carro. Mas chegou uma hora em que achei que deveria parar. Foquei nos meus sobrinhos, que eu ajudo nos estudos e no que eu posso. Eles estão começando e podem se salvar."

Ainda assim, há um presente que Bárbara gostaria de dar à família. Filha de político, ela costuma dizer que seu batizado "foi um comício", de tantas autoridades presentes, e lembra que os Paz eram donos da rodoviária de Campo Bom. O imóvel foi vendido após a morte do pai. "Adoraria poder dar a rodoviária de volta pra minha família, mas ainda não tô podendo pegar esse ônibus."
BÁRBARA DISSE
"Já vivi TANTA COISA que sou um pouco cansada de tudo.
Isso te traz um olhar mais TRISTE,e por isso me caem bem PERSONAGENS DENSOS"

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