domingo, março 13, 2011

MÔNICA BERGAMO

Etica e Puxa
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 13/03/11

Em Brasília , a preocupação com a estética ganha cada vez mais adeptos , mas o tema continua um tabu ; poucos políticos comentam seus retoques

Pelos tapetes verdes, azuis ou vermelhos da Esplanada dos Ministérios corre solta a mágica (secreta) do rejuvenescimento: a cirurgia plástica. Exemplo mais conhecido, Dilma Rousseff surpreendeu há dois anos ao aparecer com um sorriso mais simpático e um olhar mais vivo.

"O menos é mais na cirurgia da face", resume o médico gaúcho Renato Viera, que operou Dilma. A comentada imagem de professora carrancuda se dissolveu após um telefonema. "Ela me ligou, estava descontente com algumas coisas." Ele não entrega o principal: as tais "algumas coisas".

O resultado da cirurgia, "um sucesso de público e crítica", nas palavras da própria Dilma, levou a petista a convidar o médico para a cerimônia de posse na Presidência. Viera causou frisson.

Discrições e indiscrições à parte, a plástica a que Dilma se submeteu em 2008, já de olho nas eleições de 2010, é bem avaliada por entendidos no assunto. Para cirurgiões, marqueteiros e o mundo político em geral, a petista rejuvenesceu na medida. Não ficou nem "esticada" nem "fake", algo crucial para um candidato.

A guinada da presidente foi significativa, mas não a ponto de o eleitor médio comentar. "Nas pesquisas qualitativas que eu acompanhei no ano passado, ninguém falou sobre uma eventual cirurgia da Dilma", revela Paulo de Tarso Santos, inventor do famoso "Lula-lá" e marqueteiro da campanha presidencial de Marina Silva -que mal usa maquiagem.

Esse é justamente o "X" da questão. Ficar natural deve ser o objetivo da plástica, principalmente em políticos, que não podem passar a ideia de artificial e pouco confiável. Marqueteiro de Aécio Neves para os governos em Minas e de Antonio Anastasia na última eleição, Paulo Vasconcelos diz, por exemplo, que nunca sugeriu botox ou algo mais radical a seus clientes. E comenta que usaria a plástica mal feita de um adversário como vantagem, indicando ali um poço de falsidade.

"Quem estica muito a boca fica bem artificial. A gente percebe o olhar de peixe morto, o branco dos olhos acentuado", explica o médico e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica em São Paulo, Carlos Alberto Komatsu.

Mas se tantos políticos fazem cirurgia plástica, poucos revelam e um número ainda menor ousa criticar abertamente a mexida do colega. O tema é tabu, e reina o provérbio que recomenda não jogar pedras aquele que tem telhado de vidro. "Não abordo essas questões, mesmo sendo adversário", dispara o "implantado" senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Dias é um dos exemplos ambulantes do retoque estético. Fez implante capilar há 20 anos e aprovou o resultado. Outro que abre o jogo é o agora ex-deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), que aderiu à cabeleira em 2005, véspera de eleições. "Você veicula propaganda com cartazes de quatro em quatro anos. Nesse intervalo, uma calvície acelerada muda totalmente sua imagem."

Nem todas e todos, porém, passam ilesos pelo falatório geral. Casos da ex-primeira-dama Marisa Letícia e da nova vice-presidente do Senado, Marta Suplicy. Sobre o que fizeram, como e quando sabe-se pouco.

Marisa Letícia foi operada e usa botox, além de frequentar o consultório da dermatologista Adriana Vilarinho -ciumenta, não deixou Dilma chegar perto dela.

Marta já se entregou, também, à cirurgia plástica. Como elas não detalham o que fizeram, dão asas à imaginação. "É excesso de botox e enchimento nos lábios" opina o marqueteiro Einar Jácome da Paz, com passagens pelas campanhas presidenciais de Fernando Henrique Cardoso e Ciro Gomes, sobre a fisionomia de Marta.

O estrategista relativiza, porém, a comparação com a elogiada plástica de Dilma. "Temos um repertório visual da Marta muito antigo. A gente lembra dela bem jovem e muito bonita."

Marta não quer saber do assunto. "Tô fora. Por que você não vai atrás dos homens que fizeram? Tem um monte aqui", sugere, espirituosa.

A petista tem razão. Apesar de muitos negarem, fala-se pelos corredores de plásticas no senador Walter Pinheiro (PT-BA), nos deputados Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Wellington Fagundes (PR-MT) e no governador Tião Viana (PT-AC). Para citar apenas alguns.

Ultrapopular no Congresso, onde atrai deputados e senadores da esquerda e da direita, a apresentadora Sabrina Sato já se deteve nessas inúmeras faces retocadas. "O poder mexe muito com as vaidades, vicia. Desde que não se corrompam, eles podem até pendurar uma melancia no pescoço."

Reportagem JOHANNA NUBLAT, de Brasília

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